Crítica
Ouvimos: Childish Gambino, “Bando Stone and The New World”

- Bando Stone and The New World é o quinto e último álbum de Childish Gambino – codinome musical do ator Donald Glover. É também a trilha sonora do filme de mesmo nome, que está ainda para sair em circuito (apesar de já ter tido algumas datas de exibição). Mais de uma dezena de nomes participaram da produção, incluindo o próprio Donald, além do DJ Dahi, do maestro Ludwin Göransson, do produtor britânico The Arcade e até da banda Khruangbin.
- No filme, Glover interpreta Bando Stone, um cantor que penetra num mundo pós-apocalíptico. Ele se junta a uma mulher e a seu filho para lutar contra criaturas pré-históricas e tentar escapar de um fenômeno estranho que parece deletar “pedaços” do mundo. Legend, filho de Donald, participa do disco e do filme.
- Num papo com o The New York Times, Glover justificou o abandono do apelido afirmando que as pessoas não consomem mais álbuns como antigamente, e que está cada vez mais difícil manter uma carreira de cantor com seus projetos de filme em andamento. “Não está sendo gratificante. Senti que não precisava mais fazer nada dessa forma”, diz.
Se você deu uma ouvida em Bando Stone and The New World e achou tudo confuso demais pra você, senta, relaxa e ouve de novo – principalmente arrume tempo para escutar todos os discos que o ator Donald Glover lançou sob seu pseudônimo musical. A despedida de seu codinome Childish Gambino aponta para vários lados sem recorrer ao ecletismo barato, e justamente por ser um disco repleto de imagens (afinal, trata-se de uma trilha sonora), dá para dizer que rola uma quase psicodelia ali.
Na onda de Bando Stone cabem r&b com herança de Stevie Wonder e Earth Wind and Fire (Survive, com participação de Chlöe), algo próximo do nu metal (Lithonia), bittersweet negro (Steps beach), um inesperado pop-emo (Running around), dance music pesada com sample de Smack my bitch up, do Prodigy (Go to be), indie pop (Real love), afrogospel (Can you feel me, com participação do filho de 8 anos, Legend), experimentações vocais de arrepiar (We are god). Tudo entremeado por diálogos do filme, num esquema que deve ser descortinado só quando Bando Stone finalmente entrar no circuito. Quem escutar todo o álbum sem saber do que se trata, vai ter a impressão de estar escutando uma playlist com vários artistas. Nem parece o mesmo artista fazendo todas as músicas, pra começar.
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Se tem alguma coisa amarrando Bando Stone é a disposição de Gambino para soar um pouco mais próximo dos desafios do pop alternativo do que do design sonoro comum do hip hop. Muito embora ele insira coisas legais no estilo, em faixas como o trap In the night e a pesada e sinuosa Yoshinoya, rimada sob uma base de percussão e samples que vai crescendo, até ganhar uma segunda parte ruidosa, com vocais graves e ágeis (dá para comparar com o brasileiro Black Alien) e batidão de funk vintage. No final, uma voz pergunta: “você nunca ouviu Chaka Khan? O que eles estão ensinando na sua escola?”. Dadvocate, por sua vez, é um folk com vocais ligeiramente rappeados, que estranhamente lembra Red Hot Chili Peppers (!).
O maestro e trilheiro Ludwig Göransson (que já havia colaborado com ele em This is America) e o saxofonista Kamasi Washington surgem dando ar soul-jazz e orquestral à melhor faixa do disco, No excuses – mais de sete minutos de música viajante, repleta de climas diferentes e com uma parte instrumental que ocupa boa parte da faixa. Se ficar assustado/assustada com a variedade musical de Bando Stone, vale até começar por essa música, ou pela participação do Khruangbin na bela Happy survival, música da qual Gambino não participa nem como co-autor.
Nota: 9
Gravadora: RCA
Crítica
Ouvimos: Babymetal – “Metal forth”

