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Crítica

Ouvimos: The Backfires, “This is not an exit”

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Ouvimos: The Backfires, "This is not an exit"

Depois de um início dos anos 2000 dominado por sons acústicos e mais contidos, além das bandas da geração pós-britpop, o rock britânico mergulhou de vez no universo indie. Foi nessa onda que surgiram nomes como Arctic Monkeys, Kaiser Chiefs e Franz Ferdinand — enquanto o Coldplay, por sua vez, deixava de ser apenas uma banda para se tornar um fenômeno de cujo ecumenismo ninguém escapava. The Backfires, que impressiona pela agilidade musical e pelo charme sonoro, estreia com This is not a exit e se revela herdeiro direto dessa geração.

O quarteto formado por Alex Gomez (voz, guitarra), Harry Ruprecht (guitarra solo), Matt Walter (baixo) e Max Wanduragala (bateria) carrega no DNA a mistura que deu vida ao indie rock dos anos 2000: metade da banda é inglesa, metade americana. Dessa fusão transatlântica nascem faixas como Brighter lights, que combina a pegada eletrônica e retrô dos Strokes em The new abnormal (2020) com vocais que evocam um Depeche Mode mais ágil. Never seen you before surpreende com suas palhetadas de guitarra e baixo dialogando com uma bateria que soa como um Joy Division mais suingado.

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O álbum transita entre referências de glam rock, punk e power pop. Dressed for a funeral e Matador remetem ao clima dançante do primeiro disco do Franz Ferdinand, enquanto I know you know traz uma aura quase gótica. Figure it out resgata um espírito beatlemaníaco, e Aphrodite carrega a sofisticação melódica herdada do britpop. A faixa-título, que encerra o disco, mistura pós-grunge e power pop, sustentada pelo baixo e pela bateria até culminar em uma explosão sonora — um momento em que os Backfires entregam o som que os Foo Fighters deveriam estar fazendo hoje. No fim, This is not an exit prova que o rock de vinte anos atrás já se consolidou como um novo clássico.

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 24 de janeiro de 2025

Crítica

Ouvimos: The Cure – “Mixes of a lost world”

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Ouvimos: The Cure - "Mixes of a lost world"

RESENHA: O novo disco de remixes do The Cure, Mixes of a lost world, tem ótimos momentos e surpresas, mas com 2h30 de duração, exige paciência e fôlego.

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Só avisando, de início: o novo disco de remixes do The Cure, Mixes of a lost world – que remexe no sorumbático e meditabundo Songs of a lost world, lançado pela banda no ano passado – é uma audição que vai tomar duas horas e meia do seu dia. “Tudo bem, eu ouço treinando, lavando cuecas, passando roupa ou dando um trato na louça”, você pode me responder.

Não é a melhor maneira de ouvir um disco, enfim. Mas lançar um compilado de remixes é o modo mais, digamos, “familiar” que Robert Smith encontrou para esticar a vida útil de Songs, um álbum que fez sucesso quando saiu – e já havia ganhado uma edição deluxe com disco ao vivo. Afinal, o Cure já havia se saído muitíssimo bem com Mixed up, de 1990, que trouxe novos públicos para o grupo (tem ainda Torn down, de 2018, segundo disco de remixes, feito para o Record Store Day e pouco lembrado).

  • Quando Jimmy Page e Robert Plant cantaram The Cure.
  • Ué, e o Dinosaur Jr, que gravou The Cure e Peter Frampton?
  • E o aniversário de Standing on a beach, do The Cure?
  • Vocês têm noção de que o tema do Roda Viva de 1985 a 1994 era… The Cure?

A pergunta é: faz sentido repetir a dose com um disco em que Robert Smith basicamente anuncia o fim iminente do mundo e de si mesmo? Sim e não. Sim, porque mais de um milhão de ouvintes no Spotify já correram para os ótimos remixes lançados previamente, como o retrabalho do Four Tet em Alone e a versão de Chino Moreno (Deftones) para Warsong.

E não, porque são duas horas e meia de som – e é remix demais. Muitos deles confundem experimentação com chatice, como All I ever am, com Meera. Quem não ouviu o disco original talvez nem se anime a procurar. A boa notícia é que há surpresas: o remix desértico de Omid 16B em Warsong, o brilho inesperado de Cosmodelica em Nothing is forever e a reconstrução post-rock de Endsong pelo Mogwai.

Mais: o Joycute extrai algo do The Cure de Disintegration (1989) de Drone: nodrone e Daniel Avery esculpe quase um nu-metal na mesma faixa – que já era bem pesada e eletrônica no original. No fim das contas, Mixes of a lost world é um disco que recompensa quem insiste. Mas cansa, viu?

Texto: Ricardo Schott

Nota: 6
Gravadora: Fiction/Polydor
Lançamento: 13 de junho de 2025

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Crítica

Ouvimos: King Gizzard & The Lizard Wizard – “Phantom Island”

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Ouvimos: King Gizzard & The Lizard Wizard - "Phantom Island"

RESENHA: Misturando ELO, Roy Wood e prog de rádio, Phantom Island, novo álbum de King Gizzard & The Lizard Wizard divide opiniões – mas traz faixas criativas e grooves e melodias que merecem ser descobertos.

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O King Gizzard & The Lizard Wizard, que acaba de lançar Phantom Island, é uma banda cuja situação é a mesma do Ty Segall (cujo disco mais recente, Possession, resenhamos aqui): tem sua história marcada por discos a rodo e mudanças rádpidas de direção.

