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Crítica

Ouvimos: These New Puritans – “Crooked wing”

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Ouvimos: These New Puritans, "Crooked wing"

RESENHA: These New Puritans explora sons de igreja em Crooked wing, criando um disco sombrio, belo e além do art rock, com clima progressivo e experimental.

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Jack e George Barnett, os irmãos do These New Puritans, são músicos bastante experimentais. Mas no caso de Crooked wing, o novo álbum, eles conseguiram dar vários passos além até mesmo do art rock que fizeram em discos anteriores, como no excelente Inside the rose, de 2019. A feitura do álbum novo envolveu gravações de campo em torno do som cheio de ambiência das igrejas – e algumas sessões foram feitas numa igreja na Áustria.

Aparentemente a música de Crooked wing envolve um questionamento: como transformar a sonoridade “de igreja”, com órgão, sinos, piano, corais e eco, numa experiência sombria, perturbadora e, às vezes, psicodélica? – muito embora o som do disco esteja bem distante da “psicodelia” como ela é de verdade, vale acrescentar.

Essa provocação musical surge em faixas como Waiting, a ambient Bells (em que sinos e pianos circulares dão o ritmo, e vocais são sampleados e usados como piano), a autoexplicativa A season in hell (som eletrônico, gótico e percussivo), o retorno de Waiting na última faixa, Return – e em praticamente todo o álbum.

Crooked wing é um disco definitivamente belo, mas que escapa até do que quase todo mundo pode entender como art rock ou rock experimental – está mais para um som progressivo e climático, mas sem distinção de gênero. E para uma vibe camerística, que governa faixas como Industrial love song – com os belos vocais de Caroline Polachek.

Dando um equilíbrio, a meditativa e cinematográfica I’m already here pode ser colocada no escaninho do post-rock e o culto musical de Wild fields envolve percussão forte e brutal ao lado de climas synthpop. A faixa-título, por sua vez, é sombria e voadora – ganhando uma bateria marcial em seguida, e partindo para um desenho sonoro mais ligado ao pós-punk

No final, antes da volta de ciclo com Return, o These New Puritans promove uma viagem sonora com Goodnight. É um tema que inicia com certa magia sonora, de música meditativa, mas o bicho pega quando vozes distorcidas e sampleadas levam a faixa para um clima de sonho estranho – não um pesadelo de verdade, mas aquele acumulado de situações esquisitas do dia e lembranças que vêm num cozidão. Um disco de belezas e tensões constantes.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Domino Recordings
Lançamento: 23 de maio de 2025.

Crítica

Ouvimos: Rocket – “R is for rocket”

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Rocket, quarteto de Los Angeles estreia com R is for rocket, disco que mistura pós-grunge, dream pop e nostalgia noventista com boas guitarras e letras afiadas.

RESENHA: Rocket, quarteto de Los Angeles estreia com R is for rocket, disco que mistura pós-grunge, dream pop e nostalgia noventista com boas guitarras e letras afiadas.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Transgressive Records
Lançamento: 3 de outubro de 2025

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Não tem como não simpatizar com uma banda com um nome desses: Rocket, “foguete”, remete à figura do homem sozinho no espaço, algo que leva direto a David Bowie, ao glam rock, ao Rocket to Russia dos Ramones, até ao Rocket man do Elton John e ao Rocket dos Smashing Pumpkins.

O disco se chama R is for rocket, e aí já surge algo da soletração de The groover, do T. Rex – copiada pelos Pixies no hit Cactus. Você vai acabar sendo obrigado/obrigada a ouvir o disco, e foi meio assim que me senti ao deparar com o debute desse quarteto de Los Angeles. Parece que tem algo aí que conversa com vários anos de memória rocker, de climas sonhadores ligados ao estilo.

  • Ouvimos: Superstar Crush – Way too much
  • Ouvimos: Sprints – All that is over

Passada a fantasia inicial, tudo (mais ou menos) no lugar. R is for rocket é um bom disco de rock, uma boa estreia, e um álbum que mexe mais na atualização da nostalgia noventista do que em qualquer outra coisa. Mas parece que a vocalista e baixista Alithea Tuttle, os guitarristas Baron Rinzler e Desi Scaglione e o baterista Cooper Ladomade estão trabalhando com um plano musical na cabeça que envolve atacar por vários flancos diferentes.

Ou seja: se você quiser, pode colocar o Rocket na gavetinha do pós-grunge e do “rock alternativo” norte-americano. Mas o grupo é abrangente a ponto de abrir o disco com um pós-punk eletrônico lembrando The Cure, Wire e Sonic Youth (The choice) e de partir para a luta na grande área do dream pop (em Act like your title).

Lá pela terceira faixa, Crossing fingers, rolam ritmos quebrados numa onda pós-hardcore e lembranças do Foo Fighters e dos Smashing Pumpkins do começo. Um clima que surge também na melódica Another second chance (com um som lindo de guitarra do meio para o final) e na vibe anos 90 de One million, que ganha vocais com doçura shoegaze e onda sonora igualmente próxima dos Beach Boys.

