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Crítica

Ouvimos: Sofie Royer, “Young-girl forever”

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Ouvimos: Sofie Royer, “Young-girl forever”
  • Young-girl forever é o terceiro álbum da cantora e compositora Sofie Royer, de origem austríaca e iraniana. Ela canta e compõe em inglês, francês e alemão e, para o novo álbum, inspirou-se em um escrito anarquista francês, Preliminary materials for a theory of the young-girl, que fala da mercantilização da ingenuidade das meninas e mulheres jovens.
  • “O livro meio que veio a mim em um momento em que eu estava tentando encontrar o título do disco, e eu diria que ele foi apenas uma espécie de fio condutor que eu sinto que uniu alguns dos temas do álbum. Mas não há nenhuma mensagem ou agenda necessariamente na minha produção artística. É mais como se eu quisesse dar ao ouvinte blocos de construção para que eles possam criar o que a mensagem é para eles”, disse à Genius.
  • O violino na capa do disco é um dos instrumentos que Sofie toca – ela estudou no conservatório de Viena quando adolescente. Antes de encarar a carreira solo, ela foi DJ e foi executiva da Stones Throw, selo onde ela grava hoje.

Discos como Young-girl forever, novo álbum de Sofie Royer, parecem ter sido feitos com outros tempos em mente. A Europa evocada pelo design musical do álbum aponta para Serge Gainsbourg, Jane Birkin, Ultravox, ABBA, Roxy Music, Orchestral Manoeuvres In The Dark – e as influências de rock norte-americano passam por Go-Go’s, Todd Rundgren, yacht rock e as indefectíveis referências de Fleetwood Mac da fase Rumours (1977).

Conseguir fazer tudo isso, e evocar tudo isso sem soar saudosista (e vale informar que Sofie tem 33 anos, apenas) é uma tarefa daquelas. Mas rolou bem em Young-girl forever, um disco que basicamente fala sobre crises dos 30, em meio a estresses, mercado musical, machismo e gente que insiste em enxergar você como se tivesse 15 anos de idade. Tipo em I forget (I’m so young), mistura tecladeira de ABBA, Erasure e Human League, que prega “eu sou tão jovem/jovem para sempre mas também estou morrendo/o brinquedo na minha mão me envelhece enquanto durmo”.

O som do disco aponta para outros lados também: tem o blues + rock + pop de Lights out baby, entropy!, com uma guitarra na abertura que lembra Gary Moore (sério) e o tom disco music de Sage comme une image, com letra em francês, guitarra funky e sonoridade lembrando uma mistura de Serge Gainsbourg e Good times, do Chic (!). Mas dá para falar de Young-girl elencando o quanto Sofie deseja se parecer com Queen + ABBA (na ótima Nichts neues im westen, cantada com vocal grave a la Nico), o quanto ela quer soar como o lado synth pop de uma banda de rock (Babydoll e Keep running, cujo subtítulo é Sebastian in dreams) e o quanto o novo álbum une referências quase de brincadeira, criando um universo pop particular como se fosse uma mixtape pessoal de Sofie que virou disco.

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Young-girl forever foi inspirado no escrito anarquista Preliminary materials for a theory of the young-girl, que transforma a garota jovem em objeto de pesquisa à luz do capitalismo e diz que a ela só é permitido “seduzir consumindo”. O tema surge comentado de forma irônica e brincalhona em vários momentos do álbum, quase sempre zoando com um eterno jogo de expectativa e realidade, como em Saturday nite (“todos estão se divertindo/mas não o tipo de diversão que eu quero”) ou na sarcástica Lights out baby, entropy! (“em todo lugar há dois portões, um para o paraíso e outro para o inferno/na maioria das vezes não passamos por nenhum dos dois”).

A new wave anos 1980 Young-girl (Illusion) solta versos como “não mexa com uma garota que usa pele de coelho/eu posso garantir que essa vadia não tem mais nada a perder” e “jovem garota, não chore/você não sabia que garotas jovens só sorriem?”. É a vida bem longe do Instagram, enfim.

Nota: 8,5
Gravadora: Stones Throw

Crítica

Ouvimos: Davido – “5ive”

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Com clima de verão, 5ive mostra Davido misturando tendências do afropop em um disco ambicioso e cheio de possíveis hits - mas precisava mesmo fazer um feat com Chris Brown?

RESENHA: Com clima de verão, 5ive mostra Davido misturando tendências do afropop em um disco ambicioso e cheio de possíveis hits – mas precisava mesmo fazer um feat com Chris Brown?

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Aquele clima de praia, azaração (ainda se diz isso?), gente bonita e você, portando um drinque com guarda-chuvinha e usando uma camisa de botão no estilo do Magnum. Provavelmente é o que vai ficar na sua mente enquanto você ouve 5ive, quinto disco do popstar norte-americano de ascendência nigeriana David Adedeji Adeleke, ou simplesmente Davido.

Com um número enorme de convidados e um passeio por uma gama de estilos que pode ser definida como afropop (mas abarca reggaeton, trap, kuduro, pop latino, o africano highlife, etc), Davido é um cara cascudo e autoconfiante – a ponto de abrir seu álbum novo com uma vinheta orquestrada e narrada na qual se compara ao Davi da batalha bíblica com o gigante Golias. O repertório de 5ive mistura gastação de onda típica do trap, vibes afrolatinas e, volta e meia, temas de amor, sexo e territórios dominados.

É o que rola em faixas como Anything, Offa me (com Victoria Monet), R&B (que une o estilo ao trap) e Awuke – essa última, uma parceria com YG Marley, o filho de Lauryn Hill e Rohan Marley, e neto de Bob Marley, e uma das músicas em que Davido mostra influências do amapiano, um combinado de estilos e misturas musicais vindo da África do Sul. Essas mesclas dominam também faixas como Lover boy (com os franceses Tayc e Dadju) e With you (com Omah Lay), duas músicas que surgem no finalzinho do disco, e que dariam bons hits no Brasil.

