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Crítica

Ouvimos: Joaquim – “Varanda dos palpites”

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Ouvimos: Joaquim - "Varanda dos palpites"

RESENHA: Joaquim estreia com Varanda dos palpites, um disco maduro de MPB com ecos de Angela Ro Ro, Gonzaguinha, Cazuza e até jazz das antigas.

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O produtor Marcus Preto conheceu Joaquim quando foi assistir a um show do cantor Leo Quintella na Casa de Francisca, em São Paulo – e a certa altura, Leo convidou “meu amigo Joca” para tocar piano numa parceria dos dois. Tanto Marcus quanto o público que naquela noite ocupava os assentos da casa, animaram-se bastante com a canja do tal Joca – que não era outro senão Joaquim, cantor e compositor que estreia agora com o álbum Varanda dos palpites.

Marcus e o próprio Joaquim produzem Varanda, basicamente um álbum que constroi uma MPB robusta com emanações de música brasileira feita na esquina dos anos 1970 e 1980 (Angela Ro Ro, Gonzaguinha, pop adulto de rádio). Além de micropontos de Cazuza, cujos vocais parecem ter influenciado músicas autorais como Chumbo trocado, por exemplo. Basicamente é um disco de MPB feito por uma pessoa que possivelmente ouviu muita MPB e decidiu criar algo com cara própria em cima disso, além de polvilhar com outras referências.

Para um primeiro disco, tudo ali soa bem maduro, como na balada blues lembrando Gonzaguinha de Emboscada, no groove oitentista da faixa-título e no clima próximo do lo-fi de Falta – com um solo de piano lindíssimo no final, e cuja letra, falando de mudanças, corridas do tempo, tem algo de Sergio Sampaio. Climas próximos do blues e do gospel invadem baladas como a jazzística Chumbo trocado (uma resposta ao verso “chumbo trocado não dói”, de A loba, hit de Alcione, falando sobre amores que vão se transformando em nada), Plenamente acordado e Solitude blues etude – essa, com estileira de piano bar.

Joaquim incluiu duas regravações no disco: Fogueira, de Angela Ro Ro, fica só no piano e voz, e Me conta, que relê em português Something stupid (sucesso de Frank Sinatra com sua filha Nancy), canção que já tem uma versão extremamente popular no Brasil – Coisinha estúpida, feita por Leno, gravada por ele e Lilian, e depois até por Jane & Herondy. Nas vozes de Joaquim e Luiza Villa, ela tangencia tanto o samba quanto a Jovem Guarda, simultaneamente.

Duas músicas, Calma e Disciplina, parecem complementares e respondem pelo lado mais sonhador do disco, cada uma a seu modo – a primeira aproximando-se do clima enevoado de Trem azul, hit de Milton Nascimento e Lô Borges; a segunda falando sobre fruição, atenção e autocuidado sobre uma base de jazz dos anos 1920/1930. Com capa de disco da RCA brasileira dos anos 1970, Varanda dos palpites tem uma linha do tempo bem esticada – e que vai até 2025.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10
Gravadora: Coala Records
Lançamento: 15 de maio de 2025

 

Crítica

Ouvimos: Ganser – “Animal hospital”

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Em Animal hospital, o Ganser mistura pós-punk, ruído e psicodelia em climas sombrios e inquietos, entre Twin Peaks e Siouxsie and The Banshees.

RESENHA: Em Animal hospital, o Ganser mistura pós-punk, ruído e psicodelia em climas sombrios e inquietos, entre Twin Peaks e Siouxsie and The Banshees.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Felte
Lançamento: 29 de agosto de 2025.

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O site Pitchfork, ao resenhar o novo álbum da banda de art-punk Ganser, Animal hospital, achou sons tirados direto da obra de David Lynch no disco – referiu-se em especial à trilha de Twin Peaks, feita por Angelo Badalamenti. Faz todo sentido, levando em conta que o trio majoritariamente feminino de Chicago valoriza sons misteriosos e climas que encantam ao mesmo tempo que dão certo medo.

As origens do Ganser parecem estar numa espécie de combinação sonora que une pós-punk e Black Sabbath, Garbage e synthpop, sons de bandas riot grrrl e noise rock tribal, Suicide e The Cure – o tipo de som que foi feito mais para incomodar do que para distrair, enfim. Animal hospital vai nessa onda em faixas como a pesada e distorcida Black sand, a leve e sinistra Stripe, a tipicamente pós-punk Ten miles tall (com baixo e bateria dialogando e vocal quase falado) e a fábula sonora surrealista de Dig until I reach the moon. Lounger, punk com vibração garageira dos anos 1960, é hino anti-coach, anti-performance, anti-verbos como “pivotar”, “escalar” e coisas do tipo: “não quero ser ninguém / não quero fazer nada (…) / outras pessoas compram minhas coisas / mas tudo que eu quero é tempo (…) / meu desempenho tem sido ruim e não consigo me importar”.

