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Crítica

Ouvimos: Beabadoobee, “This is how tomorrow moves”

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Ouvimos: Beabadoobee, "This is how tomorrow moves"
  • This is how tomorrow moves é o terceiro álbum da cantora Beabadoobee – nome artístico da filipina-britânica Beatrice Kristi Ilejay Laus. O disco foi produzido por Rick Rubin ao lado de Jacob Bugden. Como os anteriores, sai pelo selo britânico Dirty Hit, que tem os integrantes da banda The 1975 como acionistas.
  • Beatrice aprendeu violino antes de ganhar sua primeira guitarra – um modelo de segunda mão, que ela adquiriu aos 17 anos. Começou a ver vídeos de guitarristas no YouTube para aprender a tocar.
  • Nos primeiros discos, Beabadoobee abordava temas como traumas da infância e automutilação, entre outros assuntos pesados. Num papo com o The Guardian, ela diferencia o disco novo dos outros, afirmando que os anteriores “me mostravam culpando todos ao meu redor pelo jeito que sou hoje”, e o novo a mostra “reconhecendo minha própria falha nisso”.

O som de Beabadoobee, como qualquer coisa associada ao bedroom pop, tem lá seu lado formulaico. Mas mesmo quando se apega a fórmulas, é um formulaico legal, que dá vontade de ouvir várias vezes. Para começar, o design sonoro é bacana: como compositora, Beatrice Laus (o nome por trás da alcunha Beabadoobee) faz música como se organizasse uma mixtape ou uma playlist para escutar em momentos de felicidade, tristeza ou reflexão.

O som dela tem vários lados sem recorrer ao “aponta para vários lados” barato: inclui sonoridades próximas ao shoegaze, guitarras lembrando o som alternativo dos anos 1990 (os discos de Juliana Hatfield e Crooked rain, crooked rain, do Pavement, são devidamente homenageados em alguns momentos do novo álbum, além de muita coisa de indie rock anos 2000 e emo). Rolam também vocais relaxantes e de um ou outro clima acústico e meditativo – dado por violões, efeitos sonoros e algumas programações/teclados – que põe o disco mais próximo do dream pop. Além de canções com aquela abertura no estilo violão-voz-e-K7, para indicar que, sim, o som ainda é criado no quarto.

Em alguns momentos, as ondas sonoras dela apareceram mais equilibradas, e em outros, não. Os primeiros EPs, Lice e Patched up (ambos de 2018), claro, eram mais para mostrar o que aquela garota de 18 anos fazia com a guitarra no quarto. Com o tempo, produtores e músicos acompanhantes foram aparecendo, mas a identidade de Beabadoobee ficou lá – e no disco novo, This is how tomorrow moves, ela vem bem mais reforçada. Beatopia (2022) era um esforço coletivo repleto de parcerias. This is traz de volta Beatrice como autora única das músicas.

O termo “disco adulto” tem sido usado por alguns críticos para definir This is how tomorrow moves, mas a verdade é que Beabadoobee já era uma cantora madura com 18 anos. Aos 24, produzida por Rick Rubin, ela une alt-country e R&B em Take a bite, soa ruidosa, indie e melódica em California, traz paredes de vocais e distorções em One time e une jazz, rock e pop em Real man.

Já a doçura de discos anteriores retorna com cara dream pop em Tie my shoes, na bela tristeza de Girl song, e na delicadeza folk e quase infantil de Coming home. Ever seen, por sua vez, soa meio emocore, meio dream pop, com bandolins, teclados e metais. E não perca A cruel affair, sambinha pop de gringo que não teria sido feito sem que Sergio Mendes tivesse existido.

Nota: 8,5
Gravadora: Dirty Hit

Crítica

Ouvimos: Prima Queen – “The prize”

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Ouvimos: Prima Queen, "The prize"

RESENHA: Prima Queen lança The prize, álbum de indie pop sonhador com clima vintage, empoderamento nas letras e ecos de ABBA, britpop e pós-punk.

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Quem curte bandas como The Big Moon e The Last Dinner Party provavelmente vai enxergar no Prima Queen uma continuação mais indie do som desses dois grupos. A banda liderada por Louise Macphail e Kristin McFadden tem o mesmo compromisso com climas vintage, sons entre o dream pop e o soft rock, e refrãos celestiais feitos para animar plateias.

As duas juntam tudo isso com a disposição para falar de barcas furadas emocionais (com olhar atualizado) e para acrescentar detalhes inusitados à sua imagem. Para começar Louise e Kristin associaram o Prima Queen ao universo dos esportes femininos, e esse imaginário surge nos clipes, nas letras, nas fotos de divulgação e na capa deste The prize, que é o primeiro álbum cheio das duas.

Boa parte do disco fala basicamente de autoestima e superação – e tanto as imagens das duas quanto a própria música aparecem quase como fantasmas de outros tempos. Algo envolto numa mística de sonho, ou uma imagem do tipo “já vi isso antes” – aliás, quem lembra daquelas séries de coletâneas britânicas com nomes tipo Hot hits ou Smash hits, e garotas esportistas nas capas – ou daquela série Disco 78, 79,80 (o ano variava), lançada pela Som Livre – já viu mesmo.

Musicalmente, o Prima Queen, que nos primeiros singles parecia um encontro entre The Cure, New Order e Fleetwood Mac, volta com clima sonhador e vaporoso em México, lembra um ABBA indie na faixa-título The prize (música que tenta convencer uma garota desprezada a levantar a cabeça dizendo que “você esqueceu que você é um diamante? / você é o sonho, você é um pêssego, o prêmio”) e faz um britpop com ótica feminina – lembrando Shampoo e Elastica – na ótima Oats (Aint gonna beg), um rock garageiro e doce ao mesmo tempo.

