Crítica
Ouvimos: Zé Manoel, “Coral”

- Coral é o quinto álbum do cantor e compositor pernambucano Zé Manoel, com produção de Bruno Morais. O músico baiano Luisão Pereira, que saiu de cena em março de 2024, participou da produção da faixa-título com Bruno. Pipo Pegoraro dividiu com Morais a produção da vinheta Piano fun.
- Nomes como Luedji Luna, Alessandra Leão, Liniker, Isadora Melo, Rafaela Acioli, e o arranjador Ubiratan Marques, entre outros, participam do álbum.
- “Gravar o álbum foi um processo desafiador e gratificante. Iniciado no ano passado, com pausas e retomadas, a gravação incluiu momentos notáveis, como a reinterpretação de Malaika, uma canção africana que ficou conhecida pela interpretação de Miriam Makeba e que foi adaptada para o português em colaboração com Arthur Nogueira, e a gravação de Golden com Gabriela Riley, que originou o nome inicial do álbum”, diz Zé Manoel no texto de lançamento do álbum.
Artista brasileiro de musicalidade inspirada e incomum, Zé Manoel aproveita para desafiar, em Coral, toda e qualquer ideia que ainda resta a respeito da preferência atual do público por músicas curtas e concisas. Abre logo seu novo disco com uma música em inglês, de cinco minutos, Golden, dividida com a cantora Gabriela Riley. Uma canção jazzística e pop, na qual os vocais do solista do álbum nem sequer aparecem com destaque, cedendo espaço para seu piano, para as intervenções orquestrais e para a bela voz da convidada.
Do começo ao fim, Coral segue na mesma trilha contemplativa, às vezes lembrando uma visão particular e orquestral do jazz e do soul, de seus álbuns anteriores. Só que dessa vez o músico pernambucano surge bem mais arrojado – diria-se até mais pop, embora o foco no álbum seja claramente a ampliação de universos, a beleza musical, a união de épocas diferentes num só disco, e a junção de referências. Como na bossa-soul de Canção de amor para Johnny Alf, levada adiante por guitarra, piano Rhodes e um discreto sintetizador. Ou no peso e no balanço afro-brasileiros de Iyá mesan, dividida com Alessandra Leão – e quase um desdobramento cantado do trabalho do saudoso Letieres Leite e da sua Orkestra Rumpilezz.
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Zé Manoel retoma o inglês em Above the sky, um soul que lembra uma união de Tim Maia e Azymuth (mas com os vocais tranquilos do protagonista no álbum). Divide com Liniker a composição da sofisticada balada blues Deságuo para emergir e soa quase ambient na bossa marítima Coral, um cântico marcado por notas de piano quase mântricas.
Um material que divide o álbum com canções de sonoridade pura, como Malaika (versão em português de um tema do folclore da Tanzânia, com Luedji Luna dividindo os vocais) e Siriri (adaptação de Siriri-sirirá, do pernambucano Onildo Almeida). Esses dois lados de Coral, aliás, encontram-se no equilíbrio do tema afro Menina preta de cocar – aberto com um trecho de percussão que remete ao sucesso Queixa, de Caetano Veloso. Uma MPB realmente nova.
Nota: 9
Gravadora: Independente
Crítica
Ouvimos: John Fogerty – “Legacy: The Creedence Clearwater Revival years (John’s version)”

RESENHA: John Fogerty, aos 80 anos, recupera direitos das músicas de sua ex-banda Creedence Clearwater Revival e relança vinte clássicos em versões idênticas às originais.
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Aos 80 anos, John Fogerty, ex-vocalista, guitarrista, compositor e déspota do Creedence Clearwater Revival, conseguiu ganhar finalmente todos os direitos sobre suas composições da época do grupo – sim, porque todos os hits autorais da banda foram compostos por ele. Para comemorar, o músico decidiu regravar 20 canções do CCR na base da “versão do John”.
Na prática, são substituições, e não versões. Em Legacy: The Creedence Clearwater Revival years (John’s version) Fogerty revisitou canções como Have you ever seen the rain, Born on the bayou, Proud Mary, Lodi, Who’ll stop the rain, Green river e Fortunate son em leituras quase 100% iguais aos originais – em timbres, arranjos, detalhes e até gritos e uivos. Facilita o fato da voz de John estar igualzinha a antigamente. Detalhe: até no Bandcamp as músicas novas estão – visão, o cara tem.
- Ouvimos: The Doobie Brothers – Walk this road
- Ouvimos: Faces – Faces at the BBC: Complete BBC concert and session recordings 1970-1973
Alguma diferença do original? Bom, Long as I can see the light teve uma pequena mudança de tom, Have you ever seen the rain teve mudanças discretas nas linhas vocais do refrão, e de modo geral todas as músicas ganharam mais peso na bateria e nas guitarras – mas praticamente tudo soa como os originais dos anos 1960 e 1970 remixados ou remasterizados.
De modo geral, não é um lançamento dos mais úteis para fãs antigos – serve mais como um demarcador de independência, já que John oferece aos fãs as versões gravadas por ele. O complicado é entender como se comportar diante de um lançamento que reembala o material oldies e apenas isso. Acaba tendo mais graça ouvir os antigos álbuns do Creedence.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: Concord
Lançamento: 22 de agosto de 2025
Crítica
Ouvimos: Thistle. – “It’s nice to see you, stranger” (EP)

