Lançamentos
Levi Evans: filho de The Edge lança single com tom indie pop

Quem está com um EP por sair e já tem uma turnê bem grandinha pela frente (e já foi chamado de “um dos artistas emergentes de 2023” pela People Magazine) é ninguém menos que Levi Evans, filho de The Edge, guitarrista do U2. O novo single dele já saiu e se chama Talk about it. “Essa música pergunta se podemos encontrar um ponto intermediário e aceitar o que nos torna diferentes”, conta ele no comunicado de lançamento. No clipe, Levi aparece fazendo vários esportes na base da zoeira. A canção foi lançada num single triplo com os singles recentes The chronic e So happy.
O som de Levi no novo single é um indie pop alegrinho e ensolarado – do tipo que faria sucesso num comercial. O som dele tem influências de hip hop e música eletrônica. Aliás, numa entrevista à Hotpress, ele disse que a música que mudou sua vida foi Demon days, do Gorillaz. “Isso realmente despertou meu amor pela música, porque sempre fez parte da minha vida. Não me lembro que idade eu tinha quando saiu, talvez por volta dos sete anos, mas ainda está preso na minha cabeça. Lembro que tinha um iPod Shuffle quando criança e nunca sabia o que estava ouvindo porque não havia nomes de músicas. Eu apenas baixava uma grande lista de reprodução do iTunes dos meus pais. Na maioria das vezes, para mim, não havia rosto ou nome para a música”, contou aqui.
Na turnê que começa em agosto, Levi vai abrir shows para a banda little image, grupo de indie rock com visual meio Strokes, lançado pela Hollywood Records.
Foto: Reprodução da capa do single
Crítica
Ouvimos: Ty Segall – “Possession”

RESENHA: Ty Segall lança Possession, disco coeso e surpreendente com ecos de David Bowie e glam 70s. Mistério e perturbação embalam um rock brilhante e cheio de referências.
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A nossa tese de que há discos que merecem nota 20 (da qual falamos na resenha do novo álbum do Pulp) ganha sua confirmação no novo álbum de Ty Segall, Possession – um disco REALMENTE excelente do começo ao fim. E olha que, para começar, sabemos que a menção ao nome de Ty Segall não é necessariamente algo animador.
Não que o garage rocker californiano seja um artista ruim – longe disso. Mas Ty Segall segue uma tendência comum dos tempos atuais, que muitas vezes rende mais comentários escarnecedores do que elogios: a dos músicos com incontinência criativa, que lançam discos e singles em sequência, pulando de um estilo a outro a cada novo trabalho – ou, às vezes, misturando tudo num só álbum.
Ty é uma mistura das duas coisas: já foi capaz de lançar dois álbuns num ano, mas seu maior hábito é pular do progressivo para o psicodélico, e depois para o acústico, e depois para o balanço sonoro, e depois para o jazz experimental (gênero defendido por ele em Love rudiments, de 2024, resenhado pela gente aqui). A velocidade de lançamentos vem diminuindo: num papo recente com a Associated Press, disse que, com o tempo, está desacelerando e lançando menos coisas.
Como jornalista, uma coisa que (secretamente) sempre me atraiu foi poder trabalhar às vezes, em três matérias ao mesmo tempo, criar uma escala diferente para cada uma delas, e ir soltando várias coisas por aí com meu nome – às vezes em veículos diferentes. Na real jornalistas aprendem desde cedo que têm que fazer isso: nem sempre o salário de um emprego paga todas as contas ou dá satisfação profissional suficiente. Às vezes uma colaboração que você fez de graça pro zine de um amigo é o que vai te abrir portas para um emprego bem remunerado. Assim como a newsletter de hoje é o livro de amanhã, o post do Linkedin rende convites de garbo, e vai por aí.
