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Um papo com Cris Braun sobre disco novo, novos tempos, Rita Lee e David Bowie

Cris Braun sempre foi uma artista identificada com a atitude e o som do glam rock – desde a época em que era uma das integrantes do Sex Beatles, que gravou dois discos nos anos 1990 e ganhou até documentário. E a música de seu ex-grupo surge em Quase erótica, o quarto disco solo de Cris – sem contar Filme, feito em dupla com Dinho Zampier (2017).
Bastante conciso (são só 25 minutos), o álbum, lançado pelo selo Lab 344, abre e fecha com regravações de canções da banda (Tudo que você queria saber sobre si mesmo e E seu namorado também). E passeia por músicas que estavam na gaveta há alguns anos. em parceria com amigos como Alvin L, George Israel e Luciana Pestano.
Cris, que mora há alguns anos em Maceió (AL), bateu um papo com a gente sobre o novo disco, sobre os novos tempos (para os quais deseja “mais vida, menos morte, menos esse urubu, esse negócio que paira sobre nós e que eu desejo que vá embora!”), sobre os 25 anos de seu primeiro álbum solo (a serem comemorados em 2022) e sobre influências marcantes em seu trabalho, como Rita Lee e David Bowie (cujo disco The rise and fall of Ziggy Stardust and The Spiders From Mars é citado na canção Aprender).
A gente tá vivendo um tempo bem chato. Como é lançar um disco com o nome de Quase erótica, com o conteúdo que você botou nele, nessa época em que estamos vivendo, com essa turma estranha no poder? Você diria que o disco é um recado para algumas pessoas?
Nem eu sei! Bom, hoje eu sei… Sabe aquelas elaborações que você faz depois? Aí eu consegui chegar a uma frase sintética: “Mesmo que seja uma joke, uma brincadeira, mais eros e menos tanatos”. Acho que eu senti necessidade de ir lá no passado. Uma necessidade inconsciente, porque na coisa consciente é bem pensado mesmo. Era a coisa do “preciso revisitar minha carreira”. Fazendo uma coisa mais pop, procurando ali atrás, e eu também estava aprendendo a mexer no estúdio. Então tudo era mais lúdico, menos elaborado. E daí fui nessa, catei repertório do Sex Beatles, e algumas coisas minhas. Tudo ali é passado, menos Logado, que é uma música nova, fala até das relações dentro da internet, essas relações em que as pessoas estão separadas.
Ia até te perguntar a fonte das músicas, porque o disco abre e fecha com o Sex Beatles. Tem coisas ali que já fazem parte do seu trabalho, né?
Isso. Tem Logado, que é minha com Billy Brandão. Tem Invisíveis, que é minha com Luciana Pestano – lá do passado. E uma que fiz com George Israel, também lá do passado. Passado é isso mesmo, anos 1990 e poucos. Eu cheguei à conclusão que eu desejo mais eros, mas não no sentido erótico, convencional. É em todos os sentidos, mais vida, menos morte, menos esse urubu, esse negócio que paira sobre nós e que eu desejo que vá embora!
Aliás, o Marcelo Costa, do site Scream & Yell, disse que viu algo de Rita Lee no seu disco. Vi muito não só ela como também Ney Matogrosso. Invisíveis, imagino na voz dele. Tem uma onda sua de ter lembrado dele também?
Não, não, é tudo inconsciente. Mas com relação à Rita tem uma referência muito grande, porque o que eu busquei quando pensei em como iria soar… Eu não queria soar tão fechada nos anos 1980/1990. Eu queria abranger esses anos todos até agora mas principalmente nas psicodelias, nos anos 1970. Aí acho que a gente entra na onda da Rita, dos Mutantes, principalmente.
Sempre que eu sou pop – por mais que eu queira ser contemplativa, o que eu acho que até faço melhor do que pop – eu me lembro da Rita, como referência, como amor. Já cantei com ela, lembro que ela me convidou para cantar, olhou pra mim e disse: “Gente, é um filhote!” (rindo). Mas no Ney eu não pensei, agora que você falou eu vou escutar!
