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Crítica

Ouvimos: Eduardo Manso – “Wow”

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Ouvimos: Eduardo Manso - "Wow"

RESENHA: Eduardo Manso lança Wow, disco instrumental e cósmico que mistura krautrock e eletrônica para imaginar um contato alienígena em 2047.

Instrumental, experimental e cósmico. Assim é Wow, novo álbum do músico, compositor e produtor carioca Eduardo Manso. O disco imagina um contato com seres extraterrestres no distante ano de 2047 — e faz isso com uma mistura de ambientações espaciais, ruídos inspirados no krautrock e camadas de sons eletrônicos e acústicos que desafiam rótulos.

O ponto de partida é real: o famoso sinal Wow!, detectado em 1977 por um radiotelescópio nos EUA e até hoje considerado uma das transmissões mais misteriosas já captadas. O sinal é tema de debates, documentários e até episódios de Arquivo X — e agora serve como inspiração direta para várias faixas do álbum.

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Wow faz referência às pesquisas do sinal em faixas como 6EQUJ5 (frequência usada para representar a transmissão) e UVB-76 (tipo de sinal de rádio). A primeira é um kraut rock no estilo do Faust, com teclados que parecem vir de uma transmissão distante e ritmo levemente nordestino, além de mistura de sons acústicos e inorgânicos. A segunda (olha só!) ameaça algo na linha dos primeiros discos de Richard Clayderman – que, pode acreditar, tinham músicas “espaciais” e muito sintetizador. Depois, um tom lembrando Jean Michel Jarre toma conta da faixa, sendo substituído por distorções e efeitos.

4625 khz é uma marcha eletrônica sombria, que parece sonorizar uma perseguição ou uma bad trip – transformando-se depois em algo realmente fantasmagórico. 1420,46 MHz é tropicalismo no-wave, com várias células rítmicas em poucos minutos. O encerramento, FRB 20220610A, se alonga por oito minutos num mantra que lembra In the light, do Led Zeppelin, antes de se dissolver em vozes distorcidas, saxofone alucinado e um jazz do inferno, direto do além. Um delírio sci-fi em forma de som.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: QTV
Lançamento: 8 de maio de 2025.

Crítica

Ouvimos: Lorde – “Virgin”

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Lorde rompe com o passado em Virgin, disco íntimo e sombrio que mistura pop minimalista, desabafos e eletrônica densa.

RESENHA: Lorde rompe com o passado em Virgin, disco íntimo e sombrio que mistura pop minimalista, desabafos e eletrônica densa.

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Tão dizendo por aí que Virgin, o quarto disco de Lorde, é o que sua estreia Pure heroine (2013) deveria ter sido, se na época ela não tivesse 17 anos. Faz sentido, embora Ella Marija Lani Yelich-O’Connor (nome verdadeiro da cantora) não fosse exatamente uma artista disposta a chocar e a confundir quando mais nova. Na época, ela basicamente ela se divertia desafiando os limites do mercado pop com versos cortantes e uma sonoridade sombria.

Na real, nem dá para dizer que há uma disposição em “chocar” (no sentido sensacionalista da coisa) aqui. O material de Virgin veio de questionamentos e desabafos sinceros. E que soam mais sinceros ainda pelo lugar que o álbum ocupa na carreira dela – o lugar de disco bastante aguardado, e que trouxe para o fã-clube dela uma turma que tem hoje a idade dela quando começou. Virgin também foi estrategicamente montado por ela e seus parceiros-produtores para combinar sensorialmente letras, músicas, arranjos e narrativa.

As questões sobre sexualidade que ela vem falando em entrevistas já abrem o álbum com Hammer, uma balada introspectiva, mas dada a explosões, em que ela fala frases como “não tenho todas as respostas”, “paz na loucura”, “cartão-postal da borda”, entre outras sentenças bem mais espinhosas que a narrativa do tranquilo Solar power (2021), disco anterior. Um álbum que acabou chamando infelizmente mais atenção pela capa sexy e pelas músicas declaradamente emaconhadas.

Virgin soa o tempo todo como algo detalhadamente trabalhado, e não excessivamente trabalhado. Os arranjos são quase minimalistas, as seguranças e inseguranças das letras são universais e comuns, a perda da inocência citada na dance music sombria Current affairs pode acontecer aos 40 ou 50 anos. Em meio ao som eletrônico e texturizado de What was that, mais inseguranças, drogas e amores em que só uma parte dá o suficiente.

O repertório de Virgin também abarca crueza quase industrial referenciada no blues e no jazz (o single Man of the year), indie pop com frieza controlada e interpretada (Shapeshifter), um eletrorock sobre cobranças, estresses e busca da perfeição (Favourite daughter) e bjorkices (as vozes e efeitos de Clearblue). Broken glass soa quase como um baile funk indie, com uma letra seca sobre transtorno alimentar – e climas próximos do soul e do synthpop surgem em If she could see me now e David.

