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Cultura Pop

Quando Paul Weller resolveu acabar com o Jam

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Quando Paul Weller resolveu acabar com o Jam

Términos de bandas em que um líder compõe todo o repertório – e ainda por cima resolve largar os colegas para investir em si próprio – costumam acabar em mágoas eternas. Com The Jam não foi muito diferente. Para piorar só um pouco, o pai do vocalista e guitarrista Paul Weller (este, o autor de todas as músicas e responsável pelo término do grupo) era o empresário da banda. E Paul resolveu acabar com tudo logo que a banda conseguiu um enorme sucesso comercial, com o LP The gift (1982) e o hit nº1 Town called malice.

Ao que consta, Weller surpreendeu bastante os colegas Bruce Foxton (baixo) e Rick Buckler (bateria) com a decisão de dar fim à banda logo numa época que parecia bem boa para o Jam. A história foi anunciada no dia 30 de outubro de 1982 após uma série de shows no Reino Unido, e o músico basicamente achava que a banda tinha parado na hora certa, porque ele não queria ficar refém de um grupo só porque tiveram bastante sucesso. Em 2007, ele disse para a Billboard que não se recordava direito do dia em que resolveu terminar tudo. Só soube que a coisa estava terminada no último ano da banda.

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“Antes de o Jam se separar, eu simplesmente senti que era hora de seguir em frente, apenas artisticamente e criativamente. Eu precisava encontrar algo diferente e diferentes tipos de caminhos para fazer música, e uma maneira diferente de fazer música”, recordou, lembrando que esteve com a banda por uns dez anos. “Gastamos quatro ou cinco tentando fazer discos, então foi um tempo terrivelmente longo também. Portanto, mesmo que tenha sido um movimento egoísta, eu simplesmente sabia, instintivamente, que era hora de seguir em frente. As outras coisas que eu queria tentar, não poderia ter tentado no âmbito do Jam. Tinha que ser algo diferente”.

Em 2008 c0ntinuou a conversa falando com o New Musical Express, e disse que sabia que era a decisão certa. “Foi uma decisão artística, sem parecer exagerada. Eu não queria estar na mesma configuração pelo resto da minha vida. Gosto de mudar e seguir em frente”, contou. Os ex-colegas não curtiram nem um pouco a ideia: ficaram sem falar com Weller por vários anos.

Buckler lembrou num papo com o jornal Woking News & Mail, da cidade do grupo, como foi o fim. Foi chamado para uma reunião da banda em 1982 (“estranhei, porque nunca tínhamos reuniões da banda”) e ao chegar lá, foi o próprio John Weller, pai de Paul e empresário da banda, que informou sobre a separação. “Foi quase como se John não conseguisse pronunciar as palavras. Tenho certeza que ele não queria que a banda terminasse”, recordou.

“Ele tinha que falar por Paul, Paul realmente não disse nada. Enfim, John disse que era isso, Paul ia deixar a banda e nós – especialmente Bruce – tentamos dizer: ‘Por que não colocamos em espera por seis meses e qualquer um pode ir e fazer seu projeto solo e ver como nós sentimos?’ Parecia tão repentino, não parecia haver nenhuma lógica nisso”. A banda teve mais seis meses de shows e depois disso os integrantes começaram a montar seus projetos pessoais.

Weller, você deve saber, montou em 1983 o Style Council, dupla de pop sofisticado, com o tecladista Mark Talbot. Fez bastante sucesso (a ponto de arrebanhar gente que desconhecia o Jam, até mesmo no Brasil) mas deu uma desagradada básica em alguns fãs de sua antiga banda. O hit Sowing the seeds of love, dos Tears For Fears, tinha a frase “kick out the style/bring back The Jam”.

Anos depois, Buckler diz que entendeu mais ou menos a decisão de Paul, já que o ex-colega se sentia responsável por criar todas as músicas da banda, e esteva sobrecarregado. Mas ainda achava que tirar uns seis meses de separação para cada um fazer o que queria da vida seria o ideal. Ele e Foxton chegaram a tocar adiante um grupo chamado From The Jam, com repertório do grupo, que durou alguns anos. Paul nunca quis saber de um retorno e os ex-integrantes volta e meia comentam que nunca mais conseguiram manter contato com ele. Os trêx ex-membros têm seus projetos pessoais e Rick ainda mantém um site de fãs da banda.

