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Crítica

Ouvimos: Deradoorian – “Ready for heaven”

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Ouvimos: Deradoorian - "Ready for heaven"

RESENHA: Deradoorian mistura política, dor e experimentação em Ready for heaven, disco que une folk, psicodelia, jazz e pop com alma e ousadia.

“Teríamos todos esses rótulos de identidade pelos quais temos que viver se não vivêssemos em um mundo capitalista?”, disse Angel Deradoorian num comunicado de imprensa sobre seu novo álbum, Ready for heaven. Um disco que, segundo ela, fala sobre luta mental, sobre como viver num mundo que caga deliberadamente para tudo em nome do dinheiro – e que escolhe, para emoldurar os versos, um design musical estiloso, acessível, mas com alma experimental.

A ex-integrante do Dirty Projectors levou os assuntos do disco para as esferas política e pessoal, já que o próprio som de Ready for heaven desafia definições o tempo todo. Tem algo que soa folk, mas folk como os discos de Suzanne Vega e PJ Harvey. Tem algo meio indie pop, mas não como o indie pop comum. Sons texturizados e inorgânicos, mas absolutamente humanos, tomam conta das faixas, como em Storm in my brain, Any ohter world (essa, soando como um móbile com várias peças se movimentando cada uma de um jeito) e no tom psicodélico e tribal de Digital gravestone. Evocações de Laurie Anderson surgem aqui e ali, e a voz de Nico parece ser homenageada em algumas faixas.

Em Ready for heaven, surge uma tentativa (bem sucedida, aliás) de pôr veneno numa faixa com ares de disco music – a sexy No no yes yes, que soa como um disco de Yoko Ono produzido e dirigido por Giorgio Moroder. Brota também uma faixa nostálgica que lembra antigos hits nacionais cantados em inglês, Set me free, só que com um curioso clima renascentista – embora pareça às vezes que vai entrar uma declamação, no estilo de Tell me once again (Light Reflections).

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Golden teacher tem clima afrojazz e Purgatory of consciousness soa como o purgatório do título, com sons de várias percussões, vozes e teclados ressoando como várias abas abertas – só depois a música vai ganhando um ritmo. E Deradoorian encerra o disco fazendo jazz do inferno e das profundezas, numa faixa sintomaticamente chamada Hell island – cuja letra fecha o ciclo com otimismo, em tempos de nuvens sombrias: “eu conheço o outro lado do espírito agora / eu sei que nos levantaremos mais uma vez”. Ready for heaven soa na maior parte do tempo como um chamamento no estilo “me sinto pronta, e você?”, tanto musicalmente quanto nas letras.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Fire Records
Lançamento: 9 de maio de 2025.

Crítica

Ouvimos: Ludmilla – “Fragmentos”

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Disco novo de Ludmilla, Fragmentos é um lançamento de transição, em que o r&b aparece unido a elementos do passado - e não domina o álbum inteiro.

RESENHA: Disco novo de Ludmilla, Fragmentos é um lançamento de transição, em que o r&b aparece unido a elementos do passado – e não domina o álbum inteiro.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 6 de novembro de 2025

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Ponto básico: não soma pontos pra ninguém fazer dueto com Luisa Sonza – mas Ludmilla parece duvidar disso e convidou a loura para soltar a voz em Calling me, a faixa mais fraca desse disco novo dela, Fragmentos. Outro ponto: Fragmentos está longe de ser um disco fraco (como alguns críticos apontaram). Também não é “o disco de r&b” de Ludmilla, apesar dela lançar músicas no estilo e de ter falado umas verdades sobre como o estilo é tratado no Brasil (não existe parada de r&b brasileiro, a cena eternamente parece espremida entre rap e funk, etc).

Na real, Fragmentos parece um disco de transição, em que Ludmilla não parece querer deixar de lado os fãs que conquistou cantando pagode. O estilo surge como subtexto até mesmo em faixas pop como Cheiro de despedida e A pior parte, na vibe trap de Whisky com água de choro e na baladinha chorosa Falta eu (cuja letra fala de amores lésbicos secretos e oprimidos). Não é à toa: o pagode dos anos 1990 surgiu no meio da nova onda de boy bands, e vários grupos tinham fotos de divulgação e capas de discos (e mapas de palco) próprios de artistas que cantam dançando. R&B e pagode, no Brasil, nunca foram tão separados assim.

