Crítica
Ouvimos: Mundo Livre S/A – “Sessões Selo Sesc #15” (ao vivo)

RESENHA: Mundo Livre S/A lança álbum ao vivo pelo Selo Sesc, celebrando 40 anos de banda e 30 da estreia Samba esquema noise. Histórico.
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No ano passado, a banda pernambucana Mundo Livre S/A fez comemoração dupla: trinta anos de sua estreia Samba esquema noise (1994) e quarenta anos de existência – o grupo foi formado em 1984 e já havia aparecido em seções de notinhas da revista Bizz anos antes da publicação dar espaço generoso para seu primeiro álbum).
O álbum ao vivo do grupo lançado pelo Sessões Selo Sesc #15 traz uma apresentação do Mundo Livre S/A no Sesc Ipiranga, em 16 de agosto do ano passado. Na comemoração, boa parte do repertório da estreia foi tocada e gravada ao vivo, em versões extensas e repletas de histórias contadas pelo vocalista Fred Zero Quatro – que chega a pedir desculpas aos funcionários do local por esticar o show com os bate-papos. Sem problemas: por causa das histórias, show e disco se transformam em documentos, com direito a Fred avisando que estava para sair “uma biografia da banda escrita pelo jornalista carioca Pedro de Luna” (e que já saiu).
De principal, o disco ao vivo mostra como a fórmula musical do Mundo Livre S/A serviu de modelo para várias bandas de sucesso entre os anos 1990 e 2000. O balanço samba-rock do grupo foi chupado pelo Charlie Brown Jr em várias músicas, a obsessão por beats jorgebenianos virou uma obsessão do Planet Hemp e do Rappa, a estranhice herdada de Talking Heads e Tom Zé rendeu vários trabalhos indies vários anos depois de Samba esquema noise sair. Homero o junkie abre nessa onda, unindo peso herdado do Clash e vibe pós-punk. O clima galante, sacana e praieiro de Musa da Ilha Grande, e o balanço de A bola do jogo (“a alma do trabalhador é como um carro velho / só dá trabalho”) mantêm esse clima.
O Mundo Livre S/A recorda causos bancários do tempo do talão de cheques em Saldo de aratu, une samba e anti-psiquiatria na psicodélica Terra escura, lembram antigos impérios televisivos em O mistério do samba (“o samba não é do Gugu / o samba não é do Faustão”) e releem o hino Manguebit unindo rock, reggae e um trecho adaptado de London calling, do Clash. A praieira, outro hino, só que de Chico Science e Nação Zumbi, vira brega-dub-psicodélico nas mãos deles, com ruídos e alguns segundos de algazarra no final. Histórico.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 10
Gravadora: Selo Sesc
Lançamento: 22 de agosto de 2025.
Crítica
Ouvimos: Laufey – “A matter of time”

RESENHA: Laufey atualiza o jazz-pop com ironia e charme em A matter of time, misturando nostalgia, humor e reflexões sobre amor e autonomia feminina.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Vingolf/AWAL
Lançamento: 22 de agosto de 2025.
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Alguns sites estrangeiros, ao resenharem A matter of time, novo álbum de Laufey, adotaram um tom meio irônico – a Pitchfork foi certeira em cravar que a cantora islandesa faz parte de uma onda de “retrofetichismo” que já vinha desde quando Amy Winehouse foi apresentada ao mercado, e ganhou cordilheiras de fãs quando Lana Del Rey virou estrela pop. Mais: um certo clima de nostalgia das capas da Playboy paira sobre a ousada capa do álbum, com as pernas de Laufey indicando as horas, quase fazendo a figura do coelhinho da revista.
O principal é que A matter of time traz uma visão atualizada sobre o papel da mulher no cancioneiro norte-americano, e no pop clássico em geral. O som jazz-pop de Laufey Lín Bing Jónsdóttir (é o nome completo dela) diz mais sobre revisão e mudanças do que sobre eternos retornos. Músicas como Clockwork (que daria um ótimo tema de comédia romântica bem antiga), o folk mágico Castles in Hollywood e a bossa orquestral Lover girl têm energia de filme da Disney e letras em primeira pessoa, em tom confessional.
- Ouvimos: Luna Gouveia – Sara
Na “persona” de Laufey, o romantismo é visto como algo que pode ser até bom, mas atrapalha e cega – Lover girl reclama justamente disso, e a circense Carousel avisa que os altos e baixos do humor fazem parte de um relacionamento. A já citada Castles fala de um rompimento de amizade, e Laufey fez questão de falar em entrevistas que perder uma amiga pode ser bem pior que perder qualquer namorado. Silver lining é o lado “nunca fui santa” do disco – uma balada blues que lembra Frank Sinatra e Roberto Carlos. Forget-me-not, com beleza de perder o fôlego, tem versos em islandês e traz recordações de sua terra natal.
O lado “a zoeira não tem fim” de Laufey surge em faixas como Mr Ecletic, sambinha-bossa de gringo em homenagem a machos-palestrinha em geral: “aposto que você acha que é tão poético / citando épicos e prosa antiga (…) / que poser, você acha que é tão interessante”. A cautionary tale, uma das mais moderninhas do disco, tem algo de Forever your girl, sucesso oitentista de Paula Abdul (!), ali disfarçado entre as referências de jazz – a letra fala de relacionamentos cagados e desgastantes, e de falta de paciência para gente ciumenta em geral.
Uma surpresa no álbum é Sabotage, que abre como uma caixinha de música, e ganha um “susto” de cordas quando Laufey ameaça uma “sabotagem fria, sangrenta e amarga”. No final, uma conexão com os sons de 2025: a música encerra com uma surra de ruídos de voz, orquestra e guitarras. O bom de A matter of time é que Laufey encara o passado com charme – e o presente com ironia.
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Crítica
Ouvimos: Billianne – “Modes of transportation”

