Cultura Pop
Entrevista: Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá e a turnê de “Dois” e “Que país é este”

Sem a Legião Urbana, eu (Ricardo Schott, que faço este site) poderia não ter conhecido: Metal box, o segundo disco do Public Image Ltd, Comsat Angels, Stranglers, It’s alive, disco ao vivo dos Ramones, Young Marble Giants, Grateful Dead, Joy Division, Buzzcocks, Gang Of Four. Eram todos personagens que apareciam em entrevistas da banda. E foram influências na elaboração de discos e músicas que se tornaram verdadeiros clássicos – como Dois (1986) e Que país é este (1987), agora prestes a serem relembrados por Dado Villa-Lobos (guitarra) e Marcelo Bonfá (bateria) em uma nova turnê.
Dessa vez, a tour de Marcelo, Dado e de Lucas Vasconcellos (guitarra), Roberto Pollo (teclados), Mauro Berman (baixo) e André Frateschi (voz) chega também aos Estados Unidos – têm datas dias 6 e 7 de setembro em Miami. A ideia é comemorar as três décadas de outros dois discos do grupo – como já havia sido feito com a estreia de 1985 -; recolocar a música da Legião e a poesia do vocalista Renato Russo de volta no palco (evidentemente, Eduardo e Monica e Faroeste caboclo, ambas compostas apenas pelo cantor morto em 1996, estão no roteiro) e manter de pé a comunhão entre o repertório e os fãs.
Bati um papo com Dado e Bonfá para o jornal O Dia, onde trabalho, sobre a nova tour e sobre outros assuntos – entre eles, a fitinha K7 com o kit-press de Dois, que ressurgiu recentemente no YouTube, e da qual falamos. A ideia é que, em algum momento, o repertório de As quatro estações (1989) seja também relembrado. A íntegra da conversa segue aí.
Você vão fazer um show em Miami nessa nova turnê. Como é levar a música da Legião para fora do país?
DADO VILLA-LOBOS: Fizemos isso na turnê anterior também. É bacana sair daqui e expandir as fronteiras. Dessa vez vamos tocar num teatrinho num hotel lá, um projeto local lá de um amigo de Itaboraí de muitos anos atrás. Ele está com esse projeto, o Sounds of Brazil. E ele tá levando artistas, já foram Vanessa da Mata, Paulo Ricardo, Paula Toller…
Como tá sendo revisitar o repertório do Dois e do Que país é este? Vocês consideram essas músicas atuais? Fábrica falava de direitos dos trabalhadores, uma assunto que está mal resolvido até hoje…
DADO: Acho que são músicas absolutamente atuais, tanto questões mais panfletárias e políticas como Fábrica e Metrópole, ou Índios. A situação de Fábrica e Metrópole não mudou muito ao longo dos anos: as fábricas continuam lançando fumaça, as filas nos hospitais continuam se alongando… Mas tá sendo revigorante revisitar esse repertório. Estamos fazendo as canções ressurgirem de forma intensa.
Vão ter modificações nos arranjos?
MARCELO BONFÁ: A gente não gosta muito de modificar arranjos. Eu e o Dado estávamos no processo de composição desde sempre, e ele era dedicado, intenso. Vamos trazer esse trabalho mesmo. Nossos elementos dentro da música da Legião Urbana já foram estabelecidos e estão muito bem aceitos. O mais claro é que vamos executar os dois discos em comemoração a esse momento da Legião. É uma carga que significa muito para mim e para o Dado, trazemos isso dentro da música. Vamos alinhavar as músicas com o que a gente ouvia na época. Vai ser uma experiência sensorial.
E o que vocês ouviam nessa época?
DADO: Eu estava ouvindo na época João Gilberto e Killing Joke! Mas o Renato um dia me deu um fita K7 com muito Cat Stevens, Neil Young, Paul McCartney… Tudo com muito violão. O propósito dele era: “Vai aprender a tocar violão, porque vai ter muito violão aqui”. Mas ao mesmo tempo tinha muitas guitarras, arranjos harmônicos indo além dos três, quatro acordes. Alguns intervalos de sétimas e décimas, tipo Andrea Doria.
Na época do Dois saiu uma entrevista com o Renato na revista de Domingo, do Jornal do Brasil, e numa foto ele aparecia com um disco que, anos depois, fui descobrir que era do Jonathan Richman, do Modern Lovers (era It’s time for… Jonathan Richman and The Modern Lovers, de 1986).
DADO: Não lembro de ele mostrar isso para a gente, não! Eu conheci Modern Lovers quando os Sex Pistols gravaram Road runner. Mas fui ouvir a banda recentemente.
Dois envolveu muita experimentação. Como foi o trabalho em estúdio?