Aquela música Aprender fala do “lado B do Ziggy Stardust“. Qual a importância do David Bowie pro seu trabalho?
Bom, a letra é do Alvin L, mas acho que qualquer ser humano ligado ao rock, ao glam rock, ao teatro, ao visual – eu sou muito ligada nisso – e à música, tem ligação com Bowie. É como Rita, é pra onde eu olhava quando era mais nova, e o que me impressionava, musicalmente. Mas essa coisa da expressão, das vocação diversificada, essa coisa plural do Bowie… Isso tudo sempre me encantou. E a gente, no Sex Beatles, cantava alguma coisa dele. Fizemos uma versão de Heroes, que depois entrava em Roberto Carlos, uma coisa bem louca.
Era uma importância de informação, de intenção, de “ah, eu gosto dessa pessoa porque eu gosto do que ela veste, da maneira como ela aparece no palco, de como o palco aparece para ela, por fornecer essa quantidade de informações”. Os passeios musicais do Bowie! Semana passada eu estava ouvindo um dos marcos dele dos anos 1980, aquele disco com a capa colorida, florida, o Tonight (1987). Bicho, que isso? Isso é pop pra caralho (canta Tonight).
O seu disco novo é bem conciso, pouco mais de vinte minutos. O primeiro disco, o Cuidado com pessoas como eu, também já era, eram oito músicas. Como é investir num formato menor pra um LP? As pessoas têm a tendência de ver um disco com vinte e poucos minutos e falar que é um EP, mas não é, é um LP pequeno!
Eu sou muito sintética. Até em show! Começa a não fazer sentido. Mas como eu sou um ser humano que ainda gosta de fazer álbum, que faça um sentido, que as músicas tenham uma relação auditiva, melódica, de arranjo, de tudo… Um roteiro, mas não necessariamente de letras, pode ser de música. Eu tenho muita dificuldade de aumentar,. inclusive agora eu tenho novamente um problema na mão, já que preciso fazer um show e tenho 23 minutos (de disco). Vou ter que ser coerente com esse repertório e jogar lá para o show. Vai ser um show legal porque dá para fazer até num calçada, e plugar as coisas. Só uma metáfora para ilustrar a liberdade que eu tenho com o pop rock. Não preciso de luzes, de muito cenário, posso tocar em qualquer lugar.
Como ele foi gravado? Você disse que estava começando a usar o estúdio. Foi na sua casa?
Na minha casa, 98%, eu e Dinho Zampier que tem me acompanhado. Eu e ele só mandamos as faixas pro Jam da Silva (percussão) e pro Billy Brandão (guitarra e violão), que mandaram de volta. Bateria é tudo eletrônico. O Jair Donato mixou tudo perfeitamente. Foi tudo gravado no quarto da minha mãe! Ela nunca vem para cá e acabei ocupando o quarto. Montei o equipamento e usei a velha fórmula de botar colchão nas portas e cantar.
Você é daí de Alagoas e veio para o Rio? Qual sua relação com Alagoas?
Eu nasci em Porto Alegre, mas com 9 anos vim para Alagoas com minha família porque meu pai se mudou para cá para abrir um negócio. Eu fiquei aqui dos 9 aos 18. Aos 18 fui para o Rio, fiquei uns 26 anos aí. Meu pai teve problemas de saúde, que culminaram na sua partida. E fiquei por aqui. Sou filha única, fiquei por aqui. Minha residência fixa é aqui, onde estão meus cachorros. Quando dá, vou três, quatro, cinco vezes por ano pro Rio. Mas não tenho mais casa aí.
E como foi voltar a Alagoas e experimentar uma cena nova? Você mantinha contato com músicos daí?
