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Cultura Pop

Erasmo Carlos bate um papo com a gente sobre música, futuro, passado e vacina

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Há uma relação entre o nome do programa de TV Jovem Guarda e uma conhecida máxima do líder russo Vladimir Ilyich Ulianov (o popular Lênin, que escreveu que “o futuro pertence à jovem guarda” ou “o futuro do socialismo repousa nos ombros da jovem guarda”, dependendo da tradução). Essa história, um dos segredos mais mal guardados do rock nacional, havia surgido em algumas poucas publicações sobre música brasileira. Como por exemplo, o fascículo dedicado a Roberto e Erasmo Carlos da série Nova história da música popular brasileira, da Abril, nos anos 1970. Ou a histórica entrevista que Roberto Carlos deu para a Bizz em 1988. Mas ficou para trás com o tempo.

Entre a Revolução Russa e a revolução de Roberto e Erasmo, ainda houve outra jovem guarda –  a da coluna de jornal de mesmo nome, assinada pelo futuro “rei da noite” Ricardo Amaral, que fazia bastante sucesso nos anos 1960. O publicitário Carlito Maia, um dos criadores do conceito da “jovem guarda” de Roberto, Erasmo e Wanderléa (e por sinal um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores) costumava, de qualquer jeito, citar a frase do líder comunista como inspiração para o nome do programa.

“O tempo é que me levou a descobrir que a coluna (do Ricardo Amaral) tirou da frase do Lênin, então o programa também tirou de lá. Foi um efeito dominó”, brinca Erasmo, que revisitou oito clássicos do movimento em seu novo disco, O futuro pertence à… Jovem Guarda: tem Ritmo da chuva (Demetrius), Nasci para chorar (versão de Dion & The Belmonts, feita por ele e gravada por Roberto), A volta (dele e de Roberto, gravada pelos Vips), O bom (de Eduardo Araújo). O disco é, mais do que um retorno ao passado, uma declaração de princípios e um olhar carinhoso para o futuro, como o próprio Erasmo conta nesse papo com o Pop Fantasma (foto: Guto Costa/Divulgação)

Como foi escolher o repertório e rearranjar as músicas? 

A gente procurou fazer uma coisa contemporânea, como se as músicas tivessem sido gravadas agora. Porque quando se fala em Jovem Guarda, a pessoa remete logo ao órgão do Lafayette, aquele órgão marcante, aquelas músicas… E não, é só mudar a roupa da música que ela fica nova. A gente fez isso, procurou dar ênfase aos vocais… Para escolher o repertório, me reuni com os produtores, o Pupillo e o Marcus Preto, e o Leo Esteves – meu filho que coordena mais ou menos minha vida artística. Fomos cada um com seus preferências e depois fizemos o somatório. Escolhemos só sucessos, músicas marcantes com outros artistas, e que eu nunca tinha gravado. Foi fácil até escolher as oito músicas, valeram as mais votadas.

Você chegou a conviver com muitos desses artistas?

Claro. Com o Demetrius (de Ritmo da chuva) foi pouco, porque ele começou antes da Jovem Guarda. Com o Bobby de Carlo também foi pouco. O resto foi tudo durante a Jovem Guarda mesmo. Eu me dava bem com todo mundo, me dou até hoje. Não tenho nada contra ninguém, ninguém tem nada contra mim (risos).

Como foi emocionalmente pra você revisitar esses tempos gravando o disco?

Eu não fiz o disco com intenção de relembrar, na verdade. Fiz com intenção de projetar pro futuro. Porque eu quis homenagear a frase: “O futuro pertence à Jovem Guarda”. É uma frase da qual foi tirado o nome do programa. Era uma frase do Lenin. Eu vejo muito além dessa questão do programa de TV, vejo uma proposta, uma profecia, uma contestação, uma sugestão. Isso de “o futuro pertence à Jovem Guarda” é uma verdade.

Até porque a jovem guarda são as novas gerações, o bebê que tá nascendo agora. A gente não está cuidando direito deles. A gente tá negligenciando muito, não estamos dando prioridade à educação, á saúde. Eles precisam disso pra crescer fortes, sadios, espertos, para fazer um mundo melhor. Porque o mundo como tá hoje, tá uma merda! Ninguém tá satisfeito com o mundo atual, parece até que o ódio está vencendo. Mas é uma mentira isso. O amor é a arma mais poderosa que alguém já inventou.

Eu quis usar o amor das músicas da Jovem Guarda para perpetuar esse amor no futuro. Porque o amor das músicas da Jovem Guarda é um amor puro, inocente. Sabe? “Você é o tijolinho que faltava na minha construção” pode parecer brega, mas é de uma inocência muito bonita. Uma ingenuidade que você só encontra numa criança ou num cachorro.

As pessoas têm gostado do disco, eu fico acompanhando nas plataformas quem ouviu, quantos ouviram… Claro que não chega aos pés do funk, né? Que aí é trinta milhões de pessoas e tal. Nada disso, meu público é o que gosta de boa música, que se arrepia com um arranjo, pra quem fala diretamente com deus quando ouve música… Aí são poucas pessoas.

Como você lida com essa questão dos algoritmos, essa concorrência toda nas plataformas? Isso passa pela sua cabeça quando faz um disco novo?

Tô convivendo igual a você (risos), aprendendo as novidades. São 30 anos de novidade por dia, tem agora metaverso, bitcoin, você tem que aprender. Se você não aprender, você é ultrapassado, o progresso não perdoa ninguém. Tem que ter essa consciência, procuro sempre estar antenado. E fazendo coisas, eu tenho que ser notado, quero que o jovem por exemplo ouça uma coisa que eu estou fazendo agora. E se ele gostar, vai querer saber o que é que eu fiz. Se ele gostar, aí eu ganhei mais um fã. Meu processo de renovação existe a partir desse princípio: tenho que fazer agora pro jovem gostar e assumir o velho como novo.

Por acaso nos seus discos dos anos 80 sempre havia uma música infantil, como Meu bumerangue não quer mais voltar. Como era fazer esse tipo de música? Você sentia que estava fazendo novos fãs?

Então, sempre tive vários segmentos musicais: o romântico, com Roberto Carlos, tem o segmento romântico meu, sozinho, que é diferente do dele. Faço com ele e faço coisas sozinho. Tenho músicas de humor, de protesto, vários segmentos que fiz através dos tempos. A do Bumerangue eu classifico como uma música de humor, é um amor que foi embora, quem sabe ele volta. Gravei com a Xuxa até!

Voltando ao disco novo: na época vocês sabiam que a frase “o futuro pertence à Jovem Guarda” vinha de uma frase do Lênin? Porque tinha também a coluna do Ricardo Amaral, também chamada de Jovem guarda

Tinha, tinha. Mas ninguém informava nada a gente, não, a gente nem sabia de nada. A gente dizia que era da coluna. O tempo é que me levou a descobrir que a coluna tirou da frase do Lênin, então o programa também tirou de lá. Foi um efeito dominó.

Como tá sendo voltar à estrada? Aliás como tá sua saúde?

Tá uma maravilha voltar a estrada. Fiquei doze dias na CTI por causa da covid e fiquei mal, bicho. Perdi voz, perdi respiração, equilíbrio. Pensei que nunca mais eu iria voltar, que iria acabar minha carreira. Depois foi uma correria pra voltar à forma. Fiz sessões de fonoaudiologia, acupuntura, fisioterapia. Muitos exercícios, e fui voltando à minha forma. Aí faltava a emoção do show, o aplauso das pessoas, testar fôlego. Surgiu uma oportunidade em Porto Alegre, o primeiro show da turnê. Fizemos o segundo em São Paulo, o terceiro no Rio. Agora estamos esperando a janela abrir de novo pra fazer Belo Horizonte. Agora considero que voltei legal, mas sem trocadilho com a música A volta (risos)

Como bateu em você quando você da pandemia?

Fiquei sabendo, acho que ninguém soube de estalo. Primeiro falavam de um resfriado, depois de não sei o que, aí depois foi se agravando. Aí todo mundo foi sabendo. Já vi esse filme muitas vezes, porque vejo filme de ficção científica, então 30 jeitos diferentes do mundo acabar eu já conheço (risos). As pessoas que têm medo da própria imaginação é que são pegas de surpresa, e a surpresa tem um efeito muito maior. Eu tô acostumado com esses segmentos todos das histórias que eu leio e dos filmes que eu vejo.

Eu pergunto isso até porque essa coisa dos novos tempos, ou de coisas meio apocalípticas tá muito presente no seu trabalho. Você vê um disco como 1990 – Projeto salvaterra (1974), por exemplo…

É, minha cultura é de história em quadrinhos, eu não tenho cultura escolar. A vida que me ensinou as coisas. E eu tenho cultura de história em quadrinhos e cinema, minha cultura foi essa. Eu uso muito minha imaginação. Eu sempre falei, sempre protestei, falando em termos de humanidade, de civilização. Nunca protestei muito falando do Brasil, não. Meus pensamentos são sempre pro mundo, são as pessoas do mundo que estão erradas. Não são só as pessoas do Brasil, não.

Como você tá vendo essa onda dos artistas antivacina, como rolou com o Eric Clapton?

Ah, cada um tem sua cabeça. Não concordo não, aliás eu quero que ele se dane, tá cuidando da vida dele e eu da minha (risos). Eu me vacino, ele que faça o que ele quiser. Eu não obrigo as pessoas a fazerem as coisas, não. Só não quero que ele frequente minha casa! Sem estar vacinado, não dá. Todo mundo tem o direito de fazer o que quer e falar o que quer, desde que não agrida as outras pessoas. Quem toma uma posição dessas de não se vacinar, tem que assumir a proibição de não ir em certos lugares, porque as pessoas não querem uma pessoa que não foi vacinada no seu convívio.

Erasmo, esse ano faz 50 anos de um grande disco seu que é o Sonhos e memórias. Quais são suas lembranças desse disco?

Ah, é um disco muito bonito. É um disco que eu gosto muito. A crítica em geral gosta do Carlos, Erasmo (1970), mas eu gosto muito do Erasmo Carlos & Os Tremendões (1969)…

Que também é um grande disco, impressionante como não lembram tanto…

Foi o disco em que eu comecei minha mudança interior. Ela se apresentou já pronta no Carlos, Erasmo, mas começou lá. E o Sonhos e memórias é um disco que eu gosto muito, foi  a última saudade que eu tive. Eu tenho uma saudade muito grande da minha infância, da minha adolescência. Botei tudo nesse disco. Aí nunca mais tive saudade de nada (risos), porque eu vivo mesmo é do presente e do futuro.

O que são aquelas falas entre as músicas do Sonhos e memórias? Aliás no fim de Preciso urgentemente encontrar um amigo tem um negócio que parece trailer de filme sobre a guerra do Vietnã…

Tem uma fala que é meu filho Gil Eduardo, ele que falou “o Natal tá chegando e eu quero dar presente pra todo mundo!” (antes de Vida antiga). A gente sacaneia ele até hoje por causa disso. Em Preciso urgentemente encontrar um amigo, aquilo é um locutor falando sobre a guerra do Vietnã. Essa música foi feita com essa intenção, era aquela época da Guerra do Vietnã, e era a época da peça de teatro Hair, no mundo inteiro a música Aquarius estava estourada e era aquela coisa dos hippies, paz e amor. E a necessidade de uma amizade, de um ombro amigo, era muito grande. Então essa música foi feita nessa época, assim como É preciso dar um jeito, meu amigo.

Esses detalhes aí só pessoas atentas como você percebem (wow!), porque 99% do público não está nem aí. Uma vez um diretor de gravadora falou pra mim e pra Roberto: “Vocês têm que parar de fazer essas músicas sobre ecologia, essas coisas de mato, de bicho”. A gente: “Não, a gente tem que falar, sim, porque é preciso, porque há animais entrando em extinção…”. E ele: “Não tem que falar porra nenhuma, cara, ninguém quer saber disso não, as pessoas só querem saber é de dançar. Por exemplo: você fizeram agora uma música chamada As baleias. Ninguém quer saber disso não. E quer saber do que mais? Baleia não compra disco!” (risos). O cara falou isso na nossa cara…

E hoje a gente tá vendo o quanto custa não falar de ecologia…

E a mentalidade é essa, né?

4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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Cultura Pop

Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

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O Radiohead (Foto: Tom Sheehan/Divulgação).

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada

A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.

O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.

“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).

Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.

Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.

O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação

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Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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