Notícias
Pic-Nic: banda carioca fala sobre a redescoberta de CD gravado em 2007

Guidi (voz), Miguel (guitarra), Paulinho (guitarra), Chokkito (baixo) e Robson (bateria), mais conhecidos como Pic-Nic, fizeram diversos shows pelo cenário carioca de rock no começo do século 21. O som, apontando para o punk e para o power pop (e para o som que alguns críticos musicais chamaram de pós-grunge, com canções bastante melódicas e guitarras altas), despertou a atenção de novos fãs e o grupo gravou três CDs antes de encerrar atividades. O último desses álbuns, porém, estava nos guardados da banda até hoje, e não saiu justamente por causa do fim da banda.
2007 (com título fazendo referência ao ano em que foi gravado) sai agora nas plataformas digitais, no ano em que a banda completa duas décadas. E vai marcar a volta do grupo, que já fez uma live de lançamento em novembro e faz show no Audio Rebel (Botafogo) dia 19 de janeiro, em noite dividida com Badke (vocal e guitarra do Carbona, em carreira solo).
Batemos um papo com a banda sobre a redescoberta do disco, que você ouve aí embaixo.
O disco sai no ano em que a banda comemora 20 anos. Quais são suas lembranças do começo do grupo? Moravam perto, estudavam juntos?
Guidi: Eu tinha 18 anos em novembro de 2001, quando a banda foi formada. Os outros três integrantes (Paulinho, Chokkito e Victor, o baterista à época) são uns dez anos mais velhos. A lembrança mais forte que tenho do iniciozinho é muito boa: nós quatro criando canções na sala da casa do Paulinho, era um espaço muito agradável, e estes ensaios de criação aconteciam muitas vezes no fim da tarde, era delicioso. O primeiro CD foi todo feito com estas composições, que tinham um clima bem delicado.
Eu morava na Barra da Tijuca, mas a banda toda era de Copacabana/Leme. Eu e Paulinho namorávamos, então eu estava sempre na casa dele. Chokkito e Paulinho tocavam juntos na banda Oh! Valerie, e Victor tinha sido baterista dessa mesma banda. Miguel (guitarrista), que entrou um ano depois, também tocava no Oh! Valerie e também era de Copacabana.
O que vocês mais ouviam no começo do grupo e o que motivou vocês a começar?
Paulinho: Air.
Miguel: Strokes, White Stripes.
Chokkito: Belle & Sebastian, Strokes.
Guidi: Fountains of Wayne, Teenage Fanclub, Charlatans. O que nos motivou a tocarmos juntos eu acho que foi o acaso: o baterista, Victor, encontrou Paulinho, ex-colega de banda, e eu estava junto. Foi na porta do CEP 20.000, no Espaço Cultural Sergio Porto, que eu me lembre. Paulinho mencionou que eu cantava e Victor logo pensou no Chokkito para o baixo. Acho que foi obra do acaso, mesmo! Mas essa familiaridade musical entre Chokkito, Victor e Paulinho foi importante, acredito.
Por que o nome Pic-Nic?
Guidi: Fizemos um ‘brainstorming’, na realidade algumas vezes. Ficamos sem nome um tempo até chegarmos a um nome que soasse bem e que tivesse a ver com a delicadeza do que fazíamos à época, a sonoridade que está registrada no primeiro CD.
O disco começa com uma música chamada Grunge e o som pode ser colocado tranquilamente na gaveta do pós-grunge, que estava em voga em 2007. Olhando em retrospecto, vocês acham que esse disco seria devidamente bem ouvido naquela época?
Guidi: Eu imagino que sim, mesmo tendo a impressão de que exatamente no ano de 2007 houve um arrefecimento do interesse do público pelo que se fazia no underground. Mas eu considero esse o nosso CD mais bem feito e mais completo, com mais vozes, com letras melhores, com um trabalho mais caprichado de gravação, então penso que as pessoas que gostavam do Pic-Nic, que nos acompanhavam, iam ajudar a espalhá-lo por aí, e talvez ele chegasse bem mais longe do que os CDs anteriores.
