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Cultura Pop

Entrevista: Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá e a turnê de “Dois” e “Que país é este”

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Entrevista: Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá e a turnê de "Dois" e "Que país é este"

Sem a Legião Urbana, eu (Ricardo Schott, que faço este site) poderia não ter conhecido: Metal box, o segundo disco do Public Image Ltd, Comsat Angels, Stranglers, It’s alive, disco ao vivo dos Ramones, Young Marble Giants, Grateful Dead, Joy Division, Buzzcocks, Gang Of Four. Eram todos personagens que apareciam em entrevistas da banda. E foram influências na elaboração de discos e músicas que se tornaram verdadeiros clássicos – como Dois (1986) e Que país é este (1987), agora prestes a serem relembrados por Dado Villa-Lobos (guitarra) e Marcelo Bonfá (bateria) em uma nova turnê.

Dessa vez, a tour de Marcelo, Dado e de Lucas Vasconcellos (guitarra), Roberto Pollo (teclados), Mauro Berman (baixo) e André Frateschi (voz) chega também aos Estados Unidos – têm datas dias 6 e 7 de setembro em Miami. A ideia é comemorar as três décadas de outros dois discos do grupo – como já havia sido feito com a estreia de 1985 -; recolocar a música da Legião e a poesia do vocalista Renato Russo de volta no palco (evidentemente, Eduardo e Monica e Faroeste caboclo, ambas compostas apenas pelo cantor morto em 1996, estão no roteiro) e manter de pé a comunhão entre o repertório e os fãs.

Entrevista: Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá e a turnê de "Dois" e "Que país é este"

Bati um papo com Dado e Bonfá para o jornal O Dia, onde trabalho, sobre a nova tour e sobre outros assuntos – entre eles, a fitinha K7 com o kit-press de Dois, que ressurgiu recentemente no YouTube, e da qual falamos. A ideia é que, em algum momento, o repertório de As quatro estações (1989) seja também relembrado. A íntegra da conversa segue aí.

Você vão fazer um show em Miami nessa nova turnê. Como é levar a música da Legião para fora do país?
DADO VILLA-LOBOS: Fizemos isso na turnê anterior também. É bacana sair daqui e expandir as fronteiras. Dessa vez vamos tocar num teatrinho num hotel lá, um projeto local lá de um amigo de Itaboraí de muitos anos atrás. Ele está com esse projeto, o Sounds of Brazil. E ele tá levando artistas, já foram Vanessa da Mata, Paulo Ricardo, Paula Toller…

Como tá sendo revisitar o repertório do Dois e do Que país é este? Vocês consideram essas músicas atuais? Fábrica falava de direitos dos trabalhadores, uma assunto que está mal resolvido até hoje…
DADO: Acho que são músicas absolutamente atuais, tanto questões mais panfletárias e políticas como Fábrica e Metrópole, ou Índios. A situação de Fábrica e Metrópole não mudou muito ao longo dos anos: as fábricas continuam lançando fumaça, as filas nos hospitais continuam se alongando… Mas tá sendo revigorante revisitar esse repertório. Estamos fazendo as canções ressurgirem de forma intensa.

Vão ter modificações nos arranjos?
MARCELO BONFÁ: A gente não gosta muito de modificar arranjos. Eu e o Dado estávamos no processo de composição desde sempre, e ele era dedicado, intenso. Vamos trazer esse trabalho mesmo. Nossos elementos dentro da música da Legião Urbana já foram estabelecidos e estão muito bem aceitos. O mais claro é que vamos executar os dois discos em comemoração a esse momento da Legião. É uma carga que significa muito para mim e para o Dado, trazemos isso dentro da música. Vamos alinhavar as músicas com o que a gente ouvia na época. Vai ser uma experiência sensorial.

E o que vocês ouviam nessa época?
DADO: Eu estava ouvindo na época João Gilberto e Killing Joke! Mas o Renato um dia me deu um fita K7 com muito Cat Stevens, Neil Young, Paul McCartney… Tudo com muito violão. O propósito dele era: “Vai aprender a tocar violão, porque vai ter muito violão aqui”. Mas ao mesmo tempo tinha muitas guitarras, arranjos harmônicos indo além dos três, quatro acordes. Alguns intervalos de sétimas e décimas, tipo Andrea Doria.

Na época do Dois saiu uma entrevista com o Renato na revista de Domingo, do Jornal do Brasil, e numa foto ele aparecia com um disco que, anos depois, fui descobrir que era do Jonathan Richman, do Modern Lovers (era It’s time for… Jonathan Richman and The Modern Lovers, de 1986).
DADO: Não lembro de ele mostrar isso para a gente, não! Eu conheci Modern Lovers quando os Sex Pistols gravaram Road runner. Mas fui ouvir a banda recentemente.

