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O adeus dos Estranhos Românticos

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Depois de três discos, a banda carioca Estranhos Românticos decidiu encerrar atividades. Último sol, o novo disco, saiu há pouco e revela um indie-rock com letras sobre o dia a dia, sobre romantismo e sobre a vida no Rio (não por acaso, o novo álbum abre com Boa noite, Copacabana). O disco inicialmente nasceu da ideia de fazer um álbum duplo, que incluiria inicialmente o material dele e de , o anterior (2020).

“Mas percebemos que, numa época em que todo mundo lança singles e poucos lançam álbuns, seria um desperdício jogar nas plataformas um disco duplo onde poucos chegariam até o final”, comenta Pedro Serra, baterista do grupo, que inclui também Luciano Cian (teclados), Marcos Müller (voz e guitarra) e Mauk (baixo).

O experiente Pedro, que atua também como DJ, bateu um papo com o POP FANTASMA sobre o novo disco, sobre o fato de Último sol ter sido lançado inicialmente no Bandcamp, e sobre o que vem acontecendo com o Rockarioca, movimento de bandas e artistas do Rio de Janeiro, que já virou matéria nossa, e que vem rendendo uma série de lives e posts bem legais nas redes sociais.

Me fala um pouco porque é que a banda resolveu encerrar atividades com três discos. Você diria que cansou um pouco levar a banda adiante em tempos pandêmicos ou isso nem contou?

Olha, na verdade o Estranhos Românticos começou a acabar em 2019 no começo da gravação do segundo disco – que também se desdobraria no Último sol. Porque quando a banda entrou no estúdio (La Cueva, do produtor argentino Seu Cris), tínhamos 19 músicas prontas: compostas, arranjadas, algumas já em seu terceiro ou quarto arranjo. E muito bem ensaiadas, fruto de três anos de trabalho. O primeiro disco homônimo produzido por JR Tostoi tinha sido lançado em 2016.

A gente pensava em gravar um disco duplo, na verdade. Daí a banda brigou no terceiro dia de gravação. E por uma semana, parecia que tinha sido tudo em vão. Mas a gente é macaco velho e depois de muito pensar resolvemos tentar terminar a gravação porque as músicas eram muito boas e tínhamos trabalhado muito nelas. Seria um enorme desperdício. Foi muito difícil, porque a banda não se encontrou mais. Cada um ia ao estúdio gravar as suas partes sozinho com o produtor Seu Cris. Aliás, esses álbuns só saíram graças ao empenho e paciência dele.

Só voltamos a nos encontrar na fase da mixagem, no começo de 2020. Daí fomos vendo que algumas músicas estavam mais “prontas” que outras, que tinha algumas que combinavam entre si e outras que caberiam num outro contexto. Também percebemos que, numa época em que todo mundo lança singles e poucos lançam álbuns, seria um desperdício jogar nas plataformas um disco duplo onde poucos chegariam até o final. E durante a mixagem começou a pandemia, mas não atrapalhou muito. O Seu Cris mixava, mandava pra gente e a gente dizia o que achava. Assim, focamos no grupo das 10 músicas mais prontas e que tinham a ver entre si para Só, que foi lançado em maio de 2020. O álbum teve ótimas participações de JR Tostoi, Gilber T, João Pedro Bonfá e do guitarrista argentino Dom Horácio. E guardamos as outras 9 para mais tarde.

O clima entre a banda começou a melhorar, pensamos inclusive em fazer um show (único) de lançamento dos dois discos quando a pandemia terminasse. Em março de 2021 voltamos a trabalhar no que seria o 3º álbum, Último sol. O Marcos regravou alguns vocais e guitarras, o Luciano refez alguns teclados e as músicas foram crescendo – assim como o atrito entre nós. As divergências foram aumentando à medida que as músicas iam ganhando mais forma. Quisemos repetir o esquema de participações que deu muito certo no disco anterior. É muito legal como as músicas ganham uma outra dimensão quando se traz alguém de fora, com um novo olhar.

Quem do Rockarioca está no disco?

Tivemos dois companheiros de Rockarioca no disco. O “Nervoso” André Paixão gravou guitarras e vocais em Me beija, levando ela ainda mais prum lado Jovem Guarda e o Latexxx, que remixou Mergulho no Saara (Latexxx Remixxx). Também teve participação da cantora e atriz argentina Cony Piekarz, conhecida do produtor Seu Cris. E do saxofonista Marcello Magdaleno, que tocou com Canastra e Cisco Trio e tem uma interessante carreira solo. Por mim, teria chamado até mais gente para contribuir.

O Nervoso é essa “jovem lenda” do rock independente carioca, como disse o MauVal outro dia. O conheço desde a adolescência – a mãe dele era amiga da minha. Sempre acompanhei a carreira dele e vice-versa, desde Beach Lizards (ele) e Ao Redor da Alma (eu). A gente tocou junto no projeto Os Helenos, de músicos botafoguenses que gravaram um EP em 2016, eu já editei clipe do Nervoso & os Calmantes… Eles e o Latexxx estão no Rockarioca e eu teria chamado mais gente de lá pra participar – não só pela qualidade musical, mas também pela afinidade. Infelizmente perdi a queda de braço.

Você vinha se dividindo entre duas bandas, o Estranhos Românticos e O Branco E O Índio. Como estava sendo cuidar de dois projetos musicais ao mesmo tempo?

Tocar nas duas bandas não era problema nenhum, mesmo porque os sons são totalmente diferentes e os horários compatíveis. O Mauk (baixista), por exemplo, toca em umas 7 ou 8 bandas! O que era mais complicado é porque eu acabo sempre produzindo as bandas em que toco, e isso tornava as coisas mais trabalhosas e sensíveis. Tipo, qual das bandas inscrever para tal projeto? Ou qual delas tem mais a ver com determinado espaço pra show?

