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Marcelo Gross fala sobre volta aos palcos, disco novo e… Beatles

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Marcelo Gross fala sobre volta aos palcos, disco novo e... Beatles

Marcelo Gross, ex-guitarrista da banda gaúcha Cachorro Grande, mal pode acreditar que o momento de fazer shows de seu terceiro disco solo, Tempo louco, já chegou. O disco saiu no meio do ano e, por causa da pandemia e do fechamento de espaços, foi divulgado apenas em lives. Dessa vez, Juiz de Fora (MG) (nesta sexta, no Cafe Muzik) e Rio de Janeiro (sábado, no Circo Voador, abrindo para o Barão Vermelho) vão conhecer o novo som do músico, além das canções dos discos anteriores, Use o assento para flutuar (2013) e Chumbo & pluma (2017). Gross vem acompanhado de Eduardo Barretto (baixo, backing vocals) e Lucas Leão (ex-Beach Combers, bateria).

Batemos um papo com Gross sobre disco novo, show no Circo Voador (ok, puxamos um pouco a brasa aqui para o Rio), sobre o retorno rápido da Cachorro Grande para um único show comemorativo em março de 2022, e sobre como foi para ele, beatlemaníaco desde cedo, assistir à série Get back, dos Beatles, no canal Disney +.

Como está sua expectativa para esse show no Rio, que vai ser abrindo para o Barão Vermelho?

Tá sendo uma honra ser convidado pelo Barão, uma das maiores bandas do rock nacional, para tocar na casa deles que é o Circo Voador. Toquei várias vezes no Circo com minha antiga banda, que é a Cachorro Grande, mas com meu trabalho solo é a primeira vez que eu toco lá. A Cachorro Grande inclusive gravou um DVD no Circo Voador uma vez. A expectativa é muito grande porque tocar na casa do Barão, com o Circo lotado, apresentar meu repertório solo pra galera, músicas do disco novo… Além de ser uma imensa honra é muito importante pra minha carreira nessa fase de retomada e de recomeço da minha carreira também.

Ainda mais nesse período dos shows voltando…

Pois é. Apesar de eu ter três discos já, o Tempo louco foi o primeiro que eu lancei após o fim da minha antiga banda. Então vai ser uma coisa muito legal.

Como tá sendo essa volta aos shows?

É um momento que a gente esperou durante muito tempo. Agora com os leitos nos hospitais diminuindo, a maior parte da população sendo vacinada, a gente se sente mais seguro e tranquilo para ir lá e exercer nosso trabalho. Estou passando um período no Rio Grande do Sul, então os shows retomaram faz algum tempinho.

Quando foi decretada a pandemia, como você se sentiu?

Eu tava com um disco em andamento, eu estava gravando o Tempo louco. Vim aqui pro Rio Grande do Sul fazer alguns shows e como a gente não sabia direito o que estava acontecendo acabei ficando por aqui. Eu estava vivendo em São Paulo, depois passou um ano e não tinha vacina ainda, a coisa estava meio indefinida. Acabei juntando minhas coisas e vim para cá ficar perto da família. Passou mais um ano e nesse período, no tempo em que eu podia, fui finalizando o álbum novo e lançando alguns singles virtuais, e trabalhando virtualmente. Fui fazendo algumas lives de casa, tinha uma live diária que se chamava Love live. Era uma época em que todo mundo estava em casa, então era o canal que eu tinha para me comunicar com quem aprecia meu trabalho.

Foi bacana tanto para mim quanto para quem estava assistindo, porque a gente meio que se fazia companhia. Era uma desculpa para abrir uma cerveja em casa e dar umas risadas. Isso manteve a sanidade mental, já que não tinha trabalho, não dava para sair para tocar. Isso faz parte da nossa vida, a gente precisa daquela endorfina que os shows nos proporcionam. Com certeza isso tudo demorou mais tempo do que a gente gostaria. Enfim, chegou esse momento que a gente esperava, com as pessoas sendo vacinadas e as restrições sendo mais brandas.

Como você foi percebendo que queria ter um trabalho solo e como foi amadurecendo essa ideia?

Ela veio de uma necessidade artística, já que na minha banda eu não tinha mais autonomia para escolher as canções que iam no disco nem as minhas canções que iam entrar no disco da banda. A graça de participar de uma banda é participar de tudo: da capa, do repertório, de todo o processo artístico. Daí como eu tinha muitas canções que estavam meio que sobrando não podia deixá-las na gaveta.