Paulinho: Acho que, à época, o disco poderia até ser ouvido, mas teria muito nariz torcido, porque na época tinha isso. Em vez de as pessoas se ajudarem, para crescerem junto, a gente via essa divisão dentro da cena, bairrismos, preconceitos com outros segmentos. Alguns grupos de bandas até eram unidos, mas não a maioria. Mas nos jornais e revistas de música, acho que a recepção seria boa, e por isso seríamos ser bem ouvidos.
Ele soa melhor aos ouvidos de vocês hoje? Como é revisitar essa versão antiga de vocês?
Robson: Na minha visão, é algo além de revisitar, é fechar um ciclo, cumprir uma etapa. Para mim, o disco soa atual, não ficou datado, por mais que remeta a 2007. Em outras palavras, diria que o disco envelheceu como um bom vinho, e hoje está aí para todos degustarem.
Paulinho: A gente terminou um processo que começou em 2007. Acho que, como estávamos ainda no processo de finalização de gravação, nós teríamos terminado diversas coisas de outras formas, principalmente backing vocals. Mas hoje soa como um trabalho terminado, não o acho datado. A gente nunca quis ficar muito ligado no que “deveria” ser tocado, o que a época “pedia”, não sentíamos essa obrigação com o que estava em voga, com as tendências. Sempre foi uma colcha de retalhos de todas as diferentes influências de cada um. Mas o mais legal desse disco é a gente ter voltado como banda, esse foi o grande barato. A melhor parte do disco 2007 foi ele ter feito com que nós voltássemos a tocar juntos.
Chokkito: Da minha parte nunca teve um “reouvir”, pois eu tinha um CD com as faixas. Eu nunca tive um distanciamento dessas faixas, pois vez ou outra eu as ouvia. Mas tinha, sim, a sensação de que essas músicas precisavam ver a luz do sol, por mostrarem um bom avanço e um crescimento nosso como banda, de modo geral, nas composições, nos timbres. E acho legal e engraçado ver como as letras continuam atuais, e também o quanto o disco é “rock”, digo isso porque à época havia muitas bandas de hardcore, punk, bubblegum, e nós éramos mais pop em relação a essas bandas do underground. Como hoje em dia diversas dessas bandas acabaram, a impressão curiosa que fica é de que nós ficamos ainda mais “rock”.
Por que o disco não foi lançado? Havia alguma gravadora na história ou seria um lançamento independente?
Guidi: Não havia perspectiva de gravadora, seria um lançamento independente, mesmo. O disco só não foi lançado porque a banda acabou. Apesar de Miguel ter tentado inúmeras vezes que finalizássemos aquilo, não conseguimos. Ele sempre batia na tecla de “finalizar o que começamos”, e não me surpreende que tenha sido ele quem trouxe a banda de volta, pois foi quem quis mexer no HD e nas canções não mixadas. Quatorze anos depois, estávamos prontos para fazer isso, finalmente. Todo mundo quis.
O material chegou a ficar perdido?
Miguel: Ficou perdido na casa do Paulinho. Eu achei um DVDdata, que tinha Ano-novo, e aí o Paulinho começou a procurar o HD até encontrá-lo no sótão dele, com o resto das músicas. E aí a gente foi trabalhando uma a uma.
Deus e o diabo relata uma situação de abuso infantil. Como foi tratar desse tema em 2007? Chegaram a achar a música forte demais na época?
Guidi: Foi importante fazer e cantar esta letra, e não acho que nenhum de nós achou estranho abordar isso em alto e bom som. Este ano, quando fomos remexer o passado e vimos a letra desta canção, nos atentamos para ver se ela estava tratando o assunto com o devido respeito.
Na época, vocês lançaram dois discos que tiveram boa recepção, apareceram em programas de TV, etc. O mundo ao redor de vocês estava mais interessado em pop-rock brasileiro e artistas novos do que hoje em dia?
Guidi: Eu não sei dizer o que aconteceu, mas parece que exatamente em 2007 as bandas foram desaparecendo, terminando, dando pausas. Daí o publico naturalmente foi se desinteressando, ou melhor, foi achando outros estilos e linguagens para se interessar. Essa é a minha impressão. Acho que hoje há, sim um interesse gigantesco por artistas novos, uma verdadeira sanha por novidades, mas em relação a artistas de outros estilos, como rap, pop, dance, eletrônico. Acho que esse interesse pelo rock que existia está voltando aos poucos.
