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Cultura Pop

Várias coisas que você já sabia sobre L. A. Woman, dos Doors

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Várias coisas que você já sabia sobre L. A. Woman, dos Doors

Jerry Hopkins e Danny Sugerman, biógrafos de Jim Morrison, afirmam no livro Daqui ninguém sai vivo que a capa de L.A. woman (1971), último disco dos Doors com o vocalista, era uma vingança pessoal. Morrison teria detestado a maneira como a gravadora da banda, Elektra, o retratara nas capas dos dois lançamentos mais recentes dos Doors, a coletânea 13 e o duplo ao vivo Absolutely live (ambos de 1970). Ficou irritado ao se ver belíssimo nas fotos e percebeu que a gravadora preferia explorar a imagem do Jim padrãozinho dos primeiros anos. Ainda que o cantor cultivasse uma cerrada barba desde 1969. E que, após as várias encrencas com a polícia que havia tido nos últimos dois anos, tivesse resolvido dar adeus à imagem de “sonho americano” do começo da carreira.

Várias coisas que você já sabia sobre L. A. Woman, dos Doors

A foto de capa de L.A. woman trazia Jim mais gordo, barbudo e irreconhecível para quem não fosse fã de verdade da banda. Na imagem, o cantor destacava-se até bem menos que o baterista John Densmore, o tecladista Ray Manzarek e o guitarrista Robbie Krieger. Isso expunha bem o tipo de fantasma que rondava a mente do cantor naquele período. Desde o incidente em março de 1969 no Dinner Key Auditorium, em Miami – quando subiu embriagado ao palco e foi acusado de “exposição indecente, blasfêmia e embriaguez em público” – Morrison estava cansado da vida de estrela pop.

Os Doors passaram a ter shows desmarcados, a gravadora começou a pressionar a banda (que passou a trabalhar num disco até bem pop para os padrões do quarteto, The soft parade, de 1969). E enfim Morrison, que nunca tinha sido exatamente uma presença estável nos palcos da vida, começou a dar sinais evidentes de que o abuso de drogas e álcool começava a lhe causar muitos problemas.

DE VOLTA PRA CASA

L.A. woman chegou às lojas em 19 de abril de 1971 como o “verdadeiro retorno dos Doors às raízes blues-rock”. Aliás, teve tais características bem mais exaltadas do que o anterior disco de estúdio do grupo, Morrison Hotel (1970), que já era bem blueseiro. Mas apesar do clima meio bizarro em torno da banda, foi um disco de elaboração tranquila e a banda curtiu bastante o trabalho em estúdio.

O disco novo dos Doors era cheio de influências da psicodelia, mas já apontava para uma sonoridade bastante herdada do soul, em vários momentos. John Densmore definiu L.A Woman como uma “volta pra casa” e a “essência de tudo o que formou os Doors”. Robbie Krieger disse que a magia do álbum vem do fato de “parecer que estávamos tocando só por prazer”. Na verdade, nem parecia que, logo que terminassem as gravações, Morrison se mandaria para Paris e tudo mudaria na história do trio restante dos Doors – que ainda gravaria mais dois LPs sem o vocalista e sem a magia inicial.

E tá aí nosso relatório sobre L.A. woman, que completa 50 anos em 2021. Leia ouvindo, ou ouça lendo.

1969

O ANO QUE os Stooges classificavam como “mais um ano sem nada pra fazer” (no clássico 1969) foi um ano cheio de trabalho e problemas para Jim Morrison e os Doors. A começar porque o julgamento do “caso Miami” foi sendo adiado. Consequentemente, as oportunidades de trabalho foram escasseando para a banda. Um pool de casas de shows nos EUA se reuniu e baniu os Doors de seus palcos. The soft parade, mesmo assim, foi lançado com uma turnê que varou os EUA e foi parar na Cidade do México.

A POSSIBILIDADE DE tocar num país ainda pouco desbravado por astros do rock (e vá lá, as oportunidades perdidas nos EUA) acabou animando os Doors a tocar quatro datas na capital mexicana, entre 28 de junho e 1º de julho de 1969. Os shows foram inicialmente marcados para a Plaza de Toros, onde cabiam 40 mil pessoas. Mas acabaram transferidos para um clube chique com lotação de mil cabeças, o The Forum. Tudo por ordem do ditatorial presidente Gustavo Díaz Ordaz. O grupo foi avisado da mudança em cima da hora e exigiu fazer um show no prestigioso Auditório Nacional (e não foram atendidos). Os ingressos do The Forum custavam a fortuna de 700 pesos e incluíam um jantar. A banda foi assistida por um público formado em sua maior parte pelos frequentadores abonados do local, não por hippies e roqueiros mexicanos.

