Destaque
POP FANTASMA apresenta Sonorado, “Novelas”

Sonorado é o mais novo projeto do produtor e músico Pupillo. Integrante original da Nação Zumbi e também baterista de Nando Reis, ele decidiu dar vazão a seu lado de pesquisador musical no novo disco, Sonorado apresenta: Novelas, que chega às plataformas em lançamento digital da Deck.

Pupillo e seus discos de trilhas de novelas (Céu/Divulgação)
O repertório do Sonorado inclui apenas temas de novelas nacionais. mas atenção: são de novelas EXTREMAMENTE clássicas, daqueles discos lançados até 1974 (inicialmente pela Philips e depois pela Som Livre). Nesse álbuns, geralmente toda a concepção musical era entregue a um só compositor (ou dupla de compositores) e cantada por vários intérpretes com exclusividade. Pupillo recordou músicas como Pela cidade (Azymuth, da trilha de O espigão, 1974), Luzes, câmera, ação (parceria de Chico Anysio e Arnaud Rodrigues gravada por Betinho em O cafona, 1971), O semideus (tema de abertura da novela de mesmo nome, de 1973) e outras dessa fase.
TRILHAS
Pupillo teve a ideia do disco após ser convidado para fazer um show no projeto Ritmistas Brasileiros, do SESC. Como as trilhas antigas de novelas são famosas entre DJs, teve a ideia de misturar o som delas com toques de hip hop.
“Conheci esses discos já adulto, quando já era músico. A Som Livre lançou quase todo catálogo das trilhas sonoras em CD, e eu vi, imediatamente, que estava diante de um tesouro da música brasileira. E a partir daí, fui atrás dos vinis”, recorda o músico, que particularmente se anima bastante com a trilha de O bem amado, novela de Dias Gomes musicada por Toquinho e Vinicius de Moraes. “Talvez seja minha trilha preferida, muito por conta dos temas dialogarem com o ambiente da história”.
Não tem como não perguntar: Pupillo é um cara noveleiro? Mais ou menos. “Vivi dois lados em relação às novelas. Primeiro na infância, quando assistia algumas com a família, como é o caso de Roque Santeiro, O bem amado e o Salvador da pátria. E depois, pesquisando a música brasileira”, diz ele, que após o show no Sesc, trancou-se em estúdio com a banda – Thomas Harres (percussão e voz), Marcio Arantes (baixo e voz), Zé Ruivo (teclados, sintetizadores e voz), Guri (guitarra e voz) e Ângelo Medrado (voz e caxixi), além dele mesmo na bateria e voz – e gravou o disco em dois dias.
ARTE E ENTRETENIMENTO
A primeira trilha lançada pela Som Livre, gravadora da Globo, foi da novela O cafona, em 1971 (apesar da empresa preferir adotar o ano de 1969 como marco inicial). Mas a emissora do Jardim Botânico já vinha há algum tempo fazendo LPs de novelas usando como gravadora a Philips. Por causa disso, tinha acesso a um elenco bem interessante de cantores (Rita Lee, Elis Regina, Ronnie Von, Joyce).
Tanto os LPs dessa época quanto os primeiros da Som Livre eram encarados como projetos artísticos. Envolviam aluguéis de estúdios, músicos contratados, leituras atentas de sinopses e… Bom, muitas vezes artistas e emissoras tinham o desprazer de ver as trilhas internacionais vendendo mais LPs e ganhando até bem mais popularidade (acontecia bastante).
Olhando as contracapas, é possível identificar detalhes que aproximam as trilhas das novelas das de filmes, como a profusão de músicas com título indefinido (tem uns Tema de abertura, em algumas delas). Pupillo recordou, por acaso, um Tema de Kiko, perdido na trilha de Pigmalião 70 (1970), de Vicente Sesso, interpretado originalmente pela banda The Youngsters – e que havia sido feito para as cenas do garotão Kiko, interpretado por Marcos Paulo.
“As trilhas dessa época eram feitas exclusivamente para as novelas, com compositores, arranjadores e músicos que se dedicavam de maneira inovadora. Elas eram verdadeiras realizações artísticas”, diz, acrescentando que isso tudo se perdeu quando as gravadoras viram nas trilhas uma excelente oportunidade para negociar espaço para seus artistas. “Para mim soa como se tivéssemos perdido a linha entre a arte e o entretenimento. Hoje em dia, me parece que a prioridade é apenas o entretenimento. E com isso, a qualidade é deixada de lado, dá lugar a acordos com resultados imediatos e efêmeros”.
SHOWS AOS POUCOS
Pupillo vem voltando aos palcos devagar, como baterista do Nando Reis. Mas com cuidados, evidentemente. “Vivemos um momento em que nosso país não cuida das pessoas. Isso é muito triste”, afirma ele, que também vem voltando a produzir e cuida do disco do Novíssimo Edgar, que sai em fevereiro.
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Cultura Pop
Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.
O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).
A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.
E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.
“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.
Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.
Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”
Cultura Pop
No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.
Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!
Destaque
Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).
A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã
Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.
Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica
A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.
O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.
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