Como é ter uma banda indie que trata de temas românticos nas músicas? Você diria que o Estranhos Românticos busca uma forma diferente de falar de amor?

As letras quem fazia era o Marcos. Mas sem dúvida o estilo dele falar de amor é diferente, mais existencial e cheio de complicações…

Aliás como é falar de certos temas mais escapistas, digamos assim, numa época maluca dessas, com gente escrota no poder, pandemia, etc? Você diria que isso até incentiva na hora de compor uma canção que possa levar o ouvinte pra um lugar legal?

O amor é algo universal e atemporal, né? Todo mundo sente, todo mundo sofre, todo mundo quer. Acho que serve sim pra escapar um pouco desse pandemônio em que estamos vivendo e tentar manter um pouco a nossa sanidade mental e emocional.

Como surgiu a ideia de ter um remix no disco e como foi trabalhar com a turma do Latexx? 

Mergulho no Saara era uma música que a gente gostava muito do disco anterior e achamos que tinha tido pouca atenção. O Latexxx é uma dupla de synth-rock que faz um som muito interessante, inclusive tocam na nova formação do Fausto Fawcett & os Robôs Efêmeros. E agitam muito – além de serem amigos. Eu participei da sessão de fotos pra capa do EP deles, fiz playlist pra tocar em show deles… Eles extraíram o sumo da música, transformando ela num eletro-punk-funk-carioca, com adição de alguns synths.

Como vai o Rockarioca hoje e que balanço você faz desse um ano?

O movimento coletivo Rockarioca está fazendo um ano em outubro e acho que está mudando muita coisa. Tivemos algumas trocas de artistas que não se adaptaram à coletividade ou saíram por outros problemas e firmamos em 24 bandas fixas e uma mensal, porque tem muita gente boa querendo entrar e o espaço (na playlist) é limitado. Posso afirmar que temos um grupo de artistas unido, que conversa, se ajuda e troca musicalmente – taí o projeto Disstantes do Gilber T e Homobono e as participações nos discos uns dos outros, que não me deixam mentir.

Mas não é só isso. Além de três playlists (do coletivo, de influências dos artistas e de discos importantes do rock carioca) no Spotify e Deezer, e uma de clipes no Youtube, temos agitado muito nas nossas redes (Facebook e Instagram) com seções fixas durante toda a semana. Na segunda-feira, falamos das estreias da semana (e os artistas comentam sobre suas novas músicas). Na terça-feira, contamos histórias sobre os instrumentos da galera (e isso tem sido bem revelador – não só em termos musicais, mas pessoais).

Na quarta-feira, sobre outros artistas selecionados que não estão no coletivo. No #tbt de quinta-feira, sobre bandas antigas da galera, ou estúdios, casas de shows ou projetos clássicos. Na sexta-feira, sobre clipes e nos sábados um artista do coletivo fala sobre um disco do rock carioca. E isso tem gerado vídeos dos artistas retratados e uma interação muito legal entre gerações – já participaram Evandro Mesquita, Pedro Luís, Cris Braun, Fausto Fawcett, Lucas Vasconcellos, JR Tostoi, Pedro Garcia… Os próximos passos são fazer um festival, uma turnê e um disco.

Me fala um pouco dessa opção de lançar o disco primeiro no Bandcamp. Como ficou isso pra vocês?

Eu quis chamar atenção para esse problema da remuneração dos artistas pelas plataformas digitais. Durante o ano e meio de pandemia, o meio musical foi um dos que mais sofreram, com a falta de arrecadação nos shows. E ficou patente como os artistas são mal pagos pelas plataformas digitais. Com 0,00348 centavos de dólar arrecadados a cada reprodução e tendo que ter 60.000 visualizações para garantir um salário mínimo, fica parecendo que a música não vale mais quase nada – quando na verdade, o mundo revolve ao redor da música.

O Bandcamp é uma plataforma que permite que os artistas recebam quanto pedirem pela sua música. E além disso, repassam integralmente as receitas para os artistas uma vez por mês. No caso do lançamento do Último sol, o que aconteceu é que mesmo tendo poucas vendas, a receita gerada pelos 5 dias de pré-venda da Bandcamp foi mais alta que a de 15 dias em todas as outras plataformas, juntas.

Quais são os projetos pro lançamento do disco?

A gente não tem paciência para esse novo esquema de lançamento de ir soltando os singles aos poucos pra depois, só lá no final, lançar o álbum. Então o álbum tá aí, não tem música de trabalho e eu mando ele inteiro para as rádios – do Brasil e do mundo. O que é muito legal, porque cada programa escolhe uma música diferente para tocar. Como nos álbuns anteriores, eu tenho feito um forte trabalho de divulgação nas webrádios brasileiras e europeias, e nas college radios americanas. Além das ondas internéticas, músicas diversas do disco já tocaram em rádios FM de Manaus a Joinville, passando por RJ, SP e Brasilia – e fora do Brasil em São Francisco e Portland (EUA), Madri e Granollers (Espanha), La Plata e Ushuaia (Argentina), Cidade do México e Londres, nesses 15 dias.

Como entendo que as pessoas atualmente só conseguem focar em uma música por vez, vamos lançar uma música por semana, na ordem do álbum, na playlist Rockarioca.

Eventualmente vai rolar clipe também, porque eu e o Luciano Cian (tecladista) trabalhamos com isso. Mas acho importante sempre a música respirar sozinha primeiro, sem a ajuda de imagens que influenciam diretamente na percepção da canção.

