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Aquela vez em que Arnold Schwarzenegger caiu na esbórnia no Rio

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Aquela vez em que Arnold Schwarzenegger caiu na esbórnia no Rio

“Rio, uma das cidades mais lindas do mundo. É difícil encontrar, em qualquer outro lugar, montanhas, praias e mulheres mais bonitas. Vim ao Rio para o carnaval, sobre o qual ouvi falar muito. Mas fui surpreendido por uma festa de cinco dias de duração, que é quando, uma vez por ano, toda a cidade vai à loucura”. Assim o astro Arnold Schwarzenegger começa a narração do documentário Carnival in Rio (1983), com uma candura atípica, que não lembra seus truculentos personagens no cinema.

Aquela vez em que Arnold Schwarzenegger caiu na esbórnia no Rio

Com o título alternativo de Party in Rio, o filme promocional (?) de quase uma hora de duração é uma espécie de diário de viagem, no qual Schwarzenegger acompanha as festas do carnaval carioca de 1983, durante a noite, e o movimento nas praias durante o dia. Tudo assim, bem inocente. Só que não. Pelo menos não para os padrões de hoje.

Logo no comecinho, temos até a impressão de que Schwarzenegger está encantando pelas belezas naturais da Cidade Maravilhosa, ao som de Porto, do MPB4 (isso mesmo, o tema da novela Gabriela, de 1975). O ar quase bucólico e insuspeito é logo quebrado ao vermos o Mr. Universo na boate Oba Oba, de Ipanema, acompanhado por uma brasileira, deleitando-se com um autêntico show de samba e mulatas. O fisiculturista conta, em sua narração, que a festa (no caso, o carnaval) apresenta “três perigos: a mulata, a bunda e o samba”.

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Totalmente encantado pelas moças seminuas e pelo movimento do samba, Schwarzenegger discorre sobre a preferência do homem brasileiro por bundas. “Bunda: a melhor apresentação do carnaval do Rio pra mim”. Assistindo ao documentário hoje em dia, ficamos divididos entre o riso e o constrangimento. Ou, mais especificamente, aquela vergonha alheia embaraçosa. “Queria poder levá-las (as mulatas) comigo para os EUA, para mostrar aos meus amigos o que o Rio tem a oferecer”, diz Arnold, deslumbrado.

Naquele começo de década de 1980, as “mulatas tipo exportação” ainda eram vistas como algo “aceitável”, até pitoresco. Popularizadas pelo sambista e radialista Oswaldo Sargentelli, as mulatas do Sargentelli eram a cara do Brasil no exterior. Apaixonado por samba, Sargentelli ajudou a difundir — ainda que de forma distorcida para os padrões atuais — a cultura brasileira em shows de mulatas, num tempo em que o termo era considerado um título elogioso.

Aquela vez em que Arnold Schwarzenegger caiu na esbórnia no Rio

Vale lembrar que estamos falando de 1983 (muito antes de o Rio ser infestado por uma aparentemente incontrolável onda de criminalidade, corrupção, Zika vírus e falência). Naquela época a cidade era um paraíso para os ricos e famosos vindos das mais variadas partes do mundo. E alguém resolveu mostrar para os gringos como era o carnaval carioca. O escalado foi Arnold Schwarzenegger, na época famoso pelo título de Mr. Universo. Até já havia feito alguns filmes, mas ainda não era reconhecido internacionalmente como ator. Para se ter uma ideia, Conan, o Bárbaro (Conan, the Barbarian, 1982) estreara no Brasil há apenas alguns meses. Arnold não tinha estourado como O exterminador do futuro (The terminator, 1984), que só estrearia no Brasil em 1985 e alçaria o ator ao posto celebridade hollywoodiana.

Voltando ao famigerado diário de viagem do nosso exterminador do passado, depois de mulatas e bundas, Arnold conhece a capoeira durante um passeio pelo calçadão da orla. Mas é hora de pensar na festa da noite: um baile à fantasia. Para isso, conta com o auxílio de uma bela moça, que o veste com uma fantasia de índio. “Agora sim vou me sentir um rapaz brasileiro”, diz ele, enquanto a moça o ajuda com os apetrechos indígenas. Aliás, ele passa o documentário todo sempre cercado por belas e lânguidas mulheres.

Aquela vez em que Arnold Schwarzenegger caiu na esbórnia no Rio Aquela vez em que Arnold Schwarzenegger caiu na esbórnia no Rio

“A praia é parte tão importante da vida no Rio, assim como comer, dormir e festejar”, observa Arnold, nas escaldantes areias de Ipanema, onde se exercita e arranca olhares de cobiça das moçoilas. E dá-lhe topless! Moças seminuas, usando apenas minúsculos fios dentais, tomando sol, correndo voluptuosamente na praia, tomando banho de piscina… A impressão que dá é que as brasileiras circulam tranquilamente peladas pelas ruas do Rio.

