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Crítica

Ouvimos: Mateus Aleluia – “Mateus Aleluia”

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Ouvimos: Mateus Aleluia - "Mateus Aleluia"

RESENHA: Mateus Aleluia emociona em álbum epônimo com faixas longas, cheias de espiritualidade, negritude, memória e amor em forma de música.

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Tarefa impossível: escutar o quinto álbum solo de Mateus Aleluia — um dos fundadores do grupo vocal Os Tincoãs — sem se emocionar profundamente. Intitulado simplesmente Mateus Aleluia, o álbum mergulha em faixas longas que soam como verdadeiras suítes da mata, da introspecção, da negritude e da espiritualidade individual.

Mateus Aleluia, o disco, dura 61 minutos – mesmo assim, não é exatamente um álbum que necessita de tempo, porque ele vai chegando perto do ouvinte, aos poucos. O envolvimento começa na abertura com No amor não mando, uma música de nove minutos conduzida por violão, sopros, coral, acordeom, pelo vocal grave de Mateus e por versos como “eu não sou rebelde ao ensino que o amor me dá” e “quando o amor me manda eu sigo e vou / de caravela ou carro de boi, jegue ou teco teco / sigo o amor”. Além de uma declamação de Mateus que define “a sonoridade do amor”. “Não está dentro de nós, está em nós (…). O amor nos rege, não sejamos rebeldes. Para nossa continuidade, entreguemo-nos sem pestanejar. O amor nos manda”.

No amor não mando baliza o todo de Mateus Aleluia, cujas faixas soam como verdadeiras suítes da mata, da introspecção, da negritude e da espiritualidade individual. Memórias espirituais e pessoais surgem em Doce sacrifício / Filho / Acalanto, faixa de 14 minutos que reúne três composições. Um clima de seresta toma conta de outras duas músicas unidas, Lua / Luar, outra face do sol, enquanto uma espécie de gospel das matas e das marés é evocado por Para tentar te esquecer / Pantera negra / Jogo de engano.

Mateus conta também histórias de luta, resistência, amor à música e hereditariedade nas duas belas e longas faixas do fim do disco, Márua e Oh! música / Aleluia – esta última, uma homenagem ao pai, também músico, e à sua família. No fim, cada faixa do disco é um vórtice, no qual você entra e não sai do mesmo jeito.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10
Gravadora: Independente
Lançamento: 9 de maio de 2025.

Crítica

Ouvimos: Ganser – “Animal hospital”

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Em Animal hospital, o Ganser mistura pós-punk, ruído e psicodelia em climas sombrios e inquietos, entre Twin Peaks e Siouxsie and The Banshees.

RESENHA: Em Animal hospital, o Ganser mistura pós-punk, ruído e psicodelia em climas sombrios e inquietos, entre Twin Peaks e Siouxsie and The Banshees.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Felte
Lançamento: 29 de agosto de 2025.

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O site Pitchfork, ao resenhar o novo álbum da banda de art-punk Ganser, Animal hospital, achou sons tirados direto da obra de David Lynch no disco – referiu-se em especial à trilha de Twin Peaks, feita por Angelo Badalamenti. Faz todo sentido, levando em conta que o trio majoritariamente feminino de Chicago valoriza sons misteriosos e climas que encantam ao mesmo tempo que dão certo medo.

As origens do Ganser parecem estar numa espécie de combinação sonora que une pós-punk e Black Sabbath, Garbage e synthpop, sons de bandas riot grrrl e noise rock tribal, Suicide e The Cure – o tipo de som que foi feito mais para incomodar do que para distrair, enfim. Animal hospital vai nessa onda em faixas como a pesada e distorcida Black sand, a leve e sinistra Stripe, a tipicamente pós-punk Ten miles tall (com baixo e bateria dialogando e vocal quase falado) e a fábula sonora surrealista de Dig until I reach the moon. Lounger, punk com vibração garageira dos anos 1960, é hino anti-coach, anti-performance, anti-verbos como “pivotar”, “escalar” e coisas do tipo: “não quero ser ninguém / não quero fazer nada (…) / outras pessoas compram minhas coisas / mas tudo que eu quero é tempo (…) / meu desempenho tem sido ruim e não consigo me importar”.

  • Ouvimos: Goat Girl – Below the waste

Alicia Gaines, Brian Cundiff e Sophie Sputnik, os três da banda, têm um lado seriamente stoner e fantasmagórico explorado em músicas como a destrutiva Half plastic (“prendo a respiração até ver manchas”, diz a letra), Grounding exercises e a psicodélica e pesada Creature habits. Plato, com versos malucos como “Platão diz a ela: ‘venha, vamos dançar’ / e ela não quer / ela diz que não acredita em evolução”, a tribal Speaking of the future, Discount diamonds e Left to chance unem esse lado pesado a sons que lembram Siouxsie and The Banshees. E Left fecha o disco com uma boa massa ruidosa.

