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Crítica

Ouvimos: Led Zeppelin – “Live EP” (EP)

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Led Zeppelin segue gigante: o Live EP comemora os 50 anos do duplo Physical graffiti e mostra o peso, a energia e a química que fizeram da banda uma lenda do rock.

RESENHA: Led Zeppelin segue gigante: o Live EP comemora os 50 anos do duplo Physical graffiti e mostra o peso, a energia e a química que fizeram da banda uma lenda do rock.

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Ponto pacífico: o Led Zeppelin foi, é, e sempre será uma das maiores bandas do mundo, uma locomotiva comandada por quatro músicos ponta-firme. Ponto igualmente pacífico: em 2025, BOs, problemas difíceis de resolver e mil cancelamentos aguardariam uma banda como o Led, que – atitudes fora do palco à parte – praticava mais do que abertamente a chupação musical. A ponto de – hoje é possível observar – o som deles trazer basicamente uma revisão pesada, privilegiada e esperta de muita coisa que já vinha sendo feita. Vale acrescentar: uma baita revisão, ancorada numa serra elétrica sonora de qualidade, e na capacidade de unir composição e improviso em poucos minutos.

O fato é que, ora bolas, pouca coisa da história do rock consegue ser mais pesada e posturada do que os shows do Led Zeppelin. Robert Plant, Jimmy Page, John Paul Jones e John Bonham sempre foram bem mais do que grandes músicos – eram artistas que conseguiam transformar musicalidade em carisma pessoal, fazendo shows em que não era preciso quebrar guitarras ou fazer piruetas musicais para atrair fãs ou fazer com que eles não desgrudassem os olhos do palco.

Live EP, o disquinho (um EP de 35 minutos!) que complementa a reedição comemorativa de Physical graffiti, álbum duplo de 1975, é uma pequena prova disso, com quatro faixas gravadas em shows históricos de 1975 e 1979. Pequena, porque vá lá, Jimmy Page, costumeiro supervisor desse tipo de lançamento, nunca se interessou em lançar uma espécie de Anthology do grupo, com várias gravações do baú da banda, e histórias do passado devidamente revistas sob outra perspectiva. Mesmo Becoming Led Zeppelin, o documentário recente sobre o começo da banda, é insatisfatório e chapa-branca.

Sendo assim, a humanização do quarteto acaba aparecendo mais em livros que tiraram o sono de Jimmy, como Led Zeppelin – Quando os gigantes caminhavam sobre a Terra (Mick Wall) ou o sensacionalista The hammer of the gods (Stephen Davis). Em vídeo, o mais próximo da perfeição é o DVD Led Zeppelin, de 2003, com vídeos e imagens raras de época. E, epa, por acaso as quatro faixas desse Live EP trazem o áudio de quatro vídeos que já existem lá (e no YouTube).

Para compensar, vale dizer que são quatro faixas de (muito) peso: In my time of dying, gravada em 1975 no Earl’s Court, surge fiel ao original, numa gravação em que dá para perceber o quanto a cozinha de John Paul Jones e John Bonham era sinuosa. Trampled under foot, do mesmo show, vem mais rápida e intensa, com algo de Heartbreaker (do Led Zeppelin II, de 1969) nos solos de Jimmy Page.

A máquina do tempo pula para o tempestuoso e controverso festival de Knebworth, de 1979. Um evento feito para apresentar o Led, ausente dos palcos britânicos havia quatro anos, para a geração que ouvia Sex Pistols e The Clash. Foi mais ou menos isso: testemunhas dizem que os fãs pareciam apáticos, e o próprio Robert Plant admitiu que estava “uma pilha de nervos” antes do show. Ouvidas hoje, as versões de Sick again e Kashmir só mostram o dínamo de palco que o Led sempre foi, mesmo sob condições adversas. E tá muito bom assim.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Atlantic
Lançamento: 12 de setembro de 2025

Crítica

Ouvimos: Zaynara – “Amor perene”

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Nomão do beat melody, a paraense Zaynara mistura brega, calipso, pop e eletrônica em Amor perene, disco vibrante que une sofrência, festa e invenção sonora.

RESENHA: Nomão do beat melody, a paraense Zaynara mistura brega, calipso, pop e eletrônica em Amor perene, disco vibrante que une sofrência, festa e invenção sonora.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Sony Music Brasil
Lançamento: 9 de outubro de 2025

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O beat melody, estilo defendido pela paraense Zaynara, é um primo do tecnobrega, só que mais chegado ainda às raízes do brega paraense: ele tem influências mais demarcadas de calipso, ao mesmo tempo que junta tudo com música eletrônica (ela própria explicou a receita num papo com o Gshow ano passado), e não dispensa a sofrência como assunto de letras e músicas.

Isso tudo junto em doses às vezes iguais, às vezes desiguais, faz com que o som de Amor perene, segundo disco de Zaynara – e sua estreia pela Sony Music Brasil – tenha lá um certo lado pop que se assemelha ao sertanejo. Ou pelo menos à apropriação de gêneros feita pelo estilo, que volta e meia se avizinha do som dela em alguns refrãos – como o de Eu me enganei, uma sofrência bacana que surge na metade do álbum.

  • Entrevista: Les Rita Pavone fala sobre disco de estreia, cena musical paraense, viver ou não de música

Pra dizer a verdade, tudo isso aí só torna a audição de Amor perene uma experiência mais instigante. Do começo ao fim, ele é um disco de festa e uma investigação particular do encontro entre brega, latinidades, guitarras e até referências do rock e do pop gringo. A faixa-título mistura folk-pop, sons grandiloquentes na onda do Coldplay, e o refrão parece versão de hit estrangeiro. Aceita meu tchau, gravada com Raphaela Santos, tem vocal saturado, ecos na bateria e na guitarra, e clima de quem cresceu ouvindo ABBA.

5 estrelas, música criativa que narra uma conversa romântica entre uma passageira e um motorista de aplicativo, tem participação do baiano Tierry, e é um tema esperando por uma trilha de novela – e quem sabe, por uma personagem. Se vira aí abre com um piano simples e elaborado, e embica numa balada brega. Aceita meu tchau, gravada com Raphaela Santos, tem vocal saturado, ecos na bateria e na guitarra, e clima de quem cresceu ouvindo ABBA. O fim do disco é com a dance music paraense de Perfume da bôta. Essa onda vai pegar.

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Crítica

Ouvimos: Janine Mathias – “O rap do meu samba”

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Janine Mathias une samba, soul e rap em O rap do meu samba, disco moderno que celebra resistência, ancestralidade e groove.

RESENHA: Janine Mathias une samba, soul e rap em O rap do meu samba, disco moderno que celebra resistência, ancestralidade e groove.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: YB Music
Lançamento: 7 de outubro de 2025

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Cantora brasiliense produzida pelo paulistano Rodrigo Campos, Janine Mathias faz os anos 1960 e 1970 se encontrarem com 2025 em O rap do meu samba. É basicamente um álbum de samba com clima soul, e que em vários momentos, soa como um disco arranjado por João Donato, com participação do Som Imaginário, como acontece no piano Rhodes sinuoso do single Um minuto, na guitarra distorcida de Enredo de Angola e Me enfeita, e na bateria forte, abafada, que surge em introduções e viradas de várias canções.

  • Ouvimos: Pero Manzé – Ave, êxodo!

O ar moderno do disco surge nos vocais com fraseado de rap, nas texturas que parecem quase sólidas, e na vibe de empoderamento pessoal, existencial e político de músicas como Deixa pra lá (hino de resistência que lembra as canções gravadas por Sonia Santos), o soul-funk-samba Me ilumina, e na onda vintage, marcada por uso de órgão, de Quando o couro bate na mão – esta, um canto de reação e de briga, que fala em “silenciar o senhor / a verdadeira abolição”.

Devoção, com melodia belíssima, une samba, reggae, soul e umbanda, e A Bahia virá rende um clima de afrobeat jazzístico. Na releitura de Barracão é seu, de João da Gente, imortalizada por Clementina de Jesus, prato, faca e samba de roda combinam-se com raps feito por Janine e pelo convidado Criolo.

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Crítica

Ouvimos: Lucas Grill – “Grill – O rei do Deprê Chic”

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Estreia solo de Lucas Grill mistura blues, folk, pós-punk e MPB em um disco de sofrência existencial e melancolia pensante, que ele classifica como "deprê chic".

RESENHA: Estreia solo de Lucas Grill mistura blues, folk, pós-punk e MPB em um disco de sofrência existencial e melancolia pensante, que ele classifica como “deprê chic”.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Independente/Tratore
Lançamento: 2 de outubro de 2025

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Cantor e compositor de Niterói, Lucas Grill estreia solo com O rei do Deprê Chic, disco que, na real, traz mais uma ordenação sonora do que a inauguração de um estilo. Lucas abriu uma gaveta musical e, dentro dela, inseriu elementos de blues, folk, vibes góticas, um ou outro elemento do pós-punk e do dream pop, além de referências de Zeca Baleiro e Belchior, e do som popularíssimo de José Augusto e Fernando Mendes.

Isso tudo junto, em doses nem sempre iguais, forma o som do álbum de Lucas, que se apresenta ao público na vinheta O terror de tudo. E em seguida, se joga na melancolia e na redenção de O preço das luas, balada com ar blues que prega que “a vida não é evitar de cair / é sobre levantar”, e na filosofia pessoal do folk Loser, música de versos como “tem um lado meu que nunca quer acordar / e se diverte jogando no breu / o meu medo é descobrir que esse lado venceu”.

  • Ouvimos: Eduardo Pereira – Canções de amor ao vento

Lucas não fala apenas de amor. Na verdade O rei do Deprê Chic mexe mais em temas existenciais, e mesmo quando fala de romantismo, busca falar de vida, existência e trens que partem independentemente da nossa vontade. Nessa ontem, tem o amor que vai pros cacetes em A gnt n é assim (balada deprê lembrando um misto de Cranberries e Echo and The Bunnymen) e Moldura quebrada, a dor de cotovelo de Estrago (com Barbara Savie) e a mescla de Sullivan, Massadas e pop funkeado de Poesia na chuva, música que fala sobre fingir normalidade após o fim de um relacionamento. Valsinha, com Clara Coral dividindo as vozes, leva a O rei do Deprê Chic um clima de sonho acordado que quase não surge no disco.

No fim, Grill surge cantando ao vivo Não é nostalgia, canção de voz-e-guitarra com clima bem humorado (“essa não fala de coração partido, mas fala um pouquinho”, avisa ele) e unindo Cazuza, Zeca Baleiro e Raul Seixas em versos como “eu ando achando tudo um saco, mas acho que o saco sou eu”. No geral, um disco de sofrência pensante.

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