O que mais você vem fazendo de trabalho (como DJ, pesquisador, jornalista, etc)?

Eu realmente não me adaptei ao esquema de discotecar online. No começo da pandemia cheguei a fazer umas sessões revisitando as minhas festas (Projeto Rock Brasil – 1989, Copaphonic – 1997 e BLAX – 2004-2019) no Facebook, mas elas eram rapidamente tiradas do ar por problemas de direito autoral (que no meu entendimento o Facebook deveria pagar, porque quem lucra com isso são eles e não eu).

O trabalho com o Rockarioca me toma muito tempo. Não é remunerado, mas espero em breve começar a conseguir algum tipo de suporte. Estamos tentando uns editais. E mantenho meu trabalho de editor de imagens pela internet – as pessoas me mandam as imagens online, eu baixo, edito e reenvio.

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Lançamentos

Radar: VIAL, Arkells, Melody’s Echo Chamber, U.S. Girls, The Sophs, Foo Fighters, Forgotten Garden

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VIAL

O Radar internacional de hoje demorou, mas chegou – e abre com uma porrada tanto em áudio quanto em vídeo, que é o clipe pinga-sangue do VIAL, trio punk de Minneapolis. Tem mais novidades, além de alguns sons que saíram ao longo da semana e que se destacaram bastante na nossa trilha sonora. Ouça e repasse!

Texto: Ricardo Schott – Foto (VIAL): Katy Kelly/Divulgação

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VIAL, “IDLE HANDS”. Olha o Halloween aí – e olha a sangueira de terror que jorra do novo clipe dessa banda punk feminina de Minneapolis. O VIAL, que lançou o álbum Burnout no ano passado, e há alguns meses soltou o single Creep smoothie, lança agora Idle hands, uma canção entre o punk e o grunge – entre Ramones e Nirvana, passando pelo Hole.

A letra pede a sorte de um amor que de tranquilo não tem nada: “por que você não me ama mais? / estou implorando, deitada no seu chão / por que você não consegue me ver como eu sou? / por favor, ocupe estas mãos ociosas”. Já no bendito clipe, as três integrantes da banda se transformam em bruxas e arrasam com um engraçadinho que resolve aparecer no exato momento em que elas estão fazendo uma mistura bem louca no caldeirão. Pior pra ele, como vemos no vídeo.

ARKELLS, “WHAT GOOD?”. Que ideia ótima esse clipe do Arkells – aliás uma ideia simples que deve ter dado uma baita trabalheira. A banda aparece tocando, vista de cima num lugar espaçoso, mas são as sombras dos músicos que chamam a atenção. O próprio grupo dirigiu o vídeo. Já a canção é outra atração: um som meio 60’s, meio new wave fanfarrona, daqueles que levantam plateias de todas as idades. A letra de What good? faz alguns questionamentos importantes sobre a dureza dos tempos atuais: “Qual a utilidade da seção de comentários? Qual a utilidade de incitar a raiva disfarçada de debate? Qual a utilidade da cultura da exploração se ela só recompensa vigaristas e golpistas?”, diz o texto de lançamento.

“A música não pretende ter respostas definitivas, mas aponta para onde o significado ainda pode ser encontrado”, diz o vocalista Max Kerman. “O sol, a lua, o brilho neon do bar do seu bairro. Coisas que podemos compartilhar, coisas que parecem reais”. Falou e disse!

MELODY’S ECHO CHAMBER, “EYES CLOSED”. Em 5 de dezembro, a Domino lança Unclouded, o próximo disco do projeto musical criado pela artista francesa Melody Prochet, que já foi adiantado pelos singles In the stars e Daisy (esta, com El Michels Affair). A mágica Eyes closed é psych-pop dos melhores: a voz de Melody, linhas sinuosas de baixo e uma batida funkeada, feita pelo baterista Malcolm Catto – aquele mesmo, dos Heliocentrics, e dos discos gravados ao lado do Little Barrie, como Electric war. Se você esperava pela viagem sonora do ano, ela talvez esteja aqui.

U.S. GIRLS, “RUNNING ERRANDS” (YESTERDAY) E “RUNNING ERRANDS” (TODAY)”. Meg Remy, criadora do projeto U.S. Girls, abraçou desde o começo várias vertentes com sua banda, indo do electropop ao som do disco mais recente, Scratch it (lançado em junho), que passeia por country, soul, bubblegum, soft rock. Agora, ela comemora os dez anos de Half free, seu quinto disco, voltado para o art pop – e a comemoração é com um single duplo, com duas versões da mesma nova faixa, Running errands (a primeira é “yesterday” e a segunda, “today”).

Ela afirma que a música nova “consome sua própria cauda, ​​nunca totalmente livre, nunca totalmente presa, sempre mudando conforme se repete” – é verdade, já que Running errands é baseada num riff circular, que vai ganhando algumas alterações. As duas músicas são baseadas numa interpolação do soul Footprints on my mind, sucesso de Annette Snell, cantora morta em 4 de abril de 1977 num acidente aéreo histórico (o voo 242 da empresa Southern Airways Flight, que executou um pouso forçado e causou a morte de 63 pessoas, entre elas Annette e os dois pilotos).

A diferença é que a versão “ontem” é feita em cima de samples usados no disco Half free, e a contrapartida “hoje” é orgânica, gravada com os mesmos músicos do álbum Scratch it. No clipe da primeira, Meg faz compras e pega um metrô. Na segunda, tudo roda ao contrário.