Arnold se sente um verdadeiro pinto no lixo. Aquilo tudo, para ele, parece um paraíso na Terra. Do alto de seus 36 anos, na época, ele tentava esconder uma euforia quase adolescente, diante de tantas bundas e moças seminuas e disponíveis. A imagem do Rio é vendida pelo diretor Shep Morgan como uma espécie de mercado de bundas, onde paira luxúria incessante.

Aquela vez em que Arnold Schwarzenegger caiu na esbórnia no Rio Aquela vez em que Arnold Schwarzenegger caiu na esbórnia no Rio

Um dos momentos de clímax do vídeo é quando Schwarzenegger delicadamente enfia uma cenourinha na boca da brasileira que o acompanha. (A cada passeio, ele troca de cicerone. Sempre mocinhas de ar delicado e sedutor, que correspondem aos flertes do ator). Um show de canastrice do nosso Conan-exterminador-predador.

Aquela vez em que Arnold Schwarzenegger caiu na esbórnia no Rio

Ele agradece ao garçom dizendo “gracias”. Logo em seguida, comenta que gosta da língua portuguesa porque ela é romântica e lembra o italiano. Aprende a falar “eu te amo”. Mas o que diz mesmo é “I like bunda”, sua frase preferida. Ao brindar com a sua guia, diz “Saúde!” e “Bunda!”. Os dois flertam. O astro ainda experimenta feijoada, farofa, caipirinha e se deslumbra com todo o exotismo brasileiro. “Depois de algumas caipirinhas, elas fazem de tudo”.

Aquela vez em que Arnold Schwarzenegger caiu na esbórnia no Rio

Durante sua candidatura para governador, Arnold e seus advogados tentaram dar um sumiço no vídeo, devido ao comportamento “assanhadinho” do ator. Quando a fita foi redescoberta, no começo dos anos 2000, causou certa polêmica. Se fosse hoje, provavelmente Schwarzenegger seria execrado publicamente e teria não só sua candidatura política arrasada, mas sua carreira de ator também.

“Foram os cinco dias mais loucos que já passei em um lugar, assim como a batida do samba”.

Aquela vez em que Arnold Schwarzenegger caiu na esbórnia no Rio

E olha o filme na íntegra aí.

Confira também:
– Aquela vez em que Arnold gravou um disco de exercícios físicos
Rio Turismo: TV para turistas e insones.

Daniel Couri é formado em Jornalismo e é fã de cultura pop e obscuridades em geral. E é autor do blog porcoselefantesedoninhas.blogspot.com.

Cinema

Urgente!: Cinema pop – “Onda nova” de volta, Milton na telona

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Urgente!: Cinema pop – "Onda nova" de volta, Milton na telona

Por muito tempo, Onda nova (1983), filme dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia – e censurado pelo governo militar –, foi jogado no balaio das pornochanchadas e produções de sacanagem.

Fácil entender o motivo: recheado de cenas de sexo e nudez, o longa funciona como uma espécie de Malhação Múltipla Escolha subversivo, acompanhando o dia a dia de uma turma jovem e nada comportada – o Gayvotas Futebol Clube, time de futebol formado só por garotas, e que promovia eventos bem avançadinhos, como o jogo entre mulheres e homens vestidos de mulher. Por acaso, Onda nova foi financiado por uma produtora da Boca do Lixo (meca da pornochanchada paulistana) e acabou atropelado pela nova onda (sem trocadilho) de filmes extremamente explícitos.

O elenco é um espetáculo à parte. Além de Carla Camuratti, Tânia Alves, Vera Zimmermann e Regina Casé, aparecem figuras como Osmar Santos, Casagrande e até Caetano Veloso – que protagoniza uma cena soft porn tão bizarra quanto hilária. Durante anos, o filme sobreviveu em sessões televisivas da madrugada, mas agora ressurge restaurado e remasterizado em 4K, estreando pela primeira vez no circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira (27).

Meu conselho? Esqueça tudo o que você já ouviu sobre Onda nova (ou qualquer lembrança de sessões anteriores). Entre de cabeça nessa comédia pop carregada de referências roqueiras da época, um cruzamento entre provocação punk e ressaca hippie. O filme abre com Carla Camuratti e Vera Zimmermann empunhando sprays de tinta para pixar os créditos, mostra Tânia Alves cantando na noite com visual sadomasoquista, segue com momentos dignos de um musical glam – cortesia da cantora Cida Moreyra, que brilha em várias cenas – e trata com surpreendente modernidade temas como maconha, cultura queer, relacionamentos sáficos, mulheres no poder, amores fluidos e, claro, futebol feminino.

Se fosse um disco, Onda nova seria daqueles para ouvir no volume máximo, prestando atenção em cada detalhe e referência. A trilha sonora passeia entre o boogie oitentista e o synthpop, com faixas de Michael Jackson e Rita Lee brotando em alguns momentos. E o que já era provocação nos anos 1980 agora ressurge como registro de uma juventude que chutava o balde sem medo. Vá assistir correndo.

*****

Milton Bituca Nascimento, de Flavia Moraes, que estreou na última semana, segue outro caminho: o da reverência, mesmo que seja um filme documental. Durante dois anos, Flavia seguiu Milton de perto e produziu um retrato que, mais do que um relato biográfico, é uma celebração. E uma hagiografia, aquela coisa das produções que parecem falar de santos encarnados.

