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Cultura Pop

Koi Division: quando o mar encontra o Joy Division

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Koi Division: quando o mar encontra o Joy Division

Imagine uma banda cujos integrantes se chamam Ian Peixe-Palhaço (vocal), Anzol (baixo e sintetizador), Bernardo Salmão (guitarra) e Steve Moreia (bateria), que se apresenta ao vivo trajando máscaras de peixe e tocando covers do Joy Division. Pois bem, essa maluquice existe. Chama-se Koi Division e nasceu em Los Angeles, como mais uma loucura daquela parte do planeta de tantas ideias surreais.

Ian Peixe-Palhaço é Ian Clownfish. Bernardo Salmão é Bernard Salmon. Steve Moreia é Steve Moray. E Anzol é só Hook mesmo.

Os trocadilhos não ficam só nos nomes dos integrantes. As músicas viraram Lures will catch a carp (Love will tear us apart), Trout fishin’ (Transmission), Dead soles (Dead souls), No lobster lost (No love lost), Fishorder (Disorder) e Albacore (Atmosphere). As letras mudam também – e Koi, vale lembrar, são aquelas carpas ornamentais, cheias de cores e estampas, mas que se tornaram uma praga em determinados lugares.

De resto, é só uma banda (bem meia-boca, é verdade) que faz versões, ou tenta fazer, de músicas do Joy Division. Uma graça que ganha vulto quando se conhece todo o repertório depressivo que envolve a banda original.

Joy Division era a divisão da alegria dos nazistas: grupo de judias nos campos de concentração que serviam apenas pro prazer sexual dos soldados alemães. Ian Curtis, o vocalista, letrista e líder do quarteto, se enforcou aos 23 anos, em 18 de maio de 1980. O som da banda era (e talvez ainda seja) descrito como “gótico-deprê” ou “pós-punk soturno”. As letras são carregadas de dilemas existenciais. O Joy Division, como se sabe, é uma das mais importantes bandas da história.

O que leva um bando de rapazes a distorcer uma história dessas e se inspirar em peixes e alegorias de pesca e do mar pra fazer versões de tal obra?

Numa entrevista nada séria (nem poderia se esperar algo diferente, creio) ao site Hamilton Underground Press, aquele que se identifica como Bernard Salmon disse: “acho que há um bocado de gente que gosta de peixes e de pesca e que assim aprenderá a gostar também de Joy Division”.

O Koi Division “nasceu” pros olhos do mundo graças a um longo perfil escrito por Juliet Bennet Rylah pro LA Weekly, em 7 de setembro de 2017. Depois disso, veio um outro artigo sobre a banda no The A.V. Club, com penetração maior entre o público “alternativo”. O perfil da banda nas redes sociais começa a crescer, num misto de curiosidade e diversão. A camiseta com uma nova leitura da capa de “Unknown Pleasures” (com peixes em meio a “ondas”) já virou sucesso.

Koi Division: quando o mar encontra o Joy Division

Howard Hallis é o nome verdadeiro de Ian Clownfish. Ele é gerente de um karaokê em Los Angeles e foi lá que conheceu os outros integrantes da banda. “Nós atendemos mais pessoas que querem cantar The Cramps, Bauhaus e Dead Kennedys do que Journey”, explica. É um karaokê diferente, sem dúvidas.

Ele é casado com a doutora Sam Hallis, uma microbiologista que é a baixista conhecida como Hook.

“Sam, uma fã do famoso ‘Weird Al’ Yankovic, veio certo dia com o trocadilho ‘Koi Division’. Ela brincou com o marido pra que ele usasse o Photoshop pra por cabeças de peixe nos membros da Joy Division, o que mais tarde ele fez. Poderia ter sido só uma brincadeira idiota, mas não terminou ali”, escreve o LA Weekly.

“Sam é uma grande fã de New Order, e um tanto do Joy Division. Howard, ao contrário, é um fanzaço do Joy Division desde criança. Ele diz que assistiu a todos os documentários, leu todos os livros – incluindo os da esposa de Curtis, Deborah, e do baixista Peter Hook – e ‘obsessivamente’ procurava gravações raras, bootlegs e fitas demo tão logo aparecem na Internet”, diz o artigo.

“Era um dos meus desejos ter uma banda cover do Joy Division, mas já havia um bocado delas”, ele disse. “Entretanto, paródias marítimas do Joy Division, não, essas não existiam”.

Por incrível que pareça, Sam é parte de duas bandas que tem lá suas ligações com o mar – como se fosse algo usual numa cidade gigante como Los Angeles. Ela é da Red Pony Clock, que você pode ouvir aqui, e é descrita por ela como “uma grande banda indie, um coletivo com um bocado de gente participando”. E é também da Bitchin’ Seahorse, uma banda que toca músicas indiepunk sobre a vida marinha (!!!), com títulos como “Festa Em Atlântida”, “Sexo De Baleia”, “Enguia Elétrica” e por aí vai. Se quiser ouvir, vá aqui.

Como bem nota o artigo da LA Weekly, “isso quer dizer você não pode simplesmente perguntar pra ela como está indo ‘sua banda de pesca’. Você tem que especificar sobre qual banda está falando”.

Koi Division: quando o mar encontra o Joy Division

Os outros integrantes são clientes costumeiros do karaokê: o DJ Dave IDK (o guitarrista Bernand Salmon) e Logan Jenkins (o baterista Steve Moray).

É bizarro como o LA Weekly tratou o assunto com uma seriedade que talvez nem a banda tenha, mas o caso é que a Koi Division se ainda não se leva a sério como produto e potencial de mercado, a concorrência ao menos já está de olho. “Howard lembra que em um show da Koi, um membro de uma banda cover séria do Joy Division, chamada Joy Revision, apareceu e disse que parecia estranho, porque aquelas eram canções que eles realmente tinha familiaridade por tocar a todo instante, mas elas pareciam se encaixar com naturalidade na temática de pesca e marítima”.

“O grupo suspeita que isso pode se dar porque o oceano pode ser bastante brutal: os peixes comendo uns aos outros, as baleias encalhando na praia, homens arrancando peixe do oceano e destruindo seu meio ambiente. É ‘fish gothic’, diz Sam” na matéria.

“Fish goth” é um termo que a banda adotou. Na sua apresentação, diz: “the only Fish Goth Joy Division parody cover band that matters”. Bem… não dá pra negar.

“Há notícias muito pesadas a todo momento, as pessoas andam muito abatidas, afogadas em notícias ruins”, dizem. A Koi Division quer tratar o peso do mundo com leveza, mas sabe que ninguém vai levar a banda realmente a sério, por mais profundo que seja o discurso fora dos palcos. Por isso, ao falar do futuro, a banda se apressa em voltar à realidade dos personagens assumidos e disparar: “nosso sonho é tocar num aquário, shows debaixo d’água são a onda do futuro”.

Por essa, Ian Curtis não esperava.

Publicado originalmente em Floga-se.

4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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Cultura Pop

Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

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O Radiohead (Foto: Tom Sheehan/Divulgação).

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada

A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.

O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.

“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).

Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.

Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.

O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação

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Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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