Crítica
Ouvimos: Redd Kross, “Redd Kross”

- Redd Kross (mais conhecido como The redd album) é o oitavo disco da banda californiana Redd Kross, dedicada à mescla de power pop e punk rock. O grupo é liderado desde 1980 pelos irmãos McDonald (Jeff, voz e guitarra, e Steve, voz e baixo). No disco novo, tiveram a ajuda de Jason Shapiro (guitarra), de Dale Crover (bateria) e do produtor Josh Klinghoffer (o ex-Red Hot Chili Peppers e atual integrante de tour do Pearl Jam).
- O material dos anos 1990 do Redd Kross saiu relançado recentemente pelo selo Third Man, de Jack White. E neste ano saiu um documentário sobre a banda, Redd Kross: Born innocent, de Andrew Reich, já exibido em festivais.
- O novo disco tem quase uma hora de duração. Por que? “Originalmente, tínhamos planejado que o disco fosse apenas um caso padrão de 12 músicas, e entramos com 14 músicas, e as coisas simplesmente foram acontecendo. Mas então também trabalhando no estúdio com Josh Klinghoffer, que eu conheço há 20 anos, simplesmente fluiu tão bem e foi uma vibração tão boa que continuamos gravando”, contou à CBS News Steve. Ele e o irmão chegaram a pensar em reservar algumas músicas da fornada para o mercado japonês, ou algo assim, mas decidiram colocar tudo no disco logo de uma vez.
O power pop está bem longe de ser um estilo “oitentista” – bandas como Raspberries, Big Star e Badfinger já haviam tirado o gênero das entranhas dos Beatles fazia tempo, e houve o Cheap Trick fazendo do estilo uma máquina de hits nos anos 1970. Ainda assim, a banda que chegou mais perto de criar uma norma culta do power pop surgiu em 1980, tem origens numa desconhecida banda punk chamada The Tourists, e se chama Redd Kross. Grupos como Weezer e Teenage Fanclub são apenas dedicados seguidores.
O Redd Kross (inicialmente Red Cross, nome mudado após uma gentil interpelação da Cruz Vermelha norte-americana) fez o power pop casar definitivamente com uma mescla de dor existencial e diversão – e com uma mistura de Beatles e Black Flag, como bem lembrou o Pitchfork. Quando iniciaram atividades, tinham uma certa obsessão com o clássico do terror O exorcista (o nome da banda veio da famosa cena de masturbação da personagem de Linda Blair com um crucifixo) e uma visão gozadora da cultura pop, que incluía flashes de Charles Manson, a aura pop e maldita do Big Star, o tom zoeiro do Cheap Trick, jingles de cereais matinais e clássicos obscuros de David Bowie (fizeram uma corajosa cover de Savior machine em 1984). Tudo junto às vezes no mesmo disco, embalado com uma aura de zoação absoluta e seriedade rocker que fazia bem aos ouvidos.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Como aconteceu com vários grupos indies, são também uma banda de fases. Sua primeira tentativa de sair da independência, gravando pela Atlantic (o disco Third eye, de 1990), não deu certo. O sucesso viria de verdade quando foram contratados por uma etiqueta londrina indie-major, ligada à PolyGram, o This Way Up. O disco Phaseshifter (1993) pôs Lady in the front row e (especialmente) Jimmy’s fantasy na frente de um público bem maior, graças à rotação na MTV. Encerraram atividades em 1997, após a morte do guitarrista Eddie Kurdziel, e retornaram em 2004, a bordo inicialmente de projetos malucos, como o disco Redd blood cells, versão com baixo do disco White blood cells, dos White Stripes, gravada pelo baixista Steven McDonald.
Redd Kross, o novo disco, abre com o brit pop atualizado de Candy coloured catastrophe, e traz um RK mais familiar aos fãs de hits antigos da banda em faixas como Stunt Queen, Emanuelle Insane, a beatle What’s in it for you?, Terrible band e Simple magic. Sonoridades lembrando Kinks e Big Star aparecem na delicada The main atraction, na profundamente sessentista Cancion enjoada e num bubblegum legítimo, Good times propaganda band, lembrando Searchers e Monkees. Já Way too happy fala de um assunto do anedotário da banda: aquela vez em que Kurt Cobain foi ver um show do grupo e saiu reclamando que os irmãos McDonald pareciam “muito felizes”. No final, Born innocent, lembrando uma mescla de The Who e The Move, soa como a música do rolar de créditos de um filme, resumindo vida e história de uma das bandas mais significativas do rock norte-americano dos anos 1980 para cá.
Nota: 9
Gravadora: In The Red
Crítica
Ouvimos: Zara Larsson – “Midnight sun”

