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Cultura Pop

Aquela vez em que falei com Damo Suzuki

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Aquela vez em que falei com Damo Suzuki

Tem documentário sobre Damo Suzuki rolando no Reino Unido. Sei lá quando vai passar aqui (o In-Edit poderia quebrar esse galho), mas Energy – A documentary about Damo Suzuki fala detalhadamente da carreira do artista japonês que se integrou à banda alemã Can nos anos 1970. E que, após os anos 1980, embarcou numa carreira solo experimental e pra lá de maluca – com direito a shows absolutamente improvisados e músicas feitas na hora.

Dois desses shows rolaram aqui no Rio de Janeiro em maio de 2009, quando Damo se apresentou no Rio, Rock & Blues, que ficava na Lapa, e no Teatro Ipanema – o músico ainda participou de um debate no teatro Oi Casa Grande, no Leblon. Bati um papo com o artista por e-mail para o Jornal do Brasil, onde eu trabalhava na época. Como o documentário está aí e vale sempre a pena lembrar do nome de Damo, achei a matéria e resolvi publicar novamente aqui no Pop Fantasma. Segue aí embaixo. O título da matéria publicada no jornal não foi dado por mim, e particularmente não gostei dele, mas mantive aí.

Em tempo: Damo está em plena atividade e lançou em 2022 Arkaoda, disco de três longas faixas, gravado ao lado do Spiritczualic Enhancement Center, um “grupo de trance-jazz espectral com uma metodologia psicodélico-punk”.

DAMO SUZUKI, EX-INTEGRANTE DO CAN, SE REVÊ NO ANONIMATO
Publicado no Jornal do Brasil em 15/05/2009

Um show de música improvisada no palco, que faz parte de uma turnê infinita, feita com o auxílio de músicos escolhidos nos lugares em que vai se apresentar (os “mensageiros musicais”, como ele diz). É o que dá para falar, seguramente, sobre as três aparições de Damo Suzuki (ex-Can) no Rio.

O músico traz sua eterna Damo Suzuki’s Network para o Rio Rock & Blues (dia 26), na Lapa, e para o Teatro Ipanema (dia 28). Para abrir os trabalhos, participa, no dia 25, da terceira edição do ciclo de debates do Consórcio de Entretenimento e Cultura Contemporânea, debatendo sobre Entretenimento e Audibilidades Contemporâneas, no Oi Casa Grande.

Bem antes da carreira solo, Suzuki teve uma passagem curta (três anos) pelo grupo progressivo alemão Can. Mesmo assim, muitos fãs especialmente os brasileiros ainda o conhecem como o ex-vocalista da banda, que tinha ainda músicos que se destacaram no cenário vanguardista, como Holger Czukay.

Com o grupo, Suzuki (que fora descoberto pelos colegas enquanto cantava nas ruas de Munique, na frente de um café) gravou os clássicos Tago mago (1971), Ege bamyasi (1972) e Future days (1973). Mas o ex-integrante sequer mantém contato com os ex-colegas. Nem sabe o que andam fazendo.

“Com quantos amigos de infância você ainda mantém contato?” indaga ao repórter. “Passei só três anos no Can, isso representou 5% da minha vida. Os outros 95% combinam mais com meu estilo”.

Mesmo disposto a definir sua obra, deixa claro que o trabalho musical vem mais para confundir do que para explicar.

“Não tenho nenhuma concepção de como as performances serão. Se você já sabe como é o resultado de uma partida de futebol, nem precisa ver o jogo afirma. Criamos tudo de acordo com o tempo e o espaço do momento. Minha música é um processo. É orgânica, natural e parte do compartilhamento de energias”, diz.

VOCAIS SEM LETRAS. Gêneros como rock, eletrônica, jazz e música tribal costumam aparecer em releases de Suzuki para explicar o que sua música abarca. Quem quiser ter uma ideia melhor, pode recorrer aos vídeos de seu trabalho que estão no YouTube. Mas, na hora H, tudo pode mudar.

“Não canto a mesma canção mais de cem vezes, até porque a música que faço não tem como ser repetida. E claro que sempre há situações e reações engraçadas da plateia com relação à música que tocamos”, diz ele, que canta durante os shows, mas sem letras. “Faço um tipo de scat. Quando você tem letras, não está livre. Não faz parte do meu mundo estar preparado antes de começar. A minha música é ela inteira uma mensagem, não preciso de letras”.

As ideias de Suzuki convêm bastante a um artista que diz não gostar de registros de estúdio. E que, atualmente, nem tem se animado muito com a possibilidade de lançar álbuns ao vivo. Seu último registro data de 2006 (Nota de atualização: é o disco Tutti i colori del silenzio, de Damo Suzuki´s Network, mas ainda tem um álbum de 2007, Please heat this eventually, de Suzuki e Omar Rodriguez-Lopez). Apesar de ter um DVD, I was born… I was dead, lançado há pouco por um selo russo, grande parte das suas performances é capturada em vídeos bootleg.

“Lançar discos não é meu mundo. Prefiro convidar as pessoas para ver meu show ao vivo. E música é comunicação, tem que ter audiência, sentencia Suzuki, recorrendo a mais uma metáfora futebolística para falar de música. “Se você assiste a um jogo de futebol na TV, não tem a experiência inteira. É forçado pelo cameraman e pelo diretor. Quando vai a um estádio, tem um ângulo mais pleno, pode ver os fãs de futebol e sentir a atmosfera. E é muito mais interessante ficar num lugar onde as coisas estão acontecendo, não é?”

O time de mensageiros musicais escalado para Suzuki nas investidas brasileiras inclui nomes como o baixista Odeid (ex-Lobão & Os Ronaldos), Bartolo (guitarra, toca na dupla eletro-vanguardista Duplexx), Barrão e Luiz Zerbini (ambos do grupo experimental Chelpa Ferro). Uma turma escolhida pela loja de discos Plano B, que traz o artista ao Brasil.

Detentora de um catálogo volumoso de vinis raros, o endereço da Lapa costuma apresentar shows de música experimental todas as sextas-feiras, com entrada franca. O cardápio inclui shows de músicos inovadores estrangeiros (como Lawrence English, Zbigniew Karkovfky e o guitarrista japonês Tetuzi Akyiama) e brasileiros (entre eles o trio vocal 3 Terrores, os músicos Marcos Campello e Paulo Dantas, o grupo under Zumbi do Mato e o próprio Chelpa).

“Foi o próprio Suzuki que entrou em contato conosco e quis vir. Conheço seu trabalho há muito tempo, desde a época em que tocava no Can”, diz Fernando Torres, dono da loja, que também tocará sons eletrônicos com o artista no Rio, Rock & Blues. “Escolhemos levá-lo para outros lugares, porque o show dele envolve mais estrutura e tem cachê. Não daria para trazê-lo para tocar no esquema comum que usamos nas sextas no Plano B”.

Não deixa, no entanto, de ser instigante imaginar como seria uma apresentação de Suzuki dentro da loja, cravada no começo de uma ladeira na Lapa, com palco mínimo e entra-e-sai de pessoas. Já que, para Suzuki, interessa mais a liberdade do que qualquer outro fator.

“Você se torna criativo quando não tem tanta informação. Da mesma forma que comida demais dá sono, muita informação não te deixa em situações criativas”, afirma.

4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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Cultura Pop

Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

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O Radiohead (Foto: Tom Sheehan/Divulgação).

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada

A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.

O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.

“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).

Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.

Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.

O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação

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Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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