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Cultura Pop

Quando o New Radicals sumiu

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Quando o New Radicals sumiu

O músico americano Gregg Alexander recordou certa vez que mal sabia que o primeiro disco de sua banda New Radicals, Maybe you’ve been brainwashed too (1998) já estava nas lojas e que o single You get what you give estava no Top 40. Num papo com o Hollywood Reporter, comentou que estava descendo o Sunset Blvd, na Califórnia, quando ouviu a música saindo de um carro com rádio ligado.

“Meu instinto imediato foi: “Deus, alguém roubou minha fita demo!'”, recordou na conversa. Só que logo depois passou outro carro tocando a mesma música. “Pensei: ‘Meu Deus, como todas essas pessoas conseguiram minha fita demo?!'”, disse o líder da banda.

Pode ser que Gregg, que já tinha uma carreira solo antes de se reinventar como New Radicals, estivesse fazendo tipo. Mas deve ter sido meio assustador, porque You get what you give foi realmente recebido como um baita sopro de renovação do pop e ainda por cima era quase impossível escapar dessa música. No Rio, rádios como Cidade e Jovem Pan tocavam a faixa o tempo todo. Entre 1998 e 2000 ela foi incluída em mais de cem coletâneas de rádio, de sucessos pop ou até de dance music lançadas em vários países (é só fuçar o Discogs).

Tanto o hit quanto o disco do New Radicals tinham um condimento especial que era sacanear a maneira como o, er, sistema ia se dominando a vida das pessoas – seja por intermédio dos hits pop, dos códigos de barras em produtos (o CD Maybe you’ve been brainwashed too vinha até com uma tatuagem temporária de código de barras), ou das armadilhas do teleatendimento e dos cartões de crédito (no final da faixa de abertura, Mother we just can’t get enough, em que uma voz pedia documentos, dinheiro e a “alma” do ouvinte por telefone).

You get what you give, por acaso, tinha um elemento incrivelmente audacioso para um músico que ainda estava tão desacostumado com os holofotes: citava nominalmente Beck, Hanson, Courtney Love e Marilyn Manson, dizendo que iria “chutar seus traseiros”. Era moda na época: artistas falavam muito mal uns dos outros em entrevistas e declarações homofóbicas e gordofóbicas saíam da boca até mesmo de nomes considerados “politicamente corretos’.

A letra de We get what you give deu umas merdinhas com os artistas citados, mas nada muito sério. Beck se recorda de ter encontrado com Gregg e de ter ouvido um pedido de desculpas. Courtney Love ficou na dela, mas Marilyn Manson só disse que “quebraria o crânio de Gregg” por ter sido citado na mesma frase que a viúva de Kurt Cobain (não quebrou nada).

Já o Hanson… Bom, Gregg Alexander é parceiro dos irmãos Zac, Taylor e Isaac numa canção, Lost without each other, lançada em 2005, quando o New Radicals já nem existia mais.

O reinado (se é que dá para falar assim) do New Radicals durou pouco mais de um ano. Gregg já dava entrevistas dizendo que a banda ia se separar quando os hits começavam a aparecer no rádio. Entrevistas dele afirmando que a banda se separaria quando vendesse um milhão de cópias (ou quando ele faturasse o primeiro milhão de dólares) pipocavam aqui e ali.

A banda cancelou uma turnê pelo Reino Unido e a aparição num festival – a gravadora alegou motivos de doença – e começaram rumores de que os New Radicals se separariam. No dia 12 de junho de 1999, Gregg, finalmente, enviou um comunicado dizendo que a banda tinha acabado, e que “ele se concentraria em produzir e escrever material para outros artistas”. Disse também que estava cansado de fazer parte de uma banda-de-um-hit-só. O fim prejudicou o lançamento de mais um single, Someday we’ll know, que virou hit de verdade só no Brasil.

Logo que a banda acabou, Gregg fez sua primeira produção, o disco Portable life, da outra “única” integrante fixa dos New Radical, a atriz e musicista Danielle Brisebois. Não deu certo, porque a RCA decidiu engavetar o disco, que só saiu em 2008. Gregg conseguiu mais grana sendo um dos compositores e produtores de nada menos que Murder on the dancefloor, hit da inglesa Sophie Ellis-Bextor.

No tal papo com o Hollywood Reporter, Gregg disse que gostava da ideia de fazer shows e turnês, mas que gostaria que houvesse um botão de liga-desliga. “Se a cultura pop moderna fosse apenas sobre o trabalho, a apresentação e a criação de algum tipo de euforia para aqueles que estão inclinado a gostar do que você faz, se houvesse uma maneira de desligar quando você estiver fora do palco, seria o melhor trabalho do planeta”, contou ele, que ficou famoso num dos momentos mais, digamos, brilhantes da indústria de revistas e jornais sobre celebridades. E se dizia saudoso de uma época em que seus ídolos conseguiam manter ainda certa aura de mistério.

“Eu não sabia o que o Prince iria comer no jantar, graças a deus. Então foi isso que eu idealizei e pensei que estaria mais presente na minha vida como artista”, contou (bom, talvez esse mundo de mistério em que o normal é não querer saber das intimidades de ninguém só exista mesmo na cabeça do Gregg).

Um dos últimos trabalhos de Gregg Alexandre é essa música da banda Kaiser Chiefs, The only ones lançada em 2019, feita em parceria com ele. E depois de mais de vinte anos, tá aí o retorno dos New Radicals na posse do presidente norte-americano Joe Biden.

Ainda não se sabe se o nome da banda continuará sendo usado depois disso, mas Gregg (que recebeu o convite junto com Danielle Brisebois) diz que não reuniria os New Radicals à toa. “‘Se há algo na Terra que possivelmente nos faria juntar a banda, mesmo que apenas por um dia, é a esperança de que nossa música possa ser o mais ínfimo farol de luz em um tempo tão escuro”, disse num comunicado.

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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