ALIÁS E A PROPÓSITO, a Elektra chegou a pensar em lançar um disco ao vivo dessa turnê, mas a banda preferiu soltar Morrison Hotel (1970) antes.

MAS O QUE FOI O TAL CASO MIAMI?

ANTES DE entender aquela noite, é preciso entender que Morrison havia nascido ali pertinho de Miami, em Melbourne, também na Flórida. Isso já diz muito sobre o que se passava na cabeça do cantor naquele dia. Embora ele, como filho de militar (o futuro contra-almirante da marinha americana George Stephen Morrison) tenha mudado de cidade bastante na infância.

MORRISON tivera contato com as experimentações da companhia Living Theatre, de Julian Beck e Judith Molina. E ficara com a ideia de aplicar as mesmas técnicas de “envolvimento com a plateia”, exortando o público e até mesmo ofendendo os pagantes. Aliás, já havia feito isso num show em Los Angeles e pessoas reagiram soltando fogos de artifício perto dele, com a finalidade de atingi-lo.

NAQUELA NOITE DE 1º de março de 1969, quando se apresentava no Dinner Key Auditorium, em Miami, avisou à plateia que “não sei se vocês sabem, eu nasci aqui perto, em Melbourne, em 1943”. Até que “fiquei esperto e me mudei para Los Angeles”. Foi a deixa para Morrison brindar o público com frases como “vocês são um bando de idiotas que deixam que que lhes digam o que fazer” e encerrar com um “e se eu mostrar meu pau? É o que vocês querem?”. O cantor também incentivou fãs a tirarem suas roupas (o que de fato aconteceu). Foi preso na hora.

MOSTROU OU NÃO? Todos os integrantes dos Doors negam que Jim tenha mostrado o pênis para a plateia. Manzarek sempre considerou a história um “delírio coletivo”. No julgamento, Jim foi condenado a seis meses de prisão. Morrison permaneceu em liberdade, aguardando um recurso de sua condenação, mas morreu antes que o assunto fosse legalmente resolvido. Muitos anos depois disso, em 8 de dezembro de 2010 (quando Jim completaria 67 anos), o Conselho de Clemência da Flórida e o governador do estado na época, o republicano Charlie Crist, assinaram o perdão do cantor dos Doors, a pedido de um grupo de fãs que fizera um abaixo-assinado.

POESIA, CASAMENTO, ETC

EM MEIO ÀS TURNÊS dos Doors naquela época, Jim Morrison passou a se dedicar a escrever livros de poesia (An american prayer saiu em edição limitada em 1970). Aliás, ele até iniciou um roteiro de filme (que quase foi parar nas mãos da MGM) baseado no livro The adept, do poeta beat Michael McClure. A vida foi atropelando os planos e não só o roteiro nunca foi concluído como o livro de McClure igualmente nunca foi lançado.

NOS TEMPOS DE FAMA, o galinha Jim teve dois relacionamentos mais duradouros e conhecidos. Um deles foi com Pamela Courson, com quem ele mantinha um affair vai-e-volta desde antes da fama dos Doors – era com ela que ele estava, você deve saber, quando morreu em Paris. O outro foi com a jornalista de música Patricia Kennealy, editora da revista Jazz & pop, com quem se relacionava desde 1968 e com quem resolvera se casar em 24 de junho de 1970. Interessadíssimo em rituais e em xamanismo, Jim topou unir-se a Pamela numa cerimônia pagã, ligada a uma religião celta que ela seguia.

CIUMEEEENTO. Apesar de não ser exatamente o protótipo do homem fiel e do casamento ter durado apenas um ano e alguns meses, Jim dava trabalho a Patricia com suas demonstrações de ciúme, como ela chegou a contar no livro Rock wives, de Victoria Balfour. O cantor chegava a abrir os armários da jornalista em busca de roupas do “outro”. Patricia garante em seu livro de memórias Light our fire: My wedding to Jim Morrison que Jim considerava seu relacionamento com Pamela algo “meio vergonhoso, meio viciante”. E que a viagem a Paris que ele fez para encontrar a garota (e durante a qual, morreria) tinha o objetivo de colocar um fim no relacionamento.

