Crítica
Ouvimos: Tyler The Creator – “Don’t tap the glass”

RESENHA: Tyler The Creator lança Don’t tap the glass, disco curto e dançante que mistura indie pop, rap, house e soul com clima retrô e foco total no corpo.
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Chromakopia, o bowieófilo disco anterior de Tyler The Creator, saiu em outubro do ano passado – e eis aqui Tyler com um álbum novo, o curtíssimo Don’t tap the glass, menos de um ano depois. Com uma discografia já grandinha, Tyler sempre espaçou seus álbuns em dois anos, mas dessa vez, parece que a ideia era malhar enquanto o ferro estava quente.
Ainda mais que Don’t tap the glass é basicamente um disco de indie pop, dando contornos ultratexturizados a estilos como hip hop, Miami-bass e house music – e o próprio Tyler disse que se trata de um disco “feito para dançar”, e nada mais do que isso. O entendimento de Don’t tap the glass vai pelo corpo e pelos pés, não exatamente pela revolta, pelo conceito ou pela provocação – ainda que seja um disco de rap, estilo musical que tem isso tudo aí na gênese.
E aí que se há um “fantasma” assombrando Don’t tap the glass é o rap zoeiro dos anos 1980, mais do que a sensação de perigo que o estilo provocaria após os anos 1990 – além dos verdadeiros manuais de dança que eram os discos de soul dos anos 1970. Big poe, na abertura, traz Tyler mandando os estatutos da gafieira de Don’t tap the glass (“número um, movimento corporal / não fique parado”), e embarcando num boombap ruidoso.
Faixas como Sugar on my tongue estão mais próximas do funk original e do pós-disco do que se imaginaria – e a safada Sucka free é um r&b que passa até por um boogie. Mommanem, cheia de efeitos de percussão e vocais, parece um tema para acompanhar corridas. Stop playing with me é pura ostentação e sacanagem, e vai numa onda já naturalmente mais associável a Tyler, só que com mudanças – afinal, é um som que tocaria numa festa.
Tyler invade a área da dance music nostálgica em Ring ring ring, e une soul latino e batidão gangsta em duas faixas coladas, Don’t tap that glass e Tweakin‘. Climas meio nostálgicos e meio lo-fi tomam a frente em Don’t you worry baby (cuja batida parece um carro apressado e com volume alto passando em sua rua) e I’ll take care of you.
Levando em conta a discografia de Tyler e seu histórico que-se-foda, Don’t tap that glass é um diferencial, e talvez soe como um presente para os fãs fieis – aliás um presente bem melhor do que demorar mais dois anos para lançar o sucessor de um disco de sucesso.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Columbia/Sony
Lançamento: 21 de julho de 2025.
Crítica
Ouvimos: Danny Brown – “Stardust”

RESENHA: Stardust marca Danny Brown sóbrio, mergulhando no hyperpop para criar paisagens sonoras intensas, misturando rap outsider, pós-punk e experimentação.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Warp
Lançamento: 7 de novembro de 2025
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Com uma carreira discográfica que surgiu nos anos 2000 (sua primeira mixtape, Hot soup, é de 2008), o rapper norte-americano Danny Brown geralmente é elogiado por sua disposição em inovar – que muitas vezes o coloca numa trincheira mais psicodélica e alternativa do rap, habitada também por Earl Sweatshirt e Tyler The Creator, e que igualmente já teve Kanye West como expoente.
Danny tem um álbum chamado Atrocity exhibition (o terceiro, de 2016), mesmo nome de uma música do Joy Division – e não por acaso, volta e meia detalhes do pós-punk emergem de seu som. Outro detalhe é que muitas vezes seus raps focam mais no lado outsider, da vida no desvio, do que propriamente em gangues, brigas ou pura ostentação. Distopias e papos de ficção científica também volta e meia aparecem nas letras dele – sempre com uma trilha sonora no mesmo clima.
E daí que Stardust, primeiro disco que Danny faz totalmente sóbrio – ele passou por um rehab em 2023 – traz o rapper cada vez mais comprometido com a construção de paisagens musicais, todas filtradas pela variedade do hyperpop. Ao lado dele, artistas de procedência bem curiosa, como o grupo experimental pop Frost Children, o criador de dubstep Underscores, o rapper-folktrônico Quadreca e gente inseparável do estilo hyperpop, como Jane Remover.
- Ouvimos: Tyler The Creator – Don’t tap the glass
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Stardust quase sempre é tão dançante quanto Brat, de Charli XCX, mas é mais alternativo ainda, construindo pontes com gospel e soft rock (Book of Daniel, que parece construída em cima de uma música do 14 Bis ou do Roupa Nova), emo (Green light), house music (Flowers, um manifesto sobre o quanto ele se sente marginalizado pelo mercado fonográfico) e algo que parece ter sido construído em cima de um sample antigo de dance music, só que aceleradíssimo (Baby, responsável pelo lado mais romântico e sacaninha do disco).
O hyperpop geralmente é formado por referências quase cara de pau à música do passado – que muitas vezes soam distorcidas e encaixadas à força – e por climas “derretidos” em vocais (com autotune) e teclados. Um daqueles sons que só poderiam ter saído da mente de gente que passa o dia pensando em produções e mixagens. Danny começou a ficar mais próximo do estilo há algum tempo, e em Stardust, o hyperpop e seu primo digicore transformam músicas como Copycats, Whatever, Whatever the case e Starburst em experiências sonoras – com riffs de videogame, batidas quebradiças que lembram mais o pós-hardcore e sons de fita rodando rápido ao contrário como “melodia” para os beats. 1L0v3myL1f3! é quase um electrohardcore rap, com sons que desmancham no ouvido e vibe metálica.
As lembranças das experiências amargas ainda estão muito frescas – surgem em várias letras de Stardust e encerram o disco com a épica e intensa The end (de oito minutos) e All4U, cuja letra é um misto de declaração de amor ao rap e história de redenção após abusos e perdas. No geral, Stardust consegue soar curioso e interessante mesmo nos momentos em que você ouve e tem vontade de falar “oi?”.
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Crítica
Ouvimos: Vanna Blue – “JoyCry” (EP)