E aí que música é um troço meio diferente, já que lançar um disco envolve esforço não apenas no estúdio, mas também no próprio lançamento – você precisa cuidar de redes sociais e assessoria de imprensa, fazer vídeos, montar set lists, dar entrevistas etc. Sem foco, o disco desaparece da mira até mesmo dos fãs mais empedernidos. Focar em dois discos quase ao mesmo tempo muitas vezes requer valorizar um e desvalorizar o outro. Quanto a pular de um estilo para o outro… Bem, é um indício de criatividade e domínio de vários gêneros. Mas dependendo do caso, deixa os fãs confusos.
Dito isso tudo aí – e vá lá, eu mesmo não esperava escrever um texto tão grande – vale citar que, com Possession, Ty Segall promove sua volta em grande estilo ao rock salpicado de referências setentistas. O grande santo padroeiro do novo álbum de Ty é o David Bowie de discos como o álbum epônimo de 1969 (com Space oddity) e The man who sold the world (1970). Aquela mistura de marginalidade, introspecção, espacialidade sonora e clima estradeiro compartilhada até pelos Rolling Stones de Sticky fingers (1971) e Exile on Main Street (1972).
Possession abre com uma espécie de valsa folk, Shoplifter, que parece uma mescla do T Rex com a fase anterior da mesma banda (o Tyrannossaurus Rex, mais acústico), cabendo sax e violinos. Nomes como Traffic, Blind Faith, Alice Cooper e Mick Ronson (guitarrista de Bowie entre 1970 e 1974) são evocados na faixa-título e em Skirts of heaven, enquanto Buildings é um glam rock com veneno experimental, cabendo um piano Rhodes fantástico que conduz a faixa e dá um balanço que lembra um Marcos Valle punk e dissonante.
Shining é blues-rock com clima country e discreta lisergia mutante – uma curiosidade é o baixo caminhante e dançante, como no soul. O mesmo clima surge em Fantastic tomb, que soa como uma continuação de Buildings. Sons orquestrais, entre Todd Rundgren e Electric Light Orchestra, dão as caras na belíssima e quase progressiva Hotel, enquanto Big day localiza-se entre o Bowie de 1970 e o Be Bop de Luxe – algo glam e, ao mesmo tempo, interestelar.
Possession encerra com o hard rock orquestral de Alive, e com Another California song – esta última soando como uma versão power pop dos Faces ou dos Black Crowes. Só depois de algumas ouvidas você percebe que dois dos maiores ingredientes do disco novo de Ty Segall são o mistério e a perturbação. É quando você presta atenção nas letras, que falam de temas como cleptomania, o roubo de uma mansão, uma turma bem estranha que vai encontrar com alguém num hotel etc. Tudo isso faz de Possession um daqueles discos que te pegam de surpresa – e não largam mais.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 10
Gravadora: Drag City
Lançamento: 30 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: Sports Team – “Boys these days”

RESENHA: O Sports Team faz pop elegante e irônico em Boys these days, disco que mistura referências dos anos 1980 com letras afiadas sobre nostalgia e masculinidade frágil.
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O som desse sexteto britânico é uma surpresa bacana – quase como foi descobrir o som do The Chills (lembra?) nos anos 2000. No terceiro álbum, Boys these days, o Sports Team faz pop elegante com referências oitentistas e letras que sacaneiam as expectativas dos dias de hoje, seja as dos mais velhos, seja as dos jovens que querem viver como se vivia no auge do capitalismo dos anos 1990 e 2000.
Tipo em I’m in love (Subaru), a faixa de abertura. É um pop com algo de Spandau Ballet e Smiths, cuja letra traz referências a Donald Trump e Bill Clinton, e a zoeira da masculinidade frágil do cidadão norte-americano (e do brasileiro, por extensão, por que não?) que ama carros – e que surgiu da visita do grupo a alguns fóruns do Reddit.
