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Lançamentos

Radar: Marcela Bonfim, Quarto Quarto, Otis Selimane, Souela, Tela Vazia, Bellízio, Duestesia

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Marcela Bonfim, na foto

O Radar, além de uma coleção de músicas, é uma caixinha de histórias. Algumas delas, como as que vêm das canções cantadas aqui por Marcela Bonfim e Otis Selimane, surgem da necessidade de documentar, de não deixar que certos detalhes se percam, ainda mais quando o assunto é ancestralidade. Outras histórias das músicas falam de lutas pessoais, de feminismo, de amor, e do dia a dia em que a gente tem que matar vários leões. Hoje, no Radar nacional, selecionamos essas sete histórias e músicas. Mas logo logo tem mais.

Texto: Ricardo Schott – Foto (Marcela Bonfim): Divulgação

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MARCELA BONFIM, “TEREZA”. Prestes a lançar o EP Amazônia negra, previsto para novembro, Marcela Bonfim – que é cantora e fotógrafa – lança o single/clipe Tereza, faixa que une soul e samba a Jorge Ben, para homenagear Tereza de Benguela, líder do quilombo Quariterê. A música faz um chamado à memória da resistência negra na Amazônia, com um clipe belíssimo filmado no Vale do Guaporé. Voz, história e ancestralidade em movimento.

“Cantar a Amazônia Negra significa tocar em muitas histórias de invisibilidades como a de Tereza de Benguela, uma memória vívida da região amazônica, tão pouco rememorada. A escravidão, a seringa, o garimpo, o pasto esconderam e ainda escondem o protagonismo de muitos legados negros que poderão ganhar força com o canto”, diz Marcela.

QUARTO QUARTO, “RELENTO”. Essa banda paulistana formada em plena pandemia já havia aparecido aqui antes com o single Me faz mal. Dessa vez, avançam em direção ao próximo EP, Revés, que sai em breve, com a música Relento, que mescla emo e pós-punk, com urgência sonora e reflexão. O EP que está vindo é a continuação do anterior, Sorte, que era bem mais solar, enquanto Revés (sacaram os contrastes nos títulos?) é um disco “que traz a perda, a quebra, as dores e desilusões, porém tudo se revela ao eu-lírico”, relata o baixista e vocalista Nicolas Gulhote.

OTIS SELIMANE feat MATEUS ALELUIA, “CORDEIRO DE NANÔ. Cantor, compositor e multi-instrumentista moçambicano, Otis Selimane faz tributo ao grupo vocal brasleiro Os Tincoãs relendo Cordeiro de Nanã com participação de um dos fundadores, Mateus Aleluia. O single abre caminho para Músicas de Mbira e outros contos Bantu, álbum de Otis que sai em agosto.

Cordeiro, que já havia sido relembrada nos anos 2000 numa versão da cantora e atriz Thalma de Freitas (e também havia sido gravada por João Gilberto nos anos 1970), é uma composição feita por Mateus ao lado do colega de grupo Dadinho. A gravação de Otis foi feita com o uso do instrumento africano mbira. “A mbira foi ocidentalizada como kalimba e esvaziada de seu sentido original. Com esse disco, quero devolvê-la ao seu lugar de contadora de histórias, de guardiã da espiritualidade bantu”, conta Otis.

SOUELA, “CORRE”. Essa banda do interior de São Paulo faz “música para empoderar mulheres”, como elas mesmas falam. Na ficha técnica do funk Corre, novo single do grupo, praticamente só mulheres: as três integrantes – Gabriela Reis (voz), Larissa Ladeia (bateria) e Larissa Féola (baixo) – e a produtora Mônica Agena, entre elas. Entre beats e guitarras, a música fala de um problema enfrentando por muitas mulheres do universo artístico: quando o sucesso aparece, o que mais tem é gente pra minimizar e dizer que tudo foi sorte.

TELA VAZIA, “DARK SURFERS”. Esse trio curitibano acaba de lançar EP novo, Dark surfers, e une estilos como surf music e punk rock – cabendo uma visita ao ska na faixa-título. Os integrantes são da mesma família – Fábio Banks (guitarra e vocal), Isis Sophia (baixo e vocal) e Flávia Banks (bateria) – e dizem apostar na “ação, resistência e consciência”, que permeiam a faixa-título do disco novo, uma música que também lembra bastante a fase anos 1990 dos Titãs, e os melhores momentos dos Autoramas.

