Crítica
Ouvimos: Lael Neale – “Altogether stranger”

RESENHA: Lael Neale mistura folk, eletrônica e clima retrô em Altogether stranger, disco etéreo e inventivo que parece atravessar décadas.
Se você ouvir Altogether stranger, quarto álbum da norte-americana Lael Neale (e terceiro pela Sub Pop) sem saber em que época foi feito, pode acabar imaginando algo bem absurdo – quem sabe um álbum gravado em casa, no auge do folk setentista, usando uma programação de bateria rudimentar. Uma daquelas lendas que nunca se concretizaram, cujo disco parece soar como uma carta jamais enviada – e que faz você se surpreender com a beleza das melodias e com o tom certo dos arranjos, mesmo supostamente gravados em condições adversas.
O som que você vai encontrar no álbum de Lael é isso aí mesmo, seja no folk com batida eletrônica de Wildwaters; no clima quase anos 1950, que tem algo tanto de Breeders quanto de Velvet Underground, de All good things will come to pass; ou no eletrocountry Down on the freeway, que já avança um pouco mais no tempo, com programação oitentista e um clima que chega até ao som minimalista e eletrônico dos Young Marble Giants.
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Já Sleep through the long night entrega o que o título já diz: um acalanto, quase renascentista, enquanto Come on já dá outra volta no tempo: um som bem garageiro, que remete tanto a girl groups sessentistas quanto a Debbie Harry. O voo particular de Lael ainda chega ao som noturno e tranquilo de Tell me how to be here (cuja letra parece falar dos incêndios florestais em Los Angeles, mas foi escrita há um ano) e ao country de garagem (com voz linda!) de New ages, com clima deprê, e lembranças tanto do Velvet Undeground quanto das Shangri-Las.
No final, defeitos especiais, eco, som de fita K7 antiga e clima espacial marcam There from here – uma canção com versos enigmáticos, que parecem falar tanto de saudade quanto de um passeio sacal por um aeroporto decadente. Um desfecho misterioso para um disco que tem uma energia toda própria.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Sub Pop
Lançamento: 2 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: Yowie – “Taking umbrage”

RESENHA: Math rock levado ao extremo: o Yowie faz em Taking Umbrage um som caótico, virtuoso e insano, entre o jazz, o hardcore e o humor.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: Skin Graft Records
Lançamento: 3 de outubro de 2025
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Se você nunca entendeu direito o que é math rock, esse disco pode resolver seus problemas. Só que, vá lá, ele dá uma explicação bem radical para suas dúvidas a respeito do estilo. O Yowie, banda que mudou de formação nos últimos tempos igualmente de maneira radical – sobrou apenas o baterista (!) Shawn “Defenstrator” O’Connor, que convocou novos guitarristas e baixista – faz em Taking umbrage, seu quarto álbum, um som que… Cara, digamos que até explicar é complicado.
Basicamente o Yowie une bases de guitarra maníacas, slides feitos igualmente de forma caótica, e variações rítmicas em que tudo parece ir para vários lados diferentes ao mesmo tempo. O termo “ritmos quebrados” mal serve como explicação, porque a quebração se dá em ritmo, harmonia, solos e em praticamente tudo que vem pela frente. O math rock volta e meia consegue unir-se com estilos mais palatáveis, numa gama que vai do post-rock ao pós-hardcore, mas aqui não há nada disso – até porque se você escutar Taking umbrage sem prestar atenção na passagem de uma faixa para a outra, pode até se surpreender em ver que as músicas soam como uma suíte repleta de variações rítmicas.
- Ouvimos: Gaupa – Fyr (EP)
Com essas variações, músicas como Hot water healer quase deixam entreouvir um forró torto, enquanto Grumgrubber faz o mesmo oscilando entre samba, blues, funk e hardcore. Lemon strogonoff aumenta consideravelmente a velocidade lá pelas tantas, enquanto Museum fatigue parece uma salsa pesada e atonal. Não dá pra negar: lá pela metade você sente falta de algo diferente, de uma textura a mais, de algo que fuja do receituário. Igualmente é inegável que tudo aquilo pode soar irônico e meio zoeiro, como um novelty record, ou como uma versão radical da Florentina, do palhaço Tiririca (sim, aqueles momentos “oh, não, vai começar tudo de novo…”).
Bom, você escolhe como encarar esse disco. Vale dizer também que num disco desses, evocações do jazz não poderiam faltar. E elas circulam por todas as faixas, aparecendo com mais intensidade em músicas como a fusion demoníaca Throckmorton e a tribal The road to Gumbone. No fim das contas, é rock maníaco para quem decididamente não quer ouvir música para ficar mais calmo/calma.
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Crítica
Ouvimos: Saline Eyes – “The autumn EP” (EP)

RESENHA: O romantismo pop com ecos de Beatles, Todd Rundgren, Beach Boys e David Bowie marca o melancólico e luminoso The autumn EP, do Saline Eyes.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Melengepag Records
Lançamento: 6 de outubro de 2025.
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Criado por James Hackett, um músico da Filadélfia radicado em Ohio, o Saline Eyes parece um projeto sem maiores pretensões. Mas só parece: The autumn EP, novo lançamento do Saline Eyes, une romantismo herdado de Todd Rundgren e Brian Wilson, e uma onda melódica cujo alcance vai de Beatles ao britpop, passando por Psychedelic Furs, Radiohead, Teenage Fanclub e David Bowie. As letras falam sobre tristeza, inadequação e amores.
- Ouvimos: Naïf – Trópicos úmidos (EP)
Essa melancolia toda rendeu canções mágicas como No you and I (que lembra Elton John), o pop barroco e quase progressivo de Alone, o tristonho bubblegum de piano Separate. Além do som agridoce de On my mind e Autumn rain, ambas com musicalidade beatle nos vocais e nos arranjos. No final, If I were yours põe mais luminosidade no disco, unindo rock e soul numa recita musical bastante acessível.
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Crítica
Ouvimos: Sally Dige – “Holding the sun”

RESENHA: Em Holding the sun, Sally Dige mistura rock britânico 80s, dream pop e baladas sombrias, criando um disco breve e hipnótico sobre o amor perdido.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 11 de julho de 2025.
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Cantora berlinense, Sally Dige soa como uma versão pouca coisa mais trágica do rock britânico dos anos 1980 – The Cure, New Order – em seu novo disco, Holding the sun. Ela chora por um amor perdido em It’s you I’m thinking of, invade a área do dream pop em faixas como Voice of my heart e Sow the path (canção meditativa que tem muito de Enya e Madonna, mas também é herdeira de Imitation of life, hit do R.E.M.) e faz pop adulto dos anos 1980 em Strenght in me.
- Ouvimos: Ani Glass – Phantasmagoria
Sally também reúne referências de nomes como Psychedelic Furs, Cranberries e Peter Murphy em vários momentos de Holding the sun, um disco curto (meia hora), com certa cara de EP ou de lançamento intermediário entre álbum e EP. Uma onda que toma conta de faixas como I will be the sun for you, faixa em que ela toca instrumentos como bandolim e balalaica, e cria um som bem hipnótico. You, por sua vez, é uma balada acústica com onda anos 50/60, que faz lembrar Chris Isaak e formações hoje não tão lembradas, como o Hothouse Flowers – mas tem riff de guitarra bordando a faixa, como no New Order.
No final, Sow the path volta em versão com voz, cordas e piano, e Our secret, um tema instrumental, fecha o disco levando tudo para um universo tranquilo e, ao mesmo tempo, sombrio.
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