Não, nada, nada. Cheguei e fui descobrindo, Um amigo jornalista, Fernando Coelho. que também é baterista, e sugeriu de montar uma banda aqui. E aqui tinha o Wado, também. A formação musical dele é aqui. Fui me juntando com essa galera. Agora tem uma cena bacana, os jovens tão fazendo coisa pra caramba. Essa geração entre 20 e 35 anos… Eles têm uma produção bem legal. Quando eu cheguei era um pouco menor. Parece que teve uma cena muito boa aqui durante os anos 1980, mas nessa época eu estava aí (no Rio). Então essa galera dos anos 1980, que as bandas foram se desfazendo, eu fui juntando e é minha tchurma daqui. Mas sempre tem meus queridinhos, que eu chamo para os discos. Reúno, faço ponte aérea.
Seu primeiro disco, Cuidado com pessoas como eu, faz 25 anos em 2022. Quais são suas lembranças daquela época?
25 anos? Gente, eu preciso que esse disco saia de novo! Eu não sabia disso. Eu preciso que ele vá pro Spotify, vou fazer isso. Ele se perdeu, só saiu em CD. Só dá para reproduzir a partir disso. Uma coisa meio louca, que ficou lá dentro daquelas fitas de rolo da Universal.
Foi uma época de transição interessante, porque eu saí do Sex Beatles e a Marina Lima me ligou e falou: “Quero que você seja a pessoa que vai inaugurar meu selo”. Era o Fullgás, que era o selo da Marina, que acabou sendo mais fugaz do que fullgás, já que só teve esse disco… Se não me engano foi uma coisa contratual dela com a Universal, de querer ter um selo, mas os tempos não permitiram que a coisa continuasse. Uma pena, porque a Marina é fantástica. Me deu muita força, não só por ser ela e por ter me abraçado ali. Me ensinou muita coisa naquele momento.
O que você aprendeu com ela?
Aprendi a me apropriar. Ela e o (produtor e músico) Nilo Romero me ensinaram isso, a me apropriar, a me aprofundar. Mesmo eu não sendo uma instrumentista da categoria altíssima da Marina, a não ficar ali só de diva que canta. Entender de tudo, entender de mim, entender o que está acontecendo, dar minha cara para as coisas. A colocar personalidade em tudo, principalmente isso. Ela me ensinou muito isso, a estar presente. Porque naquele momento era tudo glamour: “ah, Sex Beatles, e agora Cuidado com pessoas como eu, uma gravadora!”. Não, minha filha, é trabalho! Vai aprender a trabalhar! Enfim, me ensinaram a trabalhar (rindo).
E o que você tem ouvido ultimamente? Às vezes fico fuçando o que você ouve no Spotify e tem muita coisa de clássico, muita coisa experimental…
Bastante coisa experimental, clássica… Ricardo, isso me acalma. Eu sou uma pessoa nervosa. Eu posso estar no palco cantando rock, mas o tempo todo eu fico nervosa. Escuto muito música erudita, já tive um programa de rádio sobre isso… Tenho ouvido um cara chamado César Lacerda, que toca música brasileira, o cara é mineiro, tem umas harmonias lindas.
Nunca fui disso e não é birra minha, mas é difícil que uma unanimidade pop me agrade tanto quanto essa menina Marina Sena. Estou amando o som dela. Gosto do Helio Flanders, do Vanguart, da Letrux… Eu gosto de um cara muito louco chamado Madblush, ele é completamente Bowie. É gaúcho, até falo no nome dele no masculino porque perguntei para ele sobre isso. As letras são ótimas, os clipes, uma pérola pop. É meu pop mais louco ultimamente.
Lançamentos
Radar: Vivendo do Ócio, Anacrônicos, Julieta Social, Saturno Express, Duo Repicado, Fenícia, Insubordinados

Mais uma semana começa e, com ela, nossa seleção do Radar – dessa vez dando atenção aos lançamentos nacionais, unindo veteranos (Vivendo do Ócio) e gente que está lançando o primeiro clipe, ou está perto de lançar o primeiro EP ou o primeiro álbum. Ouça tudo no volume máximo!