  • Ouvimos: Goat Girl – Below the waste

Alicia Gaines, Brian Cundiff e Sophie Sputnik, os três da banda, têm um lado seriamente stoner e fantasmagórico explorado em músicas como a destrutiva Half plastic (“prendo a respiração até ver manchas”, diz a letra), Grounding exercises e a psicodélica e pesada Creature habits. Plato, com versos malucos como “Platão diz a ela: ‘venha, vamos dançar’ / e ela não quer / ela diz que não acredita em evolução”, a tribal Speaking of the future, Discount diamonds e Left to chance unem esse lado pesado a sons que lembram Siouxsie and The Banshees. E Left fecha o disco com uma boa massa ruidosa.

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Crítica

Ouvimos: Yellowcard – “Better days”

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Yellowcard volta após quase dez anos com Better days, disco que mistura punk-pop, emo e pós-grunge com energia, melodia e sinceridade.

RESENHA: Yellowcard volta após quase dez anos com Better days, disco que mistura punk-pop, emo e pós-grunge com energia, melodia e sinceridade.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Better Noise Music
Lançamento: 10 de outubro de 2025

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Para a surpresa de um total de zero pessoas, numa época em que estilos como emo, nu-metal e rock alternativo (na visão Billboard norte-americana de rock alternativo) tornam-se queridos de alguns críticos, e tambem numa época em que a geração Tik Tok vem abraçando bandas de punk pop, lá vem o Yellowcard com seu primeiro disco em quase dez anos.

Better days não decepciona: a mescla de punk-pop, emo e “pós-grunge” (muito entre aspas) feita pelo grupo volta com ótimas melodias, excelente produção (feita por Travis Barker, do Blink-182, e Andrew Goldstein) e aquela mistura de esperança com tristeza que os fãs adoram. A faixa-título, que abre o álbum, une tudo isso aí em poucos minutos. Take what you want, que chora pitangas sobre o fim de um relacionamento, soa como o som de uma boy band pesada e ágil. Love letters lost – com Matt Skiba, do Alkaline Trio – tem aquela mesma receita da qual o Charlie Brown Jr se alimentou: peso, vocal altamente cantarolável e guitarras que têm algo chupado do The Police.

  • Ouvimos: Twenty One Pilots – Breach

A “persona” de Better days é um sujeito angustiado, que fez planos por conta própria mas esqueceu de consultar a realidade (o dramalhão Honestly, I), sofre por um relacionamento que se foi (o pop pesado, mágico e bem feito de You broke me too, com Avril Lavigne), deseja botar o passado em pratos limpos (City of Angels, com Ryan Key, cantor e guitarrista, nascido na Flórida, lembrando sua vida em Los Angeles) e se sente ansioso e inquieto (o punk-popzaço Bedroom posters, a melhor e mais bonita música do disco). Skin scraped e Barely alive, com titulos autoexplicativos e onda punk-emo, têm peso, tristeza e um certo clima herdado da banda do coprodutor.

Para aumentar essa onda “intensa” do disco, Travis pôs mais peso na bateria, arranjos de cordas surgem em algumas músicas e… Better days encerra com a vibração country-folk de Big blue eyes, música pra tocar em filme adolescente. O Yellowcard volta com um álbum rápido – pouco mais de meia hora – e sincero.

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Crítica

Ouvimos: Luna Gouveia – “Sara”

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Em Sara, álbum de estreia, Luna Gouveia une pop, rock, jazz e psicodelia em faixas que soam entre Gal Costa indie e Rita Lee espacial.

RESENHA: Em Sara, álbum de estreia, Luna Gouveia une pop, rock, jazz e psicodelia em faixas que soam entre Gal Costa indie e Rita Lee espacial.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 23 de setembro de 2025

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Em seu primeiro álbum, concebido como uma jornada de cura e encerramento de ciclos – daí o título Sara, usado como verbo e não como nome próprio – a paulista Luna Gouveia entrega um trabalho de pop atravessado por ecos de rock, jazz e psicodelia.

Um detalhe é que nenhum desses gêneros surge de forma literal nas oito faixas do disco. Em nome do pop mutante, Sara passeia por todos esses estilos em faixas como Culpa e Diz que é amor, às vezes lembrando a MPB jazz, às vezes soando como uma Gal Costa texturizada e jogada no indie pop. No caso de Diz que é amor, rola ainda uma segunda parte exclusivamente psicodélica, lembrando Mutantes e Tame Impala da fase inicial, com guitarra fuzz.

  • Ouvimos: Luapsy – I met the devil in a dream

Sara vai seguindo com Fora de moda, indie rock tropicalizado, com balanço herdado de Rita Lee, vibe de bossa espacial e ótimas guitarras-base (ficaria inclusive melhor com um solo). Mordida tem beat discreto, vocal com dissonâncias e surpresas e clima pop com cara de Rita Lee + Marina Lima indie. Voltar andar passa por várias camadas do pop – embicando num corredor boogie/pós-disco e numa atmosfera meio Physical. A faixa-título é pop oitentista transformado em música celestial, com vocal de sereia.

No final, a sintomática O fim, com mais surpresas escondidas na melodia e no vocal, além de um laço que une tudo em Sara. Um disco de estreia que abre caminhos enquanto fecha ciclos.

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