Isso porque algumas coisas de 5ive são, digamos, análogas a muita coisa já testada e aprovada por aqui – só que vêm com uma cara bem diferente. A ótima Lately poderia ser gravada pela Shakira, e Tek (com Becky G), ganha um ar de lambada, e é aberta por um riff de sax que parece um corte feito a gilete no saxofone de Careless whispers, de George Michael. Indica que Davido, provavelmente, em algum momento, pode acabar estourando por aqui. E esse número enorme de convidados, claro, já é um esforço para chegar nos fandoms mais variados, o que também indica que, em algum momento, pode rolar um feat com algum nome brasileiro (Ivete Sangalo, não, pelo amor de deus).

A vontade de variar os feats acabou fazendo alguém da produção de 5ive, talvez o próprio Davido, viajar feio na maionese. O canceladaço Chris Brown surge soltando (mal) a voz em Titanium, uma música nota 2 do disco, e faz vir à mente a pergunta: “quem pediu isso?”. Em compensação, no animado afropop Funds, Davido dá espaço a dois nomes do pop nigeriano, Odumodublvck e Chike, e ele mesmo acaba servindo de ponte para que o afropop surja no mercado norte-americano diretíssimo da fonte. Mesmo com a irregularidade típica dos enormes discos pop de hoje em dia, 5ive vem com cara de território dominado.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: DMW/Columbia
Lançamento: 18 de abril de 2025.

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Ouvimos: 43duo – “Sã verdade” (EP)

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O 43duo mistura pós-punk e psicodelia com naturalidade no EP Sã verdade, unindo grooves, ecos 60s/80s e letras poéticas e instintivas.

RESENHA: O 43duo mistura pós-punk e psicodelia com naturalidade no EP Sã verdade, unindo grooves, ecos 60s/80s e letras poéticas e instintivas.

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O 43duo é uma dupla-banda de Paranavaí (PR) que toca de maneira bem peculiar: enquanto Hugo Ubaldo faz guitarras circulares, assemelhadas a loops de fita, Luana Santana toca teclados – inclusive synth bass – e bateria ao mesmo tempo (haja coordenação motora!). E os dois dividem os vocais. Com influências assumidas de Tame Impala, Boogarins, The White Stripes e Pink Floyd, mostram no EP Sã verdade uma mescla quase natural de pós-punk e psicodelia, buscando climas e timbres que aludam tanto a The Who, Kinks e Beatles quanto a Echo and The Bunnymen.

A faixa-título abre com um ataque de guitarra e bateria bastante sessentista, mas que logo vai buscando lugar no lado mais garageiro e profundo do rock britânico oitentista – com psicodelia vaporosa e delicada, algum peso, uma guitarra meio The Edge, meio blues-rock e final viajante. Sal e sina tem base forte, som que ocupa espaços e união de sons cavalares e brasilidades. Navio de sonhos une mod rock e vibrações sombrias num espaço repleto de eco e trevas – muito embora as letras do 43duo sejam poéticas e até naturalistas.

Essa sonoridade ganha contornos mágicos na voadora Guabiruba pt. II, um dream pop sobre as mutações do mundo e a força da natureza, unindo punk garageiro e ritmos nacionais. A balançada Cabeça vazia (Chuva cinza) lembra uma versão groovada dos Mutantes e do Som Imaginário. Concreto, aberta por clima desértico, soa quase stoner, lascada, lisérgica no arranjo, punk na execução, enquanto Lispector é um pós-punk com discreta cara beatle.

Uma das principais características do 43duo é que o som deles não parece vir de uma enorme esquentação de mufa. A sonoridade e o clima das letras parecem vir de uma mistura natural, e de uma voz pessoal como compositores e músicos adquirida em ensaios e reuniões de criação. Sã verdade – uma brincadeira poética com a “pós-verdade”, como se fosse o oposto dela – consegue parecer confortável e desafiador ao mesmo tempo, e conquista os ouvidos por causa disso.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 12 de junho de 2025

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Crítica

Ouvimos: Beto – “Matriz infinita do sonho”

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Ouvimos: Beto - "Matriz infinita do sonho"

RESENHA: Em Matriz infinita do sonho, Beto cria uma MPB psicodélica e cinematográfica, misturando rock, ritmos afro-brasileiros e espiritualidade vivida.

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Beto, músico e cantor pernambucano, impressiona pelas texturas e pelo clima quase cinematográfico que imprime às faixas de Matriz infinita do sonho – sempre apontando para os lados da negritude, da espiritualidade e dos conhecimentos que só aparecem com a vivência pessoal. Coração preto, na abertura, é um rock abolerado com metais, guitarra com várias distorções no solo, e melodia com certo ar beatle – uma MPB com clima de rock que evoca Lanny Gordin. Pedra verde traz cordas rangendo, dando um som mágico e forte a uma música cujo violão tem emanações de Gilberto Gil.

Beto também apresenta em Matriz canções marítimas (Never die, Yara do mar), pequenos ritos musicados (Peixa), um tema jazzístico, experimental e percussivo (Marx Mellow, com Vitor Araújo no piano) e um reggae com células rítmicas alteradas pelo piano, que vai se aproximando de um dub (Brinquedo). Dandara é som com cara de Gal Costa e João Donato, e Valsinha, surpresa no disco, é uma valsa selvagem, com bastante percussão no começo e psicodelia injetada pela guitarra.

Texto: Ricardo Schott.

Nota: 8
Gravadora: YB Music
Lançamento: 6 de junho de 2025.

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