Texto: Ricardo Schott – Foto Vivendo do Ócio e Paulo Miklos: Vic Zacconi, Juliana Von Ammon, Lucas Seixas/Divulgação
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VIVENDO DO ÓCIO feat PAULO MIKLOS, “BAILA COMIGO”. O grupo baiano volta com sua nova música, e com um convidado tão especial que, mais do que tudo, a música parece ter sido composta especialmente para ele soltar a voz. Baila comigo tem os vocais de Paulo Miklos e é uma música que, talvez não por acaso, tem uma baita cara de Titãs (ex-banda do Paulo, você deve saber).
Além da banda paulistana, o Vivendo diz que nomes como Chaka Khan e Tim Maia também influenciaram a faixa – um balanço meio indie-rock, meio pós-disco, de altas energias e linhas vocais quase faladas. A letra da canção, por sua vez, avisa que é pra seguir em frente, confiar e respeitar o processo.
ANACRÔNICOS, “FEBRE AMARELA”. Banda formada por amigos de infância é outra coisa: Mauricio Hildebrandt (voz e guitarra), Bernardo Palmeiro (guitarra e voz), José Sepúlveda (baixo e voz) e Pedro Serra (bateria) têm histórias que se cruzam desde que eram crianças e brincavam de Beatles, ou de tocar bateria usando panelas e caixas (no caso de Pedro).
Todos mantiveram a amizade e duas décadas depois de se conhecerem, formaram o Anacrônicos, banda que já tem um EP lançado em 2023 e retorna agora com o single gozador Febre amarela, uma mistura de Kinks, grunge, glam rock, funk (graças ao grito “febre amarela!” e ao verso “sai, mosquitinho, sa-sa-sai, mosquitinho!”) e zoeira psicodélica. Em setembro sai mais um EP.
JULIETA SOCIAL, “CASOS DE COLÔMBIA”. Com influência assumida de Radiohead e Chico Buarque, a faixa Casos de Colômbia mistura também emanações de Arctic Monkeys e guitarras em clima de blues pós-punk. A faixa dá o pontapé inicial numa série de lançamentos novos da Julieta Social, uma banda que aposta na criação colaborativa e no encontro entre trajetórias diversas.
Com produção de Rubens Adati e participação vocal de Mariana Estol, a música mete o dedo na ferida das expectativas que, muitas vezes, não representam nada (“nunca que você vai encontrar dentro do armário / algo lendário, é tudo vestuário / sabe aquela luz que a gente vê de madrugada / é quase nada, mas satisfaz a alma”, diz a letra). O clipe, dirigido por Ignácio Fariña, é puro mistério noturno e urbano.
SATURNO EXPRESS, “CONTATOS IMEDIATOS”. Prestes a lançar o álbum Tenho sonhos elétricos, o duo Saturno Express — formado na pandemia por Mariah Rodrigues e Breno Ferrari — aposta em um synthpop “espacial” e cintilante, cheio de ecos de jazz e Clube da Esquina. Um som que te leve direto para uma praia no espaço sideral (mesmo que isso, tecnicamente, não exista). Como cantam em Contatos imediatos, “não custa sonhar”.
DUO REPICADO, “SOL DA CASTANHA”. Primeira faixa do EP de estreia do Duo Repicado, Sol da castanha é um passeio vibrante e delicado por paisagens sonoras brasileiras. Nos quatro minutos da música, Carol Panesi (violino) e Fábio Leal (guitarra) – só os dois, sem mais nenhum outro instrumento – costuram forró, blues, rock e células de reggae com improviso e leveza. A faixa mostra o espírito da parceria: liberdade criativa, diálogo musical e paixão pelos ritmos do Brasil. Tudo com aquele tempero universal herdado da escola de Hermeto Pascoal, de quem os dois são discípulos.