THE SOPHS, “I’M YOUR FIEND”. Punk melódico como o mundo precisa, a nova faixa desse sexteto de Los Angeles contratado pelo selo britânico Rough Trade, é ágil e emocionante, lembrando uma estranha mescla de The Jam e Dead Kennedys, só pelo peso e pelo ataque. A letra, diz o vocalista Ethan Ramon, é constituída de “declarações frenéticas de amor e desejo sob um manto de estática tão espesso que parece que sua antena da DirecTV acabou de ser atingida por um raio bem no meio do seu programa favorito”.

É justamente Ethan quem protagoniza o clipe de I’m your fiend. Numa praia deserta, o vocalista namora com uma boneca de areia, dança, sapateia e se joga no chão com um entrega digna do Tonho da Lua (da novela Mulheres de areia, lembra?).

FOO FIGHTERS, “ASKING FOR A FRIEND”. Um vislumbre de como vai ficar o próximo álbum dos FF já surgiu com Today’s song, lançada em julho, e com o single mais recente, Asking for a friend – esta última música, a primeira com o baterista Ilan Rubin, que parece ter se fixado no cargo. O líder Dave Grohl aproveitou o single para anunciar uma turnê por estádios da América do Norte, marcada entre 4 de agosto e 26 de setembro de 2026, com shows de abertura do Queens of the Stone Age, banda de seu velho chapa Josh Homme. Divulgou também, junto com a nova faixa, uma carta em que fala de uma experiência de fé que teve ao avistar pela primeira vez na vida o Monte Fuji, no Japão.

“Tendo tocado inúmeras vezes no lendário festival Fuji Rock ao longo dos últimos 28 anos com o Foo Fighters, Queens of the Stone Age e Them Crooked Vultures, eu já conhecia bem sua lenda. Só não conseguia vê-lo fisicamente”, contou o músico, definindo Asking for a friend como “uma canção para aqueles que esperaram pacientemente no frio, confiando apenas na esperança e na fé para ver o horizonte surgir. Que buscaram ‘provas’ enquanto se agarravam a um desejo – até o sol voltar a brilhar”. Ele também conta na carta que Asking – basicamente um blues grunge típico de Grohl – é uma das músicas entre as muitas que virão.

FORGOTTEN GARDEN, “JAMES”. Essa dupla funciona à distância: a vocalista Inês Rebelo vive em Portugal, e o guitarrista/tecladista Danny Elliott é da Escócia. Os dois constroem as canções e cuidam da produção delas. O som é definido por eles de brincadeira como “Lana Del Rey encontra The Cure” – e é como se a magia de cantoras performáticas como Lana e Florence Welch encontrasse o clima denso e mágico de The Cure, Joy Division e Cocteau Twins. Dando mais dramaticidade ainda, o Forgotten Garden inclui em suas canções uma harpa híbrida – de fato, uma mescla de harpa e piano – que rouba a cena no single James.

 

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Entrevista

Entrevista: Les Rita Pavone fala sobre disco de estreia, cena musical paraense, viver ou não de música

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Les Rita Pavone (Foto: Safo / Divulgação)

Em 2025, a banda paraense Les Rita Pavone fez 12 anos de existência – entre shows, alguns hiatos, alguns singles e várias mudanças de formação. O grupo hoje é um quinteto formado por Gabriel Gaya (voz e composição), Arthur da Silva (violão, voz, teclado, cavaquinho e produção), Helênio Cézar (baixo), Jimmy Góes (guitarra) e Luiz Otávio de Moraes (bateria) e em maio, eles lançaram o ótimo primeiro álbum, ¡El baile rock!, cuja repercussão chegou à lista dos 50 melhores disco do primeiro semestre de 2025 da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).

Quando resenhei o disco, achei que a banda estava sendo irônica com a limitação de vários segmentos do público roquista ao incluir em sua estreia sons latinos, revoluções sonoras a la The Clash e Mano Negra, e sambas com cavaco e guitarra. Nada disso: no papo abaixo, Gaya, Arthur e Jimmy contam como o rock, no caso deles, inclui vários estilos e perspectivas.

(se você quer saber se rolam confusões nas plataformas de música entre o nome da banda e o da veterana cantora italiana Rita Pavone, eles já falaram sobre isso com a gente)

Texto e entrevista: Ricardo Schott – Foto: Safo / Divulgação

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Quando fiz a resenha do ¡El baile rock!, imaginei (e disse isso no texto) que havia uma certa ironia no título do disco, já que se trata de um álbum musicalmente bastante diversificado. Aí vocês me falaram por DM que não se tratava de nenhuma ironia. Expliquem isso aí.

Gaya: Eu entendo o rock como um ritmo modular, que por isso teve tantas transformações e ramificações com o passar do tempo. Ao entrar em contato com alguns discos do rock latino, e com bandas brasileiras influenciadas por esse tipo de rock, como Acabou La Tequila e Pato Fu, vi que a diversidade de ritmos é meio que o padrão. E o que credencia esses discos como discos de rock é justamente as escolhas de timbragem e o trabalho conceitual. O disco tenta achar esse ponto de intersecção entre a música brasileira, psicodelia, rock, latinidade e a experiência de viver em uma cidade da Amazônia urbana.

Jimmy: O rock permeia todas as faixas de alguma forma, no sentido do ritmo musical, na influência que cada um tem desse estilo, e no sentido da palavra, que em Belém é algo referente a uma “festa”. Mas interpretar o título do álbum como tendo essa certa ironia não tá errado. Faz parte do que a banda propõe essa “confusão” de significados.

Arthur: O nome denota exatamente o que o disco se propõe a ser, mostrar uma outra perspectiva de rock, mais dançante, gingada (daí o “baile”) e voltado às nossas influências amazônicas e latinas, uma forma de interpretar o artigo em espanhol “El”.

Vocês estão ficando felizes com a receptividade do disco? Dá para perceber que o Les Rita vem progredindo bastante no número de fãs e menções na mídia, certo?

