Connect with us

Cultura Pop

A turnê fracassada dos Beach Boys com o guru Maharishi

Published

on

A turnê fracassada dos Beach Boys com o guru Maharishi

Lá por 1967/1968, os Beach Boys eram uma estranha caixinha de surpresas, da qual poderia sair um disco excelente (Wild honey), um LP travado (Smiley smile) ou discos abortados, shows ruins e turnês que começavam em clima de “agora vai” e revelavam-se tremendas roubadas. Foi mais ou menos nesse pé que a banda estava quando resolveu fazer uma fracassada turnê como ex-guru dos Beatles, o indiano Maharishi Maheshi Yogi.

O enrosco dos Beach Boys com o guru rolou justamente quando os Beatles estavam in love com a técnica de meditação transcendental de Maharishi, que haviam conhecido em agosto de 1967, durante um seminário no País de Gales. Na verdade, quem liderou a caminhada dos Beatles rumo à transcendência foi George Harrison, seguido inicialmente por John Lennon. Eles próprios foram procurar Mike Love, Dennis Wilson e Al Jardine, dos Beach Boys, para fazer propaganda dos ensinamentos do indiano.

Os três foram a uma palestra e começaram de verdade a se envolver com o programa de meditação – um namorico que foi se tornando namoro sério a partir de janeiro de 1968, quando o guru convidou até Love para visitar seu seminário de treinamento em Rishikesh, no norte da Índia, aonde os Beatles já estavam. O grupo esteve em palestras públicas feitas pelo guru em Manhattan e visitou Maharishi no Plaza Hotel, em Nova York, onde ele estava hospedado. Após o encontro, todos posaram para fotos – ironicamente, a fotógrafa que clicou a união Beach Boys-Maharishi foi Linda Eastman (futura Linda McCartney).

Tinha um problema sério nesse enrosco aí, que inicialmente se mostrara algo bem pequeno, mas que depois foi se revelando como um pedregulho enorme no sapato: em abril de 1968, os Beatles abandonaram o barco do seminário de treinamento, supostamente por terem achado Maharishi um tanto saidinho e abusivo com as frequentadoras mulheres. A banda malhou o guru em entrevistas, John Lennon compôs uma canção a respeito (Sexy sadie, lançada no Álbum branco, dos Beatles) e chegou a levar o caso Beatles vs. Maharishi para entrevistas que ficaram famosas, com a Rolling Stone e o programa Tonight Show.

Anos depois George Harrison pediu desculpas, disse que as acusações a Maharishi eram mentiras (dizia-se até que o guru tinha tentado abusar da atriz Mia Farrow) e a paz voltou a reinar entre o grupo e o guru da meditação. Só que isso rolou em 1991, quando Lennon já tinha morrido havia mais de dez anos. Em 1968, o circo estava armado, e Maharishi era visto tanto como “o guru do ano” quanto como uma fraude sem tamanho que os Beatles haviam abandonado e exposto publicamente. Não havia o termo “cancelamento”, mas o risco de algo parecido era meio grande.

Os Beach Boys estavam tão ligados ao guru que o Spiritual Regeneration Movement, a organização dele, propôs que o grupo financiasse um documentário sobre ele. A banda não topou e a solução arrumada por ambas as partes foi fazer uma turnê conjunta Beach Boys-Maharishi, o grupo tocando hits, o guru fazendo pregações. Para todo mundo que cercava Maharishi, era uma boa ideia para manter o líder religioso próximo da sociedade de consumo pop. Para a banda, talvez fosse uma boa saída para a recuperação financeira, após um turnê abortada pelos EUA que deixou prejuízos.

A ideia do show já não era das melhores – Love disse à Melody Maker que destacariam Maharishi com um sistema de iluminação fodástico, que a banda tocaria por uns 45 minutos nos shows e logo depois, viria um documentário, e uma palestra com sessão de perguntas & respostas com o guru. Estava longe de ser uma configuração de show que atrairia multidões e a banda descobriria isso logo logo, ao ver a duração de 29 datas reduzida para três datas – marcadas por som ruim, atuações cagadas (por parte dos BB) e vaias quando Maharishi começava a falar. O grupo teve um prejuízo monstruoso de US$ 250.000 e teve a tristeza de ver o evento classificado como “um dos entretenimentos mais bizarros da época”.

Love, que costumava adotar uma postura intransigente em relação às mudanças que Brian Wilson tinha provocado no som dos BB com Pet sounds e o cancelado Smile, teve que engolir em seco e admitir que a responsabilidade por aquela ideia tinha sido sua. Mas argumentou: “Achei que poderia fazer algum bem para as pessoas que estavam perdidas, confusas ou problemáticas, principalmente aquelas que eram jovens e idealistas, mas também vulneráveis. E pensei que isso era verdade para muitos de nós”.

Seja lá quem Love queria ajudar, vale citar que, sim, os perdidos também estavam nos Beach Boys: Brian passaria mais e mais maus bocados na vida, Dennis Wilson estava livre para começar um relacionamento enrolado com a “família” do miolo mole Charles Manson, a banda entraria numa roda viva desgraçada de shows flopados e discos abortados pelas gravadoras. Mas isso aí são outras histórias.

Ah, sim, rolou toda uma herança dos encontros com Maharishi no disco Friends, de 1968. Olha aí a música Transcendental meditation.

Cultura Pop

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Published

on

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

Mais Pop Fantasma Documento aqui.

Continue Reading

Cultura Pop

No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Published

on

Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

Mais Pop Fantasma Documento aqui.

Continue Reading

4 discos

4 discos: Ace Frehley

Published

on

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

Continue Reading
Advertisement

Trending