RESENHA: Zara Larsson lança Midnight sun, disco pop dançante e divertido, com batidões de funk, hyperpop e ecos dos anos 1990.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Sommer House/Epic
Lançamento: 26 de setembro de 2025
- Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
Lá fora, muita gente se referiu a Midnight sun, quinto álbum da sueca Zara Larsson, como um disco “vibrante” e como uma enorme mudança em sua carreira de poucos discos (1, o primeirão, saiu em 2014). Faz sentido: em termos de (vá lá) persona pop, Zara entrega canções de pop eletrônico hipnótico com letras “de boa”. Por mais que até haja experimentações sonoras aqui e ali, o conceito parece ser apenas o de fazer música para dançar, diversão sem culpa e nada mais do que isso.
Midnight sun, aliás, tem um clima que soa mais rueiro do que propriamente noturno. Ainda que ela faça a crônica da diversão dance da Europa em Eurosummer – que na real é uma dance music barata com aquele velho riff de gaiteiro já surgido em várias outras faixas dançantes – chamam mais atenção os batidões de funk em músicas como The ambition e Hot & sexy. Essa última, por sinal, uma boa recordação da dance music dos anos 1990, com vocal rápido e beat acelerado. Blue moon e a faixa-título chamam a atenção pela felicidade pop de arena, Crush é dance music feliz – e tudo isso desce bem. Já Girl’s girl tem um beat meio latino que soa meio banal, o que acaba desvalorizando uma letra que fala sobre relacionamentos confusos e desejos mais confusos ainda.
- Ouvimos: Taylor Swift – The life of a showgirl
Um momento bem legal em Midnight sun é Pretty ugly, música na qual Zara se esforça para convencer todo mundo da sua vontade de sair pelas ruas arrumando encrenca e subindo nas mesas em festas. Mas faz isso unindo batidões herdados da house music e clima de cheerleader, algo que Gwen Stefani fazia há anos e hoje não faz mais. Puss puss, que encerra o álbum, é hyperpop para explicar para todo mundo o que é hyperpop: refrão que você tem certeza que cita alguma coisa (mas você não se recorda o que é), pop que não precisa de muito para viciar o/a ouvinte, uma verdadeira chuva de detalhes sonoros que provavelmente vão colocá-la na lista de melhores canções pop de 2025 de muita gente.
Em plena era do disco pop como manifesto conceitual, Zara Larsson decidiu fazer de Midnight sun um disco para divertir e dançar. Nem tudo dá certo nele, mas o que dá certo, dá muito certo.
- Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
- E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
Crítica
Ouvimos: S.E.I.S.M.I.C. – “Ologism”

RESENHA: Em Ologism, o trio neozelandês S.E.I.S.M.I.C. faz stoner rock espacial que mistura Hawkwind, Sabbath, MC5 e psicodelia à la Doors.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 6 de outubro de 2025
- Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
Banda cujo nome torna bastante difícil a tarefa de buscá-la nas plataformas digitais, o trio neozelandês S.E.I.S.M.I.C. faz um stoner rock espacial que paga tributo tanto a Hawkwind e Black Sabbath quanto a MC5. Ologism, novo álbum, abre bem rápido com a faixa-título, bem punk e curtinha – e ganha um aspecto de blues rock lascado com The demon, que vem em seguida, com alterações rítmicas em torno do estilo. M.A.C. é quase um Aerosmith + Queen espacial, com vocais bacanas e certa vibe de arena na sonoridade – sem deixar de lado o estilo comum do grupo.
Side quest, cercada por solos distorcidos e vocais bastante melódicos e sombrios, é o lado progressivo-hard do grupo, lembrando bandas como Masters Of Reality e Porcupine Tree. Sons garageiros e bastante pesados surgem em Brain rot e Magic seagull. Já Evil eye e Sands of time são invadidas por um clima psicodélico, que lembra The Doors e Steppenwolf. No final, X-ray vision retoma o corredor punk iniciado na abertura de Ologism.
- Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
- E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
Crítica
Ouvimos: Beau Anderson – “Soundtrack of letting go” (EP)

RESENHA: Beau Anderson mistura stoner, metal alternativo e glam rock em um EP intenso, com peso, ironia e boas melodias.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 24 de outubro de 2025
- Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
Ex-integrante de bandas como Seven Year Witch e The Twotakes , o norte-americano Beau Anderson consegue fazer uma mescla, digamos, sui generis em seu EP solo de estreia, Soundtrack of letting go. Boa parte do material une estilos como stoner rock, metal alternativo e… glam rock. A cada momento do disco um desses estilos para para a frente e os outros dois ficam como uma espécie de recado, de subtexto.
Fix it, na abertura, tem algo de stoner e de bandas como Suede no som. O clipe, excelente, mostra Beau caindo no papo de um vendedor televisivo esperto (interpretado por seu ex-colega de banda Aaron Langford) e acumula vários frascos de um cola-tudo supostamente milagroso chamado Fix It. Know by now, por sua vez, já vai para o lado do glam rock com pauleira, enquanto Standing still, aberta com um clima meio blues, meio garageiro, soa um pouco como um Audioslave menos pesado.
- Ouvimos: Bush – I beat loneliness
Dá para dizer que Beau tem em seu som muito do lado bom do Bush – e não só isso: climas lembrando Placebo e o já citado Suede vão surgindo, às vezes, em alguns segundos das faixas. As if é bem nessa onda, mas Beau tem um lado mais indie, até mais oitentista na abordagem de voz e de estrutura de composição e de arranjo – um lado, por sinal, que não deixa o som se transformar num pastiche de metal alternativo, ou algo do tipo.
Já Talk talk talk e 505 encerram Soundtrack of letting go focando em peso e guitarra, e unindo todos os elementos do disco em prol de um som intenso, com letras sufocantes (além da doideira de Fix it, Beau fala de morte, amores cagados, dores de cabeça do dia a dia, etc).
- Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
- E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
Cultura Pop5 anos agoLendas urbanas históricas 8: Setealém
Cultura Pop5 anos agoLendas urbanas históricas 2: Teletubbies
Notícias8 anos agoSaiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
Cinema8 anos agoWill Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
Videos8 anos agoUm médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
Cultura Pop7 anos agoAquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
Cultura Pop9 anos agoBarra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
Cultura Pop8 anos agoFórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?







