FENÍCIA, “SÃO 2:03 (NEM TÃO COLORIDA)”/”MEU BEM”. Vindo da cidade de Descalvado (SP), o Fenícia investe num som que lembra bastante o romantismo do indie rock nacional dos anos 2000, com riffs melódicos de guitarra e variações rítmicas. O grupo prepara um EP novo para breve e une violões, guitarras, variações rítmicas, emoções e lembranças em São 2:03 e Meu bem, os singles mais recentes.
INSUBORDINADOS, “TRINTA E UM DIAS”. Pior que às vezes são só 30 dias, ou menos: nem sempre o salário dura um mês inteiro. Esse é o ponto de partida do novo single da banda punk Insubordinados, que transforma a quebra do orçamento – mercado, ônibus, cinema, boteco e por aí vai – em hardcore direto e sem rodeios. Vindos de Curitiba, os Insubordinados misturam punk com folk, ska e outros temperos. Trinta e um dias é o primeiro lançamento do grupo desde 2022 e chega pela gravadora Balbúrdia Records.
Lançamentos
Radar: Lemonheads, Jordan Maye, Leisure, Tenise Marie, Nastyjoe, Jehnny Beth, Billy Ray Norris

Totalmente à vontade no Brasil, Evan Dando volta com os Lemonheads, lança mais um single e anuncia álbum novo para breve – e ele abre o último Radar da semana, com lançamentos internacionais. Evan também puxa uma lista de músicas repleta de questionamentos existenciais e vivências, para ouvir e pensar na vida. Sempre no último volume.
Texto: Ricardo Schott – Foto Lemonheads: Divulgação.
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THE LEMONHEADS, “IN THE MARGIN”. O Brasil teve grande responsabilidade nas mudanças recentes da vida de Evan Dando, líder dos Lemonheads (ele está radicado por aqui agora, como é público e notório). Love chant, próximo disco do grupo – o primeiro em quase duas décadas – está programado para sair pela Fire Records em 24 de outubro, e foi gravado em parte no Brasil, com produção do multi-instrumentista brasileiro Apollo Nove.
In the margin, o novo single, é uma faixa repleta de riffs, do começo ao fim – uma preferência do próprio Evan, que teve como parceira a compositora e cantora Marciana Jones. “É tipo uma canção de vingança de uma garota da oitava série: ‘Estupidamente deixei os planos de fuga de fora para que pudessem encontrar meu caminho'”, conta. Aliás, o disco novo vai surgir quase ao lado de Rumours of my demise, seu livro de memórias, previsto para sair dia 6 de novembro.
JORDAN MAYE, “TEAR IT DOWN”. Musicista trans de Los Angeles, Jordan é uma artista do punk que começou inspirada pelo rock clássico (“era o que meu pai ouvia”, lembra) e que hoje une guitarras pesadas, climas musicais herdados de Bob Dylan e angústia existencial evocando Buzzcocks e Social Distortion em seu novo single, Tear it down. Uma canção confessional sobre como o “deixar ir” pode ser terapêutico, às vezes. O som é dividido em partes: abre com violão e voz, parte para a ação punk propriamente dita, e lá pelas tantas ganha um segmento entre o punk e o power pop, com palmas e clima levemente beatle.
LEISURE, “MISSING YOU”. Coletivo musical da Nova Zelândia que cruza soul, rock e pop com leveza e sofisticação, o Leisure prepara o lançamento do disco Welcome to the mood para 12 de setembro. O novo single, Missing you, ganhou um clipe gravado ao vivo no Taliesin West, no Arizona — marco arquitetônico criado por Frank Lloyd Wright (1867-1959). A escolha do local tem tudo a ver com o conceito do grupo: dialogar com a ideia de futurismo nostálgico, que Wright já ensaiava nos anos 1930 ao projetar construções que ainda hoje parecem modernas.
TENISE MARIE, “OFF THE RECORD”. Nascida no Iraque e criada na comunidade de Argenta, na Colúmbia Britânica, Tenise lança o álbum Off the record em 11 de julho – e o disco veio de uma viagem à sua terra natal, e do encontro com suas raízes. Tenise se animou para falar de temas como vulnerabilidades, dualidades, aceitação dos problemas da vida, belezas que encontra pelo caminho e outras coisas.
