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Crítica

Ouvimos: Cavalera Conspiracy, “Schizophrenia”

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  • A regravação do terceiro disco do Sepultura, Schizophrenia, é o terceiro disco de atualizações do grupo mineiro feito pelo Cavalera Conspiracy, grupo liderado pelos dois fundadores do Sepultura, Max e Iggor Cavalera.
  • Os irmãos acrescentaram ao disco uma faixa inédita, Nightmares of delirium, com letra do filho de Max, Igor Amadeus Cavalera. Igor toca baixo no disco, ao lado do tio Iggor (bateria), do pai (guitarra e vocal) e de Travis Stone (guitarra solo). Eliran Kantor refez a capa.
  • “Schizophrenia esteve trancado em um hospício por quase 37 anos. Estou muito orgulhoso de trazê-lo para o futuro com um som moderno sem perder sua mentalidade da velha guarda”, conta Max no material de divulgação.

Com o Sepultura encerrando atividades, as regravações dos primeiros álbuns do grupo feitas pelos irmãos Max e Iggor Cavalera têm servido como linhas do tempo para o repertório inicial do grupo. Mais do que atualizar os discos, as releituras de discos como Morbid visions e Schizophrenia mostram o que a banda poderia ter feito caso tivesse uma produção melhor quando gravou os primeiros álbuns.

Soa estranho falar nisso, claro: nos anos 1980, até mesmo discos pesadíssimos feitos lá fora eram gravados da maneira mais tosca possível – e, vá lá, são legais ainda hoje justamente por causa desse despojamento. Não dá pra negar que essas regravações não são o tipo de lançamento que fãs mais radicais vão amar e, no fundo, ainda que tenha seu valor, tudo acaba parecendo mais com uma competição do tipo Sepultura vs Sepultura. De qualquer jeito, o Schizophrenia dos dois irmãos atualiza o disco de 1987 com uma sonoridade que consegue soar mais cavernosa ainda que o original. Dá a impressão de entrar num útero metálico, com vocais e guitarra cheios de eco, e graves com boa definição.

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Em 1987, Schizophrenia chamou mais atenção ainda para o Sepultura lá fora, e não foi à toa. O primeiro disco gravado com Andreas Kisser na guitarra tinha arranjos bem mais criativos do que nas primeiras gravações da banda, em faixas como From the past comes the storm, Escape to the void e R.I.P. (Rest in pain), encerrada – tanto em 1987 quanto em 2024 – com um arremedo de música de carrossel e uma explosão. Também era o disco que inseria no som da banda detalhes pseudo-progressivistas (à moda do Black Sabbath e até do Iron Maiden), como nos solos elaborados e nos vários segmentos do instrumental Inquisition symphony, que volta o mais fiel possível ao original, e com mais peso

Como um aceno aos tempos iniciais do metal em português, The abyss, vinheta do original, mudou de nome e virou Abismo mesmo. No final, tem uma música nova, Nightmares of delirium, que soa de verdade como uma sobra da fase transicional do Sepultura. O resultado do novo Schizophrenia ficou bem legal, mas dá pra parar as regravações por aí: reler Beneath the remains (1989), estreia do Sepultura na RoadRunner, já seria exagero.

Nota: 8,5
Gravadora: Nuclear Blast

Crítica

Ouvimos: Peter Doherty – “Felt better alive”

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Ouvimos: Peter Doherty - "Felt better alive"

RESENHA: Peter Doherty renasce no country rock em Felt better alive, disco de histórias rurais, faroeste psicodélico e gratidão pós-caos.

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Peter Doherty, o líder dos Libertines, é o sobrevivente mais jovem do rock. Enganou a morte por uma gota – e estamos falando de uma pessoa que costumava se divertir com ninguém menos que Amy Winehouse, e que no meio de uma rebordosa de drogas, simplesmente resolveu assaltar o apartamento de seu colega de banda Carl Barat.

Felt better alive, seu quinto disco solo, traz o som de alguém que se sente grato e feliz por ter conseguido escapar do pior – mas que se divertiu muito enquanto curtia os frutos proibidos da vida. Peter escolheu o country, estilo musical eternamente associado a contadores errantes de histórias, para balizar o disco – e o repertório associa-se também a seu atual estado de morador da área rural da Normandia, pai de três filhos (Billie Mae, a mais nova, é homenageada na doce e suingada Pot of gold, com emanações tanto de Bob Dylan quanto de Red Hot Chili Peppers), socialista, limpo e livre de vícios ilegais desde 2019.

