Connect with us

Destaque

Quando o Kraftwerk barrou “Radioactivity” na festa do Señor Coconut

Published

on

Quando o Kraftwerk barrou "Radioactivity" na festa do Señor Coconut

Dois dias antes do Natal de 1999, chegou às lojas um disco que virou item querido de fãs do grupo eletrônico alemão Kraftwerk. E, aliás, também passou a fazer parte de da discografia emocional dos fãs de curiosidades musicais. Foi o álbum El baile alemán, creditado a Señor Coconut Y Su Conjunto, que realizava o sonho de muita gente e levava a obra do Kraftwerk para os ritmos latinos.

O repertório do disco do Señor Coconut, gravado no Chile, trazia clássicos da banda alemã como Showroom dummies, Autobahn (em versão de seis minutos), Tour de France e The robots em ritmos como cumbia, cha-cha-cha e merengue. Não era o primeiro lançamento do Señor Coconut, já que eles haviam lançado o autoral Gran baile, em 1997. Mas fazer versões inusitadas e latinas do gélido repertório do Kraftwerk deu muito certo. Tanto que em 2003 saiu Fiesta songs, colocando canções de Deep Purple, Doors, Michael Jackson e até Jean-Michel Jarre (!) para bailar.

A ideia de pôr cores latinas no repertório do Kraftwerk, na real, só estava esperando por um empurrão para acontecer. Principalmente porque achar gêneros musicais aleatórios perdidos nas células rítmicas do grupo alemão nem era tão complicado. Afinal, tinha reggae em Antenna, um dedinho de rumba em Airwaves e em trechos de Autobahn, por aí. Mas o Señor Coconut fez isso tão bem que, em alguns momentos, dá uma sensação de “já ouvi isso antes” quando se escuta o disco do grupo. Enfim, aquela mesma coisa que rola quando você ouve um plágio, ou um trecho de uma música em outra.

MAS NEM TUDO SÃO FLORES

O disco do Señor Coconut ganhou fãs ao redor do mundo e virou um item bastante curioso para festas e até para sonorização de reportagens (já apareceu no Fantástico). Mas tem uma história meio complicadinha aí. As primeiras edições de El baile alemán traziam um cover de Radioactivity como segunda faixa, logo após Showroom dummies. A pedido dos próprios autores da música, a faixa foi retirada. Em seguida, o disco voltou às lojas com uma introdução falada, e Showroom dummies como segunda faixa.

Essa versão desfalcada é a que você encontra até hoje nas plataformas digitais. Mas a versão deles para Radioactivity está, claro, no YouTube.

Quem criou o projeto Señor Coconut foi o alemão Uwe Schmidt, que vive no Chile e é definido por este texto como “o rei do pseudônimo”. Isso porque já utilizou vários ao longo da vida. Ele usou o codinome Atom Heart para assinar a produção do Senõr Coconut.

Uwe, um cara que já deve ter trabalhado em mais de 50 discos – e descobriu a música afrocubana nos anos 1990 por um amigo – confessou certa vez que nem tinha interesse em envolver o Kraftwerk na história do Señor Coconut, por medo de que algo desse errado. Mesmo assim, ele preparou CDs demo antes do lançamento do disco e enviou para pessoas ao redor do mundo. Em seguida, um deles chegou no grupo.

“Alguém deve ter feito uma cópia de um dos CDs e enviado para Florian Schneider, que não percebeu que esta banda de sonoridade latina e eu éramos o mesmo artista. Enfim, um amigo em comum visitou Florian e ouviu o Señor Coconut em sua casa. E foi aí que percebeu que a música era toda minha. Algumas semanas depois, recebi um e-mail dizendo: ‘O Kraftwerk gostaria de falar com você'”, contou ele, que só recebeu o pedido para que a faixa fosse retirada do disco.

“Ela estava apenas no lançamento japonês porque era tarde demais para pará-lo. O Kraftwerk não gostou do clima alegre da minha versão. Então concordei em não colocá-la em nenhum dos lançamentos que vieram a seguir”, contou o produtor. Ele, pelo menos na época, ficou sem entender o que o Kraftwerk definia como “clima alegre”.

“Perguntei a Florian como ele teria reagido se uma banda real tivesse realmente gravado sua própria versão cumbia de Radioactivity dessa forma. Eles não têm permissão para fazer isso? Não é um certo tipo de censura? Os latinos não têm permissão para fazer covers de canções pop alemãs sérias? Honestamente, acho que incomodou seus colegas do Kraftwerk mais do que o incomodou”, contou.

Veja também no POP FANTASMA:
Timothy Leary apresenta o Kraftwerk na MTV
– E quando o Kraftwerk gravou Pocket calculator em italiano?
– Aquela vez em que o Kraftwerk… plagiou os Beach Boys?

 

Cultura Pop

Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

Published

on

Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.

O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).

A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.

Quando Suicide gravou... "Born in the USA", do Bruce Springsteen

E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.

“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.

Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de  Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.

Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”

Continue Reading

Cultura Pop

No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

Published

on

No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.

Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…

Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!

Continue Reading

Destaque

Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Published

on

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).

A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã

Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.

Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.

>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica

A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.

O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.

>>> POP FANTASMA PRA OUVIR: Mixtape Pop Fantasma e Pop Fantasma Documento
>>> Saiba como apoiar o POP FANTASMA aqui. O site é independente e financiado pelos leitores, e dá acesso gratuito a todos os textos e podcasts. Você define a quantia, mas sugerimos R$ 10 por mês.
Continue Reading
Advertisement

Trending