A cândida faixa-título do disco aborda esse reencontro de Tenise, em versos como “foi difícil respirar / minhas cicatrizes são profundas”, e na certeza de que o melhor nem sempre é documentado, mas fica na memória. “Por ter uma herança mista, muitas vezes me senti à margem, puxada em quatro direções diferentes, querendo pertencer a algum lugar. Minha mãe foi adotada e, enquanto ela corajosamente buscava sua família biológica, crescemos desconectadas da nossa cultura materna. Foi ela quem me ensinou o valor da identidade”, conta.
NASTYJOE, “STRANGE PLACE”. Pós-punk ao extremo, e voltado para a mesma cena musical que rendeu bandas como Shame e Fontaines DC, esse grupo francês já tem um EP de estreia e está agora preparando material para o primeiro álbum. Enquanto o disco cheio não sai, tem o clipe de Strange place, uma música confessional sobre um caso amoroso tóxico e destrutivo que vai causando esgotamento – e do qual, mesmo assim, parece impossível escapar (o fim do clipe, aliás, é triste). Além dos grupos mais novos, dá para perceber que o Nastyjoe ama bandas veteranas como The Cure e Buzzcocks, que são a cara do som deles.
JEHNNY BETH, “OBSESSION”. “Imagine Tricky e Jonathan Davis fazendo uma música com Adam Jones, do Tool! Pelo menos na minha cabeça!”. É dessa forma que Jehnny Beth, vocalista da banda Savages, anuncia seu novo single, Obsession – faixa que, por sinal, anuncia seu próximo álbum solo You heartbreaker, you, previsto para 29 de agosto. A música, uma parceria dela com o produtor Johnny Hostile, é brabeira de verdade, explorando obsessões amorosa em clima sombrio e industrial (“estou só desesperada para saber quando ficaremos juntos / não diga nunca! / ei, você / eu te amo, seu heartbreaker!”, diz a letra). “O verso ‘you heartbreaker, you’ deu o título ao álbum, mas, mais do que isso, a música deu o tom ao álbum”, conta ela.
BILLY RAY NORRIS, “I BELIEVE”. Compositor norte-americano ligado ao country, Billy une estruturas de jazz e temas como superação e buscas pessoais em I believe. A letra foi escrita a partir de suas experiências pessoais, que incluíram situações em que ele esteve no limite e precisou tomar decisões bem rápidas. A faixa mistura elementos de pop suave, espiritualidade e uma pegada introspectiva.
Lançamentos
Radar: Dingo, Fernanda Coelho, Júca, Supercombo, Pablo Lanzoni, Fuz Aka, Maria Esmeralda

Sei lá o que os algoritmos andam falando por aí – o Pop Fantasma está a fim, na maior parte do tempo, de música nova. E de gente que está fazendo coisas novas com a música. O Radar nacional de hoje parte do groove reflexivo do Dingo, passa por uniões de piseiro e metal (!) e até pelo forró percussivo e eletrônico. Ouça em alto volume.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Gustavo Vargas/Divulgação (Dingo)
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DINGO, “DÚVIDAS”. O quarteto gaúcho Dingo (ex-Dingo Bells) voltou a lançar material inédito após três anos com Dúvidas, um single de indie pop que mergulha na fonte da disco music setentista – mais um exemplo das vibes retrô que surgem no pop alternativo. A faixa tem brilho, groove e reflexão: fala sobre o caos de escolhas e estímulos do presente, tudo isso com batida pulsante. A música antecipa as comemorações de dez anos do disco Maravilhas da vida moderna e ganhou clipe dirigido por Gustavo Vargas.
