Connect with us

Destaque

Tres Leches: novo (e excelente) rock de Seattle

Published

on

Tres Leches: novo (e excelente) rock de Seattle

Essa entrevista era pra ter saído logo na primeira semana do POP FANTASMA. Atrasamos um pouco (só uns dois meses) mas enfim apresento uma das bandas recentes mais interessantes que ouvi em 2016: Tres Leches, de Seattle, lançou um EPzinho de quatro faixas em outubro e apareceu com destaque na programação da rádio local KEXP. É um trio formado por Alaia D’alessandro, Zander Yates e Ulises Mariscal (o formato básico é voz-guitarra-baixo-bateria, mas eles trocam de instrumentos a cada música) que usa o estilo “art punk” para definir seu som.

O nome do grupo é o de um famoso bolo, popularíssimo aqui na América Latina – popular a ponto de Ana Maria Braga ensinar sua receita na internet, inclusive. Tanto que um grande desafio que o grupo encontra pela frente, no Google, é a concorrência com receitas de bolo, que ocupam as primeiras páginas do site de buscas (tem ainda um grupo folk nos Estados Unidos chamado Tres Leches, que o trio diz nunca ter conhecido). Deixando as guloseimas e as bandas com nome parecido de lado, tá aí um grupo que você tem que conhecer. Bati um papo com eles, que fizeram questão de responder tudo em trio.

Com você definem “art punk” e quais são suas bandas punk favoritas? Na verdade foi o DJ Larry Rose, da KEXP, que definiu a gente assim. Esse gênero inclui bandas como Parquet Courts, Ought, Art Brut, e voltando lá para trás, estende-se até Suicide, New York Dolls, Talkimg Heads e The Fall. Estas são algumas de nossas bandas favoritas, mas também colocamos na lista que amamos The Clash, Los Saicos, Bikini Kill, The Cramps, Alice Bag, Savages, Death, Minutemen, Los Esquizitos, Iggy Pop, Replacements. Costumamos dizer que nosso gênero é “dark basement” (porão escuro)

E como vocês começaram a banda? Num porão escuro! Bom, depois fomos para um porão escuro bem maior no Crybaby Studios, em Seattle.

Todo mundo da banda nasceu e mora em Seattle? Como definem o rock de Seattle nos dias de hoje? Bom, Ulisses nasceu no México, Zander é do Oregon e Alain é de Olympia, Washington. Em Seattle dá pra fazer vários gêneros se misturando. Há mais oportunidades de todas com uma bnda de rap ou de punk na mesma data. Amamos tocar com bandas punk como Boyfriends e Wiscon, mas também artistas de hip hop como Astro King Phoenix, DoNormaal e Raven Matthews. Em um dos nossos shows, terminamos fazendo uma jam de improviso com Raven durante seu set, foi bastante divertido! Achamos que as pessoas estão começando a ver essa similaridades entre esses artistas underground, no que eles estão falando a respeito de resgate de valores sociais, e  esses valores são similares em toda cena underground.

Quais as idades de vocês e quantos anos vocês tinham naquele estouro do rock de Seattle? Coletivamente temos 71 anos! Naquela época dois de nós éramos fetos e o outro era um bebê nessa época. Mas Zander (o tal que era um bebê) teve grande influência de Kurt Cobain e adoramos ver shows do Mudhoney e de outros artistas daquela época.

A letra de “Get off (My back) é dedicada a alguém em especial? Ninguém em particular, mas Alaia a endereça a machos predatórios que não deixam mulheres sozinhas nos clubes. Ela foi feita quando Alaia e sua irmã estavam tentando dançar sozinha num clube em Seattle e uns caras ficavam tentando se aproximar delas ainda que elas ficassem dizendo em alto e bom som para eles pararem. É inacreditavelmente perturbador e cansativo quando você tenta se divertir e perde tempo tentando deixar longe as pessoas que te deixam inseguro.

Como vocês escolheram as músicas do primeiro EP? Vocês têm planos para um disco inteiro em 2017? Bom, uma das razões pelas quais escolhemos quatro músicas é porque elas ilustram como tocamos com diferentes set ups, já que fazemos rodízio de instrumentos a quase cada uma das músicas.  Em “Illumination”, Ulises toca baixo e theremin, Zander toca guitarra e Alaia está na bateria. Em “Get off (My back)” Ulises está na bateria, Zander no baixo e Alaia na guitarra. Venha num show nosso para ver como tocamos cada uma das músicas. Queremos lançar nova música esse ano, só não sabemos em que formato ainda.

“Tres leches” é um tipo de bolo criado no México e muito popular no Brasil. Por que vocês escolheram esse nome e qual a importância da cultura latina para a banda? Ulises é do México e Alaia é descendente de portorriquenhos, filipinos e italianos. Valorizamos muito a cultura latina e escolhemos o nome mais como uma referência a isso, porque somos três, e porque é um bolo maravilgoso. A gente nunca tentou fazê-lo mas já comemos bastante! Alana sabe fazer comida italiana e Ulises sabe fazer taquitos.

E pra terminar, vocês tiveram “Get off (My back)” executada pela KEXP, rádio conhecida de Seattle. O que isso significou para vocês? Rádio ainda é uma mídia poderosa para uma banda de rock nos EUA? A KEXP foi tudo para a gente, tocou nosso EP inteiro. Ajudou a gente a ter reviews em blogs como Crosscut, Yab Yum, The Devil Has Best Tuna, em países como a Espanha e agora no Brasil! Muita gente no nosso lançamento disse que nos ouviu lá. Mais do que qualquer outra coisa, foi incrivelmente importante para nós porque valorizamos a missão dos DJs em fazer curadoria de playlists que representam tanto as bandas locais quanto a música do mundo todo. A KEXP expõe aos ouvintes música que eles não conhecem. As rádios independentes são essenciais para os artistas porque dão a eles a liberdade que a mídia corporativa não daria, até porque as playlists redundantes das rádios corporativas refletem apenas seus interesses.

E olha o EP do Tres Leches aí.

Cultura Pop

Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

Published

on

Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.

O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).

A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.

Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.

“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.

Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de  Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.

Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”

Continue Reading

Cultura Pop

No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

Published

on

No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.

Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…

Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!

Continue Reading

Destaque

Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Published

on

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).

A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã

Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.

Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica

A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.

O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.

>>> POP FANTASMA PRA OUVIR: Mixtape Pop Fantasma e Pop Fantasma Documento
>>> Saiba como apoiar o POP FANTASMA aqui. O site é independente e financiado pelos leitores, e dá acesso gratuito a todos os textos e podcasts. Você define a quantia, mas sugerimos R$ 10 por mês.
Continue Reading
Advertisement

Trending