Lançamentos
Marina Peralta: dez anos de carreira no reggae com álbum “Rewind”

Cantora, compositora e reggaewoman do Centro Oeste do Brasil, Marina Peralta completou dez anos de carreira e comemora com o disco Rewind, com regravações justamente de dez músicas da sua história, mais uma faixa bônus.
A diferença entre as regravações e os originais é que as novas versões são voltadas para bailes e pistas de dança, unindo tambores nyabinghi à timbres digitais. Estilos como new roots, reggaeton, dancehall e afrobeat estão presentes nas músicas. O disco tem produção musical de Lucas Barreto (Ragg) e Tael Bass (Linkup Studios) e tem músicas como Agradece, Garoa e Deusa do gueto. A faixa Agradece, aliás, é o bônus do disco, em versão voz e violão. O disco sai apenas via streaming e já está nas plataformas.
Foto: reprodução da capa do álbum
Crítica
Ouvimos: Vōx , “All my best friends are ghosts”

Tendo no currículo a abertura de um show do Kraftwerk em Berlim, Vōx oferece quase uma sessão de terapia em seu disco All my best friends are ghosts – álbum cuja intensidade já se anuncia em seu vocal rouco e jazzístico, que parece carregar toda tristeza e ansiedade do mundo. Vōx aborda temas como assexualidade, isolamento social e autismo (ela foi diagnosticada aos 35 anos), além de refletir sobre a transição entre infância e amadurecimento marcada por essas experiências.
A música de Vōx pode ser definida como um post-rock que vai do industrial ao angelical em poucos segundos. Isso se revela em faixas como a balada melancólica In their image, o eletrônico levemente dançante de Wild animal (uma canção de sexo e desamor: “vou tensionar todos os meus músculos / não vou respirar até você ir embora / eu não quero trazer você de volta”) e, especialmente, no ambient fantasmagórico da faixa-título, em cuja letra a cantora olha e não vê nada, mas sente tudo: “todos os meus melhores amigos são fantasmas / nós somos firmes, mas somos transparentes / estamos em contato, mas não podemos nos tocar”.
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Muito do material de All my best friends are ghosts nasce de uma mistura de desejo, desconhecimento e medo — um emaranhado de sentimentos transmitido com força pelo vocal dolorido de Vōx. É o que transparece na tensão entre assexualidade e sexualidade em Wet, e na tristeza cortante de I hope, música na qual sua voz chega a lembrar a de Nina Simone. Climas próximos do trip hop aparecem em faixas como a vinheta My fantasy mind, na mensagem de autocuidado de You can get better, e na emocionante Pain like a lover, que encerra o disco. Ouça quando quiser se perder em paisagens sonoras que encantam e assustam.
Nota: 8,5
Gravadora: The Vapor Label/LAB 344
Lançamento: 9 de abril de 2005
Crítica
Ouvimos: Viagra Boys, “Viagr aboys”