Gaya: Fico feliz sim com a receptividade, a entrada na lista da APCA… Mas sempre confiei muito nesse repertório e no conceito criado. Queremos nacionalizar a banda. Mas pra ter realmente um público mais substancial, do tipo que paga suas contas, ainda precisamos saber trabalhar melhor com as possibilidades da internet.

Jimmy: Quis gravar com a intenção de fazer um registro das músicas e só. Não esperava que houvesse uma receptividade como está tendo. As pessoas curtem os shows, mas geralmente a gravação não fica com a mesma energia de um show. Mas tá sendo interessante perceber que, mesmo assim, as músicas tem alcançado as pessoas. Nunca imaginei que o solo todo torto que eu fiz na última música fosse fazer parte de um disco que ficaria na lista da APCA.

Arthur: Isso é muito engraçado, porque há relativamente pouco tempo atrás, tinha gente que pensava que a banda sequer existia mais. Nossos lançamentos em forma de single foram uma boa estratégia porque pavimentaram o ambiente para o lançamento do álbum e construíram a receptividade por parte do público.

Quanto tempo vocês demoraram gravando o disco?

Gaya: Pra mim o disco começou a ser gravado em 2021 quando começamos a gravação de Eva. Aí firmamos a parceria com o Studio Z do querido amigo Thiago Albuquerque, e um certo padrão de produção foi estabelecido.

O disco foi quase todo feito nas minhas folgas do trabalho alinhadas com o tempo livre de cada integrante da banda e participantes em geral – se eu deixei de estar em duas sessões, foi muito. Depois de tudo, ainda passamos um pente fino pra definir a mixagem e dar uma certa concisão no disco todo. Porém, só foi feito um ajuste fino de volume.

Arthur: A primeira tentativa de gravação dessas músicas já tinha rolado antes de eu entrar na banda, mas voltamos em 2022. Já estava mais do que na hora de registrar esses sons e lançá-los.

O disco, como vocês falaram no texto de lançamento, resgata a memória afetiva da banda – tem faixas feitas há tanto tempo que são assinadas por ex-integrantes, etc. Como foi mexer nesse baú do grupo?

Gaya: Ainda nem mexemos no baú! Nós apenas registramos as músicas que já eram tocadas em shows antes da saída deles e continuaram sendo tocadas. E muitas delas foram feitas a seis mãos, como Pira de pajé, Fui cumê e Café Havana – em que eu tive um papel muito ativo na composição.

Arthur: Essas músicas são tocadas desde quando os ex-integrantes ainda eram da banda, e permaneceram no repertório mesmo após a saída deles. O Les Rita é uma família musical, vários compositores passaram pela banda e foram deixando suas contribuições.

Jimmy: São músicas que fazem parte do repertório de um jeito “vivo”. Elas meio que são parte da identidade da banda.

Gaya: Mesmo composições como Radio AM – em que eu não assino a autoria – encontraram suas versões definitivas a partir de proposições feitas por essa “nova formação”, que na verdade já tem seis anos. Teve, por exemplo, a inserção do dial da Rádio Clube, uma rádio paraense histórica do AM. Isso foi uma sacada do Arthur, e deixou a música ainda mais linda.

O baú da banda de fato são as canções que eu, Rafael e Mateus escrevemos – algumas em parceria – nos nossos anos formativos como compositores. Nessa gaveta não estão apenas canções mas também uma série de conceitos pra discos em que elas foram agrupadas a época. Quero mexer nesse material após o lançamento do segundo disco.

Aliás vocês têm dois ex-integrantes que são bem próximos do grupo: gravaram vocais, assinam faixas, um deles carrega “Pavone” no sobrenome artístico… Como é essa relação com eles, ao mesmo tempo tão perto e tão longe?

Gaya: Vou deixar primeiramente um comentário sobre o nome “Rafael Pavone”. Em 2012 quando a gente lançou o primeiro single no Soundcloud, que foi a marcha rancho Sentimento do mundo, a banda na verdade era um trio de compositores. Não havia uma formação do tipo guitarra, baixo, bateria – até por isso eu conto os anos da banda a partir do primeiro show em novembro de 2013. Quando mandamos o release pra rádio assinamos como: Gabriel Pavone, Mateus Pavone e Rafael Pavone. Mas só o Rafael prosseguiu usando o nome, acabou virando o nome artístico dele.

A ideia inicial quando decidimos fazer o disco era que ele seria produzido a seis mãos por mim, pelo Mateus e Rafael. Mas por vários motivos isso acabou não acontecendo e quem assumiu a produção fomos de fato eu e o Arthur, em todas as faixas – com exceção de Fui cumê, que o Mateus co-produziu com a gente. A participação deles no disco foi meio natural, até porque grande parte do repertório nós construímos juntos e acredito que essa vai ser uma constante na discografia da banda; já tem canções listadas de ambos pra entrar no segundo disco…

Jimmy: O Mateus e o Rafael moram em Belém. O Rafael tá no grupo da banda (no Whatsapp). Tudo que a gente conversa no grupo ele fica ciente, ele dá a posição dele quando acha que deve, enfim. Tem até uma piada interna em que a gente fala que o “Mais Querido” (apelido do Rafael) está sempre presente em nossos corações. Isso surgiu numa época em que ele ainda cantava nos shows, mas dificilmente ia pros ensaios por conta da vida.