O Prima Queen ganha cara mais pós-punk em Ugly, Fool e Woman and child, migra para a bossa nova de gringo em Flying ant day, faz indie rock tranquilo em Meryl Streep e investe em climas acústicos em Spaceship, Sunshine song e More credit – essa última, a cara daquelas baladas iniciais do pós-brit pop. Acaba ganhando pela preocupação em entregar um produto bonito, do tipo que gruda no ouvido (a própria The prize tem essa onda), e pela sinceridade nas letras.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Submarine Cat Records
Lançamento: 25 de abril de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Snoop Dogg – “Iz it a crime?”

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Ouvimos: Snoop Dogg - "Iz it a crime?"

RESENHA: Snoop Dogg lança Iz it a crime?, disco reflexivo e polêmico, em meio a elogios a Trump, bravatas e críticas à cobrança por coerência.

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“Não tenho nada além de amor e respeito por Donald Trump”, disse (pode acreditar) Snoop Dogg recentemente numa entrevista. O elogio ao presidente norte-americano veio pouco depois do rapper se envolver numa baita polêmica ao fazer um set de 30 minutos como DJ durante a posse do chefe de estado.

A aparição de Snoop por lá fez com que o rapper perdesse mais de 500 mil seguidores nas redes sociais e tivesse que ouvir xingamentos como “traidor!”, etc – coisas do tipo. Snoop Dogg, vale lembrar, é um excelente vendedor e é o tipo do artista que, sem lançar disco, consegue gerar assunto para a mídia – e não necessariamente a aptidão para vender está associada com as melhores decisões políticas. Nem mesmo o talento artístico está. No Brasil, talvez quem sabe, ele estivesse vendendo jogo do tigrinho.

Daí que provavelmente o próprio Snoop deve se espantar com cobranças de “coerência”, “justiça”, etc, num jogo que em várias músicas de seu repertório, ele ja define como sendo absolutamente injusto – e que seja lá o que for feito, o que importa é estar o mais longe possível do fracasso. Mais do que o apoio a Trump, o espantoso é que muita gente nunca tenha percebido isso.

Iz it a crime?, um disco muito mais coeso e interessante que o anterior Missionary (que a gente já resenhou por aqui), e que sai lado a lado com um filme (veja lá embaixo) mergulha nessa vibe com ainda mais intensidade. É Snoop Dogg vestindo a pele do tiozão rapper gente boa — aquele que aconselha os mais novos, troca ideias com os parceiros e relembra os velhos tempos. Faixas como Unsung heroes, com seu clima psicodélico e afrolatino (graças ao sample de órgão e à percussão envolvente), reforçam essa pegada, asseverando que sobrevivência é mais importante que qualquer outra coisa.

Versos dessa faixa como “nunca deixe a treta do rap afetar seus negócios”, “a vida é um jogo de espadas, é melhor ficar com um trunfo / você não está acostumado com a cozinha do inferno, cai fora” parecem dedicados a quem o julgou por tocar na posse de Trump. A vinheta de abertura, Intro, é direta: “primeiro você ganha dinheiro, aí você ganha o poder, aí você ganha respeito”.

Entre temas espinhosos e lembranças do passado, Snoop e sua turma vão do r&b moderninho ao samples de soul antigo. E constroem um disco que, musicalmente falando, tem bastante chão. É o que rola em faixas como a quase balada Joy, o soul voador Sophisticated crippin’ (“só um arrependimento / eu nunca consegui dizer adeus ao 2pac”), a trilha de suspense de Keep it moving, o clima de Bonnie e Clyde da biqueira de Can’t get enough (dueto com Jane Handcock) e o acid bass de Shutyobitchassup. Já Let me love you, lá pro final, é um r&b nostálgico de respeito.

A tradicional sensação de que um disco de 60 min poderia ter uns 40 – comum a vários álbuns de Snoop – bate ponto no som de boy band Spot, com Pharell Williams, repleto de versos bizarros comparando mulheres e cachorros. E também num estranho indie pop, Cold summer, e em Live life, tão autobiográfica e cheia de positividade e conselhos, que chega a lembrar Will Smith.

Snoop não parece lá muito preocupado com a opinião de ninguém, e perguntar “isso é um crime?” parece a melhor maneira de sair pela tangente na polêmica de Trump. Mas a controvérsia – por sinal vivida igualmente hoje em dia no Brasil – é bem embalada musicalmente.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Death Row / Gemma
Lançamento: 15 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Maxswell – “Dancing queen” (EP)

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Ouvimos: Maxswell, "Dancing queen" (EP)

RESENHA: Maxswell explora o lado sombrio da vida em Dancing queen, EP gótico com clima denso e introspectivo.

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Vindo do Arizona, Maxswell Mahar é um sujeito bastante misterioso: recentemente se desfez de suas redes sociais, as capas de seus singles e EPs têm um visual bem sombrio, e sua musicalidade é basicamente rock gótico feito na unha. Como ele tem um passado recente no death metal – tocou baixo numa banda chamada Eternal – o som das três músicas de Dancing queen é bem mais cavernoso do que de costume, mesmo que role em meio a teclados e programações eletrônicas.

Com um repertório que fala basicamente sobre isolamento, introspecção e sobre o lado sombrio da vida, o EP abre com a faixa-título – uma música dançante e atmosférica, levada adiante por baixo (na frente) e teclados. Come to the desert é arrastada, distorcida e com clima ligeiramente stoner. Já Then we could dance, no final, tem vocal quase falado, clima darkwave e tom extremamente fantasmagórico.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 28 de maio de 2025.

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