  • Ouvimos: Katy da Voz e As Abusadas – A visita

Em alguns momentos, dá pra imaginar que Ludmilla andou ouvido bastante Clairo e Billie Eilish – tem muita coisa em Fragmentos que parece com elas, só que numa linguagem de funk, trap, pagode e r&b. Rola no folk fofo de Tudo igual, no soul tristonho e bedroom de A pior parte. O r&b extremamente autêntico vai surgindo aos poucos no disco. Tem o pop romântico leve de Paraíso, o samba-pop Coisa de pele, os vocais criativos de Dopamina – mas o que fica mais na mente é o batidão violento de Energy, gravada com as rappers Ajuliacosta e Duquesa, mostrando que a mescla entre r&b e peso sonoro herdado do rap é um caminho mais legal para um próximo disco. Como rola também em Meu defeito, som de briga no estilo de Cardi B.

Uma curiosidade no disco é o final, com Textos longos – r&b em que Ludmilla, em tempos de zap zap, se empodera e diz que “nunca mais serei aquela mina que perde noites em claro no telefone esperando a sua ligação” (!). O pop nunca vai deixar de falar de frustrações amorosas e respostas que não vêm fácil – e às vezes fala da maneira mais clássica.

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Ouvimos: Partido da Classe Perigosa – “Dízimo” (EP)

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Dízimo, EP do Partido da Classe Perigosa, ataca falsidades religiosas com rap-punk pesado, críticas ácidas e faixas que vão do hardcore ao post-rock.

RESENHA: Dízimo, EP do Partido da Classe Perigosa, ataca falsidades religiosas com rap-punk pesado, críticas ácidas e faixas que vão do hardcore ao post-rock.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 7 de novembro de 2025.

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Saiu o EP gospel do grupo de rap-punk Partido da Classe Perigosa. Bom, quase isso: Dízimo é um disco que gira em torno de falsidades das religiões, bancada da Bíblia, igrejas que pedem salários inteiros como dízimos e coisas do tipo.

Línguas estranhas surgem na vinheta Evangelho, que abre o disco – e logo em seguida, a porrada sombria Bíblia e terno propõe o micro-ondas como solução para vacilões de terno, gravata e Bíblia debaixo do braço. “Jesus era um cara tão legal / não é possível que esse cara ia trabalhar pra sucursal / Jesus só andava com pobre e marginal / tocou o terror no templo, vinho e peixe pra geral”. Sucursal, hardcore-rap, tem os vocais de Glenda (808 Punks) e mostra a voz do “outro lado”, com a gravação de uma voz pedindo ao fiel que ofereça o dinheiro de seu aluguel durante um ano, todos os meses – para depois supostamente conseguir uma casa própria.

No final, o rap-post rock-metal La maison est tombée é o “a casa caiu” de uma turma que já esteve no topo da cadeia alimentar: “hora de arrumar tua zona / queimar estar notas frias e jogar fora o celular (…) / sete pragas vai ser pouco pro que vem de arrasta”. Porrada nos cornos.

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Ouvimos: Sunflowers – “You have fallen… Congratulations!”

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Sunflowers misturam garage, indie, surf e no wave num disco feroz: riffs à la Black Sabbath, barulho gelado, psicodelia suja e pancadas egg punk.

RESENHA: Sunflowers misturam garage, indie, surf e no wave num disco feroz: riffs à la Black Sabbath, barulho gelado, psicodelia suja e pancadas egg punk.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Fuzz Club
Lançamento: 7 de novembro de 2025

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Os Sunflowers vêm de Portugal, mas parecem saídos de alguma garagem ou sala de ensaios em Nova York. You have fallen… congratulatons! une garage rock, indie rock, surf music e mumunhas de no wave em poucos minutos. Chameleon kids, na abertura, tem algo de Idles e The Hives, I got friends é uma surf music gelada, com barulho à frente. Corpse light é porrada de verdade, com um riff que lembra Lord of this world, do Black Sabbath, emendando num som quase punk gótico, quase darkwave.

A therapist’s special abre com ruídos de guitarra – parece até que vem algo eletrônico ou industrial na sequência dos ruídos, mas é um rock com cara psicodélica, vira-lata e garageira. March of the drones também ameaça algo bem eletrônico e psicodélico – o que vem são lembranças do riff de Peter Gunn (Henry Mancini) envoltas em lembranças de Black Sabbath. Workworkwork é uma porrada quase egg punk, com sintetizador sujo. No final, as microfonias de You have fallen… e as distorções altas de Congratulations!, as duas faixas-título.

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