Definir o Viagra Boys como uma banda punk-pop, como geralmente rola por aí, é bobagem: o grupo sueco está mais para dance-punk, stoner rock de festa, ou qualquer outra definição que abarque som pesado, zoeira e despojamento, como rola exatamente no quarto álbum, Viagr aboys – ao que parece, o nome é um jeito de fazer piada em cima da censura a temas sexuais nas redes sociais.
Essa sonoridade marca boa parte não só do álbum, como da carreira do grupo – e surge em faixas como o single Man made of meat, uma história absurda enfeitada por um arroto vocal (logo no início, e parece que saiu sem querer e foi mantido), e que descreve um rolé com os Queens Of The Stone Age. Também aparece na doideira punk de The bog body e numa espécie de stoner new wave, Uno II, marcada por umas notas de flauta que, de alguma forma, aproximam a sonoridade de algo tipo Prince.
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Daí para a frente, os portões do Viagra Boys são abertos de uma tal forma que o som abarca power pop gritado (Dirty boyz), um estranho encontro entre The Cure e Red Hot Chili Peppers (Medicine for horses), uma onda meio Madchester (Pyramid of health) e uma vibe eletrostoner (Waterboy, Store police, You n33d me). Isso só para ficar na música, porque nas letras, o grupo é um grande criador de personagens e situações esquisitas – o tipo de banda que, na briga entre duas pessoas absolutamente imbecis, é a favor da briga. Como na figurinha bizarra de You n33d me, no monólogo absurdo de Uno II (cujo personagem, ao que parece, é um cachorro), e nos rituais quase satânicos de saúde em Pyramid of health.
Já The bog body tenta botar em versos um tema que aparentemente não faz sentido: a preservação de coisas antigas versus nossa mania de beleza, de juventude e de desafiar a morte. Só que logo dá para perceber que é tudo zoeira, uma tiração de sarro com as obsessões da modernidade, com os malucos que dedicam a vida a falar groselha em fóruns escrotos da internet (os 4chan da vida).
No fim de Viagr aboys, o máximo de experimentalismo a que o grupo vem se permitindo: as batidinhas quase de samba de Best in show pt. IV. E a balada lo-fi, com piano, sopros e ruídos de restaurante, de River king – cuja letra parece uma perversão da poética de David Byrne nos Talking Heads (“vá comer comida chinesa / no restaurante local em uma segunda-feira à noite / tem gosto de carne azeda / mas eu já comi pior, então não me importo”).
Nota: 9
Gravadora: Shrimptech Enterprises
Lançamento: 25 de abril de 2025.
Crítica
Ouvimos: Samia, “Bloodless”

A poesia de Samia é bastante crua, chegando a lembrar Kurt Cobain, ou algo bem punk, em alguns momentos. Seu terceiro álbum não se chama Bloodless à toa – a chave de compreensão para o álbum é a chamada mutilação do gado com drenagem total de sangue (se você não se recorda, era o que diziam que o lendário Chupacabra fazia em animais como ovelhas, bois e cavalos. Tanto que, após uma vinheta em que se ouvem passos e ruídos indistinguíveis, surge a verdadeira primeira faixa do álbum, Bovine excision, rock noventista com alma folk, que usa a imagem da drenagem sanguínea para falar de sentimentos que se esvaziam.
Essa sensação de vazio perpassa vários momentos de Bloodless, basicamente um disco variando entre os anos 1970 e 1990, entre o soft rock e uma vibe pesada – ou entre o som de quarto e as gravações em estúdios-resort, que estavam na moda lá por 1977, 1978. Hole in a frame é basicamente uma fábula sobre ausência (soft rock com guitarra, violão e bateria abafada, setentista). Lizard é pop adulto dançante e ruidoso que usa imagens mórbidas para falar sobre tesão. Fair game investe em tons agridoces e em folk-rock, e em versos inconclusivos e bem estranhos (“você pode sair numa noite quente e bater palmas / mas você não terá seu sangue de volta”).
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Até mesmo numa música bem curta, o bittersweet de quarto Craziest person, de pouco mais de 1 minuto, Samia trata de meter um pouco de ausência e sarcasmo na história – afinal, o papo é sobre alguém que procura sempre estar ao lado da pessoa mais louca da sala, porque prefere ouvir os problemas dela “do que me preocupar com o que devo fazer”. Um conceito que aproxima Bloodless de um pop ligado ao punk, e de um folk ligado à estranheza – como em Carousel, que tem algo de Breeders e Mazzy Star, e ainda termina de forma bem ruidosa.
Mesmo quando parece dançante, como em North poles, Samia dá um jeito de dificultar um pouco as coisas. Mas para facilitar, o folk climático de Proof e o rock gostosinho de Sacred são o tipo de música feita para as rádios de perfil adulto. No geral, Bloodless traz uma música pop bem desbravadora, e que vale conhecer.
Nota: 8,5
Gravadora: Grand Jury Music
Lançamento: 25 de abril de 2025.
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