E pega aí o The Jam ao vivo em 1982.

Crítica

Ouvimos: Bad Bunny, “Debí tirar más fotos”

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Benito Antonio Martinez Ocasio, o popular Bad Bunny, não veio ao mundo pop a passeio. Debí tirar más fotos, seu novo disco, é um passeio pela musicalidade e pela identidade portorriquenhas – e esfrega na cara do mercado fonográfico que ele não tem nenhuma vontade de soar mais “americano” (estadunidense, enfim) para bombar nas paradas.

Já era uma prerrogativa de Bad Bunny desde os primeiros tempos, até porque ele é um dos nomes mais conhecidos do rap de idioma hispânico, mas Debí, mergulhado no reggaeton e em sons caribenhos, é um disco de memórias e sensações. Nuevayol, uma referência à pronúncia hispânica de “Nova York”, traz BB requerendo sua posição de rei do pop, e homenageando a comunidade latina que vive na megalópole. Baile inolvidable, que parece uma trilha sonora, cita as diversões calientes de Porto Rico e traz alunos da Escuela Libre de Música Ernesto Ramos Antonini, de San Juan, tocando salsa. Weltita tem cara de samba-rap e narra uma proposta de date praiano, com as falas do homem (Bunny) e da mulher (Lóren, da banda portorriquenha Chuwi) na história.

Com duração de mais de uma hora, Debí soa irregular em alguns momentos, mas compensa no storytelling (cabendo momentos em que o discurso de Bad Bunny é interrompido para uma mudança rítmica ou a entrada de uma gravação) e na variedade. E em especial no lado mobilizado, definido pelo próprio Bad Bunny como sendo “uma carta a Porto Rico”. A bebaça e doidaralhaça Cafe com ron é pura variação rítmica, cabendo pelo menos três estilos caribenhos, e no fim, um house cubano.

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La mudanza é orgulho portorriquenho purinho (“fala pra ele que essa é a minha casa, onde nasceu minha avó/daqui ninguém me tira, eu não saio daqui”), com letra falada no início e destaque para a percussão (que ganha alguns segundos só dela no final). Lo que le paso a Hawaii é som marolado e cigano, com vocal grave, e letra pregando que não quer que Porto Rico torne-se mais dominada ainda pelos Estados Unidos. A romântica e praguejadora Bokete (que traz encartado na letra um protesto bizarríssimo contra os buracos nas ruas de Porto Rico) abre em clima meio psicodélico, graças a uma gravação de guitarra ao contrário, como num sampling invertido. Não falta diversão em Debi tirar más fotos, e não falta raiz musical.

No lado mais descontraído e menos mobilizado das letras, Debí é um disco que aponta para dois lados, er, complementares. Ou Bad Bunny encarna o fodão que apronta todas nas boates e ganha as gatas, ou ele está chorando pelos cantos – geralmente de arrependimento por alguma merda que fez. El club abre em clima de trap, falando de boates, mulherada, drogas, bebedeira, até que… “mas o que minha ex está fazendo?’. “Os caras acham que estou feliz/mas não, estou morto por dentro/a discoteca está cheia e ao mesmo tempo, vazia/porque meu bebê não está lá”, choraminga.

Se você acha que parou por aí, tem mais. Pitorro de coco, repleta de violões ciganos (e cujo título faz referência a um drinque popular em Porto Rico), é dor de corno etílica das boas. Turista, cheia de cordas e sons acústicos, é… Bom, haja sofrimento: “na minha vida você era turista/você só viu o melhor de mim e não o que eu sofri/você foi embora sem saber o motivo das minhas feridas” – embora o rapper esclareça que a letra fala também dos turistas que vão à Porto Rico e saem de lá sem conhecer os problemas locais. E tem a quase faixa-título, DTMF, um reggaeton que vira algo parecido com funk carioca logo depois, e que traz Bad Bunny chorando pitangas pelo leite derramado (é a do verso-meme “devia ter tirado mais fotos quando tinha você/devia ter te dado mais beijos e abraços quando pude”).

