Lançamentos
Alice Caymmi lança versão de “Caravana”, de Geraldo Azevedo, com Josyara

Saiu nesta quinta (6) nas plataformas a versão de Alice Caymmi, ao lado da cantora baiana Josyara, para Caravana, música de Geraldo Azevedo lançada nos anos 1970 e que fez parte da trilha sonora da novela Gabriela (a primeira versão, de 1975). A versão destaca os vocais fortes de Alice, que impõe um ritmo bem diferente da versão do autor.
A versão de Caravana é mais um dos trabalhos que Alice vem lançando em single nas plataformas. Recentemente saiu Las brujas, além de alguns feats, como Coisa à toa (com Michael Sullivan) e Desfruta (com Rachel Reis). Em 2022 saíram Do acaso (com Chico César), Na sua mente (com Cleo) e a faixa solo Recíproco. O último álbum de inpeditas foi Imaculada, de 2021, embora tenha saído em 2022 o ao vivo Alice dez anos.
Crítica
Ouvimos: Femi Kuti, “Journey through life”

Femi Kuti, 62 anos, filho do gigante do afrobeat Fela Kuti, não é de medir palavras – muito menos seu falecido pai o fazia. Journey through life, antes de ser um disco que aponta para vários lados diferentes da música dançante africana, é um disco de protesto. A jornada de Femi pela vida é contada musicalmente por intermédio de uniões entre afrobeat e jazz (a faixa-título, Chop and run, Oga doctor), afropunks (Shotan, tão ágil que lembra um frevo), highlifes legítimos (Think my people think, After 24 years) e climas afrocubanos (Corruption na stealing). Sobreposições de ritmos marcam todo o repertório, a ponto de tudo ganhar um aspecto incomum em faixas quase inclassificáveis, como Last mugu.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
O protesto de Femi mistura o político e o pessoal. Femi relembra as violências e traições cometidas pelo governo nigeriano contra sua família (Chop and run), denuncia a ganância e a usura (Journey through life), e traça um retrato quase jornalístico da crise histórica do país em After 24 years, com direito a dados, datas e contexto. Em Think my people think e Politics don’t expose them, ele provoca reflexões sobre como tantos políticos conservadores seguem enganando o povo. Já Corruption na stealing é uma pérola à parte – é uma obra de arte digna das letras que Bezerra da Silva gravava, avisando que o corrupto profissional não pula muro pra roubar nada de ninguém, não deixa rastros, não é enquadrado no artigo 155 nem no 157, e ainda cai pra cima.
Femi, vale dizer, é aquele tipo de músico que conseguiu sair totalmente da sombra do pai – ainda que siga uma receita musical que Fela ajudou a transformar em arte. Em Journey, ele surge como continuador de uma nobre arte que muitas vezes só chega a uma audiência maior quando é absorvida pelo pop branco dos EUA e Europa. Ouça Journey through life como um ato político.
Nota: 9
Gravadora: Partisan Records
Lançamento: 25 de abril de 2025.
Crítica
Ouvimos: Willie Nelson, “Oh what a beautiful world”

O mundo que Willie Nelson apresenta para seus fãs em seu 77º (!) disco individual, Oh what a beautiful world, é belo, cheio de recordações, e pleno de visões do futuro – e vale dizer que desde o dia 29 de abril, ele é um homem de 92 anos e um dos artistas mais idosos em atividade no mundo. No álbum novo, o discurso de esperança, de resiliência e do amor como elevação espiritual ocupam boa parte as faixas, como na música-título, na abertura com What kind of love, na estileira lembrando Kenny Rogers de Making memories of us e nas cicatrizes de Open season on my heart (“transformando dores em arte / temporada de caça ao meu coração”, diz a letra).
Tem um conceito no álbum: o repertório traz Willie revisitando as músicas de outro countryman clássico, Rodney Cronwell. Um sujeito quase vinte anos mais novo que ele, surgido no mercado em tempos de renovação do country (no fim dos anos 1970), e cujo som tem fronteiras com estilos como rock e blues em vários momentos – Rodney inclusive surge fazendo o estilo caipira new wave, com terno e gravata, na capa de seu segundo álbum, But what will the neighbors think (1980).
Em vários momentos do disco, Willie Nelson surge como na capa de Oh what a beautiful world – cavalgando e de olho em algum horizonte, como nas aventuras de The fly boy & the kid, nas recordações históricas de Bands of the old Bandera e no elogio às coisas velhas e feitas para durar de Stuff that works. A curiosidade são os flertes com o folk setentista (Forty miles from nowhere), com o easy listening (Shame on the moon) e com o rock-jazz-blues de cabaré (She’s back in town, que lembra as investidas night club de Neil Young no fim dos anos 1980). Beleza pura.
Nota: 8
Gravadora: Sony Music
Lançamento: 25 de abril de 2025.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Crítica
Ouvimos: Rhiannon Giddens & Justin Robinson, “What did the black bird say to the crow”

“Com os ataques à realidade acontecendo hoje no mundo, queríamos oferecer outro tipo de disco. É como voltar para uma estrada de cascalho ou terra enquanto uma debandada segue na direção oposta”, diz Rhiannon Giddens sobre What did the black bird say to the crow, álbum gravado em dupla por ela com Justin Robinson. Ambos fizeram parte, até 2014, do Carolina Chocolate Drops, um trio de skiffle – aquele tipo de country tocado com banjo, violino fiddler e uma tábua de lavar roupa como percussão.
Os dois voltaram a unir forças recentemente na gravação de Old corn liquor, para a trilha do filme Pecadores (Ryan Coogler), e em What did the black bird say to the crow, apresentam 18 canções tradicionais, divididas entre banjo (Rhiannon) e violino fiddler (Justin), além da ocasional base rítmica de Justin “Demeanor” Harrington. Todo o repertório surgiu uma vivência pessoal da dupla nas casas de dois falecidos heróis da dupla, o compositor Joe Thompson, da Carolina do Norte, e ninguém menos que Etta James.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
O trabalho de campo inclui o fato de todas as faixas terem sido registradas como música de quintal, ou de beira de estrada: você ouve ruídos de pássaros e insetos, barulhos de passos, sons da mata, e há até alguns segundos de silêncio entre uma faixa e outra. É para ouvir sem pressa e imaginar o cenário em que todas aquelas músicas foram compostas, estão sendo executadas ou se desenvolveram.
A agilidade da dupla nos instrumentos e vocais lembra o básico: bandas como Led Zeppelin e Creedence Clearwater Revival (e mais recentemente Black Crowes) fizeram a devida apropriação de muita coisa resgatada agora por eles no álbum. Como exemplos, tem a rapidez de Rain crow, Brown’s dream e Going to Raleigh e o clima de baile no celeiro (lembra do desenho do Pica-Pau, da “polca”?) de Duck’s eyeball, Ryestraw, Little brown jug e Molly put the kettle on.
O repertório tem ainda uma valsa country (cujo título é justamente Country waltz) e um folk rock estradeiro (Marching jaybird) que surge como a passagem para outra dimensão. Um disco musical e, por que não dizer, político, em maio ao retrocesso e a violência psicológica da era Trump.
Nota: 10
Gravadora: Nonesuch Records
Lançamento: 18 de abril de 2025.
-
Cultura Pop4 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
-
Notícias7 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
-
Cinema7 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
-
Videos7 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
-
Cultura Pop8 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
-
Cultura Pop6 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
-
Cultura Pop7 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?