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Cultura Pop

Discos de 1991 #3: “Loveless”, My Bloody Valentine

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Discos de 1991 #3: "Loveless", My Bloody Valentine

A gravadora britânica Creation, reza a lenda, foi salva em 1992 pelo fato de metade do selo ter sido vendido à grandalhona Sony Music. Alan McGee, dono da empresa, não admitia nenhum tipo de concessão e só lançava o que realmente gostava. Chegou a tentar dirigir um selinho dentro da Warner, Elevation Records, mas o selo fechou após lançar algins singles e dois LPs – um deles, a bela investida jangle pop do Primal Scream, a estreia Sonic flower groove, de 1987.

Só que até que a Creation abiscoitasse uma graninha com os álbuns do Oasis (já com a Sony por trás) a bancarrota estava no caminho da gravadora. E justamente por intermédio de um disco que alguns dos críticos mais ranhetas consideram como um dos melhores já lançados desde os tempos de Thomas Edison: Loveless, segundo LP do My Bloody Valentine.

Até que o grupo liderado por Kevin Shields (voz, guitarra, teclados e músicas) entrasse em estúdio, parecia que tudo ia dar mais ou menos certo. A banda havia lançado uma série de EPs e um LP, Isn’t anything (1988), tudo de realização mais ou menos tranquila, com apoio total da crítica e vendas animadoras. Um dos primeiros EPs do grupo custou mil libras e foi feito em tempo recorde no estúdio de um amigo – nada mais indie. Choviam definições do som da banda (dream pop, rock de vanguarda), mas o My Bloody foi mesmo é a grande locomotiva do shoegaze, com suas paredes de guitarra.

Loveless, lançado em 4 de novembro de 1991, seguiu a trilha dos discos problemáticos dos anos 1990, em que o artista pira, resolve fazer “o melhor disco do mundo” e por muito pouco não tem que ser tirado do estúdio na base da pancada. Only shallow virou hit. No Brasil virou sucesso cult, turbinado por algumas exibições na MTV. When you sleep, Sometimes, Soon e outras faixas animaram igualmente os fãs.

Shields e sua turma (Colm Ó Cíosóig na bateria, Bilinda Butcher na voz e na guitarra, Debbie Googe no baixo) começaram a gravar Loveless em fevereiro de 1989 e só acabaram em setembro de 1991. A pira do vocalista incluiu trocas de produtores, dezenove estúdios, músicas que pareciam só existir na sua mente (e que demoravam um ano para ganhar vocais ou linhas de baixo), métodos bizarros de comunicação durante o trabalho que davam no saco até dos técnicos de som (que eram proibidos -!- de ouvir Kevin e Bilinda cantando). No fim das contas, foi gasta a quantia exorbitante de 250 mil libras.

Anos depois, Shields disse que basicamente pensava algo como “é possível, então vamos fazer”. Só esqueceu que estava num selo pequeno. Ele diz que logo no começo a banda teve tapes confiscados porque a gravadora não conseguiu pagar o estúdio. “Não acho que ninguém faria algo como isso de novo, porque não é comercialmente viável”, disse à Rolling Stone em 2017. E os tais 250 mil paus (que ele costuma reduzir para 140 mil libras)? Não foi um exagero? “Mas por que isso seria um problema? Já viu o quanto custavam os discos do Pink Floyd e dos Beatles?”, viajou.

O grupo ficou décadas parado e Shield meio que “quebrou”, demorando até 2013 para entregar um novo disco do My Bloody Valentine (o bom mbv, terceiro ábum, fez os fãs felizes nessa época). Loveless, grande disco, foi talvez a maneira como o indie rock entendeu a mania típica dos anos 1980 e 1990 por superproduções e períodos estendidos dentro do estúdio. Deu certo. E até Robert Smith, do Cure, admitiu que é um dos melhores discos de todos os tempos.

Outros discos de 1991 aqui.
Tem conteúdo extra desta e de outras matérias do POP FANTASMA em nosso Instagram.

Cultura Pop

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

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No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

Mais Pop Fantasma Documento aqui.

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Cultura Pop

No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

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Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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