Na segunda metade de R is for rocket, o Rocket traz emanações de Fugazi, Velocity Girl e emo midwest (Pretending e o guitar rock Crazy), ganha um clima sombrio (em Number one fan), volta a mexer no espólio do Sonic Youth (Wide awake) e impressiona pela jam guitarrística e meditativa da faixa-título, que dura quase sete minutos e encerra o álbum.

Já as letras, feitas por Alithea Tuttle, mexem num tema que não estará desatualizado nem daqui a cem anos: a verdade por trás dos relacionamentos, sejam de amor ou de amizade, ou até de parentesco. Nesse departamento, é peia atrás de peia: Act like your title fala de expectativas de família, One million fala de fantasias, Pretending traz manipulação em altíssimo grau (“queria que você provasse que estou errada de alguma forma / mudando a mente de todos / você é tão bom em fingir”).

De alguma forma, o Rocket tentou fazer um disco que, no entendimento deles, pode estar sendo discutido e ouvido daqui a vinte anos – e isso é ótimo.

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Ouvimos: The Sinks – “Crise de sonho”

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Em 17 minutos, o novo disco do The Sinks condensa duas décadas de fúria punk em letras sombrias, guitarras pesadas e um retrato brutal da desesperança.

RESENHA: Em 17 minutos, o novo disco do The Sinks condensa duas décadas de fúria punk em letras sombrias, guitarras pesadas e um retrato brutal da desesperança.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: DoSol
Lançamento: 26 de agosto de 2025

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A banda potiguar The Sinks já soma duas décadas de estrada, com uma discografia respeitável. De trio que cantava em inglês, virou quarteto punk com letras afiadas e realistas em português, e lança agora o álbum Crise de sonho. A faixa-título, por exemplo, aposta em bases distorcidas e faladas para lembrar que “a gente acorda todo dia para enfrentar uma guerra que a gente sabe que já perdeu”, mergulhando o/a ouvinte num cenário de desesperança, trabalhos ruins e vida sem horizonte – engrenagens que apenas mantêm a máquina girando.

  • Ouvimos: Emerald Hill – À queima-roupa

Em faixas como Limiar e Chave, a sonoridade se impõe como blocos de guitarra, baixo e bateria, em sintonia com o peso de bandas como Devotos e Inocentes, mas envolta numa atmosfera mais sombria. Essa mesma sombra aparece em Ninguém duvida, com um riff de guitarra psicodélico que vem lá de trás, e uma letra que fala de barras-pesadas existenciais: “deixa o teu plano infalível pra depois / que a chuva está pesada e não há nada o que fazer”.

O disco não dá trégua e segue com Sociopatia, carregada de peso e de uma energia garageira marcial, onde surge a figura do ser humano palestrinha que “mente com verdade e deixa clara sua sociopatia”. Já Calma aposta no lado mais sombrio, com ecos de Placebo e Suede, um quê glam-punk e versos que narram uma crise de ansiedade. O encerramento vem com Figura bestial, música que flerta com o power pop em guitarras menos intranquilas, vocais melódicos e uma letra que celebra a catarse pelo grito. Um disco rápido (17 minutos!) e visceral.

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Crítica

Ouvimos: Technopolice – “Chien de la casse”

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Banda francesa Technopolice estreia com Chien de la casse, mistura feroz de punk, synths decadentes e caos divertido vindo de outra galáxia.

RESENHA: Banda francesa Technopolice estreia com Chien de la casse, mistura feroz de punk, synths decadentes e caos divertido vindo de outra galáxia.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Howlin’ Banana Records / Idiotape / Ganache Records
Lançamento: 26 de setembro de 2025

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Banda francesa ligada ao punk, ao rock de garagem e ao chamado egg punk (estilo feroz, com guitarras pesadas, mas com sintetizadores apodrecidos e clima meio experimental), o Technopolice estreia com Chien de la casse, um paraíso de sons pesados e synths de 16 bits. São onze músicas bem curtas, misturando francês e inglês, que soam como um show na garagem. É o caso de faixas como Hellastic mr. Pox e MCB (essa ultima, com algo de The Damned e Buzzcocks), que abrem o álbum, além de Taaaannnnkkk, que surge na segunda metade do disco.

  • Ouvimos: Upchuck – I’m nice now

Daí para a frente, o Technopolice adiciona um condimento a mais, que são os climas espaciais propiciados pelos efeitos de guitarra e teclados. A faixa-título, por exemplo, ganha um baixo meio pós-punk, para em seguida embicar num punk de outros planetas. Nuclear (outra música que lembra The Damned, por sinal), Sortir le soir… e …Regretter après, seguem na mesma onda.

Chien de la casse tem também punk-rock com nostalgia dos anos 1950 (a balada Puke), rock garageiro com pandeirola (Human) e sons com rapidez próxima do hardcore (People). Um disco que soa como um caos divertido vindo de outra galáxia.

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