Então em 2013 resolvi gravar o Use o assento para flutuar. Eram canções que não iriam ser aproveitadas pela minha banda, então como eu escrevo bastante e como eu não queria deixar essas canções na gaveta foi o motivo pelo qual precisei, por necessidade artística, botá-las para fora de alguma forma.

Você ainda estava na banda. Como foi planejar essa carreira, já que acabam sendo duas carreiras, uma na banda e uma solo?

Basicamente enquanto eu estava na banda, minha carreira solo era uma carreira paralela. Mas também não foi uma coisa muito planejada. Como eu tinha as canções eu montei um power trio, gravei um disco, tinha canções que se acumulavam mais ainda que não entravam no disco da Cachorro, dai gravei um disco duplo, Chumbo & pluma, em 2017. E nos intervalos dos shows da banda eu fazia os meus shows e tocava esse repertório sempre num clima bem diferente do que a banda vinha fazendo.

O Chumbo & pluma tem um disco que é só acústico, numa época em que a Cachorro Grande tava fazendo uma mistura de rock eletrônico com rock’n roll. Meu primeiro disco é rock´n roll puro numa época em que a Cachorro Grande estava fazendo uma outra coisa. Eu estava conseguindo conciliar bem as duas coisas.

Mas com o fim da banda eu pisei no acelerador. Só que bem quando eu ia me dedicar totalmente à carreira solo, rolou essa pandemia! E meu disco Tempo louco eu tinha começado a gravar pouco antes da pandemia, daí eu fui finalizando as canções e fui lançando singles, até que esse ano eu consegui finalizar o álbum completo e lancei ele em julho.

Te soou meio premonitório quando você estava finalizando um disco chamado Tempo louco e realmente veio um tempo louco, com a pandemia?

O nome já era de antes porque tem uma canção que se chama Tempo louco. Ele refletia uma fase meio difícil que eu vivi na minha vida pessoal, eu perdi parentes e amigos muito próximos: meu pai, minha ex-namorada. Eu estava vivendo um tempo difícil e teve minha saídas conturbada da Cachorro Grande. As letras falam disso e de superar esse tempo difícil.

Mas eu sabia que o tempo ia ficar mais louco ainda. As pessoas acabaram se identificando com o que eu tava falando ali porque todo mundo estava vivendo um tempo louco, de perder entes queridos, perder emprego, igual o que eu passei quando estava escrevendo essas canções. Se foi premeditado foi sem querer (rindo).

Você falou de ter muitas músicas acumuladas. Ouvindo seu trabalho, me lembrei muito do George Harrison. É uma influência pra você? Você também se identificou com isso de ele ter muita coisa acumulada nos Beatles, a ponto de lançar um disco triplo?

Eu era um dos principais compositores da Cachorro Grande. Teve um momento em que eu senti que para botar uma canção no repertório era uma confusão tão grande que eu resolvi fazer por conta própria. O Harrison é uma influência não apenas nos Beatles como fora deles também, assim como os trabalhos solo do John Lennon e do Paul McCartney. E até do Ringo, tenho a coleção inteira dos discos do Ringo.

O George teve esse problema também… até no documentário Get back tem uma conversa dele com John Lennon, em que ele diz: “Não sei o que fazer, tenho vinte músicas, se for botar sempre duas músicas por disco vou demorar dez anos até usar essas canções que eu tenho hoje em dia, então é melhor eu fazer um disco”. John Lennon até fala: “Ah, também acho legal tu fazer um disco, e a gente continua com essa coisa dos Beatles”. Então foi mais ou menos o que eu fiz. Eu tive aquela necessidade artística de botar aquilo tudo para fora e continuei com a banda, e tendo minha carreira como trabalho paralelo, e estava funcionando.

Ia mesmo perguntar se você viu o Get back e o que achou.

Então, Ricardo, eu espero por este filme desde os meus 13 anos de idade. Como tu deve desconfiar eu sou um beatlemaníaco, e então aqui em Porto Alegre eu assistia, passava na TV o Let it be. Eu tinha dez anos de idade, já tinha todos os discos dos Beatles. Eu e meus amigos gravávamos aquilo num gravador de fita K7 para ter umas versões diferentes das canções. Eu sempre soube que tinha um tesouro escondido ali, que se pegasse todas aquelas imagens das câmeras… Eu tinha vários discos bootleg, piratas, com aquelas gravações. Tem uma coleção bem interessante com tudo que foi gravado em janeiro de 1969.

