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Crítica

Ouvimos: Lido Pimienta – “La belleza”

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Ouvimos: Lido Pimienta - "La belleza"

RESENHA: Em La belleza, Lido Pimienta troca o pop por um réquiem visual e orquestral, com ares de cinema, teatro e paisagens sonoras latinas.

Ouvido hoje, Miss Colombia, disco de 2020 da cantora colombiana Lido Pimienta, já parecia revelar discretamente a sonoridade de La belleza, seu quarto álbum. As relações com o synthpop e o pop latino foram deixadas de lado em prol de uma sonoridade que é praticamente música clássica, cinema, teatro, elegia. Ao lado do produtor Owen Pallett, ela criou uma obra que soa como um réquiem sombrio e montanhês, com participações da Orquestra Filarmônica de Medellín e diversas intervenções percussivas e vocais.

Entre corais gregorianos e vibes cerimoniais, o disco se equilibra como uma espécie de obra “visual” – mas um visual que dispensa até mesmo um complemento de filme, ou de vídeo, porque são passagens musicais que ativam a imaginação do ouvinte. Como acontece no instrumental lírico e latino de Overturn, na cerimônia narrada de Ahora e no clima de topo de montanha de Quero que me beses, onde cordas e oboé sobrevoam como se sonorizassem uma paisagem coberta de poeira. Ares desérticos, com percussão arábica, tomam conta de El denbow del tiempo, e climas orientais surgem em Mango.

La belleza ganha ares de despedida conforme vai chegando perto do fim – destacando o clima cigano de Aun te quiero, a tristeza contida de Tengo que ir e a canção de guerra Busca la luz (“qué viva el Caribe / qué viva el Caribe /libre!”). Um disco curto, belo e que soa como uma só faixa, repleta de progressões.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Anti
Lançamento: 16 de maio de 2025.

Crítica

Ouvimos: Stefanie – “Bunmi”

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Ouvimos: Stefanie - "Bunmi"

RESENHA: Após 20 anos de carreira, Stefanie lança Bunmi, seu primeiro álbum: relatos pessoais, críticas sociais e colaborações potentes no universo hip hop.

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Considerada uma promessa do hip hop nacional há bastante tempo – e com uma carreira que já soma 20 anos – a paulistana Stefanie tinha apenas singles e alguns feats na discografia. Bunmi, cujo título é uma palavra em iorubá que significa “meu presente”, é seu primeiro álbum – e, justamente por sair após vários anos, surge como um relato carregado de experiências pessoais.

Algumas dessas experiências são bastante pesadas, como os vários pesadelos reais de Por um fio (com participação de Rodrigo Ogi), o racismo e a gordofobia infantis de Desconforto (“hoje eles querem calma / depois de me causarem vários traumas”) e o rap feminista e anti-coach de Outra realidade, com as vozes de Nega Gizza, Cris SNJ e Iza Sabino (“como pensar em progresso se a ordem é de despejo?”, pergunta a letra). Fugir não adianta fala olhando diretamente no olho do/da jovem vulnerável, com a participação vocal sensível de Mahmundi. Sem falar no encontro de vozes de Maat, com Rashid, Kamau, Emicida e Rincon Sapiência lado a lado com Stefanie.

O lado relax do disco ganha força no respiro de Não pirar – com baixo forte, clima de soul das antigas e a voz da chilena Ana Tijoux. E também na beleza de Mundo dual, rap com clima jazzístico dado pelo piano de Jonathan Ferr, com teclas, voz e guitarra em pleno diálogo, e vibe intimista na letra. Além dos altos astrais do r&b introspectivo Nada pessoal, da romântica Puro love (com Luedji Luna) e do fechamento de ciclo de Plenitude, soul tranquilo sobre felicidade e fé.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: JAMBOX
Lançamento: 25 de abril de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Raquel – “Não incendiei a casa por milagre”

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Ouvimos: Raquel - "Não incendiei a casa por milagre"

RESENHA: Raquel estreia solo com Não incendiei a casa por milagre, disco direto que mistura rock, blues e jazz, com ecos de Gal Costa Rita Lee e Ney Matogrosso.