No fundo – e faltou observar isso quando falamos do Ty – esse modus operandi é herdeiro da maneira como Neil Young sempre encarou sua carreira. Ou seja: os discos reproduzem meu momento, faço o que tenho vontade, fã que é fã entende minhas mudanças, quero ir para todos os lados que eu quiser, e é isso aí. Dá certo em alguns casos: Neil tem mais discos ótimos em sua discografia do que momentos entediantes, Ty idem, e o King Gizzard une discos excelentes a outros que beiram o tédio.

A julgar pelas resenhas que andam saindo de Phantom Island, o 27º (!) disco do KGLW agradou pouco. A Pitchfork falou que as faixas costumam ser “frustrantes e exageradas, mas incluem ocasionais faíscas de magia”. O brasuca Popload não se animou igualmente, lembrando que Phantom Island foi gravado nas mesmas sessões do anterior, Flight b741 (2024), e que é composto pelas músicas menos empolgantes da leva.

Olha, sei lá: Phantom Island tem mais músicas ótimas do que desperdícios de tempo, e é um disco recomendadíssimo para quem curte Electric Light Orchestra, por exemplo. Aliás, o disco se parece até mais com The Move (embrião da ELO), porque Phantom Island super tem a cara do Roy Wood, que era o geninho da banda nos primeiros tempos.

Por consequência, o disco igualmente pode interessar a fãs do Wizzard – a banda que Roy montou após sair do ELO, uma espécie de ABBA místico com músicos fantasiados de alquimistas glam, que estourou com o hit See my baby jive. E a fãs de álbuns solo de Roy como Mustard (1975). Admiradores das fases yacht rock de bandas como Gentle Giant e Grateful Dead – respectivamente os discos Giant for a day! e Shakedown Street, ambos de 1978 – também não vão se arrepender se derem uma escutadinha.

O King Gizzard larga de vez a psicodelia surrealista que marcou vários álbuns do grupo e invade a grande área do rock orquestral e do progressivo de FM. Phantom Island abre com o progressivo dançante da faixa-título, prossegue com a vibe Elton John/The Who de Deadstick, ganha batida funkeada e clima orquestral celestial em Lonely cosmos – esta, com cordas lembrando Marionette, sucesso do Mott The Hoople.

A boa tradição do prog de rádio é louvada com Eternal return, com o clima meio beatle, meio Alice Cooper de Aerodynamic e Sea of doubt, e com o balanço quase disco de Silent spirit – cujo início lembra a abertura de Sleepwalker, hit da fase norte-americana dos Kinks. Vale conferir também o groove de Panopsych, o tom Madchester de Spasesick e a vibe voadora de Grow wings and fly.

E enfim, eu se fosse você, ouvia Phantom Island correndo: poucas vezes o King Gizzard fez um disco com uma soma de referências e emanações tão bacana.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: p(doom) Records
Lançamento: 13 de junho de 2025

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Crítica

Ouvimos: Billy Nomates – “Metalhorse”

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Ouvimos: Billy Nomates - "Metalhorse"

RESENHA: Em Metalhorse, Billy Nomates transforma perdas e dor em um disco sombrio, intenso e visceral, entre o pós-punk, o glam e ecos dos Stranglers.

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Tor Maries, que assina como Billy Nomates, descobriu recentemente ser portadora de esclerose múltipla – pouco depois de perder o pai, vítima de complicações causadas pelo Mal de Parkinson. Entre essas duas pancadas da vida, ela começou a gravar seu novo disco, Metalhorse: um álbum que oscila entre o pós-punk e o glam rock, com o peso maior do lado punk. Mas nada é tão direto: logo no início, a faixa-título surpreende, abrindo caminho para um clima de café-concerto, com pianos e vocais de presença.

Atravessado por temas como morte, doença e os perrengues da existência, Metalhorse tem momentos como o tecnopop sombrio de Nothing worth winnin (“este quarto é alugado / estou de olho nas horas / diga que estou louca / como se todos estivessem bem”) e o folk enigmático de Strange gift (“a morte é um presente estranho que você não queria / alguém te entrega isso”). A angústia noventista e os timbres oitentistas se cruzam em The test, no pós-punk seco de Override e no eletrônico nervoso de Gas, faixa que passeia entre o country e o hard rock com vocais cheios de veneno.

  • Stranglers avacalhando uma dublagem do hit No more heroes na TV holandesa
  • Ouvimos: Ty Segall – Possession
  • Ouvimos: Raveonettes – PE’AHI II

Hugh Cornwell, ex-vocalista dos Stranglers, aparece na sombria Dark horse friend, selando de vez a influência do lado mais sinistro da clássica banda britânica no som de Billy Nomates – que nos primeiros discos flertava mis com o tecnopop, mas aqui mira em terrenos mais obscuros. O fantasma dos Stranglers também ronda Comedic timing, música sobre como o mundo muda quando a gente muda (e nem sempre para melhor), com ecos de ironia e mistério.

O título Metalhorse alude a forças estranhas e incontroláveis, e esse mesmo espírito atravessa Plans e Moon explodes, que ficam entre o punk e a new wave, além da vinheta Life’s unfair, que junta blues e jazz com atmosfera de fim de festa. Intenso, imprevisível e rasgado de dor, Metalhorse é o trabalho mais sombrio e poderoso da carreira de Billy Nomates – e também o mais visceral.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Invada Records
Lançamento: 16 de maio de 2025

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