Dois envolveu muita experimentação. Como foi o trabalho em estúdio?
BONFÁ: O primeiro disco veio meio que pronto, né? Já o segundo é aquele desafio, porque tem que fazer músicas novas. A gente teve expectativas, do tipo: “Vou me violentar?”, “É isso mesmo que tô fazendo?”. E claro que tem o cronograma da gravadora. A gente estava numa rotina completamente desregrada na estrada. E tinha que dar uma parada pra fazer o disco, e não dava uma parada. Aproveitamos todo o tempo no estúdio, nada era desperdiçado. De repente eu fazia uma nota, aquilo virava uma ideia, a gente falava uma coisa e aquilo virava uma letra… Tínhamos dificuldades, mas elas vinham das nossas limitações. A gente vinha do punk, eu estava a fim de ser barulhento e sujo.

Qual foi a daquela fita cassette da EMI com uma entrevista com vocês, em 1986?
DADO: Aquilo foi para apresentar a banda e o segundo disco. Nos apresentávamos, dizíamos quem éramos e discorríamos sobre o disco para todas as rádios. Se uma rádio quisesse apresentar aquilo como se fosse um programa, ela iria divulgar a banda e a essência do disco.

Vocês imaginavam que aquilo fosse virar uma raridade? A apresentação da banda depois virou a Riding song, do disco Uma outra estação, e tinha até demos da banda ali junto…
DADO: Sério que tinha demos? Nem me lembrava.
BONFÁ: A gente nem tinha tempo de pensar nessas coisas. Imagina: “Ah, vamos mudar tudo…”

Tinha na fita um trecho da demo de Andrea Doria, em que vocês apareciam em posições trocadas, cada um tocando um instrumento diferente do que estava acostumado.
DADO: Eu lembro! A gente estava no estúdio Tok, em Botafogo, o estúdio do Chico Batera. Lembro da gente começar a fazer essa música nesse lugar aí. Teve Daniel na Cova dos Leões, a linha de baixo do Negrete junto com uma Lynn drum, um teclado.
BONFÁ: Não se desperdiçava nada. As próprias letras já passeavam no meio das bases.
DADO: O Dois tem muita sobra de estúdio, tem uma versão de Juízo final, do Nelson Cavaquinho…

Era para ser um disco duplo chamado Mitologia e intuição, certo?
DADO: É, e Juízo final não ia caber em nenhum dos lados por conta do espaço de cada lado.

Lembro de ter lido que essa música ganhou uma versão meio Joy Division… Chegou a ser gravado?
DADO: Isso, começava com um violão e depois ia para uma coisa nesse estilo. Tá tudo gravado, tá registrado nos tapes que estão com a gravadora, que hoje é Universal. Tínhamos a ideia de fazer o mesmo projeto que a gente fez no primeiro disco (1985), quando fizemos uma edição comemorativa com outtakes. No Dois, teríamos Juízo final, O grande inverno na Rússia… Tem uma versão de Fábrica em inglês. Não vai rolar porque a companhia de discos se desinteressou. Acho que a gente precisava de mais likes no Instagram para conseguir coisas assim (risos).
BONFÁ: A gente se quiser fazer outras coisas, tem tanta coisa para fazer: festejar o Dois, o três, o quatro…
DADO: A gente pensa em fazer um show também para o As quatro estações, mas aí tem que ver quando, onde, como…

O Que país é esse, por sua vez, foi feito numa época em que a banda entrou em estúdio – o Renato disse isso numa entrevista – e em seguida desistiu porque não queria lançar qualquer coisa…
BONFÁ: O disco cumpre vários papéis. São músicas com as quais a gente convive desde sempre, desde o Aborto Elétrico. Quisemos tentar nos divertir, cumprir um cronograma, ter tempo para respirar, já que a gente sabia executar aquelas músicas como ninguém. Também aproveitamos bastante o estúdio, tivemos tempo de falar: “Vamos botar um delay aqui, essa caixa não é tão simples…”
DADO: A gente entrou em estúdio sem ter energia e força para fazer um disco (Renato estava em crise criativa e o disco que se tornou Que país é este quase foi um álbum chamado Disciplina e virtude, abortado). Aquele era um repertório que a gente já conhecia, Foi divertido e fácil de fazer. Gravamos em 15 dias e mixamos em 15 dias. A gente bateu um recorde, acho. Saiu no Natal.

Como é executar Faroeste caboclo hoje em dia?
BONFÁ: A música tá perfeita, né?
DADO: Tá igual como tá no disco. É a história do Brasil rural e urbano…
BONFÁ: Fui tocar em Brasília esses dias, passei na Rodoviária e meu filho, João Pedro, me perguntou: “Foi aí que o João de Santo Cristo chegou, né?” Respondi: “Pô, deve estar chegando João de Santo Cristo aí todo dia!” Ela rola nos shows porque todo mundo pede. A gente sempre pergunta: ‘O que vocês querem ouvir?’. E respondem: ‘Toca Faroeste!'”.

