Destaque
POP FANTASMA apresenta Homobono, “Subcarioca”

Marco Homobono, vocalista dos Djangos e nome importante do rock carioca do fim dos anos 1990, está lançando single novo, Subcarioca. A foto da capa foi clicada pelo próprio Homobono, bem perto da casa dele, na movimentada Avenida Geremário Dantas, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio. Sem que ainda houvesse single ou até mesmo música pronta, amigos já começaram a falar que a foto, com a Igreja de Nossa Senhora da Penna ao fundo, lembrava a capa do disco Supercarioca, do Picassos Falsos. Daí o nome Subcarioca, que nasceu igualmente antes da música.
“As pessoas ficaram com a impressão mais forte ainda de que era realmente a capa de um disco ou de um single. A música não existia. Eu tive que compor. Talvez tenha sido o primeiro caso de uma música que nasceu de uma foto corriqueira”, explica Homobono.
O músico está passando o isolamento em Jacarepaguá com o pai e a mulher, em casa. Foi lá mesmo, em seu quarto, que ele gravou guitarras, programações e vozes. Incluiu participações remotas de Jomar Schrank (teclados), Rafael Silva (dividindo os vocais, “um compositor e músico carioca que produziu um puta disco em oito dias em sua casa”) e o onipresente Melvin Ribeiro (baixo).
E AGORA PARA LANÇAR?
Com um single lançado e mais alguns outros projetos vindo à tona, Marco nem calcula como vai ficar o universo do artista independente após a pandemia. Ainda mais numa cidade sofrida e falida como o Rio.
“O espaço para o artista independente no Rio sempre foi exíguo. Eu creio que a Audio Rebel conseguiu resistir à crise causada pela covid. Ainda bem, porque era um dos únicos lugares com que as bandas e artistas podiam contar, para apresentar trabalhos autorais e inéditos”, conta. “Espero pode contar com ela. E espero que passada a pandemia, a vida cultural vá voltando ao normal. E que outros lugares apareçam e nos recebam com uma estrutura razoável”.
S.O.S. RIO FALIDO
O ano de 2020 trouxe vários problemas para o carioca. Entre eles, descaso da prefeitura, água poluída, geosmina, além da soma de várias cagadas feitas por gestões anteriores. Aliás, isso fora os sacos de maldade diários garantidos por Governo Federal e Estadual. Dá para ter saudade dos problemas enfrentados pelo Rio antes do covid-19?
“A pandemia está sendo algo que está alterando nossas vidas muito mais que a geosmina. O covid 19 está matando milhares de pessoas, separando um monte de gente, impedindo-nos de fazer coisas que fazíamos até o começo de 2020. Como sair de casa sem medo de ficar doente ou de infectar alguém próximo a você. Esse episódio da geosmina foi algo muito grave, criminoso até. Mas éramos felizes por ‘apenas’ enfrentar um problema de abastecimento de água”, conta Homobono, elegendo como pior problema da cidade a falta de consciência e de senso crítico do carioca.
“Assim como o brasileiro, o carioca não sabe quais são as raízes de suas mazelas. Parece que ele convive sempre com as consequências de uma determinado problema mas não sabe quais são as suas causas. Isso passa por um sistema de educação programado para dar errado mesmo. As pessoas não são minimamente instruídas. Há uma alienação e um total desinteresse pela história do país e da cidade”, diz.
ZONA OESTE
Com população de 2.371.135 pessoas (números do Censo 2010), a Zona Oeste tem várias faces. A mais visível é da Barra da Tijuca, bairro no estilo “ame ou odeie”, repleto de moradores ilustres e sonho dourado de muitos moradores de outros bairros, ou da Baixada Fluminense. Mas na região você acha desde a populosa Jacarepaguá (repleta de sub-bairros como Anil, Tanque e Freguesia), a comunidades como Gardênia Azul e Rio das Pedras. Além de bairros mais distantes e com certo aspecto rural, como Campo Grande.