Resumindo: eu espero esse documentário há muito tempo e eu estou extasiado com o documentário, com o que o Peter Jackson fez com o material. Achei muito bom não ter sido só cem minutos no cinema como tinha sido planejado. Foi uma série de três capítulos… e por mim teria mais oito horas daquilo tudo porque tem muita coisa. Achei fantástico. Era o que eu já esperava desse material.

Teve alguma cena que te emocionou mais?

Eu chorei em vários momentos, tanto que eu procurei assistir sozinho. Ficava às cinco da manhã esperando saírem capítulos novos, eram coisas que eu estava esperando desde os 13 anos. A hora em que o Paul do nada aparece com Get back é muito emocionante, a hora em que eles se abraçam no fim do episódio 1 depois que o Harrison sai é muito tocante também. No episódio 2 quando o Harrison volta. Quando eles vão pro estúdio da Apple também… Eu esperava que tivessem mais sessões das canções inteiras dentro do estúdio da Apple, já que elas estão gravadas ali com os gravadores de rolo e tudo. Tem todas as gravações desse período em áudio. Mas não dá para reclamar também! E com certeza aquela hora do show do telhado, que eles quase não vão, no dia do show eles ainda estavam indecisos sobre subir ali ou não…

Aquela coisa da multicâmera é uma coisa que eu sempre sonhei,. sabe? Em ver todos os ângulos dos show deles. A única crítica que eu tenho é que os dois dias mais importantes foram o show no telhado e o dia posterior que eles foram lá embaixo para concluir as canções acústicas. E no documentário do Peter Jackson o dia 31 ficou relegado aos créditos finais. Apesar de ter muita música ali que tá inteira no filme Let it be, esse dia merecia uma atenção um pouco mais especial, porque eles estavam ali já preparados para fazer a filmagem e tocar as músicas direitinho. Mas acredito que num eventual lançamento em DVD e Blu-Ray vá ter mais coisas, especialmente desse último dia que não foi muito bem coberto pelo documentário que está na Disney +.

Ano que vem vai haver aquele único show da Cachorro Grande. Como tá sua expectativa?

Vai ser bacana. Vai ser só um show, acho que vai ser legal porque vai ser o aniversário de 250 anos de Porto Alegre e para mim é como voltar para casa, porque eu fundei a banda junto com o Beto Bruno. A gente tá muito feliz com essa expectativa, vai ser um lugar muito clássico de Porto Alegre, no dia do aniversario da cidade. Tô muito feliz de sentir aquela velha sensação de novo ao lado dos meus velhos companheiros de guerra (rindo).

Me parece que quando você saiu o clima ficou bom de qualquer jeito entre vocês… Vocês continuaram amigos?

Eu acho que logo depois da saída… Lógico, foi uma saída conturbada, teve um período de não se falar muito, quebrou uma coisa especial que a gente tinha com minha saída. A gente continuou se falando sim, tanto que logo em seguida a banda resolveu encerrar atividades e eu voltei pra fazer os shows de despedida em 2019. A gente ficou vinte anos grudados, precisava desse detox uns dos outros para se orientar na vida.

Mas a gente tem o grupo de WhatsApp da Cachorro, se fala todo dia, se liga de madrugada para falar de Beatles, falar besteira, contar piada. Quando rolou esse convite para fazer esse show tava todo mundo de boa. Foi o momento em que depois da pandemia a gente precisava disso, de sentir aquela velha sensação. Tem tanta gente que gosta da banda, acho que vai ser bonito trazer alegria para as pessoas que gostam da gente.