Na época muita gente perguntava para vocês sobre uma aproximação com o sertanejo via Faroeste, e o estilo não era exatamente um lado A da música brasileira. Como vocês viam isso?
DADO: Sertanejo para a gente era Milionário e Zé Rico, música do sertão, viola de 10 cordas…
BONFÁ: Faroeste tem uma coisa de baião. Isso tá no sangue, apesar de a gente não ser músicos típicos. Eu sou um cara bem limitado, gosto de rock n’roll. A música tem vários elementos rítmicos, tem até reggae. E tudo surgiu naturalmente, não teve um: “Vamos fazer isso, aquilo”. Demos uma dinâmica para a música.
DADO: Ela era só voz e violão!
BONFÁ: Mas eu acho que Faroeste caboclo é Faroeste caboclo, não dá pra comparar com nada.

E como é tocar hoje nessa época em que o jogo virou e o sertanejo agora é meio filho de vocês, já que os novos artistas ouviram muito rock nacional e alguns até tocam sucessos do rock brasileiro nos shows?
DADO: Tocam músicas da gente?

https://www.youtube.com/watch?v=U1NXaVzHrD4

Tocam. Jorge e Mateus também tocam Capital Inicial, Jads & Jadson tocam Pitty…
BONFÁ: Bom, tá faltando música no mercado, né? Na verdade são músicas boas, isso é inegável.
DADO: É que nem o axé. O cara toca Los Hermanos, Anna Júlia, toca Será

E como vão as conversas com o filho de Renato Russo, Giuliano Manfredini, em relação ao uso do nome Legião Urbana?
DADO: A gente tentou acordos em alguns momentos. Desde que o Renato partiu, a gente vem sofrendo de alguma forma nesse sentido, não só da marca como também em relação a lançamentos de discos que estavam na gravadora ainda inéditos… Sempre havia alguma briga, algum desentendimento. Nunca tivemos esse espírito corporativo que outras bandas têm, em que todos vão lá e se preservam. É uma questão menor, o advogados estão resolvendo. Esse negócio de marca… É marca de quê? De telefone?
BONFÁ: Nosso propósito sempre foi música e e hoje a gente precisa de advogados para traduzir esse juridiquês. Essa situações estão no meio de coisas que atingem diretamente minha vida, né?

A música de hoje virou um monte de números, não?
BONFÁ: Bom, primeiramente a gente fazia música para a gente. Tinha um propósito maior aí, que é minha própria individualidade. Você tem que ter boas ideias, estar receptivo, querer alguma coisa. Eu não funciono na porrada, não vem nem impor alguma coisa para cima de mim. Nem ninguém da banda é assim.
DADO: Os nossos números são muito bons. Mas são números que vieram por conta do que a gente foi e continua sendo na cultura musical brasileira, o que representamos para as pessoas que ouvem aquilo nos mais variados momentos da sua vida.

Na turnê de 30 anos do primeiro disco, vocês fizeram show no Circo Voador com matinê para pais e filhos. Vai rolar isso?
BONFÁ: Vamos ver. Isso de ter pais e filhos se repetiu a turnê inteira. Teve show em que duas da manhã tinha criança de dez anos. A gente só não ficava mais preocupado porque a criança estava com os pais. Não tenho como não ficar mais feliz. Eu era turrão, era punk, revoltado, e isso quebra meu coração… E você não viu nosso camarim: era 80% criança.
DADO: Eu adoraria poder tocar num horário mais saudável, tipo dez, nove da noite. É muito cruel subir num palco uma hora da manhã. O público já tá cansado, bêbado…
BONFÁ: Sempre fica nítido que as prioridades são… Bom, o que importa é a grana, vamos botar a turma para beber e a banda para tocar.

Tem um filme vindo aí sobre Eduardo e Monica. O que sabem a respeito?
DADO: Não tô sabendo absolutamente nada.
BONFÁ: Não é uma propaganda de telefone?
DADO: É, tinha a propaganda da Vivo, né?
BONFÁ: É como aconteceu com Faroeste caboclo: o filme já tá pronto na letra. Mas a gente sempre se decepciona no final. A gente entende a visão do Renato, tem uma visão de como a música foi construída, e vem aí um cara querendo colocar um monte de informação extra, tornar a coisa mais hollywoodiana. O cara vai pra um caminho e desvirtua a coisa toda. Espero que não façam isso com Eduardo e Monica. Eu sei quem eles são e já fui muito na casa deles.

(a foto lá de cima é Fernando Schlaepfer/Divulgação)

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No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

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No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

Mais Pop Fantasma Documento aqui.

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No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

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Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

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4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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