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Crítica

Ouvimos: Yellowcard – “Better days”

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Yellowcard volta após quase dez anos com Better days, disco que mistura punk-pop, emo e pós-grunge com energia, melodia e sinceridade.

RESENHA: Yellowcard volta após quase dez anos com Better days, disco que mistura punk-pop, emo e pós-grunge com energia, melodia e sinceridade.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Better Noise Music
Lançamento: 10 de outubro de 2025

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Para a surpresa de um total de zero pessoas, numa época em que estilos como emo, nu-metal e rock alternativo (na visão Billboard norte-americana de rock alternativo) tornam-se queridos de alguns críticos, e tambem numa época em que a geração Tik Tok vem abraçando bandas de punk pop, lá vem o Yellowcard com seu primeiro disco em quase dez anos.

Better days não decepciona: a mescla de punk-pop, emo e “pós-grunge” (muito entre aspas) feita pelo grupo volta com ótimas melodias, excelente produção (feita por Travis Barker, do Blink-182, e Andrew Goldstein) e aquela mistura de esperança com tristeza que os fãs adoram. A faixa-título, que abre o álbum, une tudo isso aí em poucos minutos. Take what you want, que chora pitangas sobre o fim de um relacionamento, soa como o som de uma boy band pesada e ágil. Love letters lost – com Matt Skiba, do Alkaline Trio – tem aquela mesma receita da qual o Charlie Brown Jr se alimentou: peso, vocal altamente cantarolável e guitarras que têm algo chupado do The Police.

  • Ouvimos: Twenty One Pilots – Breach

A “persona” de Better days é um sujeito angustiado, que fez planos por conta própria mas esqueceu de consultar a realidade (o dramalhão Honestly, I), sofre por um relacionamento que se foi (o pop pesado, mágico e bem feito de You broke me too, com Avril Lavigne), deseja botar o passado em pratos limpos (City of Angels, com Ryan Key, cantor e guitarrista, nascido na Flórida, lembrando sua vida em Los Angeles) e se sente ansioso e inquieto (o punk-popzaço Bedroom posters, a melhor e mais bonita música do disco). Skin scraped e Barely alive, com titulos autoexplicativos e onda punk-emo, têm peso, tristeza e um certo clima herdado da banda do coprodutor.

Para aumentar essa onda “intensa” do disco, Travis pôs mais peso na bateria, arranjos de cordas surgem em algumas músicas e… Better days encerra com a vibração country-folk de Big blue eyes, música pra tocar em filme adolescente. O Yellowcard volta com um álbum rápido – pouco mais de meia hora – e sincero.

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Crítica

Ouvimos: Luna Gouveia – “Sara”

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Em Sara, álbum de estreia, Luna Gouveia une pop, rock, jazz e psicodelia em faixas que soam entre Gal Costa indie e Rita Lee espacial.

RESENHA: Em Sara, álbum de estreia, Luna Gouveia une pop, rock, jazz e psicodelia em faixas que soam entre Gal Costa indie e Rita Lee espacial.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 23 de setembro de 2025

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Em seu primeiro álbum, concebido como uma jornada de cura e encerramento de ciclos – daí o título Sara, usado como verbo e não como nome próprio – a paulista Luna Gouveia entrega um trabalho de pop atravessado por ecos de rock, jazz e psicodelia.

Um detalhe é que nenhum desses gêneros surge de forma literal nas oito faixas do disco. Em nome do pop mutante, Sara passeia por todos esses estilos em faixas como Culpa e Diz que é amor, às vezes lembrando a MPB jazz, às vezes soando como uma Gal Costa texturizada e jogada no indie pop. No caso de Diz que é amor, rola ainda uma segunda parte exclusivamente psicodélica, lembrando Mutantes e Tame Impala da fase inicial, com guitarra fuzz.

  • Ouvimos: Luapsy – I met the devil in a dream

Sara vai seguindo com Fora de moda, indie rock tropicalizado, com balanço herdado de Rita Lee, vibe de bossa espacial e ótimas guitarras-base (ficaria inclusive melhor com um solo). Mordida tem beat discreto, vocal com dissonâncias e surpresas e clima pop com cara de Rita Lee + Marina Lima indie. Voltar andar passa por várias camadas do pop – embicando num corredor boogie/pós-disco e numa atmosfera meio Physical. A faixa-título é pop oitentista transformado em música celestial, com vocal de sereia.

No final, a sintomática O fim, com mais surpresas escondidas na melodia e no vocal, além de um laço que une tudo em Sara. Um disco de estreia que abre caminhos enquanto fecha ciclos.

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