Nota: 8,5
Gravadora: Rimas.|
Lançamento: 5 de janeiro de 2025.

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Cultura Pop

No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

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No nosso podcast, o recomeço de John Lennon entre 1969 e 1970

No começo de sua carreira solo, John Lennon era um artista brigão, politizado, dado a excessos, que estava de cara virada para seus ex-colegas de Beatles, e que havia encontrado um pouco de paz em seu relacionamento com a artista asiática Yoko Ono. Em meio a isso, alternava protestos, álbuns experimentais (ambos feitos com a nova esposa) e seus primeiros singles, com músicas guerrilheiras como Cold turkey e Instant karma!

Entre 1969 e 1970, parecia que acontecia de tudo na vida dos Beatles. E por tabela, na vida de John, que vivia um dia a dia de brigas, entrevistas malcriadas, gravações novas, ameaça de falência, problemas no novo casamento e um processo de autodescoberta que aconteceu depois que um certo livro apareceu na sua caixa de correio… A gente termina a temporada de 2024 do nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, recordando tudo que andava rolando pelo caminho de Lennon nessa época. Termine de ouvir e ataque a super edição turbinada de John Lennon/Plastic Ono Band (1970) que chegou às plataformas em 2020. E, ei, não esqueça de escutar Yoko Ono/Plastic Ono Band, que saiu junto do disco de John.

Século 21 no podcast: Juanita Stein e Caxtrinho.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify e no Deezer .

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

(temos dois episódios do Pop Fantasma Documento sobre Beatles aqui e aqui).

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Crítica

Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

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Ouvimos: The Cure, “Songs of a lost world + Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV” (ao vivo)

Sério que Songs of a lost world, álbum novo do The Cure, já ganhou rapidamente uma edição deluxe com um registro ao vivo de todas as faixas do álbum? Sim, ganhou essa edição acrescida do rabicho Songs of a live world: Live Troxy London MMXIV. Até porque se o disco já fez bastante sucesso, a noite de lançamento do álbum foi inesquecível – com um show da banda em 1º de novembro no Troxy London, tocando todo o repertório do começo ao fim, além de vários hits. E é justamente o repertório do disco executado nessa noite, ao vivo, que surge como “disco 2” do álbum.

O Cure, redescoberto por novas gerações e por uma turma que não necessariamente é fã deles, mas curte os hits e gosta de curtir uma fossa, meio que vai tentando dar uma de U2: além de oferecer mais um mimo para os fãs, a banda vai doar todos os royalties deste lançamento para a instituição de caridade War Child. Na loja online do grupo existe um hotsite (ainda se usa esse termo?) só para as diferentes versões de Songs of a live world e para duas edições diferentes em vinil vermelho de Songs of a lost world: uma deles apenas com o disco original, e outra em formato duplo, trazendo as músicas em versões instrumentais no disco 2 (reparem bem: Songs tem músicas em que o vocal começa quase no fim da faixa, e que já são quase instrumentais, mas aí vai quem quer).

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  • Resenhamos Songs of a lost world aqui.

O show inteiro daquela noite possivelmente você já viu no YouTube (se não viu, veja lá embaixo deste texto). E possivelmente você ficou impressionado/a como o The Cure voltou disposto a se transformar num espetáculo. Só que sem as presepadas do Coldplay e sem os truques de mágica do U2: é só a banda, num cenário escuro e esfumaçado, com muito peso e imponência visual e auditiva. As músicas do álbum transportadas para o “ao vivo” soam um pouco mais humanizadas, especialmente no caso de canções que, no disco, eram torrentes de ruído, como Warsong e Alone.

And nothing is forever destaca a magia dos teclados que, rearranjados, poderiam estar até num disco do Péricles – esse lado popularzão sem deixar de ser “dark” sempre foi uma das grandes forças do Cure. A ambiência do Troxy deixou músicas como I can never say goodbye (feita por Robert com o pensamento na morte de seu irmão mais velho Richard) e Endsong bem menos robóticas e desprovidas de qualquer traço de frieza. Se o disco novo do Cure é triste, a contrapartida ao vivo é a prova de que o show é feito para fãs que curtem chorar baldes ouvindo música. E tá tudo bem.

Nota: 9
Gravadora: Fiction/Polydor

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