FERNANDA COELHO, “CLAREIA”. Fernanda transforma em música e imagem a ponte entre São Paulo e Tóquio em Clareia, faixa de seu álbum 5 minutos. O clipe da faixa foi gravado no Japão, após um convite inesperado do dono de um estúdio durante uma viagem em 2014, que acabou rendendo também a gravação de um álbum. A música nasce do olhar curioso da artista sobre os espaços escondidos e históricos de São Paulo, enquanto o vídeo mostra as ruas geladas de Tóquio.
“Era inverno e em alguns momentos a minha roupa não segurava muito o frio. E como gravamos com esse efeito de imagens aceleradas, eu tinha que ficar imóvel por muitas horas… aí teve um momento em que eu estava congelando mesmo”, brinca. Mas sem estresse: clipe belo e música igualmente bela e tranquila.
JÚCA, “FOGO”. Single lançado no ano passado, Fogo chega agora ao YouTube no formato clipe, valorizando a sonoridade introvertida da música. Dirigido por Yasmin Sanches e pelo próprio Júca, o vídeo foi feito no Arpoador (Ipanema, Rio de Janeiro) nas primeiras horas do dia, e utiliza várias performances de dança para trabalhar com a ideia de resistência e reinvenção. O próprio “fogo” da letra, diz Júca, tem a ver com os rituais de transformação. “Essa tensão entre continuar e transformar é o que move a música”, explica ele, que prepara um álbum para este ano.
SUPERCOMBO, “PISEIRO BLACK SABBATH”. A Supercombo abre os caminhos para seu disco novo com esse single, um cruzamento inusitado (e bem-humorado) entre rock pauleira e piseiro. Com clima de jam ao vivo e letra sobre metaleiros que curtem uma praia e um bailão, a faixa mostra o espírito livre do novo álbum do grupo, que sai em 15 de agosto. O som é intenso, divertido e cheio de referências brasileiras – prova de que a banda está mais aberta do que nunca a experimentar e brincar com seu próprio universo sonoro. E já tem clipe, com a banda de preto curtindo uma praia em p&b, até que…
PABLO LANZONI, “PORTO”. “Salve a cidade! Minha gente vive aí”, diz Pablo em sua nova música, uma balada climática falando da urbanidade e da paisagem de Porto Alegre, sem deixar de observar os problemas vividos recentemente pela capital gaúcha.
Porto foi uma das últimas faixas compostas para Aviso de não lugar, novo álbum que está programado para agosto. E foi escrita enquanto Pablo acompanhava “as notícias sobre uma disputa judicial envolvendo a proposta de construção de um prédio de cerca de quarenta andares ao lado de um importante museu da cidade — projeto que avançava sem estudo de impacto de vizinhança e sem manifestação dos órgãos de proteção do patrimônio histórico”, conta.
FUZ AKA feat EDGAR, “SAIDERA”. Com uma sonoridade marcada pelo forró eletrônico, a dupla formada por Ricardo Mingardi (Kazvmba) e Fernando Barroso merece ser olhada e ouvida com calma – o som nordestino e eletrônico deles une forró e estilos como afrobeat, dancehall, trap, funk e hip hop, e soa como uma renovação de sons como o mangue beat. Saidera, o single mais recente, saiu em fevereiro com participação de Edgar. Entre rabecas e beats, a ideia da dupla é falar sobre “identidade, memória e futuro traduzido em som, corpo e imagem”.
MARIA ESMERALDA (Thalin, Cravinhos, VCR Slim, Pirlo e iloveyoulangelo) feat DONCESÃO, “POLIESPORTIVA”. A turma que fez o disco Maria Esmeralda, lançado no ano passado, voltou ao material para fazer e lançar o clipe de Poliesportiva, uma das melhores faixas. A direção de VCR Slim aposta na estética de tela dividida em quatro, inspirada no filme indie Timecode (2000), de ampliando as camadas da história. A faixa mistura observações do dia a dia, poesia e reflexões, tudo ampliado pela participação de Doncesão. E se você não ouviu Maria Esmeralda, ouça hoje – falamos dele aqui.
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