Lançamentos

Radar: Dingo, Fernanda Coelho, Júca, Supercombo, Pablo Lanzoni, Fuz Aka, Maria Esmeralda

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Radar: Dingo, Fernanda Coelho, Júca, Supercombo, Pablo Lanzoni, Fuzaka, Maria Esmeralda

Sei lá o que os algoritmos andam falando por aí – o Pop Fantasma está a fim, na maior parte do tempo, de música nova. E de gente que está fazendo coisas novas com a música. O Radar nacional de hoje parte do groove reflexivo do Dingo, passa por uniões de piseiro e metal (!) e até pelo forró percussivo e eletrônico. Ouça em alto volume.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Gustavo Vargas/Divulgação (Dingo)

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DINGO, “DÚVIDAS”. O quarteto gaúcho Dingo (ex-Dingo Bells) voltou a lançar material inédito após três anos com Dúvidas, um single de indie pop que mergulha na fonte da disco music setentista – mais um exemplo das vibes retrô que surgem no pop alternativo. A faixa tem brilho, groove e reflexão: fala sobre o caos de escolhas e estímulos do presente, tudo isso com batida pulsante. A música antecipa as comemorações de dez anos do disco Maravilhas da vida moderna e ganhou clipe dirigido por Gustavo Vargas.

FERNANDA COELHO, “CLAREIA”. Fernanda transforma em música e imagem a ponte entre São Paulo e Tóquio em Clareia, faixa de seu álbum 5 minutos. O clipe da faixa foi gravado no Japão, após um convite inesperado do dono de um estúdio durante uma viagem em 2014, que acabou rendendo também a gravação de um álbum. A música nasce do olhar curioso da artista sobre os espaços escondidos e históricos de São Paulo, enquanto o vídeo mostra as ruas geladas de Tóquio.

“Era inverno e em alguns momentos a minha roupa não segurava muito o frio. E como gravamos com esse efeito de imagens aceleradas, eu tinha que ficar imóvel por muitas horas… aí teve um momento em que eu estava congelando mesmo”, brinca. Mas sem estresse: clipe belo e música igualmente bela e tranquila.

JÚCA, “FOGO”. Single lançado no ano passado, Fogo chega agora ao YouTube no formato clipe, valorizando a sonoridade introvertida da música. Dirigido por Yasmin Sanches e pelo próprio Júca, o vídeo foi feito no Arpoador (Ipanema, Rio de Janeiro) nas primeiras horas do dia, e utiliza várias performances de dança para trabalhar com a ideia de resistência e reinvenção. O próprio “fogo” da letra, diz Júca, tem a ver com os rituais de transformação. “Essa tensão entre continuar e transformar é o que move a música”, explica ele, que prepara um álbum para este ano.

SUPERCOMBO, “PISEIRO BLACK SABBATH”. A Supercombo abre os caminhos para seu disco novo com esse single, um cruzamento inusitado (e bem-humorado) entre rock pauleira e piseiro. Com clima de jam ao vivo e letra sobre metaleiros que curtem uma praia e um bailão, a faixa mostra o espírito livre do novo álbum do grupo, que sai em 15 de agosto. O som é intenso, divertido e cheio de referências brasileiras – prova de que a banda está mais aberta do que nunca a experimentar e brincar com seu próprio universo sonoro. E já tem clipe, com a banda de preto curtindo uma praia em p&b, até que…

PABLO LANZONI, “PORTO”. “Salve a cidade! Minha gente vive aí”, diz Pablo em sua nova música, uma balada climática falando da urbanidade e da paisagem de Porto Alegre, sem deixar de observar os problemas vividos recentemente pela capital gaúcha.

Porto foi uma das últimas faixas compostas para Aviso de não lugar, novo álbum que está programado para agosto. E foi escrita enquanto Pablo acompanhava “as notícias sobre uma disputa judicial envolvendo a proposta de construção de um prédio de cerca de quarenta andares ao lado de um importante museu da cidade — projeto que avançava sem estudo de impacto de vizinhança e sem manifestação dos órgãos de proteção do patrimônio histórico”, conta.

FUZ AKA feat EDGAR, “SAIDERA”. Com uma sonoridade marcada pelo forró eletrônico, a dupla formada por Ricardo Mingardi (Kazvmba) e Fernando Barroso merece ser olhada e ouvida com calma – o som nordestino e eletrônico deles une forró e estilos como afrobeat, dancehall, trap, funk e hip hop, e soa como uma renovação de sons como o mangue beat. Saidera, o single mais recente, saiu em fevereiro com participação de Edgar. Entre rabecas e beats, a ideia da dupla é falar sobre “identidade, memória e futuro traduzido em som, corpo e imagem”.

