Lançamentos
Snõõper: punk ágil em clipe e single, “Running”

Banda punk lançada pelo selo Third Man (de Jack White, dos White Stripes), o Snõõper já tem alguns singles e promete o primeiro álbum, Super Snõõper, para esta sexta-feira (14). O disco será pródigo em canções bem curtas (singles como Pod e Fitness, já lançados, têm menos de dois minutos), mas o grupo acaba de lançar mais um single, da faixa de encerramento do disco, Running, que foge bastante disso. São cinco minutos e quatorze segundos de punk-new wave dançante, influenciado por B-52s e Bangles, com vocais lembrando cheerleaders. O clipe, também liberado junto com a faixa, mistura imagens da banda e cenas de gente se exercitando, num efeito que lembra videoartes dos anos 1980.
Blair Tramel, cantor da banda, diz que Running foi “escrita no meio da pandemia, quando as pessoas começaram a se sentir sem esperança e tudo começou a parecer realmente assustador. As pessoas se sentiram descontroladas ao ver nosso país sofrer as consequências de um sistema injusto. Na maioria dos dias, tudo que eu podia fazer era dar uma longa caminhada ou correr. Acho que às vezes é tudo o que alguém pode fazer quando as coisas parecem fora de controle. Sempre podemos sair de nossas mentes e entrar em nossos corpos. Mova-se, respire, pule, coloque um pé na frente do outro”, afirma.
Foto: Reprodução do YouTube
Crítica
Ouvimos Little Simz – “Lotus”

RESENHA: Em Lotus, Little Simz mistura rap, rock, soul e psicodelia para transformar mágoas pessoais em arte intensa, política e visceral.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Não tem como desvincular Lotus, novo álbum da rapper Little Simz, da briga que ela teve na justiça com InFlo, criador do misterioso grupo de soul Sault. Ela acusa InFlo de não pagar um empréstimo de £ 1,7 milhão, feito por ela – um dinheiro cujo destino teria sido o financiamento da única apresentação ao vivo do Sault.
O suposto calote do produtor – que era um colaborador bem próximo dela em álbuns anteriores – gerou faixas raivosas como Thief (“ladrão”, em bom português), um rock-jazz-rap com elementos do pós-punk em que ela enfileira versos como “tive sorte de ter saído, agora é uma pena, embora eu realmente sinta pena da sua esposa” e “essa pessoa que conheço a vida toda virou o diabo disfarçado”, “me fazendo sentir como se eu fosse a convidada, mas eu paguei por aquele jato” (eita).
Já Flood, com participação do nigeriano Obongjayar, é electrorockrap com clima sombrio e beat herdado da batida histórica de Bo Diddley, cuja letra dá conselhos sobre como construir fortuna: “nunca coma com as hienas / porque elas vão olhar para você como ossos (…) / mantenha os negócios longe da família / a rivalidade entre irmãos é cruel”. As duas faixas iniciam Lotus e dão a pista: ecletismo musical que une rap, rock e vibes soturnas, raiva, busca pelo equilíbrio, sinceridade desconcertante.
- Ouvimos: Snoop Dogg – Iz it a crime?
- Ouvimos: Sault – 10
- Ouvimos: Sault – Acts of faith
- Ouvimos: Moses Sumney – Sophcore (EP)
Tudo isso junto gera Lotus, que ainda une soul sessentista e psicodelia em Young (single do disco, sobre loucuras da juventude), samba-de-gringo na cola de Sergio Mendes e The Doors em Free, pop de câmara com Moses Sumney nos vocais em Peace, atmosferas musicais próximas dos Beach Boys de Pet sounds em Hollow… vai por aí. Tem ainda o soul progressivo da faixa-título, que traz Little Simz acompanhada de Michael Kiwanuka e Yussef Days, num pedido de paz interior: “a paranoia me fez olhar pela janela (…) / rezo para que curemos com palavras, quem Jah abençoa, nenhum homem pode amaldiçoar”.
Mensagens para algum torturador psicológico tomam conta de Lonely, soul tenso com evocações da era What’s going on, de Marvin Gaye: “eu estava sozinho fazendo um álbum, tentei quatro vezes (…) / você me vendendo mentiras e dizendo que eu devo comprar / mexendo com minha mente que eu trabalhei duro para proteger / está causando dores no meu peito, então é melhor que eu corte os laços”. Diálogos difíceis entre irmãos afastados tomam conta de Blood (com vocais de Wretch 32).
No encerramento, nada poderia ser mais cru e verdadeiro que o folk triste de Blue, com participação de Sampha: “como você se sentiria, o que faria / se sua vida estivesse coberta de bandagens? / se você tivesse uma família de quatro / e as crianças quisessem coisas que você nunca poderia pagar (…) / o que você diria para sua filha / quando ela te perguntasse sobre a supremacia branca?”. Em Lotus, Little Simz busca a paz – e usa a própria vida para falar do mundo e vice-versa.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: AWAL Recordings Ltd
Lançamento: 6 de junho de 2025
Crítica
Ouvimos: Merli Armisa – “Ortensie comete”

RESENHA: Merli Armisa mistura shoegaze, krautrock e folk em Ortensie comete, disco experimental, suave e ruidoso, cantado em italiano.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
E o shoegaze italiano – cantado no idioma de Nico Fidenco – vai muito bem, obrigado. Merli Armisa é o codinome usado pelo músico Michele Boscacci, e Ortensie comete, o segundo álbum do projeto, sai depois de uma trabalheira em estúdio que durou quatro anos. Chega às plataformas unindo shoegaze tecladeiro, krautrock e experimentações com velocidades alteradas – como no som de fita de Ti ho sognata… appena prima dell’alba (“sonhei com você… pouco antes do amanhecer”, se você ficou curioso/curiosa), repleto de uma sonoridade derretida e soturna.
Após uma faixa-título de violões e ruídos, surge o dream pop, com baixo forte à frente, de Koto – que tem mesmo um koto japonês entre os instrumentos. Muita coisa do repertório tem clima tranquilo e próximo do folk, até que o barulho tome conta – como acontece em Al cader della giornata, a sombria Che ne sarà e Oh mi amor! (esta, a música mais doce e inesperada do álbum).
Ruídos e experimentações com teclados tomam conta de Koto 2 – que chega a lembrar o lado eletrônico da Legião Urbana – e Capelli argento. Sei qui con mi tem percussão que soa como uma máquina em serviço e vocal doce (da convidada Arianna Pasini), encerrando com um violão quase silencioso. E loops e paredões de guitarra tomam espaço em Il cielo é cosi terso e Tutti i gioielli. No final, os sete minutos psicodélicos e ruidosos de Astro del cielo.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Dischi Sotterannei
Lançamento: 23 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: Fluxo-Floema – “Ratofonográfico”

RESENHA: Duo sergipano Fluxo-Floema estreia a mixtape Ratonofográfico, com 15 faixas de música eletrônica e lo-fi, tudo unido a vários estilos.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Com nome tirado de um livro de Hilda Hilst, o Fluxo-Floema é um duo musical de Sergipe, formado por Valtenis Rosa e Rafael Pacheco, e que chamou uma turma para colaborar em sua mixtape Ratonofográfico. Um disco feito em 2024 e que só agora chega às plataformas.
As 15 curtas faixas de Ratofonográfico são um passeio experimental e eletrônico que quase equivale a visitar o estúdio da dupla. Valtenis e Rafael promovem uniões de som ambient com forró eletrônico (Ordem de despejo), criam um maracatu imaginário que parece vir de uma fita K7 velha (Gregor Samsa) e mandam bala numa bad trip sonora em várias partes, com interferências do que parece ser um piano preparado (Contração, com Viru nos vocais).
Sambas lo-fi (Wislawa, com participação de Feralkat, e Corrosões) e até um quase funk (Hipertensão) vão surgindo na mixtape, ao lado de rock nordestino cru (Dejetos) e maracatus atômicos (na impermanência existencial de Em lugar nenhum). O lado mais acessível do disco surge na eletrônica e aguerrida Não fumante (“o que um não fumante / faz com as mãos nessa situação de indignação?”), na canção ruidosa Diluir e no som vertiginoso de Não fui eu (“amanheceu, ainda nao sei o que dizer / eu não tenho as respostas”).
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 6 de junho de 2025.
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
-
Notícias7 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
-
Cinema8 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
-
Videos7 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
-
Cultura Pop8 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
-
Cultura Pop6 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
-
Cultura Pop7 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?