BELLÍZIO, “HISTÓRIA MAL ESCRITA”. Tem aqueles momentos na vida em que a gente olha para trás e vê que alguma coisa só pode ter dado errado – alguma viagem no tempo foi mal planejada, alguma visão de futuro se perdeu por aí, e a pessoa que você é hoje não se parece em nada com a que você imaginava há alguns anos. É desse tema que Bellízio trata em sua nova música, um rock alternativo com base indie pop, no qual ele se pergunta se certas coisas que ele viveu valeram a pena. “Eu não lembro o que eu fiz da minha vida”, diz na letra.

DUESTESIA, “SUTILMENTE”. A dupla formada por Gabi Gandolfi e Leonardo Marchi faz indie pop com alegria e melancolia misturadas. Afinal, o novo single Sutilmente é uma música que evoca bandas como Portugal. The Man, com percussão eletrônica lembrando palmas e violão marcando ritmo – enquanto a letra fala sobre como, quase sempre, a gente tem que aceitar nossa vulnerabilidade e seguir em frente na vida. “Aguente / e vá pra tempestade se molhar”, dizem eles. A faixa já ganhou clipe.

Crítica

Ouvimos: Tyler The Creator – “Don’t tap the glass”

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Tyler The Creator lança Don't tap the glass, disco curto e dançante que mistura indie pop, rap, house e soul com clima retrô e foco total no corpo.

RESENHA: Tyler The Creator lança Don’t tap the glass, disco curto e dançante que mistura indie pop, rap, house e soul com clima retrô e foco total no corpo.

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Chromakopia, o bowieófilo disco anterior de Tyler The Creator, saiu em outubro do ano passado – e eis aqui Tyler com um álbum novo, o curtíssimo Don’t tap the glass, menos de um ano depois. Com uma discografia já grandinha, Tyler sempre espaçou seus álbuns em dois anos, mas dessa vez, parece que a ideia era malhar enquanto o ferro estava quente.

Ainda mais que Don’t tap the glass é basicamente um disco de indie pop, dando contornos ultratexturizados a estilos como hip hop, Miami-bass e house music – e o próprio Tyler disse que se trata de um disco “feito para dançar”, e nada mais do que isso. O entendimento de Don’t tap the glass vai pelo corpo e pelos pés, não exatamente pela revolta, pelo conceito ou pela provocação – ainda que seja um disco de rap, estilo musical que tem isso tudo aí na gênese.

E aí que se há um “fantasma” assombrando Don’t tap the glass é o rap zoeiro dos anos 1980, mais do que a sensação de perigo que o estilo provocaria após os anos 1990 – além dos verdadeiros manuais de dança que eram os discos de soul dos anos 1970. Big poe, na abertura, traz Tyler mandando os estatutos da gafieira de Don’t tap the glass (“número um, movimento corporal / não fique parado”), e embarcando num boombap ruidoso.

  • Ouvimos: Tyler The Creator – Chromakopia
  • Ouvimos: Will Smith – Based on a true story

Faixas como Sugar on my tongue estão mais próximas do funk original e do pós-disco do que se imaginaria – e a safada Sucka free é um r&b que passa até por um boogie. Mommanem, cheia de efeitos de percussão e vocais, parece um tema para acompanhar corridas. Stop playing with me é pura ostentação e sacanagem, e vai numa onda já naturalmente mais associável a Tyler, só que com mudanças – afinal, é um som que tocaria numa festa.

Tyler invade a área da dance music nostálgica em Ring ring ring, e une soul latino e batidão gangsta em duas faixas coladas, Don’t tap that glass e Tweakin‘. Climas meio nostálgicos e meio lo-fi tomam a frente em Don’t you worry baby (cuja batida parece um carro apressado e com volume alto passando em sua rua) e I’ll take care of you.

Levando em conta a discografia de Tyler e seu histórico que-se-foda, Don’t tap that glass é um diferencial, e talvez soe como um presente para os fãs fieis – aliás um presente bem melhor do que demorar mais dois anos para lançar o sucessor de um disco de sucesso.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Columbia/Sony
Lançamento: 21 de julho de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Fishbone – “Stockholm syndrome”

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O Fishbone volta com Stockholm Syndrome, misturando punk, ska e soul em críticas afiadas a Trump, racismo e indústria, sem perder a fé no amor.

