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Cultura Pop

Mystic Moods Orchestra: o grupo doidão que serviu de trilha para o Spectreman

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Mystic Moods Orchestra: o grupo doidão que serviu de trilha para o Spectreman

A Mystic Moods Orchestra foi, digamos, aposta de gravadora. Tanto foi, que o disco da foto acima, Awakening, figura num anúncio de novos discos da Warner para 1973. O The Guardian define o LP como “uma das 101 gravações mais estranhas disponíveis no Spotify” e afirma que se trata do encontro de John Cale com o easy listening. Para fãs de nerdices, uma info interessante é que The first day of forever, uma das melhores canções de Awakening, era aquela música que aparecia na abertura americana do seriado japonês Spectreman, só que com outra letra. Olha aí.

Mystic Moods Orchestra: o grupo doidão que serviu de trilha para o Spectreman

O tal anúncio da Warner

Ou melhor, a música do Spectreman (um herói andróide, cujas aventuras eram na mesma linha dos quase xarás Ultraman e Ultra Seven) é que punha outra letra e outra melodia na criação da Mystic Moods Orchestra. Um grupo que funcionava basicamente em estúdio, e que de fato era uma espécie de cópula bizarra entre os discos de organistas ou maestros (“música para dançar”, “música para relaxar”, etc) e os experimentalismos.

O líder do MMO era um produtor californiano chamado Brad Miller (1939-1998), que tinha no currículo o fato de ser um dos pioneiros na gravação quadrifônica, feita para ser escutada com quatro caixas acústicas. Quando bem moleque, no Sul da Califórnia, Miller passava os dias na estação ferroviária, aprendendo tudo sobre motores.

Em 1958, já mexendo com engenharia de som, montou com um amigo um selo que se tornou clássico, a Mobile Fidelity Records. Foi a Mobile Fidelity que passou a investir, após os anos 1980, em relançamentos especiais de clássicos da música pop para audiófilos e maníacos por som em geral. Um dos discos mais bem sucedidos do selo foi a reedição de The dark side of the moon, do Pink Floyd, com truques a mais de mixagem e remasterização, em 1979.

Para o primeiro lançamento, Miller voltou às ferrovias e gravou os sons de algumas das últimas locomotivas a vapor em operação. Numa madrugada, um DJ da rádio KFOG, Ernie McDaniel, resolveu tocar um dos discos de ruídos da Mobile Fidelity, Steam railroading under thundering skies, como som de fundo para um álbum de easy listening. Os ouvintes gostaram tanto que McDaniel acabou contando sua ideia para Miller, que adorou.

Olha aí o primeiro disco lançado pela Mystic Moods Orchestra, One stormy night, de 1966. Basicamente, Miller pegou uma orquestra tocando sucessos da música pop e mixou com vários barulhos que vinha gravando. Mesma ideia do tal DJ, por sinal.

Mexican trip, de 1972, misturava música mexicana a ruídos de pássaros, de pessoas falando na rua e de (adivinhe) trens.

https://www.youtube.com/watch?v=v-_zxPmOkhw

Esse troço lascivo aí é Erogenous, de 1974, disco feito para acompanhar encontros sexuais. Em algumas edições, esse disco veio acompanhados de mimos como a foto de um casal transando, ou uma calcinha.

Pode parecer a maior viagem, mas esses discos de Miller e da MMO serviram para unir gerações, já que estiveram nas discotecas de casais de meia-idade, audiófilos empedernidos, hippies, roqueiros, fãs de música pop, etc. Awakening seguia o nível de doideira. Além da pérola pop que era The first day…, tinha ainda a faixa-título, que você ouve aí embaixo. E que, com certeza, foi a inspiração de Raul Seixas em Gita. Vai ouvindo e deixar chegar lá pra 1h38 que você vai ver que é praticamente a mesma canção – com direito a um “eu sou, eu fui, eu vou” falado.

UPDATE: Mostramos a canção para Rick Ferreira, guitarrista de Raul Seixas (e que tocou violão em Gita). Ele reconheceu semelhanças, mas disse que nunca tinha ouvido falar da Mystic Moods.

Raul Seixas, aliás, devia amar loucamente esse disco. Depois de 33 segundos, você acha aí a referência da introdução de A maçã, parceria dele com Paulo Coelho e Marcelo Motta.

Miller descontinuou a Mystic Moods e focou mais na Mobile Fidelity. O selo, após uns momentos de dificuldade, continua na ativa, vendendo relançamentos de 180g e CDs banhados a ouro. Uma das poucas fontes para saber algo sobre Miller é esse site aqui, além da busca dos exemplares antigos da Billboard, no Google Books. Nas plataformas de streaming, dá pra achar alguns poucos discos da MMO. E praticamente tudo deles vale MUITO a audição.

Cultura Pop

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

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No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

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Cultura Pop

No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

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Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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