  • Fizemos resenha do disco mais recente dos Libertines, All quiet on the eastern esplanade.

Felt better alive é um disco, na real, de country rock, com cordas que dão um ar bonito e triste a faixas como Calvados, Out of tune balloon (na cola tanto de Bob Dylan quanto de Tom Waits) e a música-título (que tem uma baita cara de música de faroeste). A nata da malandragem ganha homenagem em Poca Mahoney’s, uma curiosa mistura de canção francesa com tema punk – que vira um curioso hardcore no fim.

Por sinal, sons do país onde Doherty está atualmente morando dão as caras também em Stade océan, quase um blend de Serge Gainsbourg e os álbuns solo de John Frusciante, e o faroeste não-estadunidense de Prêtre de la mer. E até David Bowie é convocado como referência em Fingee, som estiloso, acústico, blueseiro, com cara sonhadora e levemente psicodélica. Um disco de música e histórias, onde Peter arrisca-se a se tornar um menestrel punk-country, a seu estilo.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Strap
Lançamento: 16 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: TVOD – “Party time”

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Ouvimos: TVOD - "Party time"

RESENHA: TVOD mistura punk e pós-punk em Party time, disco barulhento e introspectivo sobre solidão, abuso e amores fracassados.

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O título Party time pode parecer convite para uma festa insana, mas o terceiro disco da banda nova-iorquina TVOD (“television overdose”) vai além do porre coletivo. Punk e pós-punk de boas guitarras, com clima espacial e um synth apitando para avisar que a festa ali é para quem dança na pista, mas também viaja sozinho pelos cantos.

Os temas abordados nas letras também estão bem longe do clima “festeiro”: quase sempre, Party time fala de abusos, acidentes, amores cagados, morte, solidão – embora a faixa-título fale de uma festa bêbada e nudista que vai até altas horas. De modo geral, Party time é um disco introspectivo com coração barulhento – como se a Gang of Four encontrasse os Buzzcocks numa pista meio vazia, cheia de luzes piscando.

Uniform abre os trabalhos com um riff bêbado de sintetizador. Já Car wreck surfa em guitarras com wah-wah e clima voador, com algo de Syd Barrett. Pool house cruza The Cars e Pixies no meio do caminho entre o punk e o pop sombrio. Em Empty boy, o som cresce em camadas psicodélicas, enquanto Super spy chega a lembrar o U2 em começo de carreira – só que ganhando vocais falados na cola do Sonic Youth. A viagem continua com Mud, que parece o B-52’s em órbita. Wells fargo mistura o cima ríspido e nervoso do The Fall com viradas sessentistas, sons rangendo e clima de garagem. Alcohol desacelera num clima sombrio que remete à fase atual dos Pixies.

No mais, Take it all away traz guitarra econômica e eficaz. Bend ganha batida quase cigana no início, e conclui levando a argamassa sonora dos Pixies para o espaço. E no final, tem a faixa-título, com clima herdado de The Cars, um theremin possuído, guitarras ruidosas e vocais falados lembrando Talking Heads. Um disco coeso, sujo e sentimental.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Mothland
Lançamento: 9 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Cristian Dujmović, “Atisbo” (EP)

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Ouvimos: Cristian Dujmović, "Atisbo" (EP)

RESENHA: Cristian Dujmović mistura pós-punk, bossa e MPB setentista no inventivo EP Atisbo.

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Cantor e compositor formado entre os sons da Argentina e da Espanha, Cristian Dujmović herdou muito da magia do rock argentino na construção de melodias e arranjos, voltando-se para um som ligado ao pós-punk e para algumas doses de experimentalismo musical.

Segundo lançamento após o álbum Desde acá (resenhado aqui), o EP Atisbo abre com as inseguranças e ansiedades de Shock, repleta de riffs simples e bem bolados, de climas entre o luminoso e o sombrio, e apresentando algo de bossa nova na melodia. A mesma vibe, por sinal, surge no jogo de acordes da sinuosa Sin cuerpo.

Já a bela Animal tem algo de rock gaúcho (Nenhum de Nós, Cidadão Quem), e simultaneamente, uma musicalidade que une anos 1990 e 1980. No final, a abolerada Destello ganha uma cara musical próxima da MPB setentista (Beto Guedes, Flávio Venturini), e Quemar tem tom ambient na abertura, emendando com um pós-punk vigoroso e levado adiante por baixo e bateria bem marcados.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 8 de maio de 2025.

 

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