MARIA ESMERALDA (Thalin, Cravinhos, VCR Slim, Pirlo e iloveyoulangelo) feat DONCESÃO, “POLIESPORTIVA”. A turma que fez o disco Maria Esmeralda, lançado no ano passado, voltou ao material para fazer e lançar o clipe de Poliesportiva, uma das melhores faixas. A direção de VCR Slim aposta na estética de tela dividida em quatro, inspirada no filme indie Timecode (2000), de ampliando as camadas da história. A faixa mistura observações do dia a dia, poesia e reflexões, tudo ampliado pela participação de Doncesão. E se você não ouviu Maria Esmeralda, ouça hoje – falamos dele aqui.

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Lançamentos

Radar: Stina Marie Claire, King Princess, Mèr, Esteves Sem Metafísica, Suede, Mantra Of The Cosmos, Rosetta West

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Radar: Stina Marie Claire, King Princess, Mèr, Esteves Sem Metafísica, Suede, Mantra Of The Cosmos, Rosetta West

Ouça no último volume: em comum, as músicas do Radar internacional de hoje têm a inquietação – seja a inquietação existencial, a inquietação criativa, ou aquele estado que tira a gente da letargia e obriga a fazer alguma coisa urgentemente. A lista começa com Stina Marie Claire dando um trato no arranjo de sua própria música, e prossegue até a psicodelia dançante do Mantra Of The Cosmos.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Bandcamp (Stina Marie Claire)

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STINA MARIE CLARIE, “THE HUMAN CONDITION (MEMENTO VERSION)”. Stina Tweeddale é mais conhecida por liderar a banda Honeyblood, que gravou álbuns excelentes unindo emo, power pop (com mais ênfase no “power”), sons misteriosos e um certo clima grunge. O Honeyblood tá meio sumido desde o single You’re standing on my neck (2019) e após a pandemia, Stina tem se dedicado a seu projeto solo, assinado com seu nome quase completo (que é Christina Marie Claire Tweeddale).

Na real, o Honeyblood já vinha funcionando como um projeto de uma mulher só. A diferença é que Stina Marie Claire dedica-se a uma sonoridade mais próxima do dream pop e do som-de-quarto. O EP A souvenir of a terrible year, repleto de lembranças do isolamento pandêmico, saiu em 2021, e agora sai a versão “memento” das faixas, reimaginadas com arranjos de cordas. A de The human condition humaniza tudo aquilo que era eletrônico e quase chiptune no original. Ficou bonito.

KING PRINCESS, “RIP KP”. No dia 12 de setembro sai Girl violence, novo álbum de Mikaela Strauss, ou King Princess, produzido por ela ao lado de Jake Portrait (Alex G, Unknown Mortal Orchestra) e Aire Atlantica (SZA). O disco marca a volta da artista a Nova Iorque e a um som mais cru e direto, após rompimentos pessoais e profissionais. O single RIP KP, que anuncia o álbum, mistura desejo feminino, melancolia e autossabotagem com batidas pulsantes e guitarras viscerais.

“É é sobre o lado sexy da violência feminina – quando o amor toma conta do seu cérebro e, de repente, você está sendo fodida pela casa toda, agindo como uma idiota. É a maneira perfeita de abrir o disco: dramática, desequilibrada e um pouco irônica”, conta ela, que no clipe, encara um clube de strip tease bem estranho. “É um hino safado para as lésbicas. Precisamos de devassidão neste verão”.

MÈR, “LET’S FIGHT”. A dupla formada pelas cantoras e compositoras francesas Cindy Doire e Sarah Burton uniu-se ao Chorus of Courage – um coletivo que amplifica as vozes de sobreviventes da violência. Do trabalho em conjunto saiu a delicada e etérea Let’s fight, uma canção em inglês e francês, que põe em versos a convivência com pessoas narcisistas e tóxicas. Aliás, a faixa é a estreia da dupla: Sarah e Cindy conhecem-se há duas décadas e mantém carreiras solo, mas só agora gravam juntas.

“Você já teve um amigo ou amante que sempre queria começar uma briga? É um ciclo exaustivo de manipulação e mágoa”, diz Sarah, localizando o sentido da letra. “A música é interpretada com ironia e calma, como se a pessoa dissesse: ‘Não vou mais brigar'”. A gravação foi feita durante uma nevasca na casa de Cindy, e o Mèr misturou sons acústicos e eletrônicos, lançando mão de sintetizadores vintage.