BONFÁ: O primeiro disco veio meio que pronto, né? Já o segundo é aquele desafio, porque tem que fazer músicas novas. A gente teve expectativas, do tipo: “Vou me violentar?”, “É isso mesmo que tô fazendo?”. E claro que tem o cronograma da gravadora. A gente estava numa rotina completamente desregrada na estrada. E tinha que dar uma parada pra fazer o disco, e não dava uma parada. Aproveitamos todo o tempo no estúdio, nada era desperdiçado. De repente eu fazia uma nota, aquilo virava uma ideia, a gente falava uma coisa e aquilo virava uma letra… Tínhamos dificuldades, mas elas vinham das nossas limitações. A gente vinha do punk, eu estava a fim de ser barulhento e sujo.
Qual foi a daquela fita cassette da EMI com uma entrevista com vocês, em 1986?
DADO: Aquilo foi para apresentar a banda e o segundo disco. Nos apresentávamos, dizíamos quem éramos e discorríamos sobre o disco para todas as rádios. Se uma rádio quisesse apresentar aquilo como se fosse um programa, ela iria divulgar a banda e a essência do disco.
Vocês imaginavam que aquilo fosse virar uma raridade? A apresentação da banda depois virou a Riding song, do disco Uma outra estação, e tinha até demos da banda ali junto…
DADO: Sério que tinha demos? Nem me lembrava.
BONFÁ: A gente nem tinha tempo de pensar nessas coisas. Imagina: “Ah, vamos mudar tudo…”
Tinha na fita um trecho da demo de Andrea Doria, em que vocês apareciam em posições trocadas, cada um tocando um instrumento diferente do que estava acostumado.
DADO: Eu lembro! A gente estava no estúdio Tok, em Botafogo, o estúdio do Chico Batera. Lembro da gente começar a fazer essa música nesse lugar aí. Teve Daniel na Cova dos Leões, a linha de baixo do Negrete junto com uma Lynn drum, um teclado.
BONFÁ: Não se desperdiçava nada. As próprias letras já passeavam no meio das bases.
DADO: O Dois tem muita sobra de estúdio, tem uma versão de Juízo final, do Nelson Cavaquinho…
Era para ser um disco duplo chamado Mitologia e intuição, certo?
DADO: É, e Juízo final não ia caber em nenhum dos lados por conta do espaço de cada lado.
Lembro de ter lido que essa música ganhou uma versão meio Joy Division… Chegou a ser gravado?
DADO: Isso, começava com um violão e depois ia para uma coisa nesse estilo. Tá tudo gravado, tá registrado nos tapes que estão com a gravadora, que hoje é Universal. Tínhamos a ideia de fazer o mesmo projeto que a gente fez no primeiro disco (1985), quando fizemos uma edição comemorativa com outtakes. No Dois, teríamos Juízo final, O grande inverno na Rússia… Tem uma versão de Fábrica em inglês. Não vai rolar porque a companhia de discos se desinteressou. Acho que a gente precisava de mais likes no Instagram para conseguir coisas assim (risos).
BONFÁ: A gente se quiser fazer outras coisas, tem tanta coisa para fazer: festejar o Dois, o três, o quatro…
DADO: A gente pensa em fazer um show também para o As quatro estações, mas aí tem que ver quando, onde, como…
O Que país é esse, por sua vez, foi feito numa época em que a banda entrou em estúdio – o Renato disse isso numa entrevista – e em seguida desistiu porque não queria lançar qualquer coisa…
BONFÁ: O disco cumpre vários papéis. São músicas com as quais a gente convive desde sempre, desde o Aborto Elétrico. Quisemos tentar nos divertir, cumprir um cronograma, ter tempo para respirar, já que a gente sabia executar aquelas músicas como ninguém. Também aproveitamos bastante o estúdio, tivemos tempo de falar: “Vamos botar um delay aqui, essa caixa não é tão simples…”
DADO: A gente entrou em estúdio sem ter energia e força para fazer um disco (Renato estava em crise criativa e o disco que se tornou Que país é este quase foi um álbum chamado Disciplina e virtude, abortado). Aquele era um repertório que a gente já conhecia, Foi divertido e fácil de fazer. Gravamos em 15 dias e mixamos em 15 dias. A gente bateu um recorde, acho. Saiu no Natal.
Como é executar Faroeste caboclo hoje em dia?
BONFÁ: A música tá perfeita, né?
DADO: Tá igual como tá no disco. É a história do Brasil rural e urbano…
BONFÁ: Fui tocar em Brasília esses dias, passei na Rodoviária e meu filho, João Pedro, me perguntou: “Foi aí que o João de Santo Cristo chegou, né?” Respondi: “Pô, deve estar chegando João de Santo Cristo aí todo dia!” Ela rola nos shows porque todo mundo pede. A gente sempre pergunta: ‘O que vocês querem ouvir?’. E respondem: ‘Toca Faroeste!'”.