RESENHA: Thistle., da Inglaterra, une grunge e shoegaze em It’s nice to see you, stranger, EP coeso que ecoa Nirvana, Dinosaur Jr e My Bloody Valentine.
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Vindo de Northhampton, Inglaterra, o Thistle. (sim, existe um ponto após o nome do grupo) tem uma onda grunge + shoegaze séria no seu som – a ponto de, numa audição inicial, ser possível imaginar que a banda vem dos cafundós dos Estados Unidos. Num papo com a newsletter First Revival, eles citam o Nirvana como sua banda grunge favorita, e um dos integrantes diz não ter se entusiasmado especialmente com o shoegaze quando descobriu o estilo.
Um outro detalhe sobre o EP It’s nice to see you, stranger é que o grupo precisou de quase um ano para gravá-lo, já que cada integrante tem seu trabalho e ninguém pediu folgas. “Por isso é que ele é um EP, e não um álbum”, afirmam. Soa estranho descobrir isso, já que as cinco faixas do disco têm peso, coesão e emanações que vão de Nirvana e Dinosaur Jr a Idlewild e The Cure. Cobble/mind funde barulho, melodia e vocais doces, enterrados na música. A faixa-título volta aos anos 1990 e faz lembrar My Bloody Valentine e Sonic Youth. Fleur rouge abusa da beleza triste, com guitarras melódicas e passagens bem ruidosas, do meio para o fim.
No final, o Thistle. adere a um punk repleto de guitarras emparedadas e sensações turvas, em Holy hill, e faz a melhor fusão grungegaze do EP, com Wishing coin. Ouça.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Venn Records
Lançamento: 4 de julho de 2025.
- Ouvimos: Water From Your Eyes – It’s a beautiful place
- Ouvimos: Superchunk – Songs in the key of yikes
Crítica
Ouvimos: Camaelônica – “Eletrotropical”

RESENHA: Camaleônica mistura samba, rock, macumba e psicodelia em Eletrotropical, disco pesado e cheio de invocações.
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“Rock, macumba e samba”, trio de referências que embandeira o som do Camaleônica, pode querer dizer muita coisa – pode afirmar inclusive que a banda apenas revisita sons dos anos 1990 (Planet Hemp, Chico Science, O Rappa) e mais nada. Eletrotropical, primeiro disco de Felipe Dantas e Fernando Reis – os dois do grupo-dupla – faz qualquer ideia preconcebida cair por terra quando se percebe que a vocação do grupo é para um experimentalismo que faz tudo soar bem palpável e pesado no som deles.
A música de Felipe e Fernando soa mais como um retropicalismo pesado e turbinado, que une samba, umbanda e rock psicodélico na faixa-título, além de jazz, rock e afrosambas em Capoeira. Rola uma mescla de samba, reggae e grunge em Maravilhoso e Caprichoso. Nessa última, a percussão é forte e os tambores são tocados com raiva. E falando nisso, Língua e revolta é axé, MPB e ódio pulsando contra apagamentos históricos (“quem é você pra me dizer aqui / que eu não sou ninguém?”).
Muito de Eletrotropical são invocações – canções em que melodia, letra, percussão e indignação (e guitarras) unem-se quase numa mesma massa. No samba psicodélico e pesado de Boa noite, por exemplo, coaches, big techs e exploradores do trabalho alheio são cozidos no mesmo caldeirão a partir de raízes e histórias (“toda malandragem será perdoada/ tudo que delira, toda vadiagem”). Geral abre com vocal solitário pedindo “muita luz, saúde e axé pra geral”, e vai seguindo com tristeza herdada do blues, guitarras e percussões.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Fliperama Lab
Lançamento: 27 de junho de 2025.
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