O Mateus lançou um trabalho musical recente também, A imitação do vento (assinando com seu nome verdadeiro, Mateus Moura). Ele é um artista que produz muito, então frequentemente a gente se encontra pelos espaços, troca ideia e tal. Ninguém tá nem tão perto e nem tão longe. Acho que isso se encaixaria mais pro Mael, que é quem assina Chinatown. Atualmente ele mora na Alemanha e já faz tempo que ele fez parte da banda. Então é o que tá perto, no sentido de que a música dele tá no disco, mas longe no tempo e no espaço.

Aliás, qual foi o motivo que mais fez gente sair do Les Rita Pavone?

Gaya: Acredito que fechamento de ciclo, surgimento de outras prioridades, cansaço – e algumas fricções, sim. Eu mesmo de vez em quando dou uns hiatos da banda. No ano de 2024 fizemos pouquíssima coisa juntos porque após o show de dez anos da banda, em novembro de 2023, e após a finalização do disco, eu me senti meio exaurido. Além disso ainda teve a morte do pai do Jimmy, que deixou todos da banda de luto.

Eu acho importante dar esses respiros – principalmente em um projeto que ainda não é fonte de renda pra ninguém. Então, quando voltamos, estamos com a energia renovada pra trabalhar.

Como vai a cena musical de Belém? Atualmente quais são os maiores desafios e as maiores vitórias de quem vive aí e trabalha com música?

Gaya: Um dos movimentos mais importantes em termos de “cena paraense” ultimamente tem sido a página/grupo de whatsapp Ouça Rock Paraense (@oucarockparaenese) que tem movimentado eventos de música autoral na cidade e dando destaque pra lançamento de singles e discos das bandas daqui do Estado.

Outra iniciativa importantíssima aqui em Belém é o trabalho desenvolvido pelo músico e produtor Renato Torres, que inclusive produziu nosso primeiro EP Voltar a viver. É o Roda Cancioneira, que acontece na loja Na Figueiredo, em que ele chama um elenco base de compositores tem a oportunidade de mostrar suas músicas para um público que vai lá para ouvi-las. Depois tem microfone aberto.

Acho que o maior desafio pra qualquer empreitada aqui em Belém é a formação de plateia. Isso passa por estabelecer parceria com produtoras e outras bandas e pensar em estratégias pra chegar no público. Ultimamente temos feito muitos esforços nesse sentido e nossa parceira mais regular tem sido a produtora Perau, que presta assessoria pra artistas e bandas aqui em Belém.

Já as vitórias têm sido as pequenas: lançar nossos trabalhos, manter uma certa regularidade de shows… Neste ano pela primeira vez conseguimos ser aprovados em um edital.

Como vocês veem o fato do rock brasileiro aparentemente “não fazer parte” (muito entre aspas) do rock latino-americano?

Gaya: Engraçado você perguntar isso porque o documentário Rompan todo, que foi feito sobre o rock na américa latina, exclui o Brasil dessa história. E olha que Roberto Carlos, Rita Lee e Secos e Molhados fizeram muito sucesso na América Latina, teve todo o esforço por parte dos Paralamas em se inserir dentro desse contexto do rock latino… As conexões são enormes, mas muitas vezes esquecidas e até mesmo intencionalmente apagadas.

Jimmy: Existe uma barreira que é a língua. Se no Brasil houvesse uma política de se priorizar aprender a língua espanhola, talvez a gente conseguisse se integrar mais com os povos dos países vizinhos em termos de cultura.

Arthur: Tem que pensar até no que é “rock” e no que é considerado “brasileiro”. O que ficou conhecido enquanto “Rock Nacional”, as bandas do Sudeste/Sul, de fato não se comunicou com grande afinco à vizinhança latina. Teve a exceção dos Paralamas. Porém, na música amazônica – pensando Amazônia como território que transcende o Brasil – a injeção da guitarra psicodélica na tradicional música peruana foi decisiva para influenciar a guitarrada no Pará e o beiradão no Amazonas. E eles também se fundiram com a musicalidade caribenha não só espanhola, mas também dos países francófonos.

Esse, pra mim, é o grande ponto do debate: quais partes do Brasil não se comunicaram com as infusões que o rock trouxe para a América Latina? Porque enquanto o Sudeste já chegou a fazer até marcha contra a guitarra elétrica, a Amazônia pegou a guitarra elétrica e deu a ela um sotaque próprio e único.

Vocês têm fãs em outros países de língua latina? Ou até em outros países falantes de português, por que não?

Arthur: Tenho um trabalho solo e um contato de fã na Colômbia – é a única pessoa estrangeira que eu conheço. Quero apresentar o Les Rita a ela, tenho certeza que ela vai curtir.

Jimmy: Tem uma amiga chilena que conheceu nosso trabalho. Talvez ela conte como uma fã de outro país.

Gaya: Surgiu até uma proposta da gente fazer uma turnê na Argentina, mas infelizmente era golpe. Na real era um cara tentando vender um pacote de turismo em um esquema “pay to play” dizendo que a gente ia ter a honra de tocar no mesmo estúdio que o Ceratti, do Soda Stereo, tocou. Com todo respeito ao Ceratti e ao Soda Stereo… achei tudo isso um engodo. Apesar das estatísticas do Spotify for Artists apontarem que temos ouvintes fora do país, ainda não rolou algo realmente palpável nesse sentido. Eu particularmente adoraria tocar em festivais da América Latina ou mesmo em Portugal e Angola e acho que isso de fato ajudaria a aumentar nosso público nesses lugares.

Passamos por desgovernos, mortes, pandemia, etc. Qual a visão que vocês têm de futuro atualmente e o quanto isso impacta o som de vocês?

Jimmy: Eu penso que a gente não passa de 2050, mas, sinceramente, isso não impacta muito o meu trabalho, pessoalmente falando. Quanto o som da banda, talvez a gente faça uma música sobre isso tudo pro próximo disco. Bora ver.