1970, 1971

OS DOIS PRIMEIROS ANOS da década de 1970 (no POP FANTASMA a gente encerra as décadas no ano terminado com “9” e ponto final) não eram uma das épocas mais tranquilas dos últimos tempos. Tinha Guerra do Vietnã, conflitos raciais, repressão por todos os lados, manifestações de estudantes reprimidas a bala, artistas morrendo de overdose. Ex-integrantes dos Doors comentam que o caos da época se refletiu bastante na música do grupo, com Jim falando em “nesta casa nós nascemos/neste mundo fomos jogados” (em Riders on the storm). O cantor também apostava no “ligue-se, sintonize, caia fora” em boa parte de seu novo material, mesmo numa época em que a esperança hippie havia sido substituída pelo cinismo.

AS PARADAS DE SUCESSO EM 1971 eram dominadas por uma mescla de pop, rock, country e soul, com vários artistas novos e carreiras dos anos 1960 reposicionadas. Quem quisesse ficar ligado nas novidades do rock, tinha que ficar de olho no rock pesado (Led Zeppelin, Black Sabbath), no glam rock (Electric warrior, do T. Rex, era uma sensação na Inglaterra) ou, numa escala menor, no hard rock meio tosco de bandas como Stooges e MC5 (que depois passou a ser chamado de pré-punk). Qualquer artista corria o risco de soar nostálgico e ultrapassado o mais rápido possível, numa década em que tudo mudava rapidamente e vertiginosamente.

APERTA O PLAY

COMEÇOU! L.A. woman começou a ser gravado em dezembro de 1970 num momento de relativa calma na vida de Jim, quando a situação legal do cantor em relação ao “caso Miami” foi definida. Morrison havia sido condenado a seis meses de prisão, mas teve a fiança paga e foi liberado. O grupo entrou no estúdio Sunset Sound, na Califórnia, para fazer as primeiras versões de Riders on the storm, L.A. woman e Love her madly., inicialmente ao lado do produtor Paul A. Rothchild, que cuidara dos discos anteriores.

DEU MERDA. Paul já vinha se estressando com as mudanças sonoras dos Doors havia anos, mas começou a ficar particularmente puto da vida com a banda na época de L. A. woman – especialmente quando ouviu os teclados de Riders on the storm, classificada por ele como “música de elevador”. Acabou se afastando e deixou o trabalho todo nas mãos da banda e do técnico de som, Bruce Botnick.

ROTHCHILD se recorda de que Jim parecia entediado e desanimado durante os primeiros ensaios do disco, o que acabou fazendo com que ele próprio se cansasse do trabalho. Testemunhas dizem que não só ele, mas várias pessoas acharam o material de L.A. woman ruim. Até porque numa reunião no Sunset Sound, a banda mostrou as músicas ainda rascunhadas e tocou mal (o próprio Manzarek admite a mancada). O som que todo mundo ouve no disco foi tomando forma bem depois.

EM CASA

BRUCE BOTNICK sugeriu que a banda aproveitasse seu próprio local de ensaios para gravar. O Doors’ Workshop, como era chamado, ocupava um prédio de dois andares no endereço 8512 Santa Monica Boulevard. Jim Morrison gravou boa parte dos vocais num microfone armado na porta do banheiro. O grupo arrumou novos equipamentos e a Elektra instalou lá uma mesa de mixagem. The changeling, declaração de princípios de Morrison – e a faixa mais dançante do álbum – foi a primeira a ser gravada e acabou sendo escolhida para abrir o disco.

ALIÁS E A PROPÓSITO, versos de The changeling como “eu tive dinheiro/e não tive nenhum/mas nunca fui tão duro que não pude deixar a cidade” são interpretados por amigos de Jim como um aviso de que o cantor deixaria a banda e migraria, para Paris ou qualquer outro lugar.

RAY MANZAREK comenta que, apesar de L.A. woman falar bastante da vida em Los Angeles, a banda não tivera a ideia de fazer um disco conceitual. “Mas depois que começamos a trabalhar nas músicas, percebemos que elas estão falando sobre Los Angeles. Elas são sobre homens, mulheres, meninos, meninas, amor, perda, amantes perdidos e amantes encontrados por lá”, comentou.