RESENHA: JoyCry, EP de Vanna Blue, mistura dream pop e pós-punk em faixas hipnóticas que alternam luz e sombra, com texturas cintilantes e certa agressividade.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Noon Records
Lançamento: 13 de novembro de 2025
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Com composição de repertório iniciada em 2019 – e com as trevas da pandemia, que rolou em 2020, ajudando a balizar músicas e letras – JoyCry, o EP de estreia da norte-americana Vanna Blue surge marcado pelo encontro entre dream pop e pós-punk. Mas surge também como o resultado do encontro entre alegrias e tristezas diárias, entre memórias ruins e boas, entre realidade e imaginação. Esse clima é absorvido por algumas faixas, como o pop vaporoso de Back and forth, que lembra o começo da fase eletrônica do Tame Impala – lembra também Angra dos Reis, sucesso da Legião Urbana.
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Tudo que surge no disco é filtrado por um clima meio hipnótico, até meio típico do dream pop, mas com uma certa agressividade que vem lá do fundo, como na mescla de The Cure e Cranberries de Pheromones (com guitarra bonita e melódica e vocal cheio de texturas) e FMHU, ou em Black and blue, cujos teclados e guitarras têm vibe mágica. Tides é dream pop com batida meio funkeada, numa estrutura musical que parece voar.
O disco tem também um momento ruidoso em Closer, faixa na qual algo meio sombrio vai surgindo aos poucos. Mas o principal de Vanna Blue e JoyCry é valorizar a cintilação sonora, em todas as faixas.
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Crítica
Ouvimos: Pipa – “Funk é matemática”

RESENHA: Funk é matemática vê Pipa explorar o funk à distância, misturando ambient, beats experimentais e viagens eletrônicas em movimentos cheios de atmosfera.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 1 de dezembro de 2025.
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Produtor e compositor, Pipa lançou seu disco Funk é matemática com a ideia de fazer uma declaração de amor ao estilo musical. “Ele é surpreendentemente complexo e desafiador de criar”, afirmou num texto publicado em seu Xwitter, afirmando também que logo percebeu o enorme espaço que teria para criar coisas novas, sem se prender a padrões.
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O resultado é que Funk é matemática é basicamente um disco de ambient – um álbum que propõe uma visão à distância do funk, do que pode caber nele, do que existe entre uma batida e outra. Dividido quase todo em “movimentos”, ele insere climas voadores e viajantes como respiro para os beats (Primeiro movimento, Segundo movimento), cria representações gráficas em que beats, samples de voz e vibes lembrando o Azymuth chegam na frente (Terceiro movimento) e une batidões a climas misteriosos que lembram ArtHur Verocai e Toninho Horta (Quarto movimento).
O disco encerra com a viagem quase post-funk da faixa-título, que vai ganhando beats e clima de celebração tribal-tecnológica. Até lá, surgem momentos de beat forte e experimentação eletrônica (Quinto movimento), gravações de rua e vibes meditativas (Sexto movimento) e um jungle-funk leve (Sétimo movimento).
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