Connect with us

Crítica

Ouvimos: Vanna Blue – “JoyCry” (EP)

Published

on

JoyCry, EP de Vanna Blue, mistura dream pop e pós-punk em faixas hipnóticas que alternam luz e sombra, com texturas cintilantes e certa agressividade.

RESENHA: JoyCry, EP de Vanna Blue, mistura dream pop e pós-punk em faixas hipnóticas que alternam luz e sombra, com texturas cintilantes e certa agressividade.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Noon Records
Lançamento: 13 de novembro de 2025

  • Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.

Com composição de repertório iniciada em 2019 – e com as trevas da pandemia, que rolou em 2020, ajudando a balizar músicas e letras – JoyCry, o EP de estreia da norte-americana Vanna Blue surge marcado pelo encontro entre dream pop e pós-punk. Mas surge também como o resultado do encontro entre alegrias e tristezas diárias, entre memórias ruins e boas, entre realidade e imaginação. Esse clima é absorvido por algumas faixas, como o pop vaporoso de Back and forth, que lembra o começo da fase eletrônica do Tame Impala – lembra também Angra dos Reis, sucesso da Legião Urbana.

  • Ouvimos: Evvvie – How to swallow a lie (EP)

Tudo que surge no disco é filtrado por um clima meio hipnótico, até meio típico do dream pop, mas com uma certa agressividade que vem lá do fundo, como na mescla de The Cure e Cranberries de Pheromones (com guitarra bonita e melódica e vocal cheio de texturas) e FMHU, ou em Black and blue, cujos teclados e guitarras têm vibe mágica. Tides é dream pop com batida meio funkeada, numa estrutura musical que parece voar.

O disco tem também um momento ruidoso em Closer, faixa na qual algo meio sombrio vai surgindo aos poucos. Mas o principal de Vanna Blue e JoyCry é valorizar a cintilação sonora, em todas as faixas.

  • Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
  • E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.

Crítica

Ouvimos: Danny Brown – “Stardust”

Published

on

Stardust marca Danny Brown sóbrio, mergulhando no hyperpop para criar paisagens sonoras intensas, misturando rap outsider, pós-punk e experimentação.

RESENHA: Stardust marca Danny Brown sóbrio, mergulhando no hyperpop para criar paisagens sonoras intensas, misturando rap outsider, pós-punk e experimentação.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Warp
Lançamento: 7 de novembro de 2025

  • Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.

Com uma carreira discográfica que surgiu nos anos 2000 (sua primeira mixtape, Hot soup, é de 2008), o rapper norte-americano Danny Brown geralmente é elogiado por sua disposição em inovar – que muitas vezes o coloca numa trincheira mais psicodélica e alternativa do rap, habitada também por Earl Sweatshirt e Tyler The Creator, e que igualmente já teve Kanye West como expoente.

Danny tem um álbum chamado Atrocity exhibition (o terceiro, de 2016), mesmo nome de uma música do Joy Division – e não por acaso, volta e meia detalhes do pós-punk emergem de seu som. Outro detalhe é que muitas vezes seus raps focam mais no lado outsider, da vida no desvio, do que propriamente em gangues, brigas ou pura ostentação. Distopias e papos de ficção científica também volta e meia aparecem nas letras dele – sempre com uma trilha sonora no mesmo clima.

E daí que Stardust, primeiro disco que Danny faz totalmente sóbrio – ele passou por um rehab em 2023 – traz o rapper cada vez mais comprometido com a construção de paisagens musicais, todas filtradas pela variedade do hyperpop. Ao lado dele, artistas de procedência bem curiosa, como o grupo experimental pop Frost Children, o criador de dubstep Underscores, o rapper-folktrônico Quadreca e gente inseparável do estilo hyperpop, como Jane Remover.

  • Ouvimos: Tyler The Creator – Don’t tap the glass
  • Ouvimos: Earl Sweatshirt – Live laugh love
  • Ouvimos: Chiedu Oraka – Undeniable (EP)

Stardust quase sempre é tão dançante quanto Brat, de Charli XCX, mas é mais alternativo ainda, construindo pontes com gospel e soft rock (Book of Daniel, que parece construída em cima de uma música do 14 Bis ou do Roupa Nova), emo (Green light), house music (Flowers, um manifesto sobre o quanto ele se sente marginalizado pelo mercado fonográfico) e algo que parece ter sido construído em cima de um sample antigo de dance music, só que aceleradíssimo (Baby, responsável pelo lado mais romântico e sacaninha do disco).

