Cultura Pop
Quando transformaram Dolly Parton em personagem de pinball

Empresa grande no negócio de pinball, quando era uma baita moda frequentar fliperamas, a Bally Manufacturing tinha ganhado uma boa grana lá por 1974 fabricando máquinas que exploravam a ópera-rock Tommy, do The Who. Que, como você sabe, falava de um garoto cego, surdo e mudo que quebrava os recordes dos jogos.
Estava aberto um novo caminho para a empresa, já que a Bally tinha descoberto que poderia se meter no negócio de licenciamento de produtos. Em 1977, Ton Nieman, o mesmo funcionário da Bally que tinha tido a ideia de uma máquina de Tommy, era agora presidente da empresa. E teve outra ideia: que tal um pinball com a imagem da estrela country Dolly Parton?
Vale uma explicação: Dolly, cantora e compositora então com trinta e poucos anos, era uma das maiores estrelas da música norte-americana naquela época. Estava na ativa desde os anos 1960, mas passou a liderar as paradas country a partir de 1973, com o hit Jolene. Um dos maiores hits de Dolly nessa época é uma música que frequenta as paradas até hoje, I will always love you.
“Ué, conheço essa música com a Whitney Houston”, você deve estar pensando. Sim: a música que Whitney gravou para a trilha do filme O guarda-costas tinha sido feita por Dolly, lançada por ela em 1974 e regravada em 1982 também pela autora, para a trilha do filme A maior casa suspeita do Texas. Nas duas vezes em que Dolly gravou sua própria canção, chegou no topo das paradas country.
Assim que I will always love you ficou pronta, até mesmo Elvis Presley quis gravá-la. Dolly quase chegou a fechar negócio com o empresário do cantor, Coronel Tom Parker. Só que, antes que pudesse pôr sua assinatura em qualquer papel, foi avisada por Parker que Elvis levava mais da metade dos direitos de publicação de qualquer música que gravasse. Sobrou para ela mesma gravar sua música – e faturar bastante.
Foi graças a canções como essa que Dolly solidificou sua imagem nas paradas country. Só que lá por 1977, as coisas tinham mudado no circo pop. Baladas melosas não estavam indo tão bem nas paradas. por exemplo. O rock progressivo estava sendo sobrepujado pelo punk. Por sinal, a disco music andava tão poderosa que artistas de outros estilos musicais se repaginavam, e procuravam um direcionamento mais pop para suas carreiras.
Dolly Parton não foi exceção e, lá pela segunda metade dos anos 1970, já estava fazendo um som mais dançante e voltado para uma mescla de country e r&b. Olha ela aí soltando a voz em Here you come again, de 1978.
Foi em meio a essa mudança de visual que o pinball de Dolly foi desenhado e planejado. Neiman trabalhou o tempo todo usando uma imagem da cantora com visual mais associado ao universo campestre. Quando mandou o resultado para a equipe de Dolly, tudo foi rejeitado porque não correspondia à imagem que a cantora queria passar naquele momento. Olha o trabalho da empresa aí.
Neiman lembra de ter ouvido que Dolly estava fazendo um sucesso enorme em Las Vegas e que associações com a imagem de moça do Oeste americano estavam vetadas. Para não atrasar mais o processo e deixar de gastar mais grana, propôs que o vidro traseiro do pinball trouxesse um visual mais pop, com Dolly iluminadíssima, mas que ela aparecesse descalça e de jeans no campo de jogo, “para mostrar os dois lados da artista”. A equipe de Dolly chiou, mas aceitou. Só pediu que acrescentassem várias borboletas (!) no visual.
Olha o pinball da Dolly Parton em ação.
A fase pop de Dolly foi durando até os anos 1980, quando ela chegou a fazer sucesso com uma música escrita por Donna Summer, Starting over again (é a música que aparece lá embaixo no fim do texto). Hoje, Dolly continua cantando e aparecendo na mídia. Recentemente, até doou mais de um milhão para um fundo de pesquisa da covid-19. Já a Bally fechou as portas em 1996 após várias quebradeiras, investimentos estranhos (em caça-níqueis, por exemplo) e tentativas de expandir seus tentáculos para o mundo dos cassinos.
Via Library Guides
Veja também no POP FANTASMA:
– 1983 – O ano dos videogames no Brasil tá no YouTube
– Quando fizeram resenhas de banheiros de videogames (!)
– Tank: um curta inspirado em videogames dos anos 1980
– Consoles, joysticks e um punhado de histórias: games em documentário
Cultura Pop
O 1967 dos Beatles no podcast do Pop Fantasma

Da mesma forma que uma década muitas vezes não começa no ano em que ela se inicia (já havia um “anos 1990” encartado no fim da década anterior), as mudanças vividas pelos Beatles em 1967, ano do disco Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, começaram pelo menos uns dois anos antes.
Mas para todos os efeitos, foi há 55 anos que John, Paul, George e Ringo lançaram um dos discos mais desafiadores da história da cultura pop, tramaram sua volta ao cinema, fizeram duas aparições significativas na televisão (numa delas, lançaram um telefilme que deixou sensação de entalo nas gargantas de muitos fãs), realizaram montes de experiências de estúdio, perderam tragicamente seu empresário e começaram a dar passos rumo à independência. E, ah, graças a um certo composto químico de três letras, sintonizaram dimensões bem diferentes das que os pobres mortais estavam acostumados naquela época.
O último episódio da segunda temporada do Pop Fantasma Documento levanta os causos de uma das épocas mais movimentadas do dia a dia dos quatro de Liverpool. Aumente o volume, ligue-se e sintonize!
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Turn Me On Dead Man, Trudy and The Romance, Dario Julio & Os Franciscanos.
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração: Ricardo Schott. Arte: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta!
Cultura Pop
Devo: no YouTube, tem versão “rascunho” do filme The Men Who Make The Music

Raridade por vários anos para muitos fãs do Devo, o filme The men who make the music (1981), realizado pela banda, foi lançado sob o rótulo maluco de “vídeo-LP”. A produção combina imagens de shows do Devo (focando bastante na turnê de 1978) com textos irônicos sobre a indústria da música, além de aparições do controverso personagem General Boy (interpretado por Robert Mothersbaugh Sr, pai dos irmãos Mark e Bob).
O tal conteúdo “anarquista” do vídeo fez com que ele ficasse arquivado por uns dois anos, já que The men who make the music foi terminado em 1979. O lançamento deveria ter acontecido em paralelo com o disco Duty now for the future, tanto que o LP original anuncia um endereço para os fãs comprarem um produto chamado Devo-vision, que sairia pela Time-Life (empresa responsável por arquivar o filme por dois anos, irritada com as mensagens anti-indústria da música do vídeo).
O material ainda aparece intercalado com imagens bem antigas do Devo. O grupo aparece tocando Jocko homo em 1976, em imagens do primeiro curta do Devo, The truth about de-evolution – que também incluía o clipe do grupo em 1974 tocando Secret agent man, igualmente incluído em The men. Nessa época, o Devo tinha uma formação bastante variável. Com pelo menos cinco ou seis músicos gravitando em volta (incluídos aí três irmãos Mothersbaugh), a banda virou quarteto no clipe de Secret agent man.
The men who make the music, por sinal, teve ainda uma versão demo, feita com produção amadora, em 1977. Tá no YouTube. Foi dirigida por Jerry Casale e produzido por Marina Yakubic, que era namorada de Mark na época.
O vídeo (sim, é vídeo, produzido com câmeras de TV) tem diferenças nos diálogos, nos cenários, na qualidade de som e de imagem (bastante rascunhadas) e no fato de que as músicas não aparecem em clipes. Todas são gravadas em versões extremamente cruas, ao vivo num palco.
Uma surpresa para os fãs é que, originalmente, a versão do grupo para (I can’t get no) Satisfaction, dos Rolling Stones, era quase um blues maníaco e lembrava Captain Beefheart. Muito diferente do que se imagina do Devo.
Aproveita e pega The men who make the music, a versão oficial, que também tá no YouTube.
Cultura Pop
The Lost Sheep: um single (da Virgin, de 1979) com ovelhas soltando a voz

Você provavelmente não conhece Adrian Munsey. Dono de uma carreira de sucesso como produtor de TV, o britânico trabalhou em canais como BBC Worldwide, ITV, Universal, e dirigiu dois longas, além de uns 45 documentários. Também tem uma extensa carreira como produtor musical e dono de gravadora. A vida dele tá aqui.
Agora, um detalhe que garantiu bastante popularidade a ele no fim dos anos 1970 foi ter aderido à mania sempre em alta dos novelty records – discos feitos para vender por uns tempos, com piadas ou assuntos da moda. Em 1979, ele soltou o single The lost sheep, creditado a “Adrian Munsey, ovelha, sopros e orquestra”. Essa pérola aí.
Lançado pela Virgin, o single trazia, segundo o site World’s Worst Records, ” uma fatia medíocre de monotonia sub-clássica que apresenta um cordeiro balindo enquanto uma pequena orquestra – repleta de baixista e baterista – toca a música mais sentimental que você já ouviu”.
Se você já acha pitoresco escutar isso em áudio, olha aí o próprio Munsey tocando a peça ao vivo no Russel Harty Show, na London Weekend Television. Munsey levou para o palco uma ovelha (“é uma fêmea”, esclarece) e a mãe do animal – além da orquestra, para tocar ao vivo. Só que o bichinho ficou meio amedrontado e não “cantou” nada. Sobrou para Munsey fazer o “béééé” ao vivo. A plateia ri, os músicos de orquestra não movem um músculo das faces.
Russel fica indisfarçavelmente de boca aberta ao ouvir Munsey contar como foi que surgiu a ideia de fazer música com ovelhas. Ele fez uma viagem e passou por um anfiteatro que estava cheio delas, balindo. “Acho que as pessoas às vezes se sentem como ovelhas perdidas um dia”, contou, já anunciando que sairia um single em ritmo de discoteca. Saiu sim: C’est sheep, lançado também em 1979, e produzido por Ron e Russell Mael, os dois irmãos da banda Sparks. Essa música, mais tarde, foi incluída na compilação da Virgin Methods of dance.
Ah sim, tinha o lado B de The lost sheep. Era Echoing spaces, essa maravilha pós-prog relaxante aí.
Um detalhe bem louco a respeito de C’est sheep, o tal single disco de Munsey, é que ele foi detonado por um colega de gravadora do cantor. John Lydon, já cantando à frente do Public Image Ltd, foi participar do Juke box jury da BBC, programa no qual uma turma de jurados comentava lançamentos recentes. A canção, cheia de balidos com beats dançantes, foi apresentada e provocou verdadeira aflição nos convidados, que precisaram dar suas opiniões na frente do próprio Munsey (!), mais perdido que cebola em salada de frutas. Lydon diz que a música é “a Virgin Records tentando faturar uns trocados e falhando miseravelmente”.
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