A faixa-título, por sua vez, é easy listening com cara roqueira, algo entre Elton John e Electric Light Orchestra – e a letra fala sobre conflitos de geração, preconceitos dos mais velhos em relação aos mais novos e o enjoo com o tradicional “quando eu tinha a sua idade…”. O som do disco acompanha essa onda meio vintage e bastante sacana – várias faixas parecem saídas do estúdio da PolyGram na Barra da Tijuca em 1982.
Resumindo a musicalidade da banda: Boys these days migra para folk, dub e algo de Madchester em Moving together, une sons que lembram Rolling Stones e Bachman-Turner Overdrive (!) em Condensation, solta uma espécie de country rock psicodélico em Head to space, e tangencia o glam rock (com direito a uma percussão que lembra T Rex) em Sensible e Planned obsolescence. Já Bang bang bang é indie rock com cara punk e country. E onda sonoras de bandas como Roxy Music tomam conta de Maybe when we’re 30.
Já nas demais letras de Boys these days, o Sports Team continua afiando o olhar para mostrar como muitos valores do passado perderam o sentido. Planned obsolescence é quase auto-explicativa, com versos como “eu sou o crédito na sua conta antiga / eu sou a piada que nunca teve graça / mas como ela nos fez rir”.
Finalizando o álbum, Maybe when we’re 30 desmonta o ideal de maturidade vendido por gerações anteriores, com sarcasmo afiado: “talvez pudéssemos comprar uma casa e ter um filho / passar nossos dias no Facebook, dias tão felizes no Facebook / e compartilhar histórias do Daily Mail sobre os filhos de David Beckham”. Zoeira inteligente com trilha boa.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Bright Antenna
Lançamento: 23 de maio de 2025
Crítica
Ouvimos: Darkside – “Nothing”

RESENHA: Darkside vira trio em Nothing, disco sombrio e colado de referências: dub, soul, reggae, country e psicodelia em clima de colagem fantasmagórica.
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O Darkside virou trio: Nicolás Jaar e Dave Harrington agora contam com o baterista Tlacael Esparza. Nothing, o terceiro álbum do grupo, tem ecos de dub, reggae, country, abrindo com a eletrônica sombria de SLAU – que depois se torna algo como um soul progressivo lo-fi, texturizado e tratado à base de samples e reverberações. O som continua sinistro, mas o lado sombrio é dosado.
Já S.N.C. lembra as linhas de guitarra de Otherside, dos Red Hot Chili Peppers, mas só de longe, tornando-se um soul sinuoso e distorcido. Are you tired? (Keep on singing) tem clima de reggae lo-fi, como numa gravação feita direto de um LP antigo, unindo depoIs country, sons afro e até algo de pinkfloydiano na guitarra do final. Jazz, soul, blues e ambient unem-se nas duas versões de Hell suite – uma delas chamando a atenção para “o inferno lá fora”, pela janela.
- Ouvimos: Fluxo-Floema, Ratofonográfico
- Ouvimos: Gabre – Arquipélago de Ilhas Surdas
- Ouvimos: Turnstile – Never enough
Um clima fantasmagórico, de memórias que vêm de repente, surge na tríade Graucha Max, American references e Heavy is good for this. A primeira com som de eletrônica suja, que chega a se transformar num tecnobrega dub, cheio de samples ao acaso – a segunda, percussiva e latina, abrindo com algo que parece as congas de Ando meio desligado, dos Mutantes. E a terceira, uma balada perdida, com clima nostálgico e sombrio, lembrando uma versão distorcida do Khruangbin.
No final, Sin el sol no hay nada abre como uma música meditativa, torna-se uma espécie de tema latino de louvação, até se tornar uma porrada distorcida lo-fi que encerra bruscamente. Dá para entender o motivo da banda ter afirmado que o título do álbum (“nada”) foi um conceito norteador: todas as músicas parecem ter partido de uma colagem, de uma construção que foi gerando alguma coisa – que, muitas vezes, cabe ao ouvinte decifrar.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Matador Records
Lançamento: 28 de fevereiro de 2025.
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