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Ouvimos: Bryony Lloyd – “Aerial” (EP)

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Ouvimos: Bryony Lloyd - "Aerial" (EP)

RESENHA: Bryony Lloyd estreia com o EP Aerial, um folk barroco e melancólico sobre solidão urbana, gravado com beleza e minimalismo.

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Vinda de Manchester, com alguns singles na discografia (lançados desde o ano passado), Bryony Lloyd segue o mesmo clima quase barroco do folk britânico dos anos 1960 – 1970, de bandas como Steeleye Span e Fairport Convention. O primeiro EP, Aerial, fala de uma cidade gelada e distante na faixa de abertura, Never never never, com violão e cordas nostálgicas, e versos como “eu nunca tive uma mão / dada a mim / como eles dão um ao outro”.

Bryony permanece falando de solidão em 4am, folk com piano tocado lá de longe, com cordas discretas e delicadas. Moon in Libra é pop barroco introspectivo, It’s OK é outro retrato da solidão – com fantasmagoria acentuada no som e clima esparso, meditativo. Em When you looked away, por sua vez, sons parecem ranger em meio à delicadeza da voz e do violão, gravados como se viessem de uma fita, em meio a uma letra cheia de palavras nunca ditas. Em muitos casos do EP, por sinal, só o violão e a voz não parecem estar sendo usados para funções diferentes do normal.

O final tem Phantasmagoria in two, com melodia lembrando discretamente Blowin in the wind (Bob Dylan), violão e voz soando como se viessem de uma fita K7 gravada casalmente numa cozinha, ou num lugar qualquer com bastante reverberação. Um disco cheio de tristeza, e uma espécie de EP conceitual sobre solidão e frieza na cidade grande.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 6 de março de 2025.

Crítica

Ouvimos: Chloe Qisha – “Modern romance” (EP)

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Ouvimos: Chloe Qisha - "Modern romance" (EP)

RESENHA: Chloe Qisha encara o caos moderno em Modern romance, EP que mistura synthpop, emo e letras afiadas sobre amor, crise e existencialismo pop.

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Não precisa nem ler uma dúzia de livros para entender que um dos assuntos preferidos dos dias de hoje é a confusão – para muita gente, os tempos de hoje sáo distópicos, e observar todo esse caos de fora, com perspectiva, é para poucos. E essa bagunça entre ficção e realidade, entre idealização e (hum) verdade, é um dos combustíveis de Modern romance, EP novo da nova sensação pop Chloe Qisha.

Musicalmente – e vá lá, até nas letras – Chloe soa bastante comparável a muita coisa pop-rock atual, especialmente Olivia Rodrigo. Há diferenciais: um pé maior no synthpop do que no rock-de-guitarras, além de uma vivência mais apurada, até nos vocais. Nas músicas, Chloe lida com as distopias particulares da vida dela, como as lembranças das ilusões amorosas da adolescência (The boys, 21st century cool girl), o amor por pessoas que parecem feitas de areia (Modern romance) e a vontade de nem sequer sair da cama, porque o mundo lá fora parece medonho demais para quem não nem tem nem 30 anos e ainda está descobrindo a miséria dos boletos (Sex, drugs and existential dread).

Existencialmente e sexualmente, a coisa só parece resolvida mesmo em A-Game, a última faixa, na qual ela decide fazer amor com uma pessoa fanática por esportes “como se estivéssemos na WrestleMania” (evento fodaralhástico de luta-livre). Os sons no EP variam entre o emo teatral lembrando Queen (21st century), tecnorock que usa guitarras como um ambiente sonoro (Modern romance, The boys, A-Game) e um ligeiro pós-disco (Sex, drugs, com um pé no Paramore). Uma confusão que gruda.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: VLF Records / Are You Serious? Records
Lançamento: 15 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Julia Mestre – “Maravilhosamente bem”

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Ouvimos: Julia Mestre - "Maravilhosamente bem"

RESENHA: Julia Mestre retorna com um som mais elaborado em Maravilhosamente bem, disco que mistura MPB vintage, boogie 80s e pop atual com beleza e sutileza.