O hyperpop geralmente é formado por referências quase cara de pau à música do passado – que muitas vezes soam distorcidas e encaixadas à força – e por climas “derretidos” em vocais (com autotune) e teclados. Um daqueles sons que só poderiam ter saído da mente de gente que passa o dia pensando em produções e mixagens. Danny começou a ficar mais próximo do estilo há algum tempo, e em Stardust, o hyperpop e seu primo digicore transformam músicas como Copycats, Whatever, Whatever the case e Starburst em experiências sonoras – com riffs de videogame, batidas quebradiças que lembram mais o pós-hardcore e sons de fita rodando rápido ao contrário como “melodia” para os beats. 1L0v3myL1f3! é quase um electrohardcore rap, com sons que desmancham no ouvido e vibe metálica.

As lembranças das experiências amargas ainda estão muito frescas – surgem em várias letras de Stardust e encerram o disco com a épica e intensa The end (de oito minutos) e All4U, cuja letra é um misto de declaração de amor ao rap e história de redenção após abusos e perdas. No geral, Stardust consegue soar curioso e interessante mesmo nos momentos em que você ouve e tem vontade de falar “oi?”.

  • Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
  • E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Pipa – “Funk é matemática”

Published

on

Funk é matemática vê Pipa explorar o funk à distância, misturando ambient, beats experimentais e viagens eletrônicas em movimentos cheios de atmosfera.

RESENHA: Funk é matemática vê Pipa explorar o funk à distância, misturando ambient, beats experimentais e viagens eletrônicas em movimentos cheios de atmosfera.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 1 de dezembro de 2025.

  • Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.

Produtor e compositor, Pipa lançou seu disco Funk é matemática com a ideia de fazer uma declaração de amor ao estilo musical. “Ele é surpreendentemente complexo e desafiador de criar”, afirmou num texto publicado em seu Xwitter, afirmando também que logo percebeu o enorme espaço que teria para criar coisas novas, sem se prender a padrões.

  • Ouvimos: MC Taya – Histeria agressiva 100% neurótica vol. 2 – Muito mais neurótico (EP)

O resultado é que Funk é matemática é basicamente um disco de ambient – um álbum que propõe uma visão à distância do funk, do que pode caber nele, do que existe entre uma batida e outra. Dividido quase todo em “movimentos”, ele insere climas voadores e viajantes como respiro para os beats (Primeiro movimento, Segundo movimento), cria representações gráficas em que beats, samples de voz e vibes lembrando o Azymuth chegam na frente (Terceiro movimento) e une batidões a climas misteriosos que lembram ArtHur Verocai e Toninho Horta (Quarto movimento).

O disco encerra com a viagem quase post-funk da faixa-título, que vai ganhando beats e clima de celebração tribal-tecnológica. Até lá, surgem momentos de beat forte e experimentação eletrônica (Quinto movimento), gravações de rua e vibes meditativas (Sexto movimento) e um jungle-funk leve (Sétimo movimento).

  • Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
  • E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Paul McCartney e Wings – “Wings” (coletânea)

Published

on

Coletânea Wings relembra a fase 1971–79 de Paul McCartney, quando liderou a banda que dá nome ao disco.

RESENHA: Coletânea Wings relembra a fase 1971–79 de Paul McCartney, quando liderou a banda que dá nome ao disco. É pop-rock brilhante entre caos criativo, hits abundantes e a busca de um novo caminho pós-Beatles.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10
Gravadora: MPL / Universal
Lançamento: 7 de novembro de 2025

  • Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.

Não bastasse ter formado os Beatles e ter sido o grande responsável pela virada artsy e psicodélica do grupo – que gerou o clássico Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967) – Paul McCartney foi responsável por um dos maiores “isso não vai ficar assim!” da história do rock. Foi o primeiro a anunciar publicamente que a banda estava acabando e ainda completou a vingança montando uma outra banda poucos anos após deixar o grupo. Tudo bem à moda do ego enorme do ex-beatle, que queria provar ser capaz de fazer parte de duas bandas de rock históricas e importantes.