ESTEVES SEM METAFÍSICA, “SÓBRIA”. Com nome inspirado num verso do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos (heterônimo do poeta Fernando Pessoa), o Esteves Sem Metafísica é uma banda de uma mulher só – a escritora portuguesa Teresa Esteves da Fonseca, que acaba de lançar com seu projeto o álbum de.bu.te. Não é um pop fácil: é um dream pop com referências de folk, música clássica, sons de Portugal e a fase mais elaborada dos Beatles. Nas letras, há espaço para crônicas pessoais e comentários existenciais: a bela e contemplativa Sóbria, single que antecedeu o álbum, é definido por Teresa como “um hino à juventude inconsequente”.

SUEDE, “TRANCE STATE”. No dia 5 de setembro, os reis do glam rock dos anos 1990 voltam às plataformas e prateleiras: o Suede lança o novo álbum Antidepressants (BMG). Produzido por Ed Buller, parceiro de longa data da banda, o disco promete um mergulho no pós-punk, segundo o vocalista Brett Anderson. Depois do ótimo primeiro single, Disintegrate, agora é a vez de Trance state, um rock dramático e elegante sobre perder o controle (entrar em estado de transe, enfim) ao ver alguém. Nada de trance eletrônico, como o nome da canção sugere, mas o clima hipnótico está garantido: é Suede puro, com clima de arena e direção de vídeo feita por Chris Turner.

(e falamos de Disintegrate aqui).

MANTRA OF THE COSMOS feat NOEL GALLAGHER, “DOMINO BONES (GETS DANGEROUS)”. O tira-casaco-bota-casaco envolvendo Zak Starkey na formação do The Who manteve o nome do baterista na mídia. Aliás, no caso, pior para a veterana banda britânica, que agiu de maneira bem estranha na demissão do músico.

Zak permanece aparecendo: seu supergrupo Mantra Of The Cosmos – que também tem na formação Shaun Ryder e Bez, do Happy Mondays, e o guitarrista do Ride, Andy Bell – volta com o terceiro single, um dance-rock lisérgico que lembra os próprios Mondays e o Black Grape (a “outra banda” de Shaun e Bez), e que tem participação de Noel Gallagher, do Oasis. Starkey, provavelmente o único filho de beatle que dispensa tal aposto ao lado no nome, usou os brinquedos do filho no clipe da faixa.

ROSETTA WEST, “DORA LEE”. Lembra do Rosetta West, banda que chegou até nós pelo nosso perfil no Groover e da qual já falamos diversas vezes? Eles estão de volta com o ótimo EP Gravity sessions, com músicas antigas do grupo gravadas numa sessão no estúdio Gravity, de Chicago. Dora Lee, uma das mais legais do álbum Night’s cross (resenhado aqui), era um blues acústico no original, e virou punk-blues com herança de Jimi Hendrix e Tad.

“A música conta a história de um homem assombrado por uma visita breve e apaixonada de uma figura feminina aparentemente sobrenatural. No clipe, o narrador assume o papel de um endurecido comandante de tanque, ainda perturbado por essa aparição mesmo em meio aos combates”, avisa o grupo, chegadíssimo nos climas sombrios.

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Radar: Julião e o Forró do Suco Elétrico, Swave, Lupino, Vi Drumus – e mais

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Radar: Julião e o Forró do Suco Elétrico, Swave, Lupino, Vi Drumus - e mais

Tem um restinho da farra de junho abrindo essa edição nacional do Radar – com o som nordestino e psicodélico de Julião e O Forró do Suco Elétrico (foto). Entre sons herdados do punk, como Swave e Lupino, também tem muita brasilidade aqui hoje, inclusive com a presença de um dos maiores e mais longevos nomes da MPB entre os novos lançamentos. Ouça tudo no volume máximo.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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JULIÃO E O FORRÓ DO SUCO ELÉTRICO, “A MURIÇOÇA”. Criado pelo músico pernambucano Feiticeiro Julião, o Forró do Suco Elétrico (que estreia agora em EP epônimo) é uma brincadeira séria com a tradição zoeira e alegre do forró, só que turbinada pelas guitarras e pela psicodelia – como também é tradicional na MPB nordestina dos anos 1970 para cá, via Alceu Valença, Robertinho de Recife e vários outros nomes. Julião une-se a Ju Menezes, Alexandre Baros, Drica Ayub, Juvenil Silva e Tomé, e liga forró, frevo e sons afins na tomada, sem esquecer das raízes. A muriçoca, de Julião, une forró, folk, reggae, sofrência e picardia em doses quase iguais. Pra tocar na sua festa!

