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Crítica

Ouvimos: Celacanto – “Não tem nada pra ver aqui”

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Ouvimos: Celacanto - "Não tem nada pra ver aqui"

RESENHA: Celacanto estreia com Não tem nada pra ver aqui, um disco denso e original que mistura pós-punk, MPB, noise rock e Radiohead com sotaque brasileiro.

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Das bandas mais novas do rock brasileiro, os paulistanos do Celacanto foram os que melhor ouviram bandas como Radiohead e Television, e se aproveitaram das influências para criar um som com cara própria. Não tem nada para ver aqui, o álbum de estreia, tem muito do lado sombrio do pós-punk e do noise rock, mas sempre focado em produzir um som que não se feche em guetos.

Tanto que faixas como Quadros, Desamarrado e Vendo demais têm um lado emepebístico forte – a última até soa como se o Radiohead tivesse feito uma música para Gal Costa gravar. Você vai ficar velho, o mundo está ficando velho também fecha o disco com piano e voz, ritmo de maracatu e um clima que lembra as gravações do pianista Vitor Araújo, hoje tocando com Arnaldo Antunes. Vozes superpostas, riffs fortes e uma vibe hipnótica marcam uma das melhores músicas do álbum, É de pano, enquanto a faixa-título soa como um post rock menos desértico.

O Celacanto, em praticamente todo o disco, lembra que nos dias de hoje, nem mesmo festa é sinal de diversão, como na dança triste de Dançando sozinho e na desesperança de Quadros (“a casa caiu / larga o que der aqui / deixa ruir longe / a gente sai junto e foge”). Já Cedo é meio solar e meio introspectiva, tudo junto, e tem uma das letras mais românticas e envolventes do disco. E Meu caminho é a maior curiosidade do disco, uma canção absolutamente lo-fi, feita basicamente sobre uma base melodiosa de efeitos sonoros.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Matraca
Lançamento: 17 de abril de 2025.

Crítica

Ouvimos: Clara Lima – “As ruas sabem”

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Clara Lima entrega frases afiadas e boombap clássico em As ruas sabem, disco sobre corre, fé e vivência das ruas.

RESENHA: Clara Lima entrega frases afiadas e boombap clássico em As ruas sabem, disco sobre corre, fé e vivência das ruas.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 4 de julho de 2025

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Rapper vinda de Belo Horizonte, Clara Lima é ótima de frases: “queria que toda essa neurose fosse grana na minha conta”, “meu bairro me ensinou que você não pode abraçar o errado”, “onde tava escrito que você podia sonhar?” “se alguma mãe vai chorar, não vai ser a minha nem fodendo”. O repertório de As ruas sabem, seu sétimo álbum, é pura luta do dia a dia e vivência das ruas. O batidão do disco, por sua vez, surge ligado à onda clássica do boombap, mesmo quando flerta com estilos como r&b e com vibes latinas, ou com batidas mais lentas.

Trilhado no corredor da batalha, As ruas sabem já abre com Bom dia, que traz a gravação de um telefonema de banco (“sou Daniela do banco x / queremos oferecer um acordo de parcelamento da sua dívida”) – seguindo com a batida lenta de Tabuleiro e com o vocal rápido e grave de PHD, faixa sobre procedimentos e cobranças da vida, e sobre maturidade (“nada passa batido, a cobrança vai chegar / adestrei os demônios e aguardo a poeira baixar”). Nível profissional traz lembranças de injustiças e desigualdades da vida, falando da sorte de quem já sai de casa no privilégio.

As ruas sabem vai crescendo no ouvido de modo bem diferente dos vários discos de rap atuais – por acaso, uma característica que Clara divide com outro rapper mineiro, FBC, em seu recente Assaltos & batidas. Letras como a do rap gospel Praticando a fé e ganham um ar de manual do corre, mais até do que de relatório sobre inimigos e vacilões do meio artístico. O mesmo rola nos planos infalíveis de Corda bamba, na visão atualizada da fama em Um brinde aos reais e nos perrengues da pixação de Tinta na mão: “Fuga na viatura / sem medo de altura (…) / letreiro do submundo / doença sem cura / dos gueto oriundo”, emendando com: “foda-se seu discurso barato / foda-se seu bolsonazi”.

