Som
Aumenta o som! – Sleigh Bells, “It’s just us now”

Uma das duplas-com-nome-de-banda da atualidade (são várias!), os novaiorquinos do Sleigh Bells têm lá certa relação com o Brasil. Alexis Krauss e Derek E. Miller se conheceram em 2008 quando Derek trabalhava num restaurante brasileiro (!) lá em Nova York chamado Miss Favela, e Alexis e sua mãe jantavam lá.
Diz a lenda que, ao ouvir os planos de Derek sobre arrumar uma vocalista mulher para um projeto musical, num papo informal, a própria mãe de Alexis sugeriu a filha como cantora. O duo já gravou quatro álbuns – o mais recente,”Jessica Rabbit”, saiu no finzinho de 2016 pelo próprio selo da dupla. Do álbum, recomendamos “It’s just us now”. Pega aí.
Notícias
Urgente!: Little Simz espanta os problemas, Madonna em série, Lemonheads com novidades, e mais

Prestes a lançar disco novo, Lotus (sai dia 6 de junho pela AWAL), a rapper Little Simz andou passando por alguns maus bocados. Irritada com um calote que diz ter recebido do produtor InFlo, com quem trabalhou no misterioso grupo Sault, ela foi atrás dos seus direitos – botou o cara na justiça por supostamente não ter pago um empréstimo de £ 1,7 milhão, incluindo £ 1 milhão para cobrir o único show ao vivo do grupo até o momento, em dezembro de 2023.
De qualquer jeito, vida que segue: ela acaba de lançar o single Young, o terceiro a anunciar Lotus. A música é um rap-rock sinuoso e divertido, no qual Little Simz fala sobre um dia a dia descompromissado no qual a zoeira nunca acaba. No clipe, dirigido por Dave Meyers, ela surge interpretando uma personagem bem mais velha que ela, que toca baixo. O site Stereogum andou comparando a faixa com o ritmo de Low rider, sucesso do grupo War – faz sentido.
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Depois de quase vinte anos sem lançar um álbum de inéditas, os Lemonheads reaparecem com sinais vitais fortes. Love chant, o novo disco, sai em breve, e já tem um primeiro cartão de visitas: o single duplo Deep end / Sad Cinderella, que também ganha um clipe dirigido pelo coletivo Surreal Hotel Arts. Em paralelo, a faixa será lançada em vinil 12” (edição limitada de 500 cópias) no dia 13 de junho.
A suingada Deep end soa quase grunge, com solo de J Mascis (Dinosaur Jr), e letra que parece saída de um encontro em um beco qualquer. A faixa tem a assinatura de Evan Dando e Tom Morgan (Smudge), velho parceiro australiano, e conta com backing vocals de Juliana Hatfield. A Austrália, aliás, entra nesse roteiro: a banda passa por lá ainda este mês, encerrando as comemorações pelas três décadas (e uns quebrados) dos álbuns It’s a shame about Ray e Come on feel The Lemonheads.
O lado B do single traz Sad Cinderella, cover sensível do saudoso Townes Van Zandt, cantor norte-americano de country, morto em 1997. A faixa é um dueto feito por Evan e Erin Rae, e basicamente é um country melancólico, lembrando Gram Parsons e Emmylou Harris. Dois lados, duas atmosferas, e uma banda que parece finalmente pronta pra sair da hibernação.
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Depois de anos namorando a ideia de um filme sobre sua vida, Madonna resolveu mudar o formato. Agora, a história da Rainha do Pop deve virar uma minissérie da Netflix, ainda nos estágios iniciais de desenvolvimento. O projeto tem produção da própria Madonna e de Shawn Levy (Stranger Things), um dos nomes de confiança da plataforma. A semente da virada foi plantada em novembro, quando Madonna sugeriu no Instagram que poderia deixar o filme de lado e transformar sua história em uma série.
A série será feita do zero e não tem ligação com o longa que estava em desenvolvimento na Universal — aquele que teria Julia Garner no papel principal. Mas o nome da atriz de Ozark segue cotado, especialmente depois de ter aparecido no palco com Madonna durante a Celebration Tour, em dezembro passado. A escolha depende de disponibilidade, já que Garner não tem contrato assinado.
Ainda não há definição sobre qual fase da carreira a minissérie vai abordar. Também não se sabe se Madonna vai coescrever o roteiro, como faria no filme. Em 2020, ao anunciar o longa, ela comentou que queria “mostrar a jornada de uma artista, dançarina e mulher tentando abrir caminho no mundo”. A frase segue valendo.
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A banda pernambucana Mundo livre s/a dá largada à turnê que celebra seus 40 anos de estrada com parada dupla em Brasília, no dia 22 (quinta). Às 18h, o vocalista Fred Zero Quatro participa de um bate-papo e do lançamento da biografia Mundo livre s/a 4.0 – Do punk ao mangue, ao lado do autor Pedro de Luna, na Biblioteca Demonstrativa (506/507 Sul, entrada gratuita). Mais tarde, o show rola na Infinu (CRS 506).