Arthur: Tenho tentado não ser pessimista em relação ao futuro, já que o pessimismo também é uma ferramenta política. Gosto muito de pensar no que o Antônio Abujamra falou sobre o artista do teatro, e que adaptei à arte de um modo geral: “Tem que ser torcedor do América”. Sofredor, mas nunca deixar de acreditar até o fim, manter a esperança no intangível.

O Gabriel é um exemplo disso. Ele pretende seguir com o Les Rita até o fim, ou do mundo, ou o dele próprio. É o cara mais apaixonado pela música que eu conheço. Nosso som tem tudo a ver com a nossa realidade, e isso vai permanecer. Que o Les Rita Pavone seja uma das trilhas sonoras pra adiar o fim do mundo!

Gaya: Depois de sobreviver à pandemia, veio a consciência do quão essencial pra nossa existência é a realização de projetos. O lançamento desse disco pra mim é a materialização de um sonho. Engraçado vocês (Arthur e Jimmy) falarem de fim do mundo porque isso vem sendo um tema recorrente em vários trabalhos que entrei em contato: Pic Nic, com o ótimo single Aniquilação, Luedji Luna, Menores Atos… vários artistas vêm falando disso. Uma das muitas coisas que eu gosto de fazer no meu parco tempo livre é assistir vídeos de biologia na internet e neles uma constante é que as “grandes extinções” tendem a demorar milhares de anos. Então, provavelmente – e apesar dessa “coisa no ar”- ou estamos muito longe do fim, ou azarentos o suficiente pra estar bem no ponto X.

Vocês já conseguem viver de música? O que cada um faz da vida?

Gaya: Eu não vivo de música, mas sem música também não vivo. Já ganhei um dinheirinho discotecando ou fazendo seleção de músicas pra ambientes. Mas meu ganha-pão mesmo vem da profissão que comecei há 12 anos que é o trabalho de garçom e que, modéstia às favas, eu sou bom pra caralho! Tenho um trampo fixo que é o Bar do Parque, o bar mais antigo do Brasil em funcionamento atualmente, e trabalho em mais uns dois bares como extra. Quero fazer Enem esse ano pra música ou jornalismo, mas sempre tenho aquele fio de esperança da banda se tornar viável comercialmente.

Arthur: Somos artistas proletários. Além de nós, Cézar é professor de Inglês e também estudante e Luiz Otávio trampa com cozinha. Por enquanto eu trabalho 100% com música. Tenho dois EPs lançados, Acenei e Tese brega-soul, participei de projetos de outros amigos como músico, vou lançar trampo novo com a Velhos Cabanos, outra banda daqui… Mas dou aula de violão, produzo em estúdio, faço gigs em bares. A gente se desenrola em mil corres pra segurar o sonho. “No mais, vida de artista”, dizia Itamar Assumpção.

Jimmy: Eu sempre vivi de música, de um jeito ou de outro. Meu pai é considerado um dos maiores compositores do Brasil. Ele é conhecido como Tonny Brasil, pai do tecnobrega. Com o trabalho dele foi possível construir a casa onde eu vivo hoje, entre outras coisas. Mas eu mesmo não consigo me sustentar com o meu próprio trabalho com música. Estou terminando uma graduação em Letras, vou me tornar professor de português e pretendo prestar concurso pra conseguir me estabilizar.

Nos últimos anos vocês lançaram EP, single, o álbum… e imagino que vocês sejam o tipo de banda que mal lançou alguma coisa, já pensa num próximo lançamento. Já têm algo em mente?

Gaya: Na real, o EP Voltar a viver foi um relançamento via Maxilar de um trabalho que já tinha sido lançado em 2017, mas só estava no Soundcloud e YouTube. Mas sim o conceito do segundo disco já está definido e com repertório pré-selecionado, e terá o nome de A arte da fulerage. Como meu planejamento com a banda é a longuíssimo prazo, após esse disco um dos caminhos possíveis é retomar as canções que foram feitas antes desse dois discos – o real baú da banda. O ideal seria lançar um disco por ano, o que é difícil pra realidade independente. Mas com esse material daria pra lançar uns cinco discos e ainda sobraria música pro meu disco solo.

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Lançamentos

Radar: Lorena Moura, Supercombo, Pra Gira Girar, Máquina Voadora, Jáder, Ra7ael, Camapu

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Lorena Moura (foto: Malu França)

O Radar nacional de hoje tá a cara da diversidade sonora, abrindo com a MPB pop de Lorena Moura, e seguindo com rock introspectivo (Supercombo), raízes afro-brasileiras (Pra Gira Girar), instrumental com cara jazzística (Máquina Voadora) e sons variados e eletrônicos (Jader e Ra7ael). Ouça e repasse!

Texto: Ricardo Schott – Foto (Lorena Moura): Malu França/Divulgação

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LORENA MOURA, “QUIS”. Lorena já apareceu aqui no Radar com o belo single Carinho – e agora volta com seu primeiro clipe, Quis. Uma música delicada e tranquila, numa onda que lembra Rita Lee e João Donato (imagine uma música composta e arranjada pelos dois!), cuja letra põe o amor-próprio na mesa de debates: Lorena encontra-se com ela própria numa mesa de bar e fala dos altos e baixos de um pós-relacionamento que já foi um triângulo amoroso, e virou uma divisão de bens. A direção é do irmão de Lorena, Lorenço Moura.

A cantora compôs a faixa a partir de uma prosa poética que Maria Santos enviou para ela. Luca Fustagno, parceiro de Lorena, entrou depois e fez a segunda parte da canção. E Quis acabou se tornando tão importante que Mata-leão, disco de Lorena que está para sair, foi “promovido” de EP a álbum cheio. O material sai pelo selo paulistano Cavaca Records.