Na real, não é bem assim: o Wings, grupo que Paul montou para ser o dono da bola – e para fazer tudo que ele já queria fazer nos Beatles, só que sem os outros três na cola dele – mal pode ser chamado de “grupo” de fato. Era uma turma cujo núcleo duro era concentrado em Paul (voz, baixo, guitarra, teclados), Denny Laine (guitarra), Linda McCartney (voz e teclados) e, por uns tempos, Denny Seiwell (bateria).

  • Ei, temos um episódio do nosso podcast Pop Fantasma Documento sobre Paul McCartney e o começo da era dos Wings.

Essa galera era complementada por outros excelentes músicos que saíam/eram saídos à medida que batiam de frente com o patrão. Paul era um grande rockstar, um amigo camarada e… um chefe abusivo, do tipo que confundia trabalho com diversão. Certa vez, marcou uma viagem relax com os músicos e suas famílias na sua fazenda na Escócia. Só que as esposas não foram avisadas de que aquilo na real era um ensaio disfarçado, e o convescote logo virou trabalho.

Tinha mais: as gravações de Band on the run (1973) foram marcadas em Lagos, na Nigéria, porque Paul queria pegar uma praia com a galera antes de ensaiar – ele só não sabia que o país estava na época lamacenta das monções, muito menos da pobreza e violência locais. Além disso, ex-colaboradores fofocavam que Paul pagava pouco e ainda por cima não permitia que músicos-estrela como Seiwell e Henry McCullough (guitarra) descolassem freelas. Vale dizer que o caos conceitual já começava nas nomenclaturas que mudavam a cada álbum (Paul McCartney, Paul e Linda McCartney, Paul e Wings, Wings… até a EMI e os fãs ficavam de saco cheio).

Se Paul tinha lá seus (inúmeros) momentos de confusão como gestor de sua própria banda, musicalmente sua discografia entre 1971 e 1979 é puro ouro – com a vantagem de que sempre parecia acontecer alguma coisa em meio àquele som. Como aconteceria depois com os discos de Rita Lee e Roberto de Carvalho, álbuns como Wild life (1971), Red Rose speedway (1973), Band on the run (1973) e Venus and mars (1975) faziam vir à mente a imagem de turnês lotadas, viagens pelo mundo, entrevistas reveladoras, dias na fazenda, crianças e cães brincando em meio às gravações.

O som não apenas dos LPs, mas também dos singles com músicas exclusivas, era rock, mas era pop até a medula. Entre os hits, Band on the run, Let ’em in, Silly love songs, Junior’s farm, Hi hi hi, Live and let die, Love is strange, Mamounia, Listen to what the man said. Todos habitando um local entre o rock originário, o soul, o doo wop, a fanfarra jazzística, o power pop e os beats africanos que Paul foi aprendendo a amar.

Essa época acaba de ser relembrada em Wings, coletânea do segundo grupo de Paul, com 32 faixas (na versão deluxe, que pode ser ouvida nas plataformas) e todos esses hits e mais alguns. O ex-beatle decidiu entrar num mercado concorrido, inchado, repleto de obras de elaboração caríssima e de turnês nababescas, só que oferecia uma visão em que rock e música pop coexistiam – com evocações dos próprios Beatles e de nomes como The Who, Elton John, Stevie Wonder e Steely Dan.

  • Ouvimos: Paul McCartney e Wings – One hand clapping

Apesar dos beatlemaníacos radicais indignados e dos haters colecionados ao longo do caminho, aquela nova fase era barbada. Paul conseguia ser genial até mesmo quando o caos tomava conta – e isso acontecia muitas vezes. As extensas turnês mostravam que, mais do que tudo, havia demanda: de fãs antigos, de gente que não se reconhecia nas provocações do pré-punk e dos próprios Rolling Stones (e na própria incerteza de John Lennon), de entusiastas do formato arena que bandas como Queen levariam bastante a sério. E de gente que preferia ouvir baladas sonhadoras e imagéticas como London Town ou a nostalgia de Mull of Kintyre. Wings, o disco, traz todo esse universo de volta.

  • Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
  • E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.

Continue Reading
Advertisement

Trending