COVER

DO REPERTÓRIO DE L.A. woman constava Crawling king snake, blues de John Lee Hooker que já vinha sendo tocado informalmente pela banda havia anos. Como L.A. woman era basicamente um disco voltado ao blues, a banda resolveu gravá-la. Naquela época, Hooker, um artista de blues que tinha gravado seus primeiros discos nos anos 1940, tinha sido redescoberto e voltara às paradas com discos como Hooker’n heat (gravado ao lado da banda Canned Heat) e Endless boogie, ambos de 1971.

COMO JIM já era conhecido como “Rei Lagarto” (por causa do improviso Celebration of the lizard, incluído em shows da banda e no disco Absolutely live, de 1970), o nome “king snake” caía como uma luva na mitologia associada a ele e aos Doors. O próprio Hooker voltaria a revisitar a faixa em shows e discos.

JUNTOS MAS SEPARADOS

BOA PARTE do material dos Doors era creditado aos quatro integrantes, mas nem sempre as músicas eram compostas em grupo. Quase sempre as músicas eram iniciadas por Krieger e Morrison e terminadas em quarteto. Love her madly, o primeiro single de L.A. woman, era uma canção de Robbie inspirada pelo jazzista Duke Ellington (que falava “amo vocês loucamente!” para a plateia) e que foi terminada pelos outros três. Manzarek também compunha, mas era na maior parte do tempo responsável por criar riffs e comandar arranjos. O discreto Densmore dava pegada jazzística ao repertório.

JAC HOLZMAN, chefe do selo Elektra, escolheu essa canção para primeiro single do disco assim que a escutou. Um integrante dos Doors não ficou nem um pouco contente com isso: o próprio Krieger, que considerava sua própria música apelativa e comercial demais.

CONVIDADOS. Com a ideia de fazer um som que pudesse ser reproduzido ao vivo sem traumas, Botnick chamou um guitarrista de estúdio (Marc Benno, que trabalhara com nomes como Leon Russel) e um baixista (Jerry Scheff, integrante da TCB Band de Elvis Presley). Jim era visto andando pelo estúdio feliz da vida, já que iria tocar com o baixista do rei do rock. É o instrumento dele que pode ser ouvido em Riders on the storm e L.A. woman.

COMO RESULTADO da volta às raízes, pela primeira vez em bastante tempo um disco dos Doors chegava às mãos da crítica e não era destroçado. Na Rolling Stone, Robert Meltzer chegou a classificá-lo como “disco do ano”. Até hoje, muita gente considera esse disco o melhor dos Doors.

A FAIXA-TÍTULO

A LETRA DE L.A. woman é definida por testemunhas como “um filme noir sobre Los Angeles” – enfim, uma música sombria composta para uma cidade ensolarada. O “city of night” da letra faz referência ao romance LGBT City of night, de John Rechy. Manzarek acredita que a letra tem muito de autores como Raymond Chandler, Nathanael West e romancistas dos anos 1930 e 1940.

BOA PARTE da letra é pura sacanagem, com Jim despedindo-se das garotas de Los Angeles (para, talvez, começar nova vida em Paris) e gritando “Mr. Mojo Risin” (um anagrama com seu próprio nome) como referência ao “mojo” do universo do blues. O lado digamos, literário de Jim aparecia em outra faixa, The WASP (Texas Radio and the Big Beat), um longo poema musicado pela banda. Been down so long teve seu nome tirado de um livro do cantor folk (e cunhado de Joan Baez) Richard Fariña, Been down so long it looks like up to me. Em 1971, o livro de Fariña viru filme, dirigido por Jeffrey Young.

RAY MANZAREK confessou que roubou parte dos riffs de teclado de House in the country, música do Blood, Sweat and Tears, para incluir em L.A. woman. Por outro lado, a melodia de Riders on the storm surgiu de Ghost riders in the sky, tema country gravado por uma multidão de gente (incluindo Johnny Cash e Elvis Presley). Krieger mexeu no riff e Manzarek tratou de tornar a música mais sombria.

ISSO É O FIM

APÓS GRAVAR TODOS OS VOCAIS, Jim reuniu os amigos e avisou que iria para Paris encontrar Pamela. “O quê? Mas a gente nem mixou o disco, falta fazer um monte de coisas”, teriam respondido todos. Em vão: Jim considerou sua parte terminada e começpu a se preparar para a viagem antes que as sessões de L.A. woman encerrassem. Os outros Doors lhe desejaram boa sorte. Mas qualquer pessoa próxima sabia que a banda não poderia mais contar com ele. “Não achei que algum dia ele voltaria”, disse Jac Holzman.