Quais foram as dificuldades que vocês enfrentaram na época, para manter e divulgar a banda? O quanto o machismo atrapalhou a aceitação de uma banda com uma mulher no vocal, por exemplo?
Guidi: A nossa maior dificuldade era tocar em festivais, eu diria. Nós acabamos conseguindo divulgar a banda em matérias de jornal, sempre com muita insistência, uma insistência que chegava a ser cansativa para nós. Ou era assim, ou não rolava. Conseguimos tocar em lugares que queríamos muito, casas que gostávamos, mas festivais, nunca. Só tocamos no Ruído, em 2007, uns três meses antes da banda acabar. Não conseguimos furar este cerco em outros festivais de rock/música alternativa.
O machismo é presente no rock, sem dúvidas, mas observei que em outros nichos que vim a conhecer e frequentar, depois, é bem pior. Ser uma mulher no vocal não atrapalhou muito, acho que atraía uma simpatia o vocal suave numa banda de rock alternativo. Deve ter havido machismos dos quais eu nunca soube, oportunidades que não tivemos em razão disso, mas não cheguei a perceber à época.
Por que o grupo se separou? Conseguiram manter a amizade após o fim da banda?
Guidi: O grupo terminou basicamente porque eu e Paulinho terminamos, e a banda tentou ensaiar duas vezes após este término, mas não foi possível, não deu certo. Não tive contato nenhum com os outros integrantes durante todo este tempo, apenas casuais, encontros na rua. Robson, Paulinho, Chokk e Miguel se viam com alguma regularidade, a amizade entre eles seguiu, mesmo que se vissem com bem pouca regularidade, pela próprias ocupações que foram surgindo na vida de cada um.
Miguel: Estávamos tentando há muito tempo, o que é cansativo. Houve um desgaste natural, pois banda é um casamento. Estávamos sem horizonte, a cena foi encolhendo, já tínhamos tocado em tudo quanto é lugar… Já não dava mais para fazer o que fazíamos e não termos nenhum retorno, nem financeiro, nem de outro tipo.
Guidi, você depois começou a cantar musica brasileira. Teve alguma fase em que você olhou para o som que fazia como o Pic-Nic como algo que não representava mais você? Costumava ouvir a banda?
Guidi: Como o meu mergulho na MPB foi intenso, e eu praticamente não conhecia música brasileira – só Jorge Ben – fiquei totalmente envolvida com aquilo, querendo ouvir tudo o que não fez parte da minha formação musical. Cresci ouvindo rock, não MPB. E passei a não pensar mais em rock, nem ouvir, fiquei querendo conhecer tudo aquilo que a maioria dos brasileiros já conhecia, os medalhões da nossa música.
Acho que isso aconteceu porque a banda acabou abruptamente, daí eu fui buscar outro universo. Isso me fez muito bem, apesar de não ter sido planejado: eu não queria mais cantar, mas quando fui cantar, foi MPB, por sugestão de um amigo, que se tornou meu namorado à época. Foi estranho ser intérprete, a princípio, mas acabei gostando. Cantar outro tipo de música foi um respiro daquela experiência tão forte que tinha sido ter uma banda durante seis anos, todos nós completamente entregues, dedicados e cheios de sonhos, e depois ver tudo acabar.
Eu entrei em um novo mundo, com o qual me identifiquei e me identifico muito, e que é perceptível no meu trabalho solo. Parecia algo que faltava em mim, essa brasilidade, e hoje tenho essas influências muito fortes na hora de fazer música: rock, MPB e baião. Nunca mais ouvi Pic-Nic, pelas lembranças intensas, mas também porque não gostava de me ouvir, o que é bem comum em cantores em relação a gravações que sejam ligeiramente antigas. Só em 2021 fui ouvir a banda de novo.
Como vai seu trabalho solo?