RESENHA: Em Metal forth, o Babymetal mistura peso e pop: nu-metal, j-pop, rap e até soul, provando maturidade após 15 anos de carreira.
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Babymetal é heavy metal para não-metaleiros, você poderia dizer. Nem tanto, né? É um banda que vem da cultura asiática de criação de ídolos, é formada por meninas (que já são mulheres) e gerenciada por uma agência poderosa – a Amuse, que tem até escola de música. Mas dá pra dizer, sem medo de errar, que muita gente foi apresentada ao universo do som pesado por causa delas. Até porque o Babymetal é esperto o suficiente para agregar mumunhas pop, e estilos como r&b e rap, a um universo conhecido pelo radicalismo.
Você piscou o olho e o Babymetal já tem quinze anos, várias turnês e, curiosamente, um número de discos bem pequeno. Metal forth é o quarto álbum e funciona bem para metaleiros de ouvidos abertos e sem preconceitos. Dando um passeio pelas faixas: Ratatata tem ar de j-pop e k-pop, e une som pesado, rap e dance music. Song 3 é uma porrada que une vocais guturais (da parte dos convidados do Slaughter To Prevail) e vozes meio Alvin e os Esquilos. From me to you, na abertura, herda sonoridades do metal alternativo e da música pop – é som rápido, pesado, eletronificado.
Entre as surpresas de Metal forth, tem Sunset kiss, que deixa o Babymetal com uma cara de Spice Girls trabalhadas no couro e no preto. E My kiss, um nu-metal cuja introdução ameça uma chupada em Ratamahatta (hit do Sepultura com participação de Carlinhos Brown). Tom Morello põe energia em Metal!!!, que também traz emanações de Sepultura, mas une som pesado e soul. Já White flame, no final, aponta para vários lados: j-pop, emo, punk… encerrando com um solo de guitarra final que lembra Queen.
Quem ouvir Metal forth de mente aberta, vai descobrir que, com o tempo, o Babymetal foi se tornando um projeto bastante equilibrado – as integrantes cresceram e o mundo ao redor delas mudou bastante.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Capitol
Lançamento: 8 de agosto de 2025
Crítica
Ouvimos: Deb and The Mentals – “Old news” (EP)

RESENHA: Deb and The Mentals volta às raízes em Old news: punk, grunge e new wave com peso, energia e nostalgia.
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Com uma formação nova que traz Fi (NX Zero), na guitarra, Deb and The Mentals decidiu voltar ao começo num EP de nome sintomático, Old news. Deb Babilônia adota novamente as letras em inglês nas cinco faixas do disco – e a banda corresponde com um som voltado para uma confluência entre punk, grunge e new wave. A faixa de abertura Together again une anos 1980 e 1990, soando como Ramones na fase Mondo bizarro (1992). Suck me in, com um pouco mais de peso, tem muito de bandas como Generation X. A noventista To erase vai para a pequena área do punk + metal, com peso e intensidade.
O “lado B” de Old news tem um hardcore rápido, cavalar e acelerado, Burn it down, fechado com microfonias. Tem também a música mais bonita do disco, Runaway, união de punk e rock britânico oitentista, chegando a lembrar Smiths. Dying spark, por sua vez, chama atenção pela boa marcação de baixo e bateria, e pela linha do tempo sonora que vai dos anos 1970 aos 1990.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Algohits
Lançamento: 13 de agosto de 2025
- Ouvimos: Paira – EP01 (EP)
- Ouvimos: A Terra Vai Se Tornar Um Planeta Inabitável – Ident II dades (EP)
- Ouvimos: akaStefani e Elvi – Acabou a humanidade
Crítica
Ouvimos: Klisman – “CHTC”

RESENHA: Em CHTC, Klisman transforma o Centro Histórico de Salvador em rap visceral, misturando trap, afropop e relatos de vida dura.
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CHTC, título do disco de estreia do rapper baiano Klisman, é uma sigla para “Centro Histórico tá como?” – e uma lembrança do coração de Salvador, um conjunto de pontos turísticos que explicam a história da capital baiana (Pelourinho, Elevador Lacerda, Mercado Modelo), além de um entorno de dez bairros. Klisman cresceu por lá e levou tudo para seu som, que une mumunhas do trap, e um certo elemento de perigo vindo do rap, além de erros e acertos pessoais. O som une beats de trap, afropop e vibes latinas.
Klisman fala da vida como ela se apresentou não apenas para ele, mas para vários amigos seus. Reparação histórica entra na mente dos que são tidos como vilões, em versos como “se eu roubo esse gringo é reparação histórica / visão de cria não pega na ótica” e “poucos sabem o dilema que eu vivo / do tipo: como vender drogas e ser um bom filho? / como tirar vidas e criar meu filho?”. Caminho certo cria imagens musicais para retratar um dia a dia que exige posicionamento rápido (“são escolhas que mudam o caminho de casa”), o mesmo rolando na ameaça sonora de 25kg e na sagacidade de Proibido branco. O próximo é rap lento e climático que une ódio e tiração de onda.
Para quem for ouvir CHTC, o conselho é tentar entender tudo como um filme e não sair julgando: Klisman entrega todas as contradições de quem cresceu numa realidade bem distante do que a classe média enxerga como normal – e o normal ali são leis bem estranhas. Em Praia da Preguiça, aberta com sample de violão e flautas, e Pixadão de guerra, sonhos misturam-se com alfinetadas em trappers famosos e realidades de trincheira (“a emoção de ver o alemão sangrar / é a mesma de ver o irmão prosperar”). Ainda sou o mesmo vai para vários lados da violência urbana: “quantas mãe vai ter que chorar? / ele poderia ter um Grammy / mas ele tá na boca portando uma Glock”.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Nadamal
Lançamento: 22 de maio de 2025.
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