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Raquel Virgínia, revelada na banda As Bahias, mudou o nome artístico e hoje assina só Raquel – e estreia com o álbum solo Não incendiei a casa por milagre. Um disco direto, curto (passa por EP, com menos de meia hora e sete faixas) e que, mesmo tendo sido inspirado por Recanto, álbum primordialmente eletrônico de Gal Costa (produzido por Caetano e Moreno Veloso em 2011), é basicamente um disco de rock com pés no blues e no jazz.

Há outras referências também: o cineasta Pedro Almodovar inspirou a capa do disco, e é citado numa faixa. É Jogador de futebol, indie pop blues com herança de Ney Matogrosso, que cita “beijos almodovarianos”, numa letra que narra um caso escondido, adornada por uma boa guitarra e por um programação de bateria lo-fi, rudimentar. A faixa-título, destacando o vocal rouco de Raquel, é um blues rock com design sonoro perturbador, com baixo à frente, guitarra ágil, alguns ruídos, e lembranças tanto de Rita Lee quanto de Secos & Molhados.

Com produção justamente de Moreno Veloso e participações de Pedro Sá (guitarra), Eduardo Manso (programações), Bruno Di Lullo (baixo) e Domenico Lancellotti (bateria) – os dois últimos presentes na ficha técnica de Recanto, assim como Moreno – a estreia de Raquel traz outras duas referências fortes a Gal Costa. Monopólio, com guitarra estilingando, soa como se tivesse sido feita para a cantora de Baby, mas vem com perspectiva lo-fi. E ela também relê Autotune autoerótico, canção de psicodelia eletrônica feita por Caetano e gravada por Gal em Recanto.

Ao vivo, por sua vez, é um bolero que lembra Sergio Sampaio, tem referências a programas de auditório dos anos 1990 e fala sobre relacionamentos secretos e carregados de preconceitos (“os beijos nas travestis são dados nos esconderijos becos”). Carne dos meus versos é um blues que traz lembranças de infância e de desprotção, e Vidinha, musica pouco conhecida de Rita Lee e Roberto de Carvalho, encerra o disco com ar meio grunge, mais pesado e tribal.

Texto: Ricardo Schott.

Nota: 9
Gravadora: Almaviva Music
Lançamento: 30 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Amy Millan – “I went to find you”

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Ouvimos: Amy Millan - "I went to find you"

RESENHA: Após 16 anos, Amy Millan retorna com I went to find you, um disco de etéreo, introspectivo e com ecos de americana, soft rock e pop progressivo.

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I went to find you, terceiro álbum da canadense Amy Millan, sai 16 anos após seu último disco, Masters of burial (2009 – um disco que mesclava country, clima indie e uma certa melancolia sinistra. O novo disco, por sua vez, une o conforto do estilo musical conhecido como americana (a união de várias sonoridades e vibrações em torno do country) com a elevação da música espacial, dos teclados que cintilam em meio a melodias pop.

Em I went to find you, Amy retorna com um novo parceiro, Jay McCarrol, e explora temas como confiança, amizade, autoaceitação e memórias do passado (o “você”, do título, segundo ela, são pessoas que passam pela vida da gente e criam laços, modificam nossa vida). Em vários momentos, deixa a impressão de estar construindo um soft rock texturizado, como se o Fleetwood Mac fosse contratado pela 4AD.

É o que surge na abertura, com Untethered – uma canção tranquila sobre relacionamentos duradouros, erros, acertos e continuidades. E também no clima introspectivo e melancólico de The overpass, canção com tom contemplativo de rádio AM antiga, modernizada pelos teclados. Ou no neo soul angelical de Wire walks, um chamamento à voz interior (“em volta dessa ferida teimosa / o futuro pode ser o passado também / você pode precisar se inclinar / para o que você sempre foi”). Don valley, por sua vez, é um folk beatle – cujos vocais relacionam-se com Let it be, dos Beatles, enfim. Uma canção bonita, mas que parece deslocada num disco tão focado em encontrar sua própria identidade sonora.

Em alguns momentos, Amy Millan chega perto do rock progressivo – ou de uma noção progressiva de música pop. Como no tom quase post rock de Borderline, no pop elegante de Kiss that summer e Make way for waves, e na vibração épica de Murmurations, que fecha o álbum trazendo um pouco de clima lo-fi.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Last Gang Records Inc
Lançamento: 30 de maio de 2025.

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