RESENHA: O Fishbone volta com Stockholm Syndrome, misturando punk, ska e soul em críticas afiadas a Trump, racismo e indústria, sem perder a fé no amor.

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Mais conhecidos como uma banda de ska + soul + rock, os americanos do Fishbone sempre estiveram mais para uma formação punk – o próprio nome, “espinha de peixe”, foi escolhido, segundo o próprio grupo, por representar fidelidade às convicções e “não se dobrar”.

Stockholm syndrome, primeiro álbum do grupo em mais de 20 anos, vai na mesma onda de união de ritmos e energia punk, só que com alguns condimentos a mais: o disco sai na segunda era Trump, o momento grave ganha comentários no álbum, e a banda aproveita para olhar sua própria história em várias faixas.

Não é à toa que Stockholm abre com Last call in America, soul + rock gravado com George Clinton, com letra girando em torno de assuntos como racismo, justiça social, equidade. E ainda tem Racist piece of shit, ska de protesto que chama Trump de “rei laranja louco” e pisa com classe no presidente norte-americano.

  • Ouvimos: Black Pumas – Chronicles of a diamond
  • Ouvimos: Nxdia – I promise no one’s watching

O ódio amplo, geral e irestrito espalhado pelo fascismo surge no hard rock sombrio de Secret police. A máquina de matar negros e pobres levada adiante por estado e polícia é o tema do reggae Why do we keep on dying. A transformação do ser humano em fantoche das big techs surge em Living on the upside down, cujo som oscila entre blues, rock e punk.

O Fishbone olha para si próprio e para sua trajetória no ska-punk Adolescent regressive behavior, música ágil de letra enorme que fala de inimigos que brigavam na rua, e que anos depois trabalham juntos – parece que até as crises dentro do grupo viraram canção. Os chutes que a indústria fonográfica dá nos artistas ganham espaço no soul rock Dog eat dog. Há bastante esperança no final, com o gospel Love is love, evocando John Lennon e Rolling Stones.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Consigliere
Lançamento: 27 de junho de 2025

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Crítica

Ouvimos: Carlos Patricio (e Camaradas) – “Revertério”

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No álbum Revertério, Carlos Patricio mistura MPB sulista, samba, folk e tecnopop num songbook afetivo e cheio de parcerias.

RESENHA: No álbum Revertério, Carlos Patricio mistura MPB sulista, samba, folk e tecnopop num songbook afetivo e cheio de parcerias.

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Com uma carreira musical que já vem desde os anos 1980, o gaúcho Carlos Patricio decidiu fazer de seu terceiro álbum solo, Revertério, um lançamento colaborativo. O material começou a ser gravado em 2021 (com sessões divididas entre São Paulo, Rio Grande do Sul e Uruguai) e as músicas são divididas com vários parceiros, vindos dos encontros ao vivo que Carlos vem promovendo desde 2016.

Valendo por um songbook com amigos, Revertério traz algo que a MPB do Sul tem como base desde os anos 1970: a poesia contemplativa e cortante, e a capacidade de aglutinar vários climas e influências simultaneamente. A faixa-título, com produção de Sebastian Jantos, um samba com violão e guitarra, traz algo da MPB paulista, ao lado das palmas do samba baiano. Kids e teens é um tecnopop adulto, com Mario Falcão dividindo vocais e operando uma programação que dà um ar de videogame antigo à faixa. Rota de navegação, com Pablo Lanzoni, é uma balada folk noturna e contemplativa, que deve tanto a Dire Straits quanto às vibes sombrias do Radiohead.

Os sambas não chegam a predominar em Revertério, mas quando surgem chamam a atenção – com direito a um Samba do Chico que na verdade é uma marcha, gravada com Johann Alex de Souza. O pescador de ideias abre com sons distorcidos e revela-se uma milonga de oito minutos. Sons latinos e acústicos surgem em Piazada, uma canção sobre os movimentos da vida, na cigana No mar da tua existência, e na hispânica Niña, com Michelle Cavalcanti no vocal.

No final, Carlos regrava É poesia, música de seu LP independente Vertente (1986). Um rock tocado no violão (por Quinca Vasconcellos), que guia o timão para a irreverência de Rita Lee e Raul Seixas.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente/Tratore
Lançamento: 24 de maio de 2024

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