Na época muita gente perguntava para vocês sobre uma aproximação com o sertanejo via Faroeste, e o estilo não era exatamente um lado A da música brasileira. Como vocês viam isso?
DADO: Sertanejo para a gente era Milionário e Zé Rico, música do sertão, viola de 10 cordas…
BONFÁ: Faroeste tem uma coisa de baião. Isso tá no sangue, apesar de a gente não ser músicos típicos. Eu sou um cara bem limitado, gosto de rock n’roll. A música tem vários elementos rítmicos, tem até reggae. E tudo surgiu naturalmente, não teve um: “Vamos fazer isso, aquilo”. Demos uma dinâmica para a música.
DADO: Ela era só voz e violão!
BONFÁ: Mas eu acho que Faroeste caboclo é Faroeste caboclo, não dá pra comparar com nada.
E como é tocar hoje nessa época em que o jogo virou e o sertanejo agora é meio filho de vocês, já que os novos artistas ouviram muito rock nacional e alguns até tocam sucessos do rock brasileiro nos shows?
DADO: Tocam músicas da gente?
https://www.youtube.com/watch?v=U1NXaVzHrD4
Tocam. Jorge e Mateus também tocam Capital Inicial, Jads & Jadson tocam Pitty…
BONFÁ: Bom, tá faltando música no mercado, né? Na verdade são músicas boas, isso é inegável.
DADO: É que nem o axé. O cara toca Los Hermanos, Anna Júlia, toca Será…
E como vão as conversas com o filho de Renato Russo, Giuliano Manfredini, em relação ao uso do nome Legião Urbana?
DADO: A gente tentou acordos em alguns momentos. Desde que o Renato partiu, a gente vem sofrendo de alguma forma nesse sentido, não só da marca como também em relação a lançamentos de discos que estavam na gravadora ainda inéditos… Sempre havia alguma briga, algum desentendimento. Nunca tivemos esse espírito corporativo que outras bandas têm, em que todos vão lá e se preservam. É uma questão menor, o advogados estão resolvendo. Esse negócio de marca… É marca de quê? De telefone?
BONFÁ: Nosso propósito sempre foi música e e hoje a gente precisa de advogados para traduzir esse juridiquês. Essa situações estão no meio de coisas que atingem diretamente minha vida, né?
A música de hoje virou um monte de números, não?
BONFÁ: Bom, primeiramente a gente fazia música para a gente. Tinha um propósito maior aí, que é minha própria individualidade. Você tem que ter boas ideias, estar receptivo, querer alguma coisa. Eu não funciono na porrada, não vem nem impor alguma coisa para cima de mim. Nem ninguém da banda é assim.
DADO: Os nossos números são muito bons. Mas são números que vieram por conta do que a gente foi e continua sendo na cultura musical brasileira, o que representamos para as pessoas que ouvem aquilo nos mais variados momentos da sua vida.
Na turnê de 30 anos do primeiro disco, vocês fizeram show no Circo Voador com matinê para pais e filhos. Vai rolar isso?
BONFÁ: Vamos ver. Isso de ter pais e filhos se repetiu a turnê inteira. Teve show em que duas da manhã tinha criança de dez anos. A gente só não ficava mais preocupado porque a criança estava com os pais. Não tenho como não ficar mais feliz. Eu era turrão, era punk, revoltado, e isso quebra meu coração… E você não viu nosso camarim: era 80% criança.
DADO: Eu adoraria poder tocar num horário mais saudável, tipo dez, nove da noite. É muito cruel subir num palco uma hora da manhã. O público já tá cansado, bêbado…
BONFÁ: Sempre fica nítido que as prioridades são… Bom, o que importa é a grana, vamos botar a turma para beber e a banda para tocar.
Tem um filme vindo aí sobre Eduardo e Monica. O que sabem a respeito?
DADO: Não tô sabendo absolutamente nada.
BONFÁ: Não é uma propaganda de telefone?
DADO: É, tinha a propaganda da Vivo, né?
BONFÁ: É como aconteceu com Faroeste caboclo: o filme já tá pronto na letra. Mas a gente sempre se decepciona no final. A gente entende a visão do Renato, tem uma visão de como a música foi construída, e vem aí um cara querendo colocar um monte de informação extra, tornar a coisa mais hollywoodiana. O cara vai pra um caminho e desvirtua a coisa toda. Espero que não façam isso com Eduardo e Monica. Eu sei quem eles são e já fui muito na casa deles.