POLIAMOR PIRADÃO. Nos últimos dias em Los Angeles, Jim – apesar de ainda casado com Patricia e prestes a retomar o relacionamento com Pamela – caiu na farra em todos os clubes da cidade e procurou várias ex-namoradas. A esposa chegou a flagrar Jim com uma de suas amantes e Patricia conta em Daqui ninguém sai vivo que nessa ocasião, o cantor procurou todo tipo de material cortante em casa e propôs às duas que o cortassem. “Uma de vocês fica com meu p (*) e a outra com meu corpo. A alma, eu mesmo fico com ela, se não se importam”, disse. “Quando ele pegou no sono, já achei que estava morto e que nunca mais o veria outra vez”, contou Patricia.

PARIS

PIRAÇÃO. Em 11 de março de 1971, Jim chegou em Paris e reencontrou Pamela. As poucas testemunhas do relacionamento na capital francesa dizem que se tratava de um relacionamento bastante aberto e excêntrico. Jim e Pamela ficaram na casa de um casal de amigos da garota por algum tempo antes de partirem para uma residência alugada. O cantor nunca tinha sido dos mais fieis, mas Pamela não ficava atrás. Traía o cantor com vários amigos e pedia que inventassem uma desculpa qualquer para ele.

(veja também: Paris, 1971: As últimas fotos conhecidas de Jim Morrison)

JIM havia dito a amigos que se endireitaria e que começaria uma carreira de escritor – produzindo uma autobiografia ou quem sabe, um livro sobre o julgamento de Miami. Mas foi em vão: o cantor continuou bebendo bastante e (dizem) seu relacionamento com Pamela era marcado pelo uso de heroína.

POUCO reconhecido nas ruas, numa cidade em que havia bem menos circulação de fãs de rock do que na Inglaterra ou EUA, o cantor chegou a puxar assunto com uma banda formada por garotos americanos radicados na França, que viu andando nas ruas com instrumentos. Inicialmente não foi reconhecido – os moleques ficaram até constrangidos depois, quando viram de quem se tratava. Jim acabou descobrindo que se tratava do Clinic, grupo liderado pelo canadense Phil Trainer, e que iniciara carreira na França.

MORREU OU NÃO?

POUCAS PESSOAS viram Jim Morrison morto. O corpo do cantor foi encontrado sem vida na banheira do apartamento do casal, por um bombeiro, Alain Raisson, que anos depois deu até depoimento para o Fantástico. Na entrevista para o Show da Vida, Alain disse que não havia evidências de overdose ou de que Morrison havia sido assassinado (afinal, o que mais tem é gente dizendo que o FBI havia encomendado sua morte). Só disse que a água da banheira estava um pouco rosada. O laudo médico fala apenas em “parada cardíaca”.

MARIANNE FAITHFULL disse certa vez à Mojo que, sim, houve um culpado pela morte de Jim Morrison: um ex-namorado dela, o traficante de heroína Jean de Breteuil. Ela conta que estava com Jean em Paris passando férias, quando o namorado decidiu ir à casa do casal Pamela-Jim. Segundo ela, a dose que matou Jim foi fornecida por Jean. Ela diz que se tratou de um “acidente” e que todo mundo era muito ignorante na época sobre os efeitos da heroína. “De qualquer forma, todo mundo ligado à morte desse pobre coitado está morto agora. Exceto eu”, contou. Outra versão jura que Jim morreu de overdose de heroína no banheiro do clube parisiense Rock And Roll Circus e seu corpo foi levado direto para o apartamento onde ele morava, para evitar escândalos.

NOTÍCIAS VOANDO

OS AMIGOS de Jim começaram a ouvir boatos da morte do cantor logo no dia do óbito (3 de julho de 1971). O empresário dos Doors, Bill Siddons, soube da história, informou os colegas de Jim e pegou o primeiro voo para Paris. Chegou lá e viu Jim já morto, no caixão selado, e uma certidão de óbito pronta. Pamela e Siddons mal se lembravam dos médicos que assinaram a certidão e havia suspeitas de falsificação de assinaturas. Pamela apenas disse que estava dormindo ao lado de Jim e que ele se levantou para tomar banho.