Depois da capital, os mangueboys partem para Goiânia e São Paulo, onde tocam na Virada Cultural. Pedro de Luna segue em Brasília para o Porão do Rock — festival que também virou livro pelas mãos dele (Histórias do Porão). No domingo (25), ele faz um segundo lançamento da biografia da banda, agora solo, na livraria Platô (CLS 405). Se você ainda não sabia do livro de Pedro, corra atrás e mergulhe na história do mundo livre, banda cujas primeiras músicas chegam a ser proféticas (Samba esquema noise, a música, diz: “ou você explora o próximo / ou o próximo é você / esta é a única moral / do mundo livre”).
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Antes do “luzes, câmera, ação!” tem o som – e a imagem não vive sem ele. A partir de 28 de maio, o canal Curta! estreia Na trilha do cinema, uma série documental apresentada por André Abujamra sobre a construção do som no cinema brasileiro. São oito episódios, sempre às quartas-feiras, às 21h30 — com streaming no dia seguinte no CurtaOn (via Prime Video Channels, Claro tv+ e CurtaOn.com.br).
Abujamra, que entende do assunto (compôs trilhas para dezenas de filmes), conversa com nomes essenciais da área — montadores, compositores, técnicos e designers de som — para explorar como o som participa da narrativa de um filme. Spoiler: não é só barulho ou trilha bonita — é dramaturgia.
O programa passa por temas como som direto, foley (a famosa sonoplastia), edição e mixagem. Entre os convidados, estão Tide Borges (responsável por A hora da estrela), o engenheiro de som Luiz Adelmo, a compositora Flávia Tygel e o premiado Antonio Pinto, de Central do Brasil. No episódio final, o próprio Abujamra vira entrevistado e fala sobre os bastidores sonoros de Durval discos e Carandiru. Vale pra quem quer ouvir o que o cinema brasileiro tem a dizer — literalmente.
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Por último, mas não menos importante: o Telecine Cult exibe Os sonhos de Pepe, documentário sobre o já saudoso ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica, nesta quinta (15), às 20h25, e no sábado (17), às 15h10. O filme também está no streaming do Telecine, via Globoplay, Prime Video Channels e operadoras de TV paga.
Lançamentos
Radar: Partido da Classe Perigosa, Dedo de Bruxa, Rachel Reis e outros sons

Música muda vidas – e tem muita gente fazendo música para alertar pessoas sobre os perigos do dia a dia, sobre coisas que a gente nem percebe que estão roendo a gente por dentro. Pelo menos dois grupos do Radar de hoje destacam-se por terem músicas bastante sinceras e diretas, e que vão exatamente nessa linha – e não basta meter o dedo na cara, o som tem que ser ótimo, o que é o caso deles. Com ou sem protesto, as músicas abaixo giram em torno do que move a todos nós: lutas, amores, sonhos. Dá o play e aumenta o volume! (Foto Partido da Classe Perigosa: Yanni Avellar/Divulgação)
PARTIDO DA CLASSE PERIGOSA, “MONTAGEM DA MAIS VALIA”. Esse grupo carioca é de luta – luta de classes, por sinal. O primeiro álbum do Partido da Classe Perigosa, Práxis, lançado no começo do ano (e em breve neste site) une funk, drum’n bass, krautrock, metal, punk, hardcore, tudo junto e misturado, com letras corrosivas, que reviram e dissecam os horrores do capitalismo e do sistema de cobra comendo cobra. Montagem da mais valia está no EP Devorador, lançado apenas no Bandcamp e gravado para comemorar um ano de banda. A faixa é um funk — proibido para neofascistas e estômagos frágeis — que escancara, entre samples e batidas, como o sistema vai crucificando todo mundo aos poucos, dia após dia.
DEDO DE BRUXA, “ELON MUSK E O FOGUETE”. Direto do Rio de Janeiro, o Dedo de Bruxa soltou seu primeiro EP no ano passado — homônimo, cinco faixas que soam como um grito de urgência: o tempo é agora, as atitudes também. O som vem pesado: um hard rock que transita entre o grunge, o metal e o pós-punk. Elon Musk e o foguete é um grunge-metal-funk colérico e dançante, em que a letra manda o dono da Tesla para o espaço — junto com negacionistas, terraplanistas e a fauna toda do preconceito e da extrema-direita. Com nomes, endereços e a fúria bem direcionada.
RACHEL REIS, “JORGE BEN”. Fãs da antiga fazem questão de chamar Jorge Ben Jor de Jorge Ben – ainda que o veteraníssimo cantor carioca já tenha mudado seu nome artístico desde o fim dos anos 1980. Rachel Reis, baiana de Feira de Santana (BA), lançando o excelente álbum Divina casca, vai literalmente na tradição e homenageia o artista com um samba-rock praieiro, e repleto do imaginário do autor do disco A tábua de esmeralda (1974), com seus toques de esoterismo, balanço malemolente e lirismo que beira o místico. Mas tudo aqui é filtrado por uma estética contemporânea, sem perder a leveza. Um aceno respeitoso e amoroso ao mestre, com os dois pés cravados no agora.
