Cinema
Halyx: quando a Disney lançou uma banda de rock inspirada em Star Wars

Nunca tinha ouvido falar do Halyx? Vamos por partes. Se bobear, muita gente lembra bem disso: o mercado de discos, depois de certa época, foi uma prioridade da Walt Disney Company. E lá pelos anos 1970, época em que discos vendiam MUITO, isso gerou vários produtos. Não foi à toa que lançaram logo uma vitrolinha do Mickey (até mesmo no Brasil, daquelas com alto-falantes na tampa), por exemplo.
Logo nos anos 1950, a Disney logo criou um selo, o Disneyland, para comercializar discos falados – que geralmente eram vendidos com livros para a criança ouvir e acompanhar a leitura. E no finzinho dos anos 1970 a onda discothéque também falou alto na empresa, já que a Disneyland lançou até um LP Mickey Mouse Disco (1979). Esse álbum chegou a sair no Brasil, em vinil verde, com todas as músicas cantadas em português – teve até clipe no Fantástico.
Lá fora, esse disco vendeu horrores e ainda gerou um curta-metragem (cheio de luzes pisca-pisca, que hoje seriam vetadas pela fiscalização de qualquer canal infantil) com várias cenas aproveitadas de outros desenhos do universo Disney.
ROCK DA DISNEY
E lá pelos anos 1980, animados com o sucesso da franquia Star Wars e com o sucesso do Kiss (e, vá lá, dá pra ver certa influência do mercado de games, fortíssimo no período), alguém na Disney teve uma ideia que parecia genial: por que não criar uma banda de rock intergalática para se apresentar no palco da Tomorrowland? Começava a surgir aí o Halyx.
Alguém poderia se perguntar “peraí, os caras só foram perceber o sucesso de Star wars quase seis anos depois que tudo aconteceu?”. Bom, no caso da franquia de George Lucas (que a Disney só foi adquirir em 2012), havia algo no todo da história que dizia respeito ao universo de Walt Disney por aqueles tempos. Em 1981 a empresa estava começando a filmar Tron, longa de ficção científica que chegaria aos cinemas no ano seguinte. A turma que estava começando a fazer parte da banda chegou a ver alguns dos cenários montados.
A ideia era que o grupo fosse a atração “de rock” do Tomorrowland, para as crianças e adolescentes que frequentavam a área, numa época em que o estilo musical confundia-se facilmente com o pop e ainda era mania no mundo todo. As perspectivas musicais da Disney não eram tanto assim a de criar uma grande banda com grandes nomes – tanto que convidar nomões do pop ou do rock para integrar o projeto era algo fora de cogitação. Mike Post, craque da criação de músicas para séries de TV (fez os temas de Esquadrão Classe A, O super-herói americano e Lei e ordem, entre vários outros), cuidou dos primeiros detalhes de produção e de escolha de músicos.
FANTASIAS
Aliás, os músicos deveriam se apresentar, fizesse calor ou não, fantasiados. Nem todo mundo gostou da ideia (Bruce Gowdy, o guitarrista, torceu o nariz desde o início), mas acabou rolando. Já Lora Mumford, a cantora, escapou do visual infantilizado. Foi escolhida por encaixar-se nos testes de voz e de aparência (era bonita e ficava gatíssima nas roupas futuristas boladas para o show, inspiradas no visual de Suzi Quatro). Era casada com um tecladista, Thom Miller, e acabou levando o marido para a banda.
O Halyx foi para o palco da Tomorrowland pela primeira vez em 20 de junho de 1981. Fez bastante sucesso, mas não o suficiente para contentar os ânimos dos executivos da Disneyworld. Muitos deles não estavam nem um pouco animados de haver uma banda de rock tocando em alto volume no parque. Isso levava o público a fazer barulho e tirava a atenção dos brinquedos do lugar (sim, esse dilema existia). A banda durou apenas um verão.
Em 11 de setembro (olha!) daquele mesmo ano, o Halyx se apresentou pela última vez, deixando saudade em muita gente, mas despontando para o esquecimento. Um contrato seria assinado pelo grupo com a Warner, em parceria com a Disney, mas a operação não andou. Só alguns anos depois, gravações do Halyx ao vivo (feitas direto da plateia) foram parar no YouTube. Mas a lerdeza dos executivos da empresa fez com que não saísse nem sequer um single do grupo.
FILME
Os músicos do Halyx foram parar em outros trabalhos. Alguns continuaram na música, outros não. O site Ancient Voices explica que Lora, após o fim do Halyx, arrumou emprego de garçonete ali perto da Disney, para não perder outras oportunidades. A cantora morreu em 2011.
E em 2020 a turma do canal Defunctland, dedicada a explorar o universo de parques, locais em geral e programas de TV que não existem mais, decidiu transformar a história do Halyx em filme. Live from the Space Stage foi feito a partir de uma campanha de crowdfunding e está inteirinho no YouTube. Pega aí
Via The Big Smoke, Imaginerding, Collider.
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Cinema
Ouvimos: Raveonettes – “PE’AHI II”

