Cultura Pop
Trapalhões: letras traduzidas com Didi Mocó

Por volta de 1979, para onde quer que você fosse, era impossível escapar da balada romântica I’d rather hurt myself, de Randy Brown. Primeiro porque a música tocava o tempo todo no rádio e entrou na trilha da novela Pai herói. Segundo, porque a Mundial FM, uma das rádios mais populares do Rio – e, por extensão, do Brasil – passou a usar a canção numa propaganda de TV. Como a tal propaganda trazia uma pessoa voando de asa delta, a música ganhou o apelido de Melô da asa.
Ninguém até hoje jogou essa vinheta original no YouTube, mas tem uma série de vídeos com imagens de pessoas voando de asa delta, com a música no fundo.
https://www.youtube.com/watch?v=U7iMVVvxdKo
Randy Brown – que ainda está vivo aos 66 anos e mora em Memphis, mas não grava desde 1988 – tá longe de ser considerado um nomão do r&b. Ele começou cantando doo-wop em igrejas e entrou para um grupo chamado The Newcomers, que foi contratado pela Stax em 1971. Saiu do grupo e passou a gravar solo a partir de 1973, com singles como Did you hear yourself. Nessa época, Brown estava contratado da Truth, um selinho pertencente à Stax. Foi no período em que a gravadora havia deixado de ser uma subsidiária da Atlantic e se tornou um selo independente.
Naquela época, o mercado de discos era extremamente competitivo, e gravadoras despejavam rios de dinheiro em novos lançamentos. No meio da concorrência bizarra do meio fonográfico, a Stax desistiu da independência e deixou acordado um lance de distribuição com a CBS, que não foi pra frente. Clive Davis, presidente da CBS na ocasião, havia combinado tudo pessoalmente com a turma da Stax. Mas foi demitido por, supostamente, usar grana da empresa para financiar gastos pessoais – coisa que anos depois negou ter feito, em sua autobiografia The soundtrack of my life. Com a saída dele, o acordo com a Stax dançou, a gravadora fechou as portas em 1976 e Randy foi pro olho da rua.
Quem também se deu muito mal nessa zica da Stax foi o Big Star, banda que vinha sendo considerada os Beatles do power pop e gravou dois discos lá, que sequer foram trabalhados.
Randy, após alguns singles sem expressão, foi parar numa subsidiária da Casablanca Records, espécie de “casa” da disco music no período. A Parachute Records era dirigida por um veterano da indústria da música chamado Russ Regan. O cantor gravou várias demos para mostrar a Russ e ele se interessou justamente por I’d rather hurt myself, que ainda tinha um acréscimo no título entre parênteses (Than to hurt you). A letra anotava as impressões e as dores de um rapaz que supsotamente traía a namorada, e ainda colocava a pobre coitada numa enorme rede de fofocas (“eu sei que toda a cidade está rindo/e falando de você pelas costas”, diz). Essa sofrência (para a garota, claro) se tornou o primeiro hit de Brown.
Olha ele aí no mitológico programa de TV Soul train interpretando outro hit seu da época, I wanna make love to you. Não achei vídeo de Brown cantando o Melô da asa.
Randy gravou mais quatro LPs, pela Parachute e por outra etiqueta black da Casablanca, o Hot Chocolate. Depois foi gravando outros singles por selos menores e sumiu do mercado fonográfico depois de 1988. Mas o que interessa é que o sucesso da canção de Randy foi tão grande no Brasil que chegou até nos Trapalhões, com direito a Renato Aragão e seu personagem Didi Mocó fazendo – nos moldes de programas como o Good Times 98 – uma tradução em português muito livre da canção.
Jogaram esse vídeo no YouTube (clique aqui pra ver), com Renato substituindo versos como “all the talk/that’s going around town” por “ô doutor/faço um gol no segundo tempo”. Uma pérola que iria se perder no tempo se alguém não tivesse digitalizado – e que mostra que as paródias e brincadeiras com músicas de sucesso já foram melhores.
Cultura Pop
No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).
Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
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Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
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4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
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