Connect with us

Cultura Pop

Quando Wendy Carlos foi técnica de som de João Gilberto

Published

on

Após vários anos de problemas familiares, fofocas, reclusão, relançamentos sustados e pouquíssimos produtos novos nas lojas, João Gilberto, um dos maiores arquitetos da música popular brasileira, finalmente pode descansar em paz. Com a morte do cantor e violonista no sábado, muita gente apareceu nas redes sociais para recordar discos clássicos da sua carreira. Um dos álbuns mais lembrados foi o João Gilberto lançado em 1973, costumeiramente conhecido como “o álbum branco de João”.

Se você nunca ouviu, tá aí uma play list com o disco na íntegra. O álbum também costuma ser chamado de “o LP psicodélico de João Gilberto” (psicodélico como assim?) e tem fãs entre pessoas que não necessariamente são curtidoras de bossa nova.

O disco de João é minimalista ao extremo. Tem só ele na voz e no violão, acompanhado por Sonny Carr na percussão (Miúcha, então casada com ele, soltou a voz na bela Isaura). Foi feito também por uma equipe reduzidíssima, que incluiu a produtora Rachel Elkind-Tourre e ninguém menos que Wendy Carlos como técnica de gravação e mixagem.

Quando Wendy Carlos foi técnica de som de João Gilberto

Wendy Carlos

Wendy, naquela época, era conhecida por seus LPs de música clássica tocados no sintetizador, como Switched-on Bach (1968) e The well tempered synthesizer  (1969). Quando Wendy conheceu Rachel, ela estava trabalhando num estúdio de gravação em Nova York, tinha no currículo vários anos trabalhando como secretária do presidente da gravador Columbia, Goddard Lieberson, e tinha sido ela própria uma cantora de jazz.

Rachel, hoje com 80 anos, produziu Switched-on Bach e foi uma pessoa fundamental para que Wendy passasse a se interessar por sintetizadores. Na época, quando não havia ainda as facilidades da gravação digital, a produtora era vista no estúdio, nas gravações de Switched-on com um cronômetro na mão (como nessa foto aqui). Era a única maneira de marcar o tempo das gravações de determinadas partes das músicas, para que nada saísse de sincronia.

Wendy e Rachel trabalharam juntas na gravação de João Gilberto, num estúdio que as duas mantinham em sociedade em Nova York. Anos depois, a musicista e técnica recordou esses tempos num texto publicado em seu site. Olha aí:

“Com João Gilberto, que é mais velho e mais experiente na música do que eu, senti que era uma ótima experiência de aprendizado: observá-lo no trabalho, como um álbum se encaixaria. Achei o violão dele incrível. Além disso, ele tinha todo o controle. Eu precisava apenas posicionar os microfones com cuidado, e definir os níveis deles uma vez só. Depois deixava por conta dele. João fez todo o resto”, afirmou Wendy.

Se você acha que João Gilberto está quase falando no seu ouvido quando ouve o “álbum branco” dele, tá certíssimo (a): os microfones foram colocados bem pertinho do rosto do cantor, “sabendo que ele manteria tudo em perfeito equilíbrio e consistência, sem sons falsos ou batendo em microfones a poucos centímetros de distância”. A percussão foi gravada ao vivo junto com João, sem overdubs.

E os hábitos de João no estúdio?

“Ele era um artista noturno. Eu também, então as horas de trabalho me agradavam. Nos arrumávamos no começo da noite, e ele chegava. Rachel e ele conversavam sobre o trabalho, nos descíamos as escadas para o estúdio e começávamos a fazer as faixas. Não me senti pressionada. Achei João modesto, um pouco nervoso, um pouco cauteloso com outras pessoas, com estranhos. Eu tentei não aborrecê-lo, apenas sorrir e me incluir no trabalho. Ele parecia muito grato, e amava o jeito que o álbum estava saindo”, escreveu Wendy.

Via Wendy Carlos
Mais Wendy Carlos no POP FANTASMA aqui.

Cultura Pop

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Published

on

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

Mais Pop Fantasma Documento aqui.

Continue Reading

Cultura Pop

No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Published

on

Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

Mais Pop Fantasma Documento aqui.

Continue Reading

4 discos

4 discos: Ace Frehley

Published

on

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

Continue Reading
Advertisement

Trending