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O som de Julia Mestre voltou com uma cara diferente, mais elaborada, no terceiro disco, Maravilhosamente bem. Um disco que por sinal é um dos melhores trabalhos recentes da MPB a equilibrar referências do pop transante do começo dos anos 1980. O boogie vaporoso da faixa-título, o pop adulto de Sou fera e o clima Rita-e-Roberto de Pra lua e Veneno da serpente devolvem todo mundo a uma época em que patins era moda, a série Amizade colorida escandalizava geral na Globo e a abertura da novela Sol de verão ajudava a vender biquíni e bronzeador.

Maravilhosamente bem é um disco que, aparentemente, passou por uma elaboração complexa – a própria Julia afirmou num texto de seu Instagram que passava por um processo pessoal de cura, do qual saiu o single Sou fera. Mesmo com o olhar voltado para uma MPB jovem e vintage, o disco se conecta com o pop atual – como no boogie latino de Vampira. Ambientações musicais entre a disco music e o dream pop tomam conta de boa parte do álbum, combinando os vocais sussurrados e as cordas patinantes lembrando Boney M e The Trammps.

Entre referências e emanações que incluem pop latino (a não autoral Vampira foi feita pelo ex-menudo Ray Reyes) e os arranjos de Lincoln Olivetti, Maravilhosamente bem também é repleto de canções que parecem ter saído dos estúdios da PolyGram no anos 1980 – incluindo a homenagem a Marina Lima Marinou, limou (com participação da homenageada) e a vibe Angela Ro Ro de Sentimento blues. Ou o dream pop realmente pop de Cariño, no final.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente.
Lançamento: 8 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Prima Queen – “The prize”

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Ouvimos: Prima Queen, "The prize"

RESENHA: Prima Queen lança The prize, álbum de indie pop sonhador com clima vintage, empoderamento nas letras e ecos de ABBA, britpop e pós-punk.

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Quem curte bandas como The Big Moon e The Last Dinner Party provavelmente vai enxergar no Prima Queen uma continuação mais indie do som desses dois grupos. A banda liderada por Louise Macphail e Kristin McFadden tem o mesmo compromisso com climas vintage, sons entre o dream pop e o soft rock, e refrãos celestiais feitos para animar plateias.

As duas juntam tudo isso com a disposição para falar de barcas furadas emocionais (com olhar atualizado) e para acrescentar detalhes inusitados à sua imagem. Para começar Louise e Kristin associaram o Prima Queen ao universo dos esportes femininos, e esse imaginário surge nos clipes, nas letras, nas fotos de divulgação e na capa deste The prize, que é o primeiro álbum cheio das duas.

Boa parte do disco fala basicamente de autoestima e superação – e tanto as imagens das duas quanto a própria música aparecem quase como fantasmas de outros tempos. Algo envolto numa mística de sonho, ou uma imagem do tipo “já vi isso antes”. Aliás, quem lembra daquelas séries de coletâneas britânicas com nomes tipo Hot hits ou Smash hits, e garotas esportistas nas capas – ou daquela série Disco 78, 79,80 (o ano variava), lançada pela Som Livre – já viu mesmo.

Musicalmente, o Prima Queen, que nos primeiros singles parecia um encontro entre The Cure, New Order e Fleetwood Mac, volta com clima sonhador e vaporoso em Mexico, lembra um ABBA indie na faixa-título The prize (música que tenta convencer uma garota desprezada a levantar a cabeça dizendo que “você esqueceu que você é um diamante? / você é o sonho, você é um pêssego, o prêmio”) e faz um britpop com ótica feminina – lembrando Shampoo e Elastica – na ótima Oats (Aint gonna beg), um rock garageiro e doce ao mesmo tempo.

O Prima Queen ganha cara mais pós-punk em Ugly, Fool e Woman and child, migra para a bossa nova de gringo em Flying ant day, faz indie rock tranquilo em Meryl Streep e investe em climas acústicos em Spaceship, Sunshine song e More credit – essa última, a cara daquelas baladas iniciais do pós-brit pop. Acaba ganhando pela preocupação em entregar um produto bonito, do tipo que gruda no ouvido (a própria The prize tem essa onda), e pela sinceridade nas letras.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Submarine Cat Records
Lançamento: 25 de abril de 2025.

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