Guidi: A partir de 2016 o meu trabalho solo se tornou autoral, e essa foi uma das coisas mais valiosas para mim. Depois de lançar o CD Temperos em 2014, como intérprete, senti um vazio, pois eu sabia que gostava de criar minhas melodias e letras, e ali só tinha uma faixa de autoria minha. Em 2020 lancei o Outra língua, que me trouxe a ‘satisfação perdida’, por ser autoral. Agora estou gravando um EP, que vai sair no início de 2022. Pretendo gravar anualmente EPs ou CDs, se possível, e vez ou outra fazer shows. Fiz poucos shows com meu trabalho solo, até agora.
Lançamentos
Radar: The Sophs, Dynasty, Idles, Cristian Dujmovic, Spinal Tap, Zoo Sioux, Circa Waves

Aqui pra nós: e esse negócio de disco com parte 1 e parte 2, hein? O Circa Waves, por exemplo, vem aí com a parte complementar do seu álbum Death & love – e a gente, que resenha discos, fica como? Esperando a parte 2 pra escrever tudo? Seja lá como for, eles mandaram muito bem no single novo deles, Cherry bomb, que entrou neste Radar internacional com singles novos do The Sophs, Idles, Cristian Dujmovic… Ouça tudo no último volume e vá acompanhando as novidades do mundo da música por aqui.
Texto: Ricardo Schott – Foto (The Sophs): Eric Daniels/Divulgação
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.
- Mais Radar aqui.
THE SOPHS, “DEATH IN THE FAMILY”. Esse sexteto de Los Angeles, contratado pela Rough Trade, estreou em maio com o single Sweat, que até apareceu num Radar anterior. Dessa vez voltam com Death in the family, uma espécie de stoner rock “ensolarado” com letra sombria: “Preciso de uma morte na família para virar a minha página (…) / preciso de intervenção divina para lavar essas cicatrizes”. Mais sinistro que isso, só o clipe, em que os integrantes do The Sophs vão sendo assassinados um após o outro – sobra apenas o vocalista que… Bom, assista ao vídeo!
DYNASTY, “COMBATIVE HEART”. Vindo de Hamilton, no Canadá, o Dynasty é uma dupla de synthpop que curte falar dos momentos duvidosos da vida. Tanto que Combative heart, o novo single, fala sobre a sensação de embarcar no desconhecido, de braços abertos, confiando na jornada mesmo quando ainda não se tem ideia nenhuma do que está vindo por aí – e mesmo quando uma parte de você tem medo e se recusa a seguir. O som tem cara de anos 1980, com teclados típicos da época, mas deixa um certo clima de heavy metal nos vocais – feitos pela cantora e compositora Jenni Dreager – e até no logotipo da banda.
IDLES, “RABBIT RUN”. Clima de porrada em letra, em música e em clipe. O grupo britânico acaba de soltar Rabbit run, e a faixa foi feita para a trilha de Caught stealing, o próximo thriller policial de Darren Aronofsky (Cisne negro, Réquiem para um sonho). Aliás, é uma das quatro faixas compostas pela banda para o filme – sendo que os Idles ainda fizeram a trilha incidental e contribuíram também com uma releitura de Police and thieves, de Junior Marvin, imortalizada pelo Clash.
Rabbit run é sombria, fria, misteriosa, com batida próxima do krautrock e clima explosivo que surge lá pelas tantas, sem aviso prévio. E a letra tem versos como “as paredes parecem pequenas, minhas veias estão se contraindo quando estou entediado / faço um cruzeiro, assalto e espanco quando estou entediado”.
CRISTIAN DUJMOVIC, “DESPUÉS, EL ORIGEN”. Músico radicado na Espanha, Cristian está preparando o EP Fín de un mundo, e em Después, el origen, fala do mundo e dos acontecimentos como rodas que giram, sem que a gente muitas vezes se dê conta. O som varia do pós-punk ao ambient em poucos segundos, como costuma acontecer nos singles dele. Recentemente Atisbo, EP mais recente de Cristian, foi assunto nosso.