A região vive um eterno problema com transporte público (ônibus com horários confusos, que volta e meia desaparecem, etc). Recentemente quem apareceu por lá, ainda em campanha, foi o prefeito eleito do Rio, Eduardo Paes, prometendo investimentos na área. Homobono, como morador da Zona Oeste, afirma que as demandas tanto de Paes quanto do ex-prefeito, Marcelo Crivella, vêm de um sistema viciado, onde as necessidades da população estão sempre em planos inferiores.
“Há um padrão de comportamento bem visível para mim em relação aqueles que ocupam um cargo político, seja no executivo ou no legislativo: mais do que nunca, eles são representantes dos interesses dos grupos econômicos que bancam suas campanhas e que têm negócios milionários no fornecimento de material ou serviços, Isso descaradamente”, queixa-se. “Do prefeito eleito, Paes, já tivemos péssimas vivências. Crivella esteve na prefeitura para destruir ainda mais o carioca em seus direitos e em sua cultura. Os dois pertencem à galeria de personagens que estão à disposição de quem realmente manda na cidade, para pôr em prática as politicagens que lhe vão ser extremamente vantajosas”.
ÔNIBUS
Volta e meia aparecem imagens de nomes ilustres do pop-rock estrangeiro, como Paul McCartney, aproveitando a limpeza e os bons serviços do transporte público britânico. Você pode esbarrar com o cantor do Djangos em algum ônibus, partindo ou voltando de Jacarepaguá, mas a situação do músico independente carioca é, digamos, bem outra.
“Uma vez entrei num ônibus que me levava até a Barra e apesar dos assentos estarem vazios, as pessoas estavam todas em pé. Eu não havia percebido e só sentado notei que o interior estava infestado de baratas pequeninas que subiram em minhas pernas e invadiram minha bermuda e minha camisa. Foi durante um dia bem quente e elas estavam animadíssimas”, relata.
GRITO DA VITÓRIA
O refrão de Subcarioca tem os versos “o grito da vitória/os livros de história/um dia vão poder contar”. O letrista espera que isso realmente aconteça, mas enxerga também outros cenários.
“Daqui a alguns anos, as pessoas que não viveram esse período de pandemia vão ter acesso à livros e estudos que vão retratar essa época tão conturbada. Sobre a pandemia, vão contar que o sistema público de saúde não tinha condições de atender a todos e que muita gente morreu, deixando famílias traumatizadas com a perda de entes queridos. Agora, quanto ao abandono do Rio, acho que vão precisar de décadas ou até séculos para que a situação se reverta, para que tenhamos ocupantes de cargos públicos comprometidos com o bem estar do povo e não com negociatas de apenas alguns grupos”, conta.
PARCERIAS
Tem outros projetos de Homobono vindo aí. Ele deve lançar um EP solo em 2021, além de músicas em parceria com três artistas que já apareceram no POP FANTASMA APRESENTA, Gilber T, Panço e Tony Lopes. Ele também gravou músicas com uma banda chamada JPA Brothers, formada por músicos de Jacarepaguá. Mas além disso, o Djangos deve voltar em breve com um disco novo, já que ele está gravando algumas músicas com a banda.
“Isso sem contar que eu faço parte do Rockarioca, que é um grupo que congrega bandas e artistas, dos mais variados, aqui no Rio, e que tem o intuito de promover a troca de ideias e intensificando nossa presença nas redes sociais, montando uma playlist, que está no Spotify”, afirma. “Engraçado que eu fiz várias parcerias de algum tempo para cá e a pandemia parece ter intensificado mais ainda tudo isso”, conta.
Mais POP FANTASMA APRESENTA aqui.
Cultura Pop
Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.
O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).
A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.
E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.
“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.
Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.
Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”
Cultura Pop
No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.
Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!
Destaque
Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).
A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã
Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.
Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica
A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.
O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.
>>> POP FANTASMA PRA OUVIR: Mixtape Pop Fantasma e Pop Fantasma Documento
>>> Saiba como apoiar o POP FANTASMA aqui. O site é independente e financiado pelos leitores, e dá acesso gratuito a todos os textos e podcasts. Você define a quantia, mas sugerimos R$ 10 por mês.
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
-
Notícias7 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
-
Cinema8 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
-
Videos8 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
-
Cultura Pop8 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
-
Cultura Pop6 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
-
Cultura Pop7 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?