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Crítica

Ouvimos: Deekapz – “Deekapz FM”

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Em Deekapz FM, a dupla Deekapz transforma o rádio em pista de dança e memória afetiva, misturando funk, pop, drum’n’bass e emoção.

RESENHA: Em Deekapz FM, a dupla Deekapz transforma o rádio em pista de dança e memória afetiva, misturando funk, pop, drum’n’bass e emoção.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 6 de agosto de 2025.

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Projeto criado pela dupla Paulo Vitor e Matheus Henrique, produtores de música eletrônica, o Deekapz decidiu se transformar numa rádio em seu disco de estreia. Deekapz FM surgiu em nossos ouvidos bem na hora em que se noticia o fim da rede Transamérica. E o rádio, como memória afetiva do lançamento de músicas, e da descoberta de sons novos, recebe um baita golpe.

Paulo e Matheus não estão apenas lançando um disco, na real: estão prestando uma homenagem ao rádio e a toda a sua importância histórica – sem falar nas suas possibilidades, que nem de longe são cobertas pelas playlists e pelas plataformas de música. A faixa inicial, Dance, é uma dance music com narração e vinhetas, participação da Fat Family e anúncio da lista variada de convidados do álbum.

  • Ouvimos: Cyberkills – Dedo no cue

Fica claro que Deekapz FM não tem apenas música. Tem companhia e curadoria, seguindo inicialmente com o funk sacana de Maui em Vem comigo, com a drum n bossa de Criolo, DJ Marky e Makoto em Onde anda o meu amor – com referência à música homônima de Orlandivo – e com o som dançante e autotunado de Luccas Carlos em Eu te entendo. Deekapz FM é também uma soma de tendências musicais, que seguem atrás da outra, como num daqueles programas de “festa pronta” que tocam no rádio no fim de semana à noite.

Num conceito de “comandar o melhor do que faz o seu corpo balançar” (como diz uma das vinhetas do álbum), Deekapz FM segue com o pop romântico de Kaike em Detalha, o samba drum n bass solar e desconcertante de Riscos (apresentando a boa voz de Bibi Caetano), o clima indie pop de Gab Ferreira (em Manias disfuncionais), a musicalidade do Tuyo (na celestial Repara), as ótimas participações de Urias e da rapper mineira Clara Lima – a primeira, ao lado de Maffalda no club-pop Bafora, a segunda na ousada e sombria Nóis é o trem, seguida pelo batidão de Nego Bala em Ego.

Ouvindo Deekapz FM você pode até trocar as bolas e achar realmente que está ouvindo rádio – inclusive porque tem uma “hora dos comerciais” no disco. Faz parte da viagem.

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Ouvimos: Funmilayo Afrobeat Orquestra – “De ponta a ponta” (EP)

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Funmilayo Afrobeat Orquestra mistura afrobeat, jazz e reggae em um EP que reflete São Paulo e o ser negro.

RESENHA: Funmilayo Afrobeat Orquestra mistura afrobeat, jazz e reggae em um EP que reflete São Paulo e o ser negro.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 10 de outubro de 2025

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“Como pessoas negras, perguntamos sempre: quais são nossos desafios? Como é ser de axé numa cidade de concreto?”, perguntam-se as integrantes da Funmilayo Afrobeat Orquestra, noneto feminino que une estilos como reggae, rock, jazz e soul ao afrobeat, e que faz do EP De ponta e ponta um produto não apenas musical, mas também social e existencial.

  • Ouvimos: Naïf – Trópicos úmidos (EP)

O beat leve e os metais da faixa de abertura, A cidade é um espelho, descortinam um mergulho na obra de Itamar Assumpção, e uma letra que fala sobre amar e odiar São Paulo ao mesmo tempo – e sofrer para se enxergar numa metrópole competitiva. O encanto e a maquinaria abre com ótimos riffs de teclado, e com metais cheio de vivacidade, que valem por vocais bem dirigidos. Até que surge a letra, inspirada pelos desastres ambientais de São Paulo e pela desigualdade social descortinada por eles.

Já a quase faixa-tíulo (Ponta a ponta, sem o “de”), com sete minutos, une afrobeat, jazz e Nordeste para falar sobre missões diárias das quais não se desiste, mesmo com as dificuldades, com o racismo e com a distância dos grandes centros. Música, documento e afirmação lado a lado.

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