(a foto lá de cima é Fernando Schlaepfer/Divulgação)
Crítica
Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.
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Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.
Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.
E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.
Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.
De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.
Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.
O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.
O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.
Já Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.
Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.
Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025
Cultura Pop
Urgente!: Nova do Hot Chip, “DVD” do Oasis em Cardiff, The Rapture de volta com turnê

RESUMO: Hot Chip (foto) anuncia coletânea e lança single e clipe. Fã produz vídeo do primeiro show do Oasis em Cardiff só com imagens feitas por fãs. The Rapture anuncia turnê pelos Estados Unidos e Canadá.
Texto: Ricardo Schott – Foto Hot Chip: Louise Mason/Divulgação
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Vai sair pela primeira vez uma coletânea do Hot Chip, Joy in repetition, prevista para 5 de setembro. Vale até a pergunta que muita gente já se fez: qual a importância de coletâneas nessa época de playlists e aplicativos de música com poucas infos? Bom, a importância de uma boa coletânea de hits é enorme, vale por uma setlist bem montada e pode contar uma história. E elas eram as playlist de duas décadas atrás.
No caso de Joy, ela traça o caminho do Hot Chip do tempo dos cachês baixos até a época em que jornais como The Guardian já estavam classificando Alexis Taylor, Joe Goddard, Owen Clarke, Al Doyle e Felix Martin como o maior grupo pop de seu tempo. E entre hits como Ready for the floor, I feel better e Look at where we are, ainda tem uma música nova de altíssimas proporções de grude: Devotion, já lançada em single, que é uma mescla de pop adulto, eletrônica psicodélica e futuro hit de pista, com clipe gravado no Japão.
Taylor rasga seda: Devotion é “uma celebração da devoção a este projeto coletivo”. E ele ainda faz um baita elogio ao colega Joe Goddard: “Penso no Joe como alguém parecido com o Brian Wilson, com uma dedicação enorme em descobrir como criar a música pop mais incrível possível”. Errado não está.
***
Alguém com (felizmente, não estamos julgando) muito tempo livre pegou varias imagens diferentes do primeiro show do Oasis em Cardiff, feitas por fãs da banda, e compilou um (digamos) DVD do show.
O registro tá o mais fiel possivel, apesar das imagens à distância e do som nem sempre maravilhoso – vale como um belo bootleg das antigas. Tem ate o som da fitinha de Fuckin in the bushes na abertura, e a voz do apresentador do show. Detalhe: quem botou o video no ar tentou se livrar de problemas avisando que o video nao é monetizado. Pode ser que não ganhe strike do YouTube. “É de um fã apenas para fãs”, avisa.
***
E ainda Oasis: vale ler o texto de Liv Brandão, fera do jornalismo musical brasileiro recente, sobre como a setlist do show do Oasis não foi apenas uma setlist. Foi uma aula de storytelling daquelas – como numa (olha aí) coletânea daquelas que vinham com textos contextualizando tudo.
“Muito se falou da escolha das canções, que privilegia os dois primeiros álbuns, como se só eles importassem (…). Mas tão especial quanto a seleção das 24 músicas que compõem o set, idêntico nos dois dias, é a ordem em que elas aparecem, montada para contar a história de quando o Oasis foi a maior banda do mundo – justamente na época desses discos – e tudo o que aconteceu desde então”. Leia o restante na newsletter dela
***
Banda importante do dance punk dos anos 2000, The Rapture voltou, mas não há ainda nenhuma novidade a respeito de disco novo – nem de shows no Brasil, já avisamos. Na real, esse grupo novaiorquino já está de volta desde 2019, com o cantor Luke Jenner como único membro fixo, mas não havia retornado de fato. Fizeram alguns shows, mas pararam as atividades por conta da pandemia, e foi só. Dessa vez, o grupo tem uma turnê de verdade pela frente, que começa dia 16 de setembro no mitológico First Avenue, em Minneapolis, e passa por várias cidades dos EUA e Canadá até novembro.
“Anos atrás, quando me afastei da banda, eu precisava de tempo e espaço para reconstruir minha vida”, conta Jenner sobre a volta, sem comentar diretamente sobre as brigas intermináveis que a banda tinha lá por 2014. “Eu precisava consertar meu casamento, estar presente para meu filho e, por fim, trabalhar em mim mesmo. Esta turnê marca um novo capítulo para mim, moldado por tudo o que vivi e aprendi ao longo do caminho. Conquistei tudo o que esperava alcançar através da música e agora posso usá-la para ajudar qualquer pessoa que talvez precise, como eu precisei naquela época”.
Cultura Pop
Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.
Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.
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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).
Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).
Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.
Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”
Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.
Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.
“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.
E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).
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