TUDO O QUE SE SABE da ocasião foi dito por Pamela a Siddons, já que os poucos enlutados presentes ao enterro (foram seis pessoas) nunca falaram sobre o assunto. Pamela morreu de overdose em 25 de abril de 1974. Colegas de Jim nos Doors sempre afirmam que se existe alguém capaz de enterrar um saco de areia como se fosse um defunto e fugir sem deixar pistas, este alguém seria Jim. Mas não existe nenhuma evidência de que ele esteja vivo. Por outro lado, há quem negue que Jim Morrison tenha sido usuário de heroína, alegando que ele “detestava agulhas”, mas muita gente diz que o viu usando a droga.

PARA QUEM (evidentemente depois da pandemia) quiser ir a Paris levar “um dia de Jim Morrison”, um site chamado Bonjour Paris refez passo a passo os dias do cantor por lá, mostrando os lugares pelos quais ele passava e onde ele e Pamela haviam se hospedado. Mas o site fala também dos inferninhos que Jim frequentava (como o Rock And Roll Circus) e explica que a capital tinha se tornado um inferno de heroína nos anos 1970.

A CAPA

SE VOCÊ não percebeu, o lay out de L.A. woman era uma imitação de slide fotográfico. Na primeira prensagem, a foto dos quatro Doors vinha com uma cobertura de papel celofane, e, para enfatizar a ideia do “slide”, a capa tinha cantos arredondados. O autor da capa era Carl Cossick e a foto foi feita por Wendell Hamick, mas Jac Holzman, chefão da Elektra, diz que a ideia partiu de uma encomenda dele. “Não sabia mais se a banda voltaria, então pedi uma capa de colecionador”, contou.

OS LANÇAMENTOS do disco ao redor do mundo modificaram levemente o trabalho gráfico, que acabou transformado em um capa de LP comum. No México, o disco ganhou um Amala locamente na capa. A foto, de colorida, virou preto e branco, e foi invertida para Jim ficar à esquerda, e não por último. No Líbano, a capa também ficou com foto preta e branca, mas em compensação o selo da representação local da Elektra é um achado, com a borboleta-símbolo da gravadora em tons de prateado. Em Israel, saiu uma variação com capa azul e contracapa amarela.

ALIÁS E A PROPÓSITO, na França, não houve muitas mudanças e a capa saiu até com os cantos arredondados. Já na Coreia do Sul, saiu uma edição pirata, em que a foto ganhou um aspecto sombreado e confundiu-se com a moldura do slide. No Brasil, a Philips pôs L.A. woman nas lojas em 1971, sem encartes e sem cantos arredondados.

E JÁ QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI…

VEJA AÍ o pai e a irmã de Jim Morrison, com quem ele parou de ter contato constante ainda nos anos 1960, falando sobre o cantor dos Doors. O pai conta que sempre achou que o filho fosse ter sucesso. “Ele era criativo, esperto, gostava de escrever”, conta. Admite que mandou o filho arrumar um emprego de verdade quando Jim lhe disse que estava cantando numa banda, mas fica visivelmente emocionado quando lembra da vez em que viu Jim na TV. A irmã diz carinhosamente que achava que Jim ia “virar beatnik e ser pobre a vida inteira” e se entristece bastante quando lembra da morte do cantor.

E confira também o documentário Mr. Mojo Risin’ – The story of L.A. woman, legendado, antes que tirem do YouTube.

VEJA TAMBÉM NO POP FANTASMA:

– Demos o mesmo tratamento a Physical graffiti (Led Zeppelin), ao primeiro disco do Black Sabbath, a End of the century (Ramones), ao rooftop concert, dos Beatles, a London calling (Clash), a Substance (New Order), a Fun house (Stooges), a New York (Lou Reed), aos primeiros shows de David Bowie no Brasil, a Electric ladyland (The Jimi Hendrix Experience), a Pleased to meet me (Replacements), a Dirty mind (Prince), a Paranoid (Black Sabbath), a Tango in the night (Fleetwood Mac) e a Mellon Collie and the infinite sadness (Smashing Pumpkins). E a The man who sold the world (David Bowie).
– Além disso, demos uma mentidinha e oferecemos “coisas que você não sabe” ao falar de Rocket to Russia (Ramones) e Trompe le monde (Pixies).
– Mais The Doors no POP FANTASMA aqui.

Cultura Pop

Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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