SUPERCOMBO, “TESTA”. E lá vem o segundo clipe do disco Caranguejo do Supercombo. Dessa vez, em Testa, a banda traz o caranguejo que apareceu no clipe de Piseiro Black Sabbath, só que num clima bem mais introspectivo – até porque se trata de uma música sobre perdas, saudades e coisas mais sensíveis. Tanto que até o caranguejinho mostra seu lado triste, que não se adapta ao mundo. “Tentamos retratar esse sentimento da música, da gente sentir falta de alguma coisa do passado, mas não conseguir se reconectar”, comentou o baterista André Dea.

O filme (sim, é um filme!) foi feito em película, com direção de Renato Peres e Luke Martins. “A gente ensaiava antes porque tínhamos poucos minutos de gravação. Nesse formato acho que você se entrega mais na hora do “rec” porque tem que fazer valendo, não pode errar”, conta o batera.

PRA GIRA GIRAR, “ATABAQUE CHORA”. É muita, mas muita emoção. O projeto carioca Pra Gira Girar, que celebra a obra dos Tincoãs, recorda a faixa de abertura do disco epônimo de 1977 do grupo vocal, formado na maior parte do tempo por Mateus Aleluia, Dadinho e Heraldo. O single sai pelo selo Amor in Sound, encabeçado pelo produtor Mario Caldato Jr (que faz também a mixagem) e pela diretora artística Samantha Caldato.

Formado por Alvaro Lancellotti, Michele Leal e Alan de Deus nas vozes, Pedro Costa na guitarra, Kassin no baixo, Zé Manoel no piano e vozes, Zero Telles (in memorian) e Anna Magalhães nas percussões, e Diogo Gomes no trompete, o Pra Gira Girar surgiu de uma ideia de Alvaro, de criar um show com a obra do grupo. Show esse que fez bastante sucesso e ainda não saiu de cartaz – em novembro, no Rio, rolam apresentações no MUHCAB – Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira (dia 1º), no Manouche (dia 21) e na Praia de Itaipu, em Niterói (dia 22). Um álbum está vindo aí, ainda sem data de lançamento.

MÁQUINA VOADORA, “TRIANON”. MPB, jazz, rock, climas nordestinos que lembram Hermeto Pascoal, e tons progressivos que chegam perto de bandas como Soft Machine. E, ah, história e literatura paulistanas. Junte tudo isso e você vai sacar o que é o som do Máquina Voadora, duo de música instrumental formado por Marcelo Garcia (guitarra, baixo e programações) e Enrico Bagnato (bateria e percussão acústica e eletrônica). Os dois preparam o disco A grande boca de mil dentes para lançamento ainda neste ano, com todas as faixas inspiradas no livro Pauliceia Desvairada, de Mário de Andrade.

“Cada faixa é uma conversa livre com o genial autor paulistano, uma reação aos versos do livro e sua transposição para a vida contemporânea na capital”, dizem Marcelo e Enrico, que se inspiraram no verso que fala em “bofetadas líricas no Trianon” para compor a bela e intrincada Trianon, o novo single.

JÁDER, “XÊRO”. No Nordeste, dar um “xêro” em alguém significa dar carinho e querer mais proximidade. O recifense Jáder decidiu falar sobre o início de uma paixão em sua nova música, feita ao lado de Barro e Guilherme Assis durante um retiro de composição em Sernambi (PE) e partiu justamente dessa palavra, que já estava bem forte em sua mente, para iniciar a canção, trilhada no corredor do brega-funk e do piseiro.

“A letra foi se desenhando até se tornar um retrato sincero do enamoramento: aquele momento em que o carinho cresce e a vontade de estar junto se revela”, conta ele. O clipe de Xêro, dirigido por Tiago V Lima e com direção de arte de Igor Soares, trata de levar essa vibe de enamoramento para a telinha. A ideia do vídeo, conta Jáder, é mostrar “um universo de sonho, onde o amor é retratado de forma leve, gentil e carinhosa, um reflexo da própria canção”.

RA7AEL, “CANIVETE”. A pronúncia do nome Ra7ael é Rah-Seven-A-el. Nascido na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, e atualmente morando em Los Angeles, ele acaba de lançar o corajoso single Canivete. Uma música entre o eletrônico e o hip hop, cuja letra fala sobre táticas de defesa usadas pela comunidade trans – e que recorda uma época em que Ra7ael andava com um canivete na bolsa para se defender, após vários episódios de violência e discriminação. Arte pop queer pesada, bandida e que revira antigos traumas.

“Essa música representa como devemos rebater ignorância – não se rebaixando ao mesmo nível, mas mantendo a razão e rebatendo com arte, atitude e um pouco de ironia”, conta Ra7ael.

CAMAPU, “GUABIRU”. Uma música de três capitais: Tui Linhares, guitarrista do Camapu – uma banda de Curitiba, PR – compôs a faixa Guabiru quando morava em Fortaleza, CE. E tem Recife (PE) na história, já que Guabiru faz homenagem à música Da lama ao caos, de Chico Science e Nação Zumbi. A música sai agora como primeiro single do grupo – é a “primeira de 12 faixas que sairão ao longo dos próximos meses”, como afirma a banda.

A letra de Guabiru surgiu inspirada num meme sobre caranguejos terem de sair do Parque do Cocó para o Viaduto do Papicu, em Fortaleza, devido à especulação imobiliária (“esse humor se reflete na música”, diz o grupo). E a melodia tem ainda referências a Nearly lost you, sucesso da banda norte-americana Screaming Trees. Isso aí é grunge + manguebit + metal unidos.

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