RESENHA: Os Raveonettes mergulham de vez no lo-fi e shoegaze em PE’AHI II, disco que soa mais próximo de uma transição do que de uma realização.
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Raveonettes, aquela dupla que misturava distorções a la Jesus and Mary Chain, clima melodioso herdado dos anos 1950 e estética do filme Juventude transviada, lembra? Pois bem, eles guiaram o timão de vez para gêneros como shoegaze e lo-fi. Não é algo estranho ao som deles, vale falar. Climas “serra elétrica” sempre tiveram lugar nos discos de Sune Rose Wagner e Sharin Foo. PE’AHI II, novo disco, é a continuação de PE’AHI, disco de 2014 que já promovia suas invasões nessas áreas. Sem falar que 2016 atomized – disco anterior de inéditas da banda, 2017 – surfava essa onda.
Só que o Raveonettes de 2025 chega a soar experimental, mesmo quando abre o novo disco com uma balada nostálgica e melancólica, Strange. E na sequência, o ruído programado de Blackest soa como uma curiosa mescla de blackgaze e pop de câmara. Já Killer é uma nuvem de microfonias que lembra bandas como Drop Nineteens, só que com mais cuidado na melodia.
Entre as outras curiosidades do disco, estão o noise rock programado de Dissonant, a viagem sonora e distorcida de Sunday school e a onda sonora de microfonia (alternada com toques dream pop) de Ulrikke. O resultado final deixa um ar de EP, de mixtape, mais do que de um álbum completo e realizado dos Raveonettes. Ainda que PE’AHI II tenha momentos ótimos, soa mais como uma transição para o que vem por aí.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Beat Dies Records
Lançamento: 25 de abril de 2025
Cinema
Urgente!: Cinema pop – “Onda nova” de volta, Milton na telona

Por muito tempo, Onda nova (1983), filme dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia – e censurado pelo governo militar –, foi jogado no balaio das pornochanchadas e produções de sacanagem.
Fácil entender o motivo: recheado de cenas de sexo e nudez, o longa funciona como uma espécie de Malhação Múltipla Escolha subversivo, acompanhando o dia a dia de uma turma jovem e nada comportada – o Gayvotas Futebol Clube, time de futebol formado só por garotas, e que promovia eventos bem avançadinhos, como o jogo entre mulheres e homens vestidos de mulher. Por acaso, Onda nova foi financiado por uma produtora da Boca do Lixo (meca da pornochanchada paulistana) e acabou atropelado pela nova onda (sem trocadilho) de filmes extremamente explícitos.
O elenco é um espetáculo à parte. Além de Carla Camuratti, Tânia Alves, Vera Zimmermann e Regina Casé, aparecem figuras como Osmar Santos, Casagrande e até Caetano Veloso – que protagoniza uma cena soft porn tão bizarra quanto hilária. Durante anos, o filme sobreviveu em sessões televisivas da madrugada, mas agora ressurge restaurado e remasterizado em 4K, estreando pela primeira vez no circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira (27).
Meu conselho? Esqueça tudo o que você já ouviu sobre Onda nova (ou qualquer lembrança de sessões anteriores). Entre de cabeça nessa comédia pop carregada de referências roqueiras da época, um cruzamento entre provocação punk e ressaca hippie. O filme abre com Carla Camuratti e Vera Zimmermann empunhando sprays de tinta para pixar os créditos, mostra Tânia Alves cantando na noite com visual sadomasoquista, segue com momentos dignos de um musical glam – cortesia da cantora Cida Moreyra, que brilha em várias cenas – e trata com surpreendente modernidade temas como maconha, cultura queer, relacionamentos sáficos, mulheres no poder, amores fluidos e, claro, futebol feminino.
Se fosse um disco, Onda nova seria daqueles para ouvir no volume máximo, prestando atenção em cada detalhe e referência. A trilha sonora passeia entre o boogie oitentista e o synthpop, com faixas de Michael Jackson e Rita Lee brotando em alguns momentos. E o que já era provocação nos anos 1980 agora ressurge como registro de uma juventude que chutava o balde sem medo. Vá assistir correndo.
*****
Já Milton Bituca Nascimento, de Flavia Moraes, que estreou na última semana, segue outro caminho: o da reverência, mesmo que seja um filme documental. Durante dois anos, Flavia seguiu Milton de perto e produziu um retrato que, mais do que um relato biográfico, é uma celebração. E uma hagiografia, aquela coisa das produções que parecem falar de santos encarnados.
A narração de Fernanda Montenegro dá um tom solene – e, enfim, logo no começo, fica a impressão de um enorme comercial narrado por ela, como os daquele famoso banco que não patrocina o Pop Fantasma. Aos poucos, vemos cenas da última turnê, reações de fãs, amigos contando histórias. Marcio Borges lê matérias do New York Times sobre Milton, para ele. Wagner Tiso chora. Quincy Jones sorri ao falar dele. Mano Brown solta uma pérola: Milton o ensinou a escutar. E Chico Buarque assiste ao famigerado momento do programa Chico & Caetano em que se emociona ao vê-lo cantar O que será – um vídeo que virou meme recentemente.
Isso tudo é bastante emocionante, assim como as cenas em que a letra da canção Morro velho é recitada por Djavan, Criolo e Mano Brown – reforçando a carga revolucionária da música, que usava a imagem das antigas fazendas mineiras para falar de racismo e capitalismo. Mas, no fim, o que fica de Milton Bituca Nascimento é a certeza de que Milton precisava ser menos mitificado e mais contado em detalhes. Vale ver, e a música dele é mito por si só, mas a sensação é a de que faltou algo.
Por acaso, recentemente, Luiz Melodia – No coração do Brasil, de Alessandra Dorgan, investiu fundo em imagens raras do cantor, em que a história é contada através da música, sem nenhum detalhe do tipo “quem produziu o disco tal”. Mas o homem Luiz Melodia está ali, exposto em entrevistas, músicas, escolhas pessoais e atitudes no palco e fora dele. Quem não viu, veja correndo – caso ainda esteja em cartaz.
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Cinema
Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.
As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.
E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.
Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.
O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).
Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.
A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.
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