SWAVE, “VAI CAIR”. Esse supergrupo indie paulistano lançou recentemente o disco Foi o que deu pra fazer (resenhado pela gente aqui) e une sua estética musical grunge a um clima de gravação de vídeo antiga no novo clipe, Vai cair. Parece um VHS guardado por décadas, uma videoarte antiga, ou um vídeo dos primórdios das câmeras digitais – você escolhe – mas tudo cheio de estilo e som alto. Detalhe: com esse vídeo, a banda fechou a rodada, porque agora todas as onze faixas do álbum (!) têm clipes. Música para ver e ouvir.

LUPINO, “MUROS”. Unindo rock, variações rítmicas e música eletrônica, o Lupino, de Florianópolis (SC), fecha seu primeiro ciclo de gravações com Muros – que vem após outros quatro single lançados. Uma música especial para a banda, por ter sido a primeira vez em que a banda compôs em conjunto, “unindo elementos de rock e música eletrônica para criar uma experiência dançante e introspectiva”.

Na faixa, os vocais de Taissa Bordalo cantam uma relação bem complicada, em que uma pessoa entra sem pedir licença e as coisas fica beeem bagunçadas – tanto que em algum momento, a outra parte do relacionamento tem que construir muros em volta de si. Lá pela metade, a canção muda de ares e ganha um clima mais tecnológico, com teclados e programações.

JOÃO MERIN, YAAN, LAIÔ, “FILHOS DE ÁFRICA”. Esse trio vem da Bahia, une afrobeats, pagotrap e r&b, e mescla talentos – João é cantor e rapper, Yaan é músico e produtor, Laiô tem 20 anos de carreira como cantora, compositora e gestora cultural. O EP Olhos de sol tem música pra dançar, mas tem protesto e vitória, como no balanço de Filhos de África. Uma música em que Laiô canta que “tá ficando preto, tá ficando bom / cês tão vendo só o começo, vamo dominar”, e João entra citando o jogador Vinicius Jr e o rei do afrobeat Fela Kuti. “Cantando o amor até mesmo no fim /precioso na lama feito rubi”, diz, unindo amor e resistência.

CAMALEÔNICA, “GERAL”. Banda formada em Barcelona por dois amigos de infância do Brasil (Felipe Dantas e Fernando Reis), o Camaleônica encontra na mistura musical a sua razão de existir – samba, bossa nova, rock, rap, eletrônicos, tudo isso encontra lugar no som deles. Geral, um dos singles que puxam o disco Eletrotropical, une guitarras ligadas ao blues e ao rock, e batuque vindo do axé. Seria um axé-blues, então? Talvez. Felipe explica que o principal da faixa é que apesar das diversidades, o personagem da música tem orgulho de sua história – e é esse amor próprio que “pulsa forte nos batuques e conduz sua trajetória”, completa o músico.

VI DRUMUS, “O SONHO ANESTESIA”. “Quero que quem ouça esse som se sinta visto, mesmo nas suas sombras”, diz Vi Drumus, que acaba de lançar o álbum Medor. O sonho anestesia é uma música que une metais, beats e referências que vão do hip hop ao soul brasileiro, para falar de “uma realidade em que o corpo é explorado e a mente busca refúgio na poesia e na fuga onírica”. Som pra dançar e encarar a luta do dia a dia com outra mentalidade, já que um dos grandes temas dos quais Vi fala em seu álbum, é como um monte de coisas que a gente faz e pensa são mediadas pela dor.

NEY MATOGROSSO, “PÁSSARO BRANCO”. Canção meditativa composta por Paula Raia, Pássaro branco é a faixa-título do novo EP de Ney – que traz quatro faixas feitas para a trilha do balé Entre a pele e a alma, espetáculo encenado pela Focus Cia de Dança sob direção de Alex Neoral. O disco é um dos projetos que envolvem o nome de Ney perto de seu aniversário de 84 anos – ele chega à nova idade em 1º de agosto. Tivemos também o filme Homem com H – que fez sucesso nos cinemas e está agora na Netflix – e o ótimo disco Canções para um novo mundo, um dos destaques do começo do ano, gravado com a banda Hecto (e resenhado pela gente aqui). Algo nos diz que vem mais aí.

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