MÁQUINA VOADORA, “A HOSPEDARIA DOS JAMAIS ILUMINADOS”. Duo instrumental formado por Marcelo Garcia (guitarra, baixo, programações) e Enrico Bagnato (bateria, percussões acústicas e eletrônicas), o Máquina Voadora prepara um álbum inspirado no livro Paulicéia desvairada, de Mário de Andrade. Chama-se A grande boca de mil dentes, e vem aí. Enquanto isso, entregam a faixa A hospedaria dos jamais iluminados — título pinçado do poema Religião, do próprio Mário. A música abre alas com jazz, sons afro-latinos e progressivos de texturas finas, evocando os momentos mais contemplativos do Focus.
ORBITAL ENSEMBLE, “DAYDREAMS”. Felipe Sena, músico brasileiro radicado no Canadá, puxa as cortinas de seu novo projeto, o Orbital Ensemble — e o primeiro single, Daydreams, já diz muito. Lançado pelas selos Balaclava (São Paulo) e We Are Busy Bodies (Toronto), a faixa mira alto: mistura jazz, psicodelia, rock e um quê cinematográfico à la Verocai e Khruangbin. O clipe, luminoso, complementa a experiência. O álbum de estreia, Orbital, sai ainda este ano. “Fazer música hoje parece um devaneio — é luta, é resistência”, diz Felipe, mostrando que a criatividade é tarefa diária, e tarefa política.
LOOK INTO THE ABYSS, “EYES ON ME”. Duo curitibano que já soltou um EP em formato live session (e em fita cassete, pelo selo Kerozene Discos), o Look Into The Abyss une grunge, screamo, nu-metal e math rock. Charlie (baixo e voz) e BadVibes (bateria e voz) chegam agora com o single Eyes on me — barulhento, denso, direto — e um álbum em gestação.
SÉRGIO SACRA, “FIQUE COMIGO (COMO SE FOSSE A ÚLTIMA VEZ)”. Depois de lançar o disco Duvide dos astros (2024), Sérgio Sacra retorna com um novo single. Fique comigo (como se fosse a última vez) mistura indie, folk e até um sopro de toada caipira. “É uma canção sobre perdas e sobre o que ainda pode ser salvo”, conta. A inspiração veio de uma história pessoal e de um amigo, marcada por desilusão — mas a intenção é emocionar, sem cair na superfície.
RELVAS, “POR ONDE VOCÊ ANDA?”. Primeiro lançamento de Relvas, a faixa Por onde você anda? junta MPB, rap, trap e o pop de agora para contar a história de um casal que vai se perdendo no tempo. Mas sem perder de vista a reconciliação. “Falo sobre não desistir do que vale a pena”, explica o artista, que assina a música ao lado de Raphael Dieguez e Pedro Duque. É pop com propósito — e coração no centro da cena.
Crítica
Ouvimos: Residents, “Doctor Dark”

Morto em 2018, Hardy Fox era um dos raros integrantes dos Residents que costumavam ter seu nome citado em matérias sobre o grupo – que sempre tentou trabalhar secretamente, não revelando nem mesmo as identidades de seus integrantes, escondidos atrás da famosa máscara de globo ocular usada em shows e aparições públicas.
Sua partida é o combustível de Doctor Dark, novo disco dos Residents, espécie de ópera-rock de terror musical, falando sobre temas “agradáveis” como morte, eutanásia, abuso de drogas, suicídio e assassinatos. Para dar o tom sombrio da coisa, os Residents chamaram músicos do Conservatório de São Francisco.
O resultado é uma trilha sonora tensa, quase cinematográfica, como em White guys with guns — que, além de cordas ameaçadoras, traz ruídos de tiros — e Maggot remembers, que evolui para um híbrido de industrial e stoner rock. Em The gift, as cordas soam tristes e fúnebres, lembrando os momentos mais sombrios de Berlin, de Lou Reed.
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Por trás das faixas, há outro subtexto inquietante: o famoso julgamento da banda de heavy metal Judas Priest em 1990, quando a banda foi acusada de incitar suicídios com mensagens subliminares. Tension, que soa como um conto infantil em seu momento mais assustador, fala diretamente disso. O mesmo vale para She was never lovelier e Remembering mother, que têm o clima gélido de um funeral.
Tem espaço até para um momento quase amigável: Ol’ man river tem um quê de rock progressivo à moda da banda canadense FM — embora, claro, com o selo de bizarrice habitual dos Residents. E o fim da faixa já emenda em Take me to the river, uma avalanche de ruídos que lembram uma guerra de balas traçantes.
Doctor Dark é aquele disco que até os fãs mais fiéis vão ouvir com fascínio — mas provavelmente só ouvirão uma vez. Intenso, desconfortável e profundamente perturbador, é uma obra que encara de frente temas que muita gente prefere manter à distância. Mas, enfim, os Residents não vieram ao mundo para fazer concessões.
Nota: 7
Gravadora: Cryptic Corp
Lançamento: 28 de fevereiro de 2025.
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