A narração de Fernanda Montenegro dá um tom solene – e, enfim, logo no começo, fica a impressão de um enorme comercial narrado por ela, como os daquele famoso banco que não patrocina o Pop Fantasma. Aos poucos, vemos cenas da última turnê, reações de fãs, amigos contando histórias. Marcio Borges lê matérias do New York Times sobre Milton, para ele. Wagner Tiso chora. Quincy Jones sorri ao falar dele. Mano Brown solta uma pérola: Milton o ensinou a escutar. E Chico Buarque assiste ao famigerado momento do programa Chico & Caetano em que se emociona ao vê-lo cantar O que será – um vídeo que virou meme recentemente.

Isso tudo é bastante emocionante, assim como as cenas em que a letra da canção Morro velho é recitada por Djavan, Criolo e Mano Brown – reforçando a carga revolucionária da música, que usava a imagem das antigas fazendas mineiras para falar de racismo e capitalismo. Mas, no fim, o que fica de Milton Bituca Nascimento é a certeza de que Milton precisava ser menos mitificado e mais contado em detalhes. Vale ver, e a música dele é mito por si só, mas a sensação é a de que faltou algo.

Por acaso, recentemente, Luiz Melodia – No coração do Brasil, de Alessandra Dorgan, investiu fundo em imagens raras do cantor, em que a história é contada através da música, sem nenhum detalhe do tipo “quem produziu o disco tal”. Mas o homem Luiz Melodia está ali, exposto em entrevistas, músicas, escolhas pessoais e atitudes no palco e fora dele. Quem não viu, veja correndo –  caso ainda esteja em cartaz.

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Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

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Urgente!: Filme "Máquina do tempo" leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.

As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.

E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.

Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.

O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).

Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.

A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.

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Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”
  • Harlequin é um disco de “pop vintage”, voltado para peças musicais antigas ligadas ao jazz, lançado por Lady Gaga. É um disco que serve como complemento ao filme Coringa: Loucura a dois, no qual ela interpreta a personagem Harley Quinn.
  • Para a cantora, fazer o disco foi um sinal de que ela não havia terminado seu relacionamento com a personagem. “Quando terminamos o filme, eu não tinha terminado com ela. Porque eu não terminei com ela, eu fiz Harlequin”, disse. Por acaso, é o primeiro disco ligado ao jazz feito por ela sem a presença do cantor Tony Bennett (1926-2023), mas ela afirmou que o sentiu próximo durante toda a gravação.

Lady Gaga é o nome recente da música pop que conseguiu mais pontos na prova para “artista completo” (aquela coisa do dança, canta, compõe, sapateia, atua etc). E ainda fez isso mostrando para todo mundo que realmente sabe cantar, já que sua concepção de jazz, voltada para a magia das big bands, rendeu discos com Tony Bennett, vários shows, uma temporada em Las Vegas. Nos últimos tempos, ainda que Chromatica, seu último disco pop (2020) tenha rendido hits, quem não é 100% seguidor de Gaga tem tido até mais encontros com esse lado “adulto” da cantora.

A Gaga de Harlequin é a Stefani Joanne Germanotta (nome verdadeiro dela, você deve saber) que estudou piano e atuação na adolescência. E a cantora preparada para agradar ouvintes de jazz interessados em grandes canções, e que dispensam misturas com outros estilos. Uma turminha bem específica e, vá lá, potencialmente mais velha que a turma que é fã de hits como Poker face, ou das saladas rítmicas e sonoras que o jazz tem se tornado nos últimos anos.

O disco funciona como um complemento a ao filme Coringa: Loucura a dois da mesma forma que I’m breathless, álbum de Madonna de 1990, complementava o filme Dick Tracy. Mas é incrível que com sua aventura jazzística, Gaga soe com mais cara de “tá vendo? Mais um território conquistado!” do que acontecia no caso de Madonna.

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O repertório de Harlequin, mesmo extremamente bem cantado, soa mais como um souvenir do filme do que como um álbum original de Gaga, já que boa parte do repertório é de covers, e não necessariamente de músicas pouco conhecidas: Smile, Happy, World on a string, (They long to be) Close to you e If my friends could see me now já foram mais do que regravadas ao longo de vários anos e estão lá.

De inéditas, tem Folie à deux e Happy mistake, que inacreditavelmente soam como covers diante do restante. Vale dizer que Gaga e seu arranjador Michael Polansky deram uma de Carlos Imperial e ganharam créditos de co-autores pelo retrabalho em quatro das treze faixas – até mesmo no tradicional When the saints go marching in.

Michael Cragg, no periódico The Guardian, foi bem mais maldoso com o álbum do que ele merece, dizendo que “há um cheiro forte de banda de big band do The X Factor que é difícil mudar”. Mas é por aí. Tá longe de ser um disco ruim, mas ao mesmo tempo é mais uma brincadeirinha feita por uma cantora profissional do que um caminho a ser seguido.

Nota: 7
Gravadora: Interscope.

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