SPINAL TAP feat ELTON JOHN, “STONEHEDGE”. Dia 12 de setembro sai a aguardada continuação do mockumentary This is Spinal Tap, um clássico cult que falava sobre uma banda fictícia de heavy metal que passou pelos mais diversos estilos em busca de sucesso, e que perdeu uma série de bateristas – todos mortos em circunstâncias misteriosas.
Spinal Tap II: The end continues mexe com dois temas que estão na moda, já que traz a reunião e o show final (haha) do grupo. Vestindo uma capa de druida que tira logo no começo do clipe, Elton John canta e toca piano nesse hard rock que estava na trilha original (aliás rende risadas em This is Spinal Tap) e que aqui se torna uma espécie de metal progressivo folk de brincadeirinha.
ZOO SIOUX, “GIMME WAMPUM”. No som desse projeto musical britânico, climas punk, pré-punk e meio blueseiros são levados às últimas consequências. Gimme wampum, um dos singles da banda, é um verdadeiro filhote de Lou Reed, Iggy Pop e Black Sabbath, cheio de vocais roucos e riffs de alto a baixo.
CIRCA WAVES, “CHERRY BOMB”. Na estica dos anos 1980, a banda britânica anuncia a segunda parte de seu disco Death & love (falamos da primeira parte aqui), que sai em 24 de outubro via Lower Third / [PIAS]. O anúncio vem com o bom synthpop Cherry bomb, cujo clipe é protagonizado por uma garota ruiva de patins, vestindo uma jaqueta com o nome da música e rodopiando enquanto curte um som no walkman.
Diz a banda que a faixa nova é sobre uma pessoa que faz qualquer coisa por você: entra numa briga, te chama para tomar uma cerveja, faz sempre algo de bom nos dias ruins. Altíssimo astral à vista, então – e a gente espera que a segunda parte do disco seja bem melhor que a primeira, ou torne todo o set do álbum bem bacana.
Agenda
Urgente!: Uma banda chamada Guitar. Picassos Falsos ao vivo no Rio. Beatles lá em Mauá.

RESUMO: O Guitar, banda de Portland, mistura emanações de Dinosaur Jr e climas punk, e anuncia álbum novo. Picassos Falsos volta hoje para show no Rio. Semana Beatles em Visconde de Mauá (RJ) comemora dez anos e vai ter festa.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.
Um tempo atrás entrevistamos o cantor e apresentador China, e ele contou que mudou de nome artístico para Chinaina porque estava achando complicado demais encontrar suas próprias músicas nas plataformas digitais. Agora imagine o que sobra para uma banda chamada… Guitar.
Bom, no Spotify, o “melhor resultado” para o nome Guitar é uma playlist do jogo Guitar Hero 3 – o segundo melhor, você talvez imagine, é Guitar man, sucesso da banda Bread. Buscando direto na aba “artistas”, a banda norte-americana de rock Guitar – que é nosso assunto aqui – até que se deu bem: é o terceiro nome a aparecer.
O Guitar é liderado por um músico chamado Saia Kuli, que começou o projeto basicamente como uma banda-de-um-cara-só, gravando tudo por conta própria. No ano passado, saiu o primeiro álbum do Guitar, Casting spells on turtlehead, pelo finado selo Spared Flesh, de Portland – a gravadora fechou as portas, mas mantém o Bandcamp com seus lançamentos, inclusive o disco do Guitar.
Nesse álbum, aliás, Saia contou com uma banda de verdade, com mais quatro integrantes. Você poderia definir o som que essa turma fez em Casting como shoegaze, mas a verdade é que se trata de um Dinosaur Jr com volume mais alto e paredões espessos e turbinados de (adivinhe só) guitarras. A definir pelo novo single do Guitar, Pizza for everyone, o álbum da banda que está vindo por aí, We’re headed to the lake (sai dia 10 de outubro pelo selo Julia’s War), vai ser cheio de hinos punk.
“Essa música é tanto um grito de guerra épico e sem sentido quanto sobre estar sem dinheiro e entediado sentado no sofá”, explica Kuli sobre a música. Ficou curioso/curiosa? Tá aí embaixo (e vale informar que no Bandcamp e no Instagram, Saia não conseguiu usar o “guitar” sem nenhum acréscimo).