RESENHA: Billianne estreia com Modes of transportation, misturando soft rock, folk e country moderno em um álbum delicado e cheio de surpresas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: No Wonder Inc.
Lançamento: 15 de agosto de 2025.
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Vinda do Canadá, Billianne virou sucesso em 2022 por causa de uma cover despojada de Simply the best – aquele hit imortalizado por Tina Turner. Um clima de flashback oitentista que não responde exatamente por tudo que rola em Modes of transportation, seu primeiro álbum solo.
Imersa na mesma onda soft rock e country alternativo tentada por muitos artistas no dia de hoje, ela aponta para uma mescla de pós-punk e heranças de Taylor Swift em Baby blue, faz country com solinho de banjo e violões em Jessie’s comet, e faz folkzinho doce e “espacial” em Cassiopeia, três faixas que vão se seguindo no disco, e que ainda não dão totalmente a cara musical de Billianne.
- Ouvimos: Luapsy – I met the devil in a dream
Isso porque Modes vai se tornando um álbum menos introspectivo à medida que as músicas rolam, com direito a uma música tão melancólica quanto dançante (Wishlist) e a um batidão meio soft rock / meio gospel (a bacaninha Memories, que pode causar antipatia por lembrar demais Coldplay), e também a um eletrorock mais explosivo, com vibe meio country (a ótima Crush, por sinal a melhor do álbum).
No final, Let me run vai no dream folk triste e texturizado, com vocais rápidos a ponto de deixarem transparecer algo de rap e trap. Modes of transportation é basicamente uma boa introdução, com delicadeza nos vocais e nas composições.
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Crítica
Ouvimos: Zaina Woz – “Vol. 01”

RESENHA: Zaina Woz estreia com Vol. 01, um tributo pop, safado e modernizado à musicalidade dos anos 1980, entre disco, tecnopop e ecos de Angela Ro Ro e Rita Lee.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 21 de agosto de 2025
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“Angela Ro Ro morreu, amigos. Quem viveu, viveu. O mundo de hoje é PornHub, IA e Zolpidem”, escreveu o escritor Anderson França outro dia nas suas redes sociais, ao comentar sobre o reality show Terceira metade, da Globoplay (que fala sobre poliamor, formação de trisais, etc).
Nem tanto: a catarinense Zaina Woz estreia com Vol. 01 falando de amor, sexo, vida afetiva (nos momentos bons e ruins) e aventuras noturnas. O repertório tem faixas numa onda mais disco music, como Solta o corpo – que lembra os discos de ginástica dos anos 1980, até pelo “vamo lá!” na abertura – e M.S.F., música com vocal falado, letra simples e cordas patinantes.
Por acaso, Vol. 01 faz referência justamente a Angela em duas faixas. Uma delas: Zaina gravou Sucesso sexual, de Leo Jaime, que foi um sucesso dela no disco A vida é mesmo assim (1984) – e que surge em Vol. 01 numa versão mais leve, ligada aos anos 1980 mas com toque de órgão Hammond. A outra é Não quero ninguém, pop com piano Rhodes – dá pra definir como yacht rock – linkado a Angela, Cazuza e Rita Lee.
Em boa parte de Vol. 01, Zaina faz uma espécie de tributo a safadeza no pop, com o disco-rock de I need love, o tecnopop de Bomba e Forbidden, a autoexplicativa Dominatrix e a alegre Nós dois – essa última poderia ser uma música gravada pela Rita Cadillac. Muita coisa do disco também chegou a tempo de pegar a onda de Brat, álbum de Charli XCX – até mesmo o eletropop Boneca de porcelana, um dos singles que adiantaram o álbum. Mas a onda aqui é pop mais vintage, e safado como a disco music nacional foi.
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