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Cultura Pop

Relembrando: The Damned, “Black album” (1980)

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Relembrando: The Damned, "Black album" (1980)

Em plena era da new wave, com o punk rock contando os terrenos perdidos, ninguém esperava que o Damned, uma banda pioneira do estilo musical (autora do primeiro single punk, New rose, de 1976) fosse virar uma espécie de The Who do estilo. Mais complexo ainda: a banda fez isso no seu primeiro álbum voltado para a tendência do rock gótico, e justamente um álbum em que deixavam aflorar sua velha mania de querer virar uma espécie de Pink Floyd dos alfinetes e do três acordes.

Esse disco era o duplo Black album (3 de novembro de 1980), o quarto da banda, lançado após mais uma mudança de formação – uma entre várias. Algy Ward (baixo) saía, e Dave Vanian (voz), Captain Sensible (guitarras, teclados, baixo, voz) e Rat Scabies (bateria) ganhavam a companhia de Paul Gray, um ex-baixista de Eddie & The Hot Rods, fã de Hawkwind e rock clássico. A ideia original era que o “álbum preto” do grupo fosse na integralidade uma piada com o “álbum branco” dos Beatles, com capa totalmente preta. Com a Inglaterra dominada por uma febre televisiva chamada Hammer house of horror (série da produtora Hammer, que foi exibida no Brasil pela Globo como A casa do terror) o grupo preferiu pôr uma lápide na capa, e escancarar que as influências agora eram outras.

O Damned nunca foi de se contentar com pouco. Afinal, era uma banda que havia feito uma suíte anarquista em Smash it up (parts 1 & 2), e que havia sido produzida por Nick Mason (Pink Floyd) no segundo álbum, o malsucedido Music for pleasure (1977). Black album tinha alguns clássicos da tosquice punk, como Sick of this and that e Hit or miss. Mas não era o principal: Wait for the blackout, repleta de acordes poderosos, abria o disco mostrando as tais influências do Who – surgidas também na melancólica e pesada Silly kid’s game, um passo entre o rock britânico dos anos 1960 e Beach Boys. Tons lúgubres dominavam canções como Twisted nerve e Drinking about my baby.

O “álbum preto” mostra sua verdadeira face na sequência, com a estranha mescla de Crosby, Stills, Nash & Young e rock garageiro sessentista de Dr. Jekyll & Mr. Hyde, e o tecnopunk progressivo de History of the world, pt.1, produzido pelo trilheiro Hans Zimmer – que tocou sintetizador nessa faixa e em Lively arts. Já 13th floor vendetta, repleta de referências psicodélico-aterrorizantes (em especial ao filme O abominável Dr. Phibes, com Vincent Price), abre com introdução espacial chupada de 2000 light years from home, dos Rolling Stones, e fecha com piano e violão.

A alienação mental de Therapy unia partículas de rock clássico, rock operístico à moda de Who e Kinks e punk, encerrando com microfonias. E se havia ainda alguma dúvida de que o Damned não era mais o mesmo, o lado A do segundo LP era ocupado integralmente com os dezessete minutos da cinematográfica Curtain call, repleta de interlúdios instrumentais, e introduzida com gaivotas, ruídos marítimos, som de órgão e o vocal gótico de Dave Vanian. “Aqui estamos nós/em nossa terra do teatro/chamada ao palco/prestes a cair”, diz a letra.

O último lado de Black album transformava o disco numa espécie de Ummagumma (disco duplo do Pink Floyd) particular do Damned, com versões ao vivo gravadas num show exclusivo para integrantes do fã-clube do grupo. Na época, Black album foi vendido a preço de disco simples e o “disco 2” virou, com o tempo, uma espécie de presente para os fãs, já que foi cortado de reedições do álbum – foi reabilitado depois nas reedições em CD. A ousadia foi premiada: Black album vendeu bem, ganhou uma turnê bem sucedida (com direito a broches em formato de caixão no merchandising) e levou o Damned a entrar numa fase de bastante visibilidade, entre o punk e o gótico.

Cultura Pop

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

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No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

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Cultura Pop

No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

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Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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