***
Tem um festão no Rio de Janeiro nesta quinta (14). O Rockarioca, coletivo que mapeia o rock do Rio, comemora cinco anos com um evento especial no La Esquina, na Lapa. Dessa vez, o Picassos Falsos, cult band clássica dos anos 1980, inativa desde 2019, retorna para um show especial – com abertura de Katia Jorgensen, autora de um dos melhores discos de 2024, Canções para odiar (resenhado pela gente aqui). Entre os shows, o som fica com o DJ Renato JkBx (Bauhaus/College). Se você mora no Rio ou está por aqui, é uma ótima oportunidade para conhecer os shows do coletivo, inclusive.
Indo um pouco mais distante do Rio, vai rolar a décima Semana Beatles Visconde de Mauá (recanto hippie na serra carioca), a partir desta quinta (14), às 17h. São dez anos não apenas do evento como também da Casa Beatles, lugar dedicado aos quatro de Liverpool. A novidade é que domingo, às 15h, vou estar num bate-papo musical com o jornalista e músico Heitor Pitombo, lá na Casa Beatles, sobre histórias da banda.
E… bom, não é bem novidade porque todo ano estou lá fazendo alguma coisa – mas se passar por Mauá, vá lá me ver. E aproveite para conhecer Heitor, que foi o primeiro jornalista a fazer uma pergunta a Paul McCartney na primeira vinda dele ao Brasil, em 1990. Conheça também o Leandro Souto Maior, um dos criadores da Casa Beatles, meu melhor amigo e autor do livro Paul McCartney no Brasil.
SERVIÇO ROCKARIOCA. La Esquina (Av Mem de Sá, 61 – Lapa), quinta (14). Horário: abertura 19h30, 1º show 20h15, 2º show 21h15, festa 23h Ingressos: R$20 (1º lote), R$30 (2º lote), R$40 (3º lote), R$50 na hora.
SERVIÇO SEMANA BEATLES: de quinta (14) a domingo (17). A programação e todos os detalhes estão no Instagram deles.
Lançamentos
Radar: Pelos, MC Karlos, She Is Dead, Caxtrinho, Ingrime, Afrika Gumbe, Lan

No Radar nacional de hoje, MC Karlos diz que o rock morreu. Bom, não morreu, mas Karlos tem vários argumentos na letra de seu funk melody O rock morreu (graças a deus) – o tipo de som para roqueiros de mente aberta. E mente aberta, você talvez saiba, é nossa zona de conforto, já que aqui cabem o punk do She Is Dead, o som etéreo do Pelos, a lembrança de Almir Guineto na voz de Caxtrinho, e muito mais. Ouça com volume alto e janelas abertas.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Pelos): Daisy Serena/Divulgação
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.
- Mais Radar aqui.
PELOS, “SANTELMO”. Já ouviu falar do fenômeno do fogo de Santelmo? É uma descarga elétrica que aparece para navegadores durante viagens e que simboliza um sinal de boa sorte – e que na música nova da banda mineira Pelos, Santelmo, surge para simbolizar temas como fugas, passagens, travessias pessoais.
Robert Frank, cantor do grupo (e também guitarrista e pianista da banda), é um velho conhecido de quem assistiu à série Hit Parade (Canal Brasil) – ele era o Missiê Jack, o espertíssimo dono de gravadora do seriado. Em Santelmo, uma faixa introspectiva e bela, sua voz soa como a de Milton Nascimento, mas sempre equilibrado entre o dream pop e o Clube da Esquina. O álbum do Pelos, Noturnas, sai em breve.
MC KARLOS feat ERIK SKRATCH, “O ROCK MORREU (GRAÇAS A DEUS)”. “Eu sabia que o som da guitarra elétrica, atrás dele tinha um monte de lixo de rock americano pronto para desembarcar no Brasil. Não era um Zappa não, nem Zeppelin, era outra coisa”. A frase do compositor e jornalista Chico de Assis dita no documentário Uma noite em 67 recorda a época da Passeata Contra a Guitarra Elétrica (é, teve isso), da qual ele participou em 1967.
Pois bem: o rapper e ex-roqueiro sul-matogrossense MC Karlos sampleia a declaração de Chico na abertura do ousado e polêmico funk melody O rock morreu (Graças a deus), que zoa impiedosamente a babaquice e o conservadorismo hoje associados ao estilo. “A guitarra já virou peça de museu / instrumento falocêntrico, heteronormativo / trilha sonora do imperialismo (…) / antes oprimido, agora opressor / de revolucionário a conservador”, rappeia. Um som para roqueiros que sabem rir de si próprios.
SHE IS DEAD, “US FOR US”. “Banda curitibana especializada em pesadelo”, como eles próprios afirmam, o She Is Dead volta com um som entre o punk e os elementos de psicodelia – chega a lembrar o começo do Primal Scream, quando a banda de Bobby Gillespie era chegada à onda jangle rock e a sons mais primitivos. Além disso, Us for us é uma música sobre força coletiva, sobre pessoas lutando não apenas pelo que é delas, mas pelo que é de todos.
A faixa é, diz a banda, o primeiro single de uma série de doze musicas gravadas em três dias no estúdio Xacra. Gustavo Slomp e Marcio D’Avila assinam a produção. E já tem clipe.
CAXTRINHO, “MÁFIA DA MIÇANGA”. Queda livre, primeiro álbum de Caxtrinho, foi lançado ano passado pelo selo QTV – e é o melhor disco nacional de 2024 de acordo com a curadoria de um certo site de música aí, não sei se vocês conhecem… Vindo da Baixada Fluminense, e dono de uma pegada sonora única – entre o samba e a noise music – ele foi um dos escolhidos para participar do projeto MPB Ano Zero, criação do jornalista Hugo Sukman, do produtor Marcelo Cabanas e do cantor Augusto Martins, com o apoio da gravadora Biscoito Fino.
Cada participante do MPB Ano Zero relê uma faixa clássica ou nova da MPB. A voz e o violão de Caxtrinho couberam como uma luva no samba Máfia da miçanga, de Almir Guineto e Luverci, gravado por Almir em seu segundo disco, A chave do perdão (1982). Vale muito a audição. Tem até mini-doc.
INGRIME, “UTOPIA”. Essa banda de Marília (SP) se coloca entre o pop, a MPB e o punk, experimentando um tom dançante e realista para seu novo single, Utopia – uma música sobre os desafios de seguir acreditando em dias melhores. Além da formação de quinteto, o grupo inseriu metais na canção, dando a ela uma certa proximidade com as fanfarras musicais, e um clima de festa. Gabriel Teixeira, vocalista do grupo, diz acreditar em Utopia como uma canção especial para abrir novos caminhos musicais para o Ingrime (“ela é um respiro”, conta).
AFRIKA GUMBE, “A OBRIGAÇÃO DO DOM”. Soro energizado, disco novo do Afrika Gumbe – banda dos irmãos Marcelo e Marcos Lobato, o primeiro, ex-tecladista do Rappa – está vindo aí. O single mais recente a adiantar o álbum, A obrigação do dom, é um afropop de fôlego, que propõe uma reflexão sobre destino, propósito e o dever íntimo de honrar os próprios dons – mesmo que tudo pareça torcer contra. “Que não sejamos manés e que desfrutemos de toda luz e possibilidades que nossas portas nos oferecem”, filosofa Marcos, em bom carioquês.
LAN feat TARCIS, “DIVERSÃO”. Conhecido por fazer parte do duo Badzilla, Lan retorna com mais um single, com letra e vocal do rapper Tarcis. Dessa vez, o beat chega perto da house music, mais até do que do funk – e a letra tem vibe de rap e flow de palavra falada, de história contada naturalmente. A melodia de Diversão, por sua vez, une dance music, MPB e pop adulto. “A letra foi quase freestyle, a ideia veio muito rápida na cabeça. Eu e Lan conseguimos entender as ideias um do outro, por isso foi um processo tranquilo e divertido”, diz Tarcis.
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
-
Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
-
Notícias7 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
-
Cinema8 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
-
Videos8 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
-
Cultura Pop9 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
-
Cultura Pop7 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
-
Cultura Pop8 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?