De modo geral, Virgin é um disco marcado pelo silêncio antes do chute no balde, e pelo esporro após a explosão. Lorde decidiu romper com tudo, inclusive com suas versões anteriores, e pôs a busca por um novo mapa nas músicas. Deu super certo.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Republic/Universal
Lançamento: 27 de junho de 2025

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Crítica

Ouvimos: Nxdia – “I promise no one’s watching”

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Nxdia mistura pop, rock e eletrônico em I promise no one’s watching, uma mixtape ousada que testa estilos sem medo de errar.

RESENHA: Nxdia mistura pop, rock e eletrônico em I promise no one’s watching, uma mixtape ousada que testa estilos sem medo de errar.

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Considerado um álbum pelas plataformas e um EP por vários sites de resenhas, I promise no one’s watching é visto por Nxdia, cantora egípcia radicada em Manchester, como uma mixtape. Faz sentido por causa do caráter despojado das músicas, e pela mistura promovida por ela nos 25 minutos do disco.

Feel anything, na abertura, pula do bedroom pop para o batidão eletrônico em minutos. A sexualmente ativa Jeniffer’s body é rock agitado na onda pop de Olivia Rodrigo. O tema queer Boy clothes, pesado e dançante, evoca Lady Gaga e Billie Eilish em detalhes, enquanto Puppet, More! e She likes a boy são eletrorock construídos no pula-pula grunge.

  • Ouvimos: Lady Gaga – Mayhem
  • Ouvimos: Olivia Rodrigo – Guts
  • Ouvimos: Billie Eilish – Hit me hard and soft

Por aí você tem uma ideia da variedade do disco, e falando assim, parece que Nxdia está em busca de uma identidade, tateando e vendo o que dá certo. Talvez até seja isso – e I promise no one’s watching, antes de ser o disco de uma cantora, soa como o disco de uma creator musical, que sai testando templates em cada faixa. Quem for ouvir, que abra a mente.

Vale afirmar que as apostas de Nxdia costumam dar certo, especialmente quando ela põe texturas diferentes no rock anos 1980 em Nothing at all, e moderniza o som associado a grupos como Slits em Body on me, quase falada, com baixo grave e forte à frente. Boo, nevermind é eletropunk dos bons. Só no final, Tin man derrapa tentando acertar no shoegaze de FM e cravando a flecha numa espécie de nu-metal baixos teores.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Bxdger Records
Lançamento: 13 de junho de 2025

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Crítica

Ouvimos: Jambu – “Manauero”

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Manauero, novo do Jambu, mistura reggae, pop nacional 90s, sons de Manaus e indie pop com sotaque e coragem pop fora da curva.

RESENHA: Manauero, novo do Jambu, mistura reggae, pop nacional 90s, sons de Manaus e indie pop com sotaque e coragem pop fora da curva.

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Já passaram pelos ouvidos do Pop Fantasma discos que poderiam ter saído dos estúdios da Odeon em 1975, ou da CBS em 1979 – e chegou a vez de um álbum que tem cara de CD lançado pela Sony Music em 1995. A diferença é que Manauero, segundo disco do Jambu, chega num mercado que, se não premia a ousadia pop com vendagens de milhões (como fez com Skank e Cidade Negra), entende um pouco mais de discos fora da curva.

Manauero traz Gabriel (voz e guitarra), Bob (guitarra), Guga (baixo) e Yasmin (voz e bateria) misturando duas vivências: são moradores de São Paulo (desde 2023) e estão cada vez mais voltados para suas raízes de Manaus. O som do Jambu deixa de fazer parte do contexto indie nacional e ganha uma cara mais voltada para o reggae – mas um reggae unido a sons de Manaus, lambada, guitarrada e até a forró.

Incendeia – faixa composta por Eugênio Mar, avô do Gabriel – une emanações de Djavan, Red Hot Chili Peppers e Natiruts, a sons da terra deles. Vagabundo é indie pop com coloração local e tom de ska disfarçado, com baixo conduzindo o ritmo. Passatempo é forró-reggae com evocações de Alceu Valença. Já Lentamente, com referência de Chorando se foi (Kaoma) é um tecnopop orgânico, com guitarra estilingando, enquanto Vc se foi e é tarde une indie pop atual e sons oitentistas.

  • Ouvimos: Papatinho – MPC (Música Popular Carioca)
  • Ouvimos: DJ Guaraná Jesus – Ouroboros
  • Ouvimos: Don L – Caro vapor II – Qual a forma de pagamento?

Essa mistura musical também remete a uma tendência recente: assim como bandas de indie rock revisitam o grunge com estética pop contemporânea, o grupo olha para o pop nacional dos anos 1990 – e todas as suas referências – sob uma nova lente. É o que se ouve em Latinoamericano (que une balanço e protesto, à moda de Natiruts e Skank), Cerveja gelada (com toques sutis de Prince e Lincoln Olivetti na mescla sonora) e Eu te espero, cujo arranjo aproxima elementos de Paralamas do Sucesso, Gilberto Gil e The Cure.

Boato parte da guitarrada e do reggae para chegar ao pós-punk, enquanto O último suspiro (Interlúdio) aposta numa versão suave do shoegaze para enriquecer a mistura sonora do grupo. Em Manauero, o Jambu ressurge